Por Maria Lucia Solla
Olá,
Um dia inteiro, embrulhado para presente, é o que venho me oferecendo cada vez com mais freqüência, e no último domingo de sol foi o que fiz. Acordei e já fui tomando posse dele, rainha e soberana. Jamais digo imagine, não precisava se incomodar, quando recebo um presente, mas me torno refém da surpresa, ansiosa para ver com o quê o presenteador acha que me pareço, ou em que viagem se meteu para achar que eu poderia gostar daquilo. No caso, acertei no presente, que era a minha cara e o que eu precisava. Começo a me conhecer melhor.
Encantada com o dia lindo de inverno, tomei meu café da manhã em três etapas, curtindo cada uma delas, me acomodei num biquíni confortável, munida de um livro incrível, lápis e água de coco e fui ler na espreguiçadeira do terraço. Depois de algum tempo, senti as pálpebras pesadas. Sol, preguiça domingueira e festa na noite anterior eram razões mais do que convincentes, e eu cedi. Dei boas vindas ao desejo de fechar os olhos, apoiei livro e lápis na mesinha ao lado confesso que não sei ler sem um lápis na mão , embarquei e fui envolvida por indescritível sensação de paz e de magia.
E o que é que normalmente acontece num momento como esse? Você é atacado por uma multidão desordenada de pensamentos, invejosos e estraga-prazeres, vindos sabe-se lá de onde, para acabar com a sua alegria. Bobeou, a mente sabota. Danada!
Ai o sol… pele… camada de ozônio e seus buracos… já passa do meio-dia… o que é mesmo que eu tinha que fazer?
Você sabe do que eu estou falando. Basta tentar se afastar da vala comum de pensamentos e tomar outra direção, para ser impiedosamente atacado. Espera-se que você siga o fluxo, sempre. Dar asas aos pensamentos para que a alma se manifeste, nem pensar. Se ao transgredir você baixar a guarda, eles invadem, mas se estiver vivendo a vida desperto, não babando e hipnotizado, dá tempo de reagir antes que o dano seja irreversível.
Agora, deixar que alguma coisa estragasse o meu dia, carregando o meu presente e com ele o meu prazer? Não mesmo.
O sol, então, dado o sinal verde, escaneou e desfragmentou cada célula dos meus corpos. Foi colocando tudo no lugar. Encontrava zonas em desequilíbrio, organizava e seguia em frente. Elencou prioridades, despertou sonhos, separou sentimentos por vibração de freqüência e arquivou importantes experiências, esquecidas aqui e ali na correria do dia-a-dia. Foi mais uma etapa do preparo para um novo tempo e uma nova vida. A minha. E dei boas vindas a ambos, sem medo nem expectativas superdimensionadas.
Garanto que não foi uma experiência paranormal e nem fruto de prática ritual de uma sociedade secreta qualquer. Podemos ter experiências assim, sempre que quisermos. A minha foi resultado de mansidão e de entrega, na medida certa, sabiamente recomendada por meu filho Paulo. Às vezes a gente acerta na mão.
E você, que presentes tem se oferecido?
Pense nisso, e até a semana que vem.
Maria Lucia Solla é professora, terapeuta e autora do livro De bem com a vida mesmo que doa, lançado pela editora Libratrês. Aos domingos, está neste blog com textos sobre o cotidiano.
Coisa linda este texto! A vida é mesmo um estranho e envolvente “presentear-se” constante.
Pena que nem sempre nos permitimos tal prazer.
Abraços
Sandra