Avalanche Tricolor: Carta ao meu filho

 

Grêmio 4 x 3 Santos
Copa do Brasil – Olímpico Monumental

 

bandeira-gremio-imortal-tricolor

 


Meu filho,

 

Ter nascido em São Paulo te fez ficar distante do Rio Grande. Em teus 13 anos de vida, poucas vezes estivemos juntos naquela terra. Quando estamos lá, preferimos a tranquilidade da casa do tio, o bate-papo ao lado da churrasqueira, uma tímida roda de chimarrão – aquela erva que tu não gostas de tomar por amargo que é.

 

Já ouviste o pai cantarolando desafinado o refrão do Hino Riograndense: ‘Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra’. Até já falamos sobre a Guerra Farroupilha quando sentamos juntos para estudar história do Brasil. Mesmo assim, não deves ter compreendido bem o que a letra pretendia celebrar. Isto é algo que está enraizado nas conquistas e derrotas daquela gente. Creio que só mesmo tendo nascido ali nas redondezas para compreender por completo o que move os gaúchos.

 

Hoje, quando tu vistes o pai reclamando sozinho de um jogador que perdia a dividida, do outro que era lento no momento de distribuir a bola e daqueles todos que preferiram por algum tempo assistir ao adversário jogar futebol, tudo isso acontecendo enquanto o placar mostrava ampla desvantagem, deves ter ficado incomodado comigo. Preferistes dormir sob a justificativa de que “amanhã tenho aula cedo” quando na verdade não querias ver o pai sofrendo diante da televisão nem amargando uma derrota clamorosa como muitos anunciavam na transmissão, e nas mensagens enviadas pelo Twitter, também.

 

Tu não sabes o que estavas perdendo. Não chegou a ser aquela façanha da 2a. Divisão quando tu me vistes chorando (que a mãe não leia isso aqui), mas foi divino mais uma vez. O Grêmio, time pelo qual teu pai resolveu se apaixonar, mostrou que não é apenas forte, aguerrido e bravo. É veloz, talentoso e heróico.

 

Tu perdestes a chance de ver nossa defesa e meio de campo marcando cada bola que se aproximava da área como se fosse a última, além da rapidez com que nossos jogadores trocavam passe em direção ao ataque. Não vistes, também, os três gols do Borges, que deu até cambalhota, e o golaço do Jonas. Nem mesmo o que fez o Silas que, novamente, mudou o time no intervalo, na conversa, e festejou cada conquista como um novo torcedor a beira do gramado.

 


Teu pai vibrou em silêncio pra não acordar ninguém em casa. Comemorou com os punhos cerrados repetindo o gesto de Vitor a cada gol marcado. Queria, porém, estar ao teu lado, pulando e te abraçando, compartilhando a alegria e o orgulho de ser gremista. Mas longe de mim querer te contaminar com esta coisa do futebol, és bem mais inteligente do que eu e sabes que tens coisas mais importantes para construir na tua vida.

 

Queria, porém, que tu soubesses que este Grêmio, pelo qual escolhi torcer, não é chamado de Imortal Tricolor porque nunca perde. Fomos e seremos derrotados pois assim é o futebol. Talvez até mesmo na próxima semana, quem vai saber?  Desta vez temos um adversário à altura. São estas intempéries que forjam nosso caráter.

 

Nossa imortalidade existe porque, por mais respeito que tenhamos por quem nos enfrenta, jamais nos daremos por vencidos e lutaremos sempre até o fim.

 

Do pai

115 comentários sobre “Avalanche Tricolor: Carta ao meu filho

  1. Milton,

    Seu texto é muito bonito e bem escrito. Entretanto, acho que os sulistas, especialmente os gaúchos, possuem um regionalismo exacerbado. Acho positivo valorizarmos o local onde nascemos e o qual vivemos, mas isso não pode estar acima da nossa pátria.
    O jogo entre Santos e Grêmio foi um belissímo jogo, mas apenas um jogo. Não podemos relacioná-los com seus respectivos estados e com o valioso papel que estes estados representam dentro da história do Brasil. Cantar o hino do Estado num jogo de futebol. Melhor não seria cantar o hino do time? Incorreto transferir para um campo de jogo momentos importantes da história do BRASIL (não do Rio Grande do Sul). O Brasil é muito mais que a Guerra da Farroupilha ou a Revolução de 1932.
    Tenho a opinião que a garra do Grêmio(indiscutível) tenha mais relação com o modo de torcer dos Argentinos do que propriamente com a do Rio Grande do Sul.
    Yáskara

  2. Sou Tricolor do Morumbi, e, isso não me faz deixar de elogiar o texto de Milton Jung, sobretudo o seu cunho literário, carregado (positivamente), pela paixão expressada ao Grêmio. Parabéns pelo Texto Literário apaixonado e comovente que Sensibiliza todos os filhos do Grêmio.

