Conte Sua História de São Paulo: as rotas de fuga da cidade no som da rádio e no guia de ruas

 

Por Pedro Lúcio Ribeiro
Ouvinte da CBN

 

 

 

Em 1997, havia três anos que eu já trabalhava como Agente de Segurança no Tribunal do Trabalho, em Campinas —- o que significa ser motorista. Aprendi a guiar caminhões; dirigia ônibus, utilitários e automóveis. Era um tremendo prazer. Só ficava em pânico quando tinha de buscar magistrados na capital. Tinha medo de me perder na imensidão de São Paulo —- para mim, um mar de prédios entre ruas e avenidas.

 

Em junho, tive de buscar o vice-presidente do Tribunal, no bairro da Aclimação, às 9 e meia da manhã. Acho que ele entrou no carro por volta das 10 horas —- a falta de pontualidade era hábito nos magistrados, ao menos naquela época.

 

“Otoridade” a bordo, segui para Campinas. Passei na praça Campo de Bagatelle, rumo a pista logal da Marginal Tietê. Até aí tudo normal. Desviei para a expressa e tudo parou. Parou, fiquei travado! E o tempo, andando. E o trânsito parado.

 

Pedi licença ao magistrado para ligar o rádio. Ele autorizou, só se fosse na Cultura. Liguei, Mas nada de informação sobre o trânsito.

 

Tomei coragem e pedi licença novamente: pode ser na CBN? Aqui em São Paulo sempre me viro bem ligando nessa rádio.

 

Sintonia autorizada! Nem isso me salvou. A informação que queria não chegava. Recorri ao Guia de Ruas, no porta luvas do carro — era o Google da época. Sugeri uma escapada pela Vila Nova Cachoeirinha, na Brasilândia. Ouvi um autoritário “não”! Poucos minutos depois, o “não” virou “sim” — meio a contragosto.

 

Quando estávamos quase chegando, através de ruelas clandestinas com acesso à rodovia Bandeirantes, ele mandou eu voltar à Marginal: “já deve estar livre, depois de três horas”.

 

Ledo engano. Negociei outro caminho. E o peso da toga falou mais alto. Segue por aqui —- mesmo que tudo estivesse parado.

 

De Campinas, meu “tijólokia” —- um celular ainda dos tempos analógicos —- chamava a todo momento. Era do Tribunal, preocupado com os prazos processuais do magistrado que ocupava cargo de alto escalão.

 

Após horas de atraso e cansados de congestionamentos, entramos na Bandeirantes —- eu preocupado com a missão a ser cumprida e o magistrado orgulhoso de supostamente conhecer os caminhos da cidade, que insistia em dizer que conhecia como a palma de sua mão.

 

Chegamos a tempo, antes do fim do expediente jurídico. No caminho ainda sugeri a criação de um serviço de informação do tipo 0800 para auxiliar motoristas e taxistas. Um sugestão em tom de ironia, porque se tivesse me deixado seguir as rotas indicadas pelo Guia de Ruas e atento às notícias da CBN, teríamos chegado bem mais cedo ao nosso destino. E descoberto que naquele três de junho de 1997, a Ponte dos Remédios tinha sofrido uma rachadura.

 


Pedro Lúcio Ribeiro é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte também mais um capítulo da nossa cidade: escreva para contesuahistoria@cbn.com.br.

Conte Sua História de São Paulo: tocando o meu berrante no trânsito da cidade

 

Por Samuel de Leonardo

 

 

O trânsito caótico das grandes cidades é capaz de proporcionar fatos inusitados e porque não dizer surrealistas. Em São Paulo já não é mais possível fugir dos engarrafamentos, não tem como optar por trajetos para amenizar a situação, quer seja pela manhã quer seja à tarde.

 

Sofre aquele que usa o seu automóvel para se locomover, sofre quem se utiliza do transporte público. Padece o motociclista, padece o pedestre, se ferra o ciclista. Todos acabam punidos, todos. São muitos veículos para poucas vias de acesso.

