Mundo Corporativo: a visão de Valter Patriani sobre inovação e cliente

Valter Patriani entrevistado no estúdio da CBN em foto de Priscila Gubiotti

“Então, você veja que a perspectiva do cliente é toda diferente, você precisa ter muita humildade para ouvi-lo, você aprende e transforma esse aprendizado em um bem maior.” 

Valter Patriani, empresário

Em um universo corporativo que exige constante inovação e adaptabilidade, a trajetória de Valter Patriani se destaca por uma visão diferenciada sobre a importância do cliente e da equipe no sucesso empresarial. Fundador da Construtora Patriani, Valter compartilhou, no programa Mundo Corporativo da CBN, ideias valiosas sobre como criar uma empresa vencedora. Este é um relato que vai além da construção de imóveis, adentrando o terreno da construção de relações sólidas com clientes e colaboradores.

O cliente no centro de tudo

Valter Patriani não é um nome estranho ao sucesso. Após uma carreira notável na CVC, uma das maiores operadoras de turismo do país, ele se aventurou no ramo da construção civil com um olhar inovador:

“E a gente vai tentando pegar o nosso cliente e entendendo quais são os momentos da vida dele para fazer imóveis para os diferentes momentos da sua vida, mas precisa ter muita atenção ao cliente, precisa entender de gente,” 

Essa percepção acerca da importância de colocar o cliente no centro das decisões empresariais é um dos pilares de sua estratégia. Fez assim no turismo, quando percebeu que apenas os mais ricos conseguiam viajar de férias, e buscou soluções para permitir que a família dos trabalhadores também aproveitassem os principais destinos do Brasil. Fez na construção civil, ao planejar apartamentos que oferecem funcionalidades e benefícios demandados pelos moradores.

Patriani destaca que ouvir o cliente não é apenas uma parte do processo, mas a essência para a inovação e adaptação. As necessidades e desejos do cliente direcionam desde a concepção dos projetos até as práticas de sustentabilidade e tecnologia empregadas na construção. Placas solares para economia de energia, janelas automatizadas para maior conforto e infraestrutura preparada para carros elétricos são apenas algumas das inovações mencionadas por Patriani, sempre com o foco na experiência do cliente.

Pensa nos detalhes: na janela diante da pia onde se lava pratos ou no nicho para produtos de banho ao lado do chuveiro; se todos os prédios já oferecem gerador de energia nas áreas comuns, o empresário amplia o atendimento a pontos essenciais dentro do apartamento, como a tomada para o celular não descarregar e a que mantém a geladeira funcionando.

Liderança e colaboração: pilares para o sucesso

A visão de Patriani sobre a importância do trabalho em equipe é igualmente reveladora. 

“Tudo nasce dentro da companhia, dentro do time. O que os funcionários de obra estão executando hoje foi pensado a um ano e meio, dois anos antes. E quem é que pensa? O time. Nenhum de nós é melhor do que todos nós juntos”.

Essa filosofia ressalta o valor da colaboração interna e da liderança participativa. Patriani sublinha a importância de conhecer e conversar com os clientes e colaboradores, uma prática que permite uma troca constante de aprendizados e experiências.

Assista ao Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves, Priscila Gubiotti e Letícia Valente.

IA: soluções para as cidades, muito além dos cones

Ao acionar o Waze para circular na cidade em que mora, você já deve ter percebido a existência de ícones no formato de cones, que alertam para a existência de buracos no meio do caminho. Há muito mais desses cones de sinalização entre ruas e avenidas do que sua vã percepção é capaz de enxergar na tela do celular. Os “laranjinhas” tem sido a solução para cruzamentos em que os semáforos estão queimados, crateras que crescem em velocidade superior a capacidade de conserto das prefeituras e desvios de obras inacabadas.