  3. Maravilhoso! Por incrível que pareça sou simpático as duas maiores forças do Rio Grande do Sul, ou seja, admiro tanto os gremistas, quanto os colorados. E fiquei super emocionado pelo texto bem escrito, exprimindo recheios de profunda paixão de um ser humano por seu clube do coração. Espero que o filho tenha lido e lamentado ter ido dormir, perdendo o grande espetáculo de futebol exibido pelo time “que o Pai resolveu se apaixonar”.

  4. Caro, Milton,
    Sempre que o Gremio vence te ouço pela manhã, pois sou um paulista Gremista, mas filho de Gaucho de fronteira(Livramento). E sei como a imprensa paulista e bairrista e muitas das vezes esquece de comentar nossas façanhas. Assim ouvi pela manhã do dia seguinte da virada contra o Santos, e fiquei curisoso para ler sua carta, e fiquei feliz em que li, pois por coincide^ncia seu filho é meu conterraneo(paulista) e filho de Gaucho e se um dia entender toda essa paixão com certeza será torcedor do Grêmio, pois na noite daquele jogo caso fosse no mundo do Cinema teria que virar filme, pela superação…agora é aguardar pelos proximos capitulos..um grande abraço do tamanha do Rio Grande.

  5. Bombadaço este post….. Tu teves a quem puxar Milton… Queria eu ter escrito um texto assim do Todo Poderoso Timão…mas deixa pra lá…teu pai é fera mesmo!!!!!!!!!!

  6. Caro Milton.
    Tenho o hábito de ouvir sempre o programa do Juca, à noite, na CBN. Ontem ao me deslocar do trabalho para casa, como de hábito ouvindo o programa, tive oportunidade de ouvir a sua participação no programa e confesso que fiquei ansioso para acessar o seu blog e ler a sua mensagem ao seu filho Greg.
    Assim como você, sou filho da FAMECOS e, como vários colegas, saí de Porto Alegre em busca de novos horizontes profissionais.
    Apesar de estar afastado do RS desde o final de 95, confesso que nunca consegui me afastar de uma de minhas maiores paixões, o Grêmio.
    Assisto, pelo cabo, ou ouço pelo rádio, todos os jogos de nosso imortal tricolor, mesmo morando no nordeste.
    Gostaria de parabenizá-lo pelo emocionante texto. Me vi vivendo tudo aquilo que você viveu. Filha cearense, que não consegue compreender tão bem a paixão do pai pelo Grêmio e comemoração silenciosa para não acordar a família.
    É assim mesmo, a alma gaúcha e gremista não se apaga nunca, mesmo distante geograficamente.
    Continuemos torcendo e louvando o nosso Grêmio e repetindo na memória a frase que muitas vezes o seu pai repetiu nas rádios gaúchas: “…é gol do grêmio, é gol do grêmio, é gol do grêmio…”
    Abraços
    Paulo Nogueira – Fortaleza – CE

    • Paulo,

      Tenho saudades também do gol, gol, goooooool de Milton Ferretti Jung. Hoje, ele dá esses gritos diante da televisão, assistindo aos jogos em casa.

  7. Cátia Toffoletto.
    Tomo emprestado este espaço no Blog do Milton para uma sugestão: Por quê não criamos um blog semelhante para o nosso Timão? Eu sempre quis um espaço para registrar a minha (nossa) paixão pelo alvinegro sem brigas, críticas, revanchismo com outras torcidas, exatamente como faz o Milton (a quem mais uma vez peço o perdão pela ousadia). Quem sabe um “Adote um time”?
    Fica a sugestão e o abraço do,
    Mário Fávero.

    • Mário,

      Este espaço é livre e assim quero mantê-lo. Seria muito interessante sermos capazes de discutirmos futebol sem o revanchismo e ódio que move muitos torcedores. Teria o maior prazer de deixar meus comentários lá no blog corintiano que você teria em parceria com a Cátia. Aliás, poderiam estrear neste fim de semana, contando como foi legal a viagem a Porto Alegre, terra do Grêmio.

  8. Milton,
    ainda faltam 31 dias para eu nascer. Gremista como a minha mãe. Mas paulista, como quis o destino. Nem nasci, mas te ouço. Nem vi o dia raiar, mas já sofro com o nosso time. Imagino que deixarei a mãe sentada berrando (em silêncio) toda vez que o Imortal Tricolor jogar (ganhar ou perder, isso é da vida mesmo) pelos próximos anos, como fez teu filho na quarta-feira… Até que eu possa, eu mesma, me juntar a ela e sofrer, e chorar e berrar.

    • Venha logo, Manu. Não sabes o que estas perdendo neste mundo do futebol. Que assim que tu chegares por aqui, estejamos nos preparando para a final da Copa do Brasil.

  9. Belíssimo comentário.
    Esse é o Grêmio. Sempre foi assim e sempre será. Que força tem essa camisa.
    E tu não imagina a inveja que este jogo despertou aqui no RS em torcedores de times nanicos que viveam à sombra do Grêmio.
    Parabéns mais uma vez. E quarta, outro jogaço.

  10. Segui os conselhos do meu pai e jamais me arrependi, quando um dia ainda quase um recem nascido, eu indefinido quanto a escolha de um time de futebol do coração e ele falou assim:

    “Filho, não sofra”

    “Seja São Paulino”

    Segui os seus conselhos e nunca me arrependi.