 

No começo da noite, seguia pela Avenida Paulista na faixa central sentido Paraíso. Seguia é força de expressão: estava parado no trânsito e sem perspectiva de melhora. O semáforo abria, fechava, abria. Nada de sair do lugar.

 

Após minutos de espera conseguimos cruzar a Rua Augusta, eu e mais alguns carros apenas. Aí tudo se repete: anda um pouco, para, anda.

 

Confesso que eu não me estresso, aproveito o tempo e vou observando o comportamento de cada vizinho.

 

À minha frente dois veículos, nas faixas à minha esquerda e à minha direita também dois. Percebo que a que vai à minha frente, pelo balançar da cabeça, curtia um som. Pelo retrovisor observo um motorista com duas cabeças, indicando tratar-se de um casal apaixonado. O da minha esquerda cutuca o nariz, tira algo e faz bolinhas. Com um peteleco atira-a pela janela. O da direita acende um cigarro, dá uma longa tragada e com a cabeça para fora lança uma baforada que atinge o motoboy que teima em passar pelo estreito corredor. Uma motorista ao lado apresenta um espetáculo de malabarismo: na mesma mão, cigarro, celular e o dedo indicador apontado para o motoqueiro que acabara de esbarrar em seu retrovisor.

 

Abre-se o farol, não havia como prosseguir, mas o condutor do veículo à minha direita toca a buzina sem cessar insistindo para que os demais invadissem a faixa de pedestre. Ninguém se abalou. Verde, amarelo, vermelho, verde novamente e a situação permanece inalterada.

 

Uma vez mais o motorista do carro ao lado mostrando toda sua impaciência volta a acionar a bendita buzina insistentemente. Como da vez anterior, nenhum condutor dá a mínima.

 

Com um pouco de sorte conseguimos progresso. Cruzamos a Rua Peixoto Gomide — mais um quarteirão vencido. Outra rua está por vir e assim atingimos mais uma quadra.

 

A história já é sabida: espera, paciência e perseverança. Quando já nem lembrava mais das buzinadas, aquele sujeito regressa à cena, desta vez com mais vigor, dispara o som a toda, põem a cabeça para fora e grita feito um louco:

 

— Seus motoristas de merda, tartarugas, molengas.

 

Ao instante a porta do passageiro do automóvel à sua frente se abre, desce um sujeito de estatura alta, chapéu de caubói à cabeça, todo desengonçado, carregando em suas mãos um instrumento enorme feito de chifre de boi, se aproxima da janela do nervosinho e grita:

 

Neste trânsito errante, só mesmo tocando o meu berrante.

 

Com habilidade, assopra o instrumento emitindo um som alto que a todos contagia. Uma vez, outra vez mais. Como um boiadeiro que acalenta toda a manada.

 

O trânsito continuou na mesma toada, mas as pessoas o aplaudem e entre assobios e gritos, o nervosinho da buzina disfarça um sorriso cessando a sua fúria, tal e qual um animal xucro quando domado.

 

Samuel de Leonardo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva o seu capítulo da nossa cidade e envie para contesuahistoria@cbn.com.br

A senhora da esquina dos Jardins

 

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Em meio as ruas arborizadas dos Jardins, região nobre de São Paulo, quase sempre encontro o sinal fechado ao atravessar a rua Groelândia, no caminho para a rádio. Ainda está escuro, pois é finalzinho de madrugada. A frequência com que a cena se repete, nestes sete anos em que apresento o Jornal da CBN, completados no dia 28 de fevereiro, mais do que uma coincidência, reflete a disciplina no acordar, tomar café, pegar o carro e seguir o meu caminho.