O caro e cada vez mais raro leitor deste blog, sabe do meu fascínio pela proliferação de cones nas cidades. São tantos que a impressão é de serem a única solução conhecida pelos gestores municipais. Ironia a parte, a inteligência artificial que, no caso do Waze, colabora no deslocamento dos motoristas, tem transformado o cenário urbano com inovações que simplificam a vida dos cidadãos e otimizam a administração das cidades.

Nesta semana, Aracaju (SE) sediará o evento Smart Gov NE 2024, reunindo representantes de 60 cidades brasileiras para debater o uso da IA na melhoria dos serviços públicos. Esta iniciativa, promovida pela Associação Nacional das Cidades Inteligentes Tecnológicas e Inovadoras (ANCITI), destaca a crescente compreensão de que a inovação tecnológica é fundamental para aumentar a eficiência da gestão pública e a qualidade dos serviços oferecidos à população.

Johann Dantas, presidente da ANCITI e CEO da Prodam SP, aponta que, apesar de o Brasil contar com algumas das cidades mais inteligentes do mundo, como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Recife, a implementação de sistemas de IA ainda é incipiente na maioria dos municípios. Uma pesquisa da ANCITI revela que apenas 21,9% dos municípios brasileiros têm orçamento previsto para a implementação e desenvolvimento de sistemas de IA, dos quais somente 42,9% estão efetivamente destinando esses recursos para a tecnologia.

Os desafios são muitos, incluindo a falta de legislação específica, a escassez de pessoal especializado e a necessidade de conformidade com legislações como a LGPD. Ainda assim, os resultados positivos do uso da IA começam a surgir. Projetos como o diagnóstico de câncer de pele por análise de imagens, em desenvolvimento em Porto Alegre, e o planejamento de linhas de ônibus por IA em São Paulo, mostram o potencial dessa tecnologia para melhorar a eficiência dos serviços públicos e a qualidade de vida dos cidadãos.

Além disso, iniciativas como a assistente virtual Marisol, de Fortaleza, que auxilia na busca por serviços públicos, e as soluções de IA usadas pela prefeitura de São Paulo para identificar, validar, classificar e preencher documentos, exemplificam como a tecnologia pode agilizar processos e tornar a gestão pública mais eficiente.

Inovações internacionais em gestão urbana com IA

No exterior, há experiências ainda mais incríveis. Em Boston e Sacramento, por exemplo, a Verizon empregou tecnologia NVIDIA Jetson TX1 para analisar fluxos de tráfego, segurança de pedestres e otimização de estacionamentos, integrando a IA nas luzes de rua existentes. Isso ilustra como a infraestrutura urbana convencional pode ser transformada em uma plataforma inteligente, gerando eficiência e novos serviços para a população​.

Helsinki destaca-se por seu compromisso com a construção de uma cidade inteligente, respondendo ao aumento previsto da população através do suporte a startups e à inovação em transporte público, gestão de resíduos e consumo de energia. A cidade visa reduzir o uso de carros particulares e promover uma rede de transporte público integrada e eficiente, acessível através de um aplicativo que planeja viagens combinando diferentes modos de transporte​.

Singapura, por sua vez, está avançando para se tornar uma cidade-estado totalmente monitorada, com a instalação massiva de sensores e câmeras para controlar aspectos variados da vida urbana, desde a limpeza de espaços públicos até o monitoramento do fluxo de veículos.

Colaboração de cidades viabiliza investimento em IA

No Brasil, ainda há enormes desafios para a construção de cidades inteligentes. Um dos questionamentos levantados por Dantas é sobre o retorno financeiro do investimento público em tecnologia. Embora seja difícil mensurar em valores os benefícios proporcionados pela tecnologia, como a economia de tempo e o aumento da eficiência, é inegável que a adoção de soluções tecnológicas é um caminho sem volta para as cidades que desejam se tornar mais inteligentes e eficientes.

O compartilhamento de informações e o trabalho colaborativo entre as cidades é uma das soluções que podem viabilizar investimentos públicos. Por exemplo, a análise de crédito para empreendedores, criação de planos de negócio e confecção de currículos, que já são realidade no Recife graças ao uso de IA, logo serão adotadas, nos mesmos moldes, por Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Londrina. A aposta do Smart Gov NE 2024 é que parcerias como essas se reproduzam durante o evento, que será nos dias 10 e 11 de abril.