    Carissimo Milton Jung

    O texto é maravilhoso, poético, filosófico!

    Parabéns Milton e me desculpe só poder postar hoje.
    Essas porcarias geringonças, os modem 3G, principalmente aonde estou é um verdadeiro saco!
    Funciona quando bem entende.

    Grande abraço
    Armando Italo

  11. Boa tarde miLTON.
    Não tenho o habito de acompanhar blogs, mas escuto muito a cbn. E após ver sua entrevista para o Juca na quinta após o jogo não pude deixar de conferir o que tinhas escrito…

    como vc sou gaucho mas não moro mais no rio grande, e meu filho nasceu no espirito santo (influencia carioca), por isso faço muita força para que ele seja um gramista e um apaixonado pelo rio grande assim como são todos os gauchos. Nós que nascemos no rio grande mas não moramos mais lá temos um algo a mais que eles não tem…isso se chama saudade.

    “Sirvam nossas façanhas de modelo…” parabens pela sua carta. Um segredo. eu dou erva mate pura para meu filho que ainda é pequeno saborear quem sabe quando maior ele acompanhe o pai em alguma roda de chimarrão.

  12. Milton,
    Somos contemporâneos de Menino Deus, de Rua paes de Andrade e Saldanha Marinho. Seu pai sempre foi um dos meus narradores prediletos por sua moderação em uma época avassaladoramente colorada. Entendi perfeitamente seu comentário: meus filhos não nasceram no Rio grande, mas em Curitiba – PR e tive a felicidade de serem tão ou mais gremistas do que eu. Minha filha quase torceu pelo São Paulo, época das grandes conquistas, mas ela e meu filho mais novo, na época da libertadores de 95, assitiram àqueles épicos (será destino doGrêmio?) 5 a 0 e 5 a 1 contra o Palmeiras. Morávamos no exterior e eles só viram os jogos porque eram de Libertadores… Foi amor instantâneo. Coisas que só o Grêmio é capaz de provocar nas pessoas. Parabéns pelo comentário e que mais uma vitória sobre o Santos convença o teu Guri sobre este time predestinado às grandes jornadas.
    Um forte abraço,
    José Terbai

    • Terbai,

      Que legal esta sua lembrança das nossas ruas, em Porto Alegre. A minha era a Saldanha Marinho. Meus meninos já são gremistas por inércia. Na realidade, foram levados ao Imortal depois de assistirem os minutos finais da Batalha dos Aflitos. Apenas não são doidos como o pai – o que até considero saudável.

  13. Mário, vc vê como o Milton é super democrático???? Ele emprestaria o blog pra comentar a viagem a Porto Alegre…. (mas pra falar da vitória do Timão, seria outra história – só se fosse contra o Inter- rs,rs,rs…) Mas vc vê que competente é este jornalista e pai??? escreveu um p. texto ( DNA do pai) pro filho que tb é gremista….Já eu não teria inspiração….minha filha, torce pro São Paulo(nem me pergunte o porquê…..esses problemas de família a gente abafa0…)saudações!!!!!

  14. Milton,comentário 87
    Além da ironia da questão da experiência, que Dunga inaugurou como técnico da seleção mais importante do mundo sem nunca ter exercido função igual, temos a fala sobre o Pelé.
    Ora, naquela época , em 68 ,também o Pelé não sabia que seria Pelé, o esportista de mais de 1000 gols, o craque mais famoso do futebol mundial.
    Tem mais, a cultura do Dunga é assustadora. Dizer que não consegue avaliar a escravatura porque não viveu na época, é no mínimo uma afronta à história.

  15. Caro Milton, grandioso o texto. Mais grandioso que a qualidade do time do Gremio. Mas, não mais grandioso que o talendo do tecnico: Silas. Noto, realmente, que o tecnico Silas retirou do tricolor a pecha de time aguerrido, lutador – sem, contudo, extirpar-lhe tal qualidade. Hoje, notamos que o time do grêmio, apesar da derrota para o meu alvinegro (parque são jorge), é um time de qualidades tática e técnica indiscutíveis. Parabens, especialmente pelo carinho com que trata sua prole. Carinho esse, não menos grande que o dispensado ao Tricolor Riograndense. Abraços.

  16. Você não me perguntou mas eu vou escrever:
    3×4 + 3×1 = 6 a 5
    Ganhamos e “estamos” na final .”Vocês” não.
    Boa sorte com seus colegas de trabalho , principalmente
    com o Professor!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Que sua qinta-feira seja tão feliz quanto a minha.
    Binho(rindo por último)kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  17. Que delicia ver esse blog da semana anterior e notar que agora, depois do “baile” no segundo tempo, as coisas parecem mais claras! Será que você não viu que quem virou o jogo foi o Mancha? Vocês deram sorte e provavelmente o Mancha é gremista também, então meu caro, o Santos é o melhor do Brasil na atualidade, pois venceu os campeões dos estados que enfrentou! Avante grandioso Campeão da Copa Brasil!

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