 

Logo no início, olhava para os lados e se não percebia nenhum carro prestes a cruzar a via, seguia em frente. Poderia justificar que naquela escuridão, passar o sinal vermelho era transgressão permitida em nome da minha segurança. Mentira! Era em nome da minha pressa mesmo. Que poderia ser provocada pelo desejo de chegar logo ao trabalho ou, provavelmente, por essa mania de estarmos sempre correndo na cidade grande sem saber o motivo.

 

Somente fui perceber a desnecessária e irresponsável transgressão após levar um tremendo susto. Sem nenhum carro se aproximando do cruzamento, resolvi arrancar e fui surpreendido pela presença de uma senhora que estava no meio fio a espera para atravessar a rua.

 

Demonstrou conhecer bem o mal-hábito dos motoristas da madrugada. Ficou parada na calçada, apenas aguardando eu partir, apesar de a faixa de segurança estar à disposição dela. Quando a vi, já não tinha mais como voltar atrás. O carro havia avançado e a culpa do risco assumido, tomado minha consciência.

 

Fiquei olhando a senhora pelo retrovisor querendo pedir desculpas e pensando em voltar para reiniciar a cena. O máximo que consegui foi ser atingido pelo desdém do olhar daquela pedestre. De alguém acostumada a sobreviver diante do desrespeito dos motoristas e resignada com a nossa ignorância.

 

Foi um dia difícil aquele. Um dia que jamais me abandonou. Porque voltei dia após dia a cruzar pela mesma rua. E sempre que o sinal fecha e eu paro o carro, volta a imagem da senhora, com as duas mãos agarradas na alça da sacola pendurada no ombro, cabelo preso em um coque e saia longa quase cobrindo os pés. É como se fosse minha consciência chamando-me à responsabilidade. Alertando-me para o respeito que tenho de ter sempre e em qualquer situação com o outro.

 

Não, não pense que a imagem da senhora é coisa da minha cabeça. É ela mesma que, assim como eu, disciplinada, passa no local sempre no mesmo horário.

 

Nessa sexta-feira, vou encontrá-la pela última vez, pois semana que vem o endereço do meu trabalho vai mudar. Prometo, porém, que nunca mais esquecerei dela. Estará em cada esquina, em cada cruzamento e em cada sinal fechado pelo qual eu passar.

 

Obrigado, aprendi muito com a senhora!

Jornal diz que número de motoristas que usam o celular ao volante aumenta 20% no DF

 

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O número de autuações por uso de celular ao volante no Distrito Federal aumentou 20% no primeiro semestre de 2017, em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com informações do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran), cerca de 186 condutores são flagrados diariamente cometendo a infração.

 

Ao todo, neste ano, mais de 45 mil pessoas foram flagradas no celular enquanto dirigiam. No mesmo período de 2016, ocorreram cerca de 37 mil infrações desta natureza. Os dados foram contabilizados por conta das ações de fiscalização feitas pelo órgão.

 


Leia a reportagem completa no jornal Correio Brasiliense, edição dessa quinta-feira, dia 28 de setembro.

Celular ao volante não é legal: vídeo usa cenas de pedestres para alertar motoristas

 

 

Cenas de pedestres usando o celular enquanto caminham são usadas para alertar os motoristas sobre os riscos de usar o telefone ao volante. O vídeo, produzido pelo governo da África do Sul, termina com imagens fortes de acidente de carro provocado por uma motorista que acessava o celular.

 

Recebi este material de um ouvinte do Jornal da CBN, motivado pela campanha “Celular ao volante não é legal”, que lançamos na semana passada no programa, durante a Semana Nacional de Trânsito.

Celular ao volante não é legal!