O certo é que a trajetória rumo a cidades mais inteligentes e tecnologicamente avançadas já começou. As iniciativas e projetos em andamento no Brasil mostram que, apesar dos desafios, há um comprometimento crescente com a inovação tecnológica na gestão pública. Compartilhar experiências e soluções, como promovido pela ANCITI, é crucial para acelerar esse processo e garantir que as cidades brasileiras não apenas acompanhem mas liderem a transformação digital global. Quem sabe, em um futuro próximo, os cones deixarão de integrar o cenário urbano.

Mundo Corporativo: se você não se reinventa todo dia, você morre, diz Janyck Daudet, do Club Med

CEO do Club Med em entrevista ao Mundo Corporativo Foto de Priscila Gubiotti

“Hoje em dia, não é mais ‘management top down’. São eles embaixo que mandam. A gente ouve muito eles. Mas a exemplaridade é essencial neste tipo de trabalho”.

Janick Doudet, CEO Club Med na América do Sul

Freundlichkeit,, gentillesse ou kindness. Seja em qual for a língua, gentileza deve fazer parte do vocabulário dos funcionários que atuam nos 26 países em que existem unidades do Club Med. Os integrantes da equipe dos resorts, não por acaso, são chamados G.O — Gentis Organizadores. Para Janyck Daudet, CEO do Club Med para a América do Sul, entrevistado no Mundo Corporativo, da CBN, exercitar a gentileza é essencial para que se ofereça a melhor experiência possível aos clientes.

“(gentileza) é importante e faz parte dos valores do Club. Como todas as empresas, o Club Med tem vários valores: responsabilidade, pioneirismo, etc, etc, etc e gentileza. Porque no final, nosso cliente quer passar férias inesquecíveis”. 

No Brasil, Janyck está à frente das operações de três resorts: em Rio das Pedras (RJ), Trancoso (BA) e Mogi das Cruzes (SP). No ano que vem, será entregue uma quarta unidade, em Gramado, na serra do Rio Grande do Sul. A convivência harmônica e produtiva entre colaboradores de cerca de 25 nacionalidades diferentes é um dos desafios do executivo. Ele enfatiza a importância de criar um ambiente de trabalho que respeite e celebre essa diversidade cultural, criando uma “família” corporativa unida não por laços sanguíneos, mas por valores compartilhados e objetivos comuns.

“A noção de respeito para mim é muito importante. Quando você dirige uma empresa, você tem de respeitar a cultura de cada um e estar sempre ouvindo as pessoas.” 

Inovação constante: a chave para o futuro

Num mundo em constante transformação, onde a inteligência artificial e a globalização redesenham os contornos do mercado de trabalho e do lazer, Janyck traz luz sobre como liderar com sucesso em um setor tão dinâmico como o turismo. Em um trecho impactante de sua fala, este francês de nascença, que está na empresa há 40 anos e no Brasil, desde 1996, sem jamais perder o sotaque de origem alerta:

“Se você não se reinventa todo dia, você vai morrer, porque o mundo já passa muito rapidamente e a inteligência artificial, hoje, faz com que a coisa acelere ainda mais. Então, você tem de se reinventar todos os dias”. 

Essa necessidade de inovação constante é particularmente crítica no turismo, um setor altamente competitivo e afetado por mudanças rápidas em tecnologia e comportamento do consumidor. A pandemia do COVID-19, por exemplo, foi um lembrete brutal da fragilidade do mercado; apenas aqueles prontos para adaptar-se e inovar poderiam esperar sobreviver e prosperar. Para Janick, adaptar-se é mais do que uma estratégia; é uma filosofia de vida que ele instila em sua equipe, garantindo que o Club Med continue a ser um líder no setor de turismo global.