 

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Você e eu já participamos de inúmeras campanhas com pedidos de basta a questões que se tornam insuportáveis. Abaixo a Ditadura, Diretas Já, a campanha da fome, contra a corrupção ou pelo fim da impunidade: uma ou outra, certamente, mereceram um mínimo de atenção de nossa parte. No passado vestíamos a camisa, saíamos em passeata, erguíamos bandeiras e colávamos adesivo no vidro do carro. Hoje a tecnologia facilitou nosso engajamento: pode ser um post replicado na rede social preferida ou uma hashtag que nos acompanhe durante todo o dia no Twitter. Um simples “like” costuma já ser suficiente para apaziguar nosso ímpeto revolucionário. Clicou no botão, compartilhou, fez um selfie. Fiz minha parte. Alívio na consciência.

 

Desta vez, sou eu que quero convidá-lo a “levantar uma bandeira” ou, simplesmente, dar um “joinha”, já vai me deixar feliz. Caro e raro leitor deste blog, quero propor a você que abra mão de um vício que se espalhou pela sociedade moderna e tende a se agravar: o uso do telefone celular.

 

Calma lá. Não será preciso jogar o seu fora. Vai que nem tenha terminado de pagar as prestações! Nem seria louco de pedir que você desligasse o telefone durante um dia inteiro. Imagine o trauma? Por 24 horas, você não saber o que seus amigos estão fazendo nas redes sociais (sim, porque boa parte daquelas coisas legais que eles mostram, só fazem na rede) ? Ou, eliminar sua interação com aqueles grupinhos legais do WhatsApp? A humanidade se desintegraria. Nossas famílias, com certeza.

 

Meu pedido é apenas que você deixe de acessar o celular enquanto estiver dirigindo.

 

(Opa, você não tem carro e só anda de transporte público ou usa táxi e serviços de compartilhamento? Então, fique tranquilo. Você não precisa entrar nesta campanha, mas antes de desistir do texto “dá um joinha”, coloca entre seus favoritos e compartilha para os seus amigos nas redes sociais.)

 

A ideia surgiu há algum tempo após perceber que parte das mensagens que recebemos no WhatsApp da CBN é enviada por motoristas que se deslocam pela cidade e resolvem contar o que encontram no seu caminho. Um baita perigo!

 

Fácil de entender que se estão escrevendo enquanto conduzem um carro (ônibus, moto, bicicleta e caminhão, também), correm risco; sem contar que cometem irregularidade de trânsito: o código brasileiro impede que sua atenção, ao volante, seja desviada para outras atividades tais como assistir a vídeo, consultar informações na tela do celular, falar ao telefone ou fumar (sim porque o código exige que você use as duas mãos para dirigir e somente solte o volante para a troca de marcha).

 

Nos Estados Unidos, após décadas de recuo nos acidentes de trânsito, o aumento no número de casos tem chamado atenção de autoridades, nos últimos dois anos. Pesquisas não são suficientes ainda para identificar a verdadeira causa deste fenômeno, mas levando em consideração que a fiscalização é a mesma, o processo de educação dos motoristas, também, o sistema viário apenas avançou e a segurança dos carros aumentou, desconfia-se que a resposta esteja no uso do celular que mudou o comportamento dos motoristas ao volante. Foi o que me contou nesta segunda-feira, o secretário municipal de Transportes, em São Paulo, Sérgio Aveleda, bastante preocupado com este fenômeno na segurança de trânsito.

 

A solução para este drama, é bem provável, será encontrada na própria tecnologia que conectará o seu aparelho automaticamente ao sistema do carro, o impedirá de acessar o telefone, limitando-o ao comando de voz. Mais à frente, a interferência humana também será reduzida com a maior participação de carros “sem motorista” na frota urbana, carros que “não bebem”, “não falam ao celular”, “identificam pedestres com precisão”, “não trocam de faixa sem sinalizar” e “se distanciam de bicicletas” – estas coisas que a maioria de nós esquece de fazer quando está ao volante.

 

Como ainda dependemos do avanço da tecnologia, façamos o que está ao nosso alcance, reforçando a fiscalização e realizando campanhas permanentes de conscientização no trânsito.

 

No Jornal da CBN, nosso convite para que o ouvinte fale conosco pelo WhatsApp, Twitter ou e-mail virá sempre acompanhado do alerta para que não leiam nem postem mensagem enquanto estiverem dirigindo. Deixem para opinar, sugerir ou reclamar quando chegarem ao destino ou peçam para quem estiver ao lado que envie a mensagem.

 

Taí a nossa campanha: diga não ao celular, enquanto estiver dirigindo! Celular ao volante, não é legal!

De pegadinha milionária

 

Olá,

 

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hoje é sábado, e faltam poucas horas para eu enviar meu texto para o Mílton postar aqui no blog.

 

Poderia começar dizendo que é difícil encontrar assunto e escrever semanalmente sem cansar o leitor com meu estilo, mas eu gosto tanto de escrever, de falar e de pensar, que não sei o que seria se mim, se não pudesse rabiscar meus sentimentos nesta página imaterial onde tenho escrito há tanto tempo.

 

Essa manhã, fui dar aulas num bairro bem distante do meu, e resolvi ir de carro. Tenho usado muito transporte público, mas tem vezes que me ofereço uma dirigida pela cidade. E essa “dirigida” saiu cara!

 

Logo depois que o prefeito atual desta cidade resolveu mexer na velocidade permitida nas ruas, por tudo o que é canto, e pintar e bordar, literalmente, sem um projeto de quem realmente sabe o que está fazendo – para isso vamos às Universidades e quebramos o pescoço de tanto estudar – e sem discussões públicas, coisas que eu imagino devam ser feitas quando se mexe no cotidiano e no hábito dos habitantes que pagamos o seu salário, diga-se de passagem. Tem placas de 30 até 70 Km/hora ziguezagueando por vias, ou pela mesmíssima via, e eu nem saberia descrever o caos que é dirigir hoje nesta cidade engessada. Virou a esquina? O radar te pegou, porque o limite de velocidade mudou! Há!

 

… mas nas duas primeiras vezes que usei o carro, logo depois da doideira instalada em cada via, a cada velocidade diferente – deve ser a diversidade que agora está na crista da onda – já levei duas multas.

 

Moro na Vila Andrade, e para chegar ao meu Hortifruti favorito, preciso pegar a Guilherme Dumont Villares. Desde que eu me mudei para este bairro, o limite de velocidade para veículos nessa avenida, assim como em tantas outras vias da mesma importância, era de sessenta quilômetros por hora.

 

Saí de casa toda faceira, com minhas sacolas floridas, e lá fui eu. Não ultrapassei os sessenta por hora, cuidadosa. Fui ao Hortifruti, passei momentos deliciosos comprando minhas frutas, legumes, boa carne e outras gostosuras que não dá para ficar sem, e na volta, na mesmíssima via pela qual tinha ido, voltei.

 

Pá! Na minha cara, no primeiro quarteirão, uma placa de limite de velocidade de 50 Km. Não! logo a seguir dois enormes radares gulosos, escandalosos e vergonhosos, miram e fotografam teu carro e a placa dele. E você recebe, logo a seguir, um aviso em casa, te informando de que foi pega pelo radar. Trouxa!.

 

Quer dizer que quem vai paga para ir e voltar? Nem uma plaquinha pequeninha para avisar quem vai, que a velocidade mudou? Num percurso de não mais de seis quilômetros a gente tem que ser assaltada assim, a vias armadas?

 

Valha-me Deus!

Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Escreve no Blog do Mílton Jung

Multar para arrecadar

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

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Rodovias e vias de São Paulo e Rio estão sendo usadas e abusadas pela indústria da multa. A Rio-Santos no trecho entre Paraty e Angra com 96 km tem 45 radares, que equivale a um radar a cada 2,2 km. Com velocidade máxima de 40 ou 60 km. E, multas de 86 a 576 reais. Em São Paulo se reduz a velocidade de grandes avenidas para 50 km e é anunciada para breve uma velocidade geral para as demais vias de 40 km.

 

O Ministério Público Federal tem agido na Rio-Santos para coibir abusos de excesso de controle e de variação de velocidade. Tem obtido sucesso momentâneo, mas não conseguiu padronizar e racionalizar o sistema de controle de tráfego. Na Assembleia Legislativa, as manifestações contra os excessos também não conseguiram aplacar a gana pelo dinheiro das multas.

 

Na capital paulista, os 11,5 milhões de habitantes também não se mexem e assimilam o que vai na cabeça de Haddad e seus auxiliares.

 

É o típico caso em que o Poder Público é causa e efeito do problema. Nas estradas é permissivo quanto à ocupação de beira de rodovia, onde são construídas casas e comércios junto as pistas. Na cidade, o automóvel antes priorizado vê seus já congestionados espaços ocupados pelas faixas de ônibus e ciclovias.

 

O cenário é preocupante, pois se usa o automóvel para arrecadar e se justifica pela vida a ser salva. Como se o motorista irresponsável possa ser constrangido pela multa.

 

Há prejuízos.Nas rodovias turísticas certamente motoristas pensarão duas vezes antes de sair para locais com radares a cada 2 km. Principalmente quando não há linhas aéreas. Nas cidades a redução do ritmo do transporte resultará em menor produção e produtividade.

 

Os aplicativos talvez sejam a solução. Nas rodovias, com clubes de compra para passagens aéreas. Nas cidades, para escolher e combinar o melhor candidato para a próxima eleição.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

 

A imagem deste post é do álbum de M.J.Ambriola, no Flickr

Associação Comercial vê a atual SP como a ideal. Você concorda?

 


Por Carlos Magno Gibrail

 

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Em clara defesa de alguns comerciantes e proprietários de imóveis localizados em áreas com restrições, Alencar Burti, presidente da ACSP-Associação Comercial de SP e da FACESP-Federação das Associações Comerciais de SP, através de artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, sugere que a nova Lei do Zoneamento respeite a realidade atual de São Paulo, pois segundo ele esta é a verdadeira cidade e deve ser mantida.

 

Leia aqui o artigo assinado por Alencar Burti no Estadão

 

Manifestação um tanto parcial, se considerarmos o abrangente papel da ACSP através do tempo quando a entidade destacou-se nos momentos mais relevantes da história brasileira e paulista. Lutando sempre no sentido de romper, mudar e melhorar.

 

Burti, ao propor legalizar as ocupações em áreas desvirtuadas, segundo ele pelo tráfego, desconsidera que os comerciantes ilegais de então participaram da descaracterização tanto quanto a Companhia de Engenharia de Tráfego-CET, que, como sabemos, atua divorciada da cidade, em benefício somente do trânsito.

 

Até a fraca postura da Prefeitura em relação às Zonas Estritamente Residenciais-ZERs é temida por Burti, que é direto na proteção ao comércio:

 

“boa parte do comércio nesses lugares já está instalada e em pleno funcionamento. Proibi-lo causaria prejuízos aos comerciantes, que teriam de fechar as portas ou se reorganizar, buscar outro local que autorize o comércio. Isso não está nos planos do empreendedor, que já sofre as dificuldades de manter um negócio”

 

Burti sugere ainda que as ZERs contemplem espaço para farmácias, padarias, escritórios, etc. Justo esse que é o ponto mais vulnerável e agressivo da proposição. Os moradores das ZERs são categóricos em afirmar que não querem os corredores comerciais e esperam que se ponha fim ao atual sistema de degradação crônica.

 

A cidade de São Paulo oferece um complexo de shoppings, ruas especializadas, centros de convenção, hotéis, cinemas, teatros, bares, restaurantes, casas de show, estádios e tudo o mais. Será que precisamos ainda mais?

 

Ou devemos mudar conceitos e buscar mais qualidade. De vida e de cidadania?

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.