Ouça o Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Letícia Valente.

Na entrevista, Janick Doudet também falou sobre o momento do turismo brasileiro, as barreiras para o crescimento do setor no Brasil, a sustentabilidade nos negócios, os novos projetos da empresa e o seu desenvolvimento na carreira:

Mundo Corporativo: Mell Azevedo, da i-Cherry, analisa dados e enxerga pessoas

Bastidores da entrevista online com Mell Azevedo. Foto de Pricila Gubiotti

“Essencial é fazer as perguntas certas. Olhar para os dados — antes de querer uma resposta pronta, é o que eu quero saber sobre o meu consumidor”

Mellina Azevedo, i-Cherry

Ao acessar este texto, você deixou sua digital. Em algum lugar, plataforma ou ambiente que tenha passado, seu comportamento foi registrado. O caminho que fez para nos encontrar por aqui, o tempo que permaneceu e a porta de saída que usou para deixar este espaço, oferecem informações que ajudam a entender o seu comportamento. Isso acontece sempre que você passa pela rede social, entra em um site ou usa um aplicativo. 

A quantidade de dados que a sociedade contemporânea gera é incalculável. Ops, parece que conseguem calcular sim, ao menos foi o que fez o professor Martin Hilbert, da Universidade do Sul da Califórnia, que diz ter chegado ao incrível número de 295 exabytes de informação. Era o ano de 2007 quando ele apresentou esse estudo, o WhatsApp ainda não havia chegado entre nós, o que nos faz pensar que o volume de dados atualmente é ainda muito maior (o fenômeno e os riscos que isso tudo gera estão descritos lá no meu livro Escute, expresse e fale!).

Administrar todas as informações e entregar produtos e serviços que atendam a expectativa e necessidade do consumidor é uma das funções da i-Cherry, empresa que tem como diretora de operações Mellina Azevedo, entrevistada do programa Mundo Corporativo, da CBN. A despeito dela viver “mergulhada” nos registros deixados por onde os consumidores passam, Mell (é como ela prefere ser chamada) faz questão de ressaltar que o negócio da i-Cherry são as pessoas:

“Quando a gente fala de dados, a gente está falando de pessoas. E pessoas são únicas, comportamentos são únicos, necessidades são únicas. Obviamente quando eu estou gerenciando uma estratégia de mídia, uma estratégia de SEO para uma marca, eu não estou observando o comportamento individualizado, mas eu estou observando o comportamento agrupado de pessoas que demonstram interesses, capacidades e necessidades em comum”.

A i-Cherry, da qual Mell faz parte, se apresenta como uma martech, nome que une “marketing” e “tecnologia”, e tem sido usado para definir as agências que cuidam de tudo que envolve o comportamento digital e a interação das marcas com os consumidores online. É uma forma de colocar a tecnologia à serviço do marketing através de plataformas digitais e inteligência estratégica. 

Apesar dos termos “digital”, “virtual” ou “artificial” fazerem parte do dia a dia de Mell Azevedo, voltamos a lembrar: é de pessoas que ela está falando. E para as pessoas que estão à frente de pequenas empresas e negócios, nossa convidada sugere que estes empreendedores se aprofundem um pouco mais nas informações que os clientes deixam nos diferentes canais de contato com a marca: Facebook, Instagram, WhatsApp ou Twitter, por exemplo, oferecem um retorno de informação a respeito do consumidor. Todas essas plataformas podem ser gerenciadas no Google Analytics, que é uma ferramenta acessível de análise para monitorar com eficiência o comportamento online e, claro, traçar estratégias sustentáveis — tendo, inclusive, uma versão gratuita. A Mell que sugere é a Mell que alerta: use os dados do cliente para conhecer seu comportamento sempre respeitando a LGPD — Lei Geral de Proteção de Dados.

Deixe-me voltar a relação dados x pessoas! A segunda parte da nossa entrevista seguiu essa trilha para aproveitar outro mérito revelado pela nossa entrevistada: a capacidade de liderar equipes de alta performance. Atualmente, a i-Cherry trabalha no formato “híbrido opcional”, que foi como Mell definiu o modelo implantado na empresa, em que os profissionais podem trabalhar no escritório ou em casa, conforme suas necessidades: 

“As pessoas vêm quando elas querem ou quando elas estão motivadas, quando elas têm um porquê de vir aqui. Vir ao escritório tem a ver com troca de ideias, tem a ver com aprendizagem, tem a ver com fazer com que as coisas aconteçam de forma mais rápida, mas não significa que o online não funciona. Funciona, também!”.

A medida que se tenha uma boa metodologia de trabalho, Mell entende que é possível fazer com que o “olho no olho” digital alcance os resultados esperados. Mais importante do que o meio pelo qual ocorre a interação entre os profissionais da empresa, é fazer com que essa relação seja sincera e transparente e se mantenha a equipe motivada na busca de seus propósitos. Ela ressalta que o online fez com que se ganhasse tempo com a família, uma alimentação mais saudável e uma vida com mais qualidade e, atualmente, ninguém quer abrir mão dessas conquistas.

Antes de discutir o método e os processos usados para que se tenha um time engajado, mesmo à distância, Mell diz que o líder precisa lembrar que as pessoas têm sentimentos:

“Ninguém perde o prazo de um relatório e sente muito pelo relatório ou sente muito por uma planilha que não foi entregue. Mas, provavelmente, se você falhou com o combinado que você tenha feito com um colega, que estava esperando a sua planilha para iniciar um planejamento, isso vai gerar um constrangimento consigo mesmo”.

Os métodos existem para facilitar o acompanhamento e o desenvolvimento das pessoas. Na i-Cherry, são aplicadas, por exemplo, ferramentas de desempenho individual, de feedback, de integração e de grupo focal dentro das equipes para ouvir o que pensam. Mas os recursos digitais não podem tirar a capacidade de o líder ler a equipe e entender o que funciona para cada pessoa:

“Encontrar o sentimento que motiva a equipe é importante”. 

Um dos papeis do líder, de acordo com Mell, é encontrar “pessoas incríveis” porque quando você está rodeado pelos melhores é compelido a oferecer também o seu melhor. E o faz não pela competição mas pelo desejo de pertencer aquele grupo de excelentes profissionais. 

“… e o bom profissional também é caracterizado pela vontade genuína de compartilhar conhecimento”. 

Para aprender mais com esta conversa, assista ao vídeo completo da entrevista que fiz com Mell Azevedo, diretora de processos da i-Cherry, a seguir. Antes, que a nossa equipe de incríveis no Mundo Corporativo tem o Rafael Furugen, o Bruno Teixeira, o Renato Barcellos e a Priscila Gubiotti.

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: os cinco destaques do branding que vieram para fcar

Photo by Josh Sorenson on Pexels.com

“O envolvimento com consumidores se cria com bons produtos, atrelado a uma comunicação que tem sustentação na prática. Discursos vazios, nunca mais!”

Jaime Troiano

A gestão de marcas foi fortemente influenciada pela retomada das atividades e a redução dos casos de Covid, no Brasil. Entre os cinco principais destaques do setor, ao menos três têm ligação direta ou indireta com o tema. Jaime Troiano e Cecília Russo fizeram um balanço das ações desenvolvidas pelas marcas, em 2022, muitas das quais se transformando em tendência para os próximos anos. É o caso da presença das marcas nos grandes eventos presenciais, tais como a CCXP, em São Paulo, o Rock In Rio, no Rio de Janeiro, ou a Copa do Mundo, no Catar.

“Estar lado a lado dos consumidores, num lugar onde eles estão curtindo o momento e trazendo presenças pertinentes a esse momento foi uma modalidade de Branding que parece ter vindo para ficar e esses 3 eventos em particular deixaram isso claro”

Jaime Troiano

Outro destaque que teve influência da pandemia foi a descoberta de que, em geral, as marcas dependem tanto do fisico quanto do digital. Mesmo marcas nativas digitais entenderam a importância de criarem pontos presenciais de contato com os seus consumidores. Um dos exemplos é a Petlove que se apresenta como a maior plataforma digital de produtos para animais de estimação e, ano passado, iniciou operação física para facilitar sua distribuição e agilizar a entrega.

O terceiro destaque, apontado por Jaime e Cecília, foi a presença das marcas em apoio a causas dos mais diversos temas para gerar engajamento. A ideia é oferecer ao público mais do que apenas uma uma boa entrega de produtos ou serviços. Muitas empresas, por exemplo, aderiram a campanhas em favor da saúde mental ao perceberem a necessidade das pessoas, de seus profissionais e da sociedade em buscar equilíbrio diante das incertezas provocadas pela pandemia.

O foco na diversidade também marcou o ano que se foi. Ainda bem! As marcas perceberam o interesse da opinião pública no tema e a necessidade de entenderem melhor os diversos grupos que compõem a sociedade. Ao promoverem a inclusão, seja em suas campanhas publicitárias seja na contratação de profissionais, outro benefício é a maior criatividade nas soluções oferecidas ao mercado. Mas, é preciso cuidado: 

“Sempre insisto que ainda há marcas falando mais do que fazendo de fato e isso é um grande desrespeito à sociedade. Precisamos sempre cobrar consistência”

Cecília Russo

Outro tema que passou a integrar a estratégia das marcas foi o da sustentabilidade. Definitivamente colocar essa pauta em suas comunicação e, mais do que isso, nas suas práticas. Aqui também cabe o alerta que foi feito agora há pouco: é preciso comprometimento com o meio ambiente em palavras e ações sob o risco de suas práticas serem identificadas como green washing. 

Dar sequência a essas ações é o desafio das marcas para 2023. Mas sobre as tendências do ano que se inicia, vamos conversar com você na próxima semana.

Ouça o comentário Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, com Jaime Troiano e Cecília Russo, que citam alguns projetos para ilustrar os cinco destaques do ano passado:

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: da turma da bolinha de gude à turma do branding

Foto de Fernnado Rosa

“Há um menino

Há um moleque

Morando sempre no meu coração

Toda vez que o adulto balança

Ele vem pra me dar a mão”

Milton Nascimento

O papo era sobre branding e quem é responsável pela gestão da marca dentro da empresa. Bastou uma referência ao tempo em que se jogava bolinha de gude, e a memória dos três atiçou o passado. Jaime Troiano e Cecília Russo, nossos especialistas em marca, e este que lhe escreve, jornalista por nascença, reviveram a brincadeira de criança que parece esquecida diante da falta de terrenos apropriados. Não que fosse necessário algo sofisticado para o jogo. Ao contrário. Nos bastava o chão batido, um circulo riscado na terra e a diversão se iniciava. Hoje, além do asfalto e da laje que cobrem o piso, estamos ocupados com outras atividades e as nossas crianças preferem os eletrônicos. Pena!

Naquela época — coisa de 40 anos atrás —, em que a simplicidade do jogo nos bastava, branding já era branding, mas com outro nome, bem mais simples: marca. Um tema que ficava sob a responsabilidade da turma do marketing e do design. A medida que o assunto ganhou projeção e as técnicas se sofisticaram, descobriu-se que a gestão de marca deveria estar no foco de outros profissionais, também:

“Branding, do jeito que conhecemos hoje, é uma ampliação de responsabilidades,  atividades que não têm mais um dono definido. É algo que floresceu há uns 20 anos, mais ou menos, com maior intensidade. Deixou de ser uma “capitania hereditária” do marketing” 

Jaime Troiano

Uma da razões de o branding ter ampliado suas fronteiras é o quanto a marca passou a valer para as empresas: pode representar até 50% do valor total da empresa, de acordo com alguns estudos:  

“Marcas passaram a ser o grande indicador que individualiza uma empresa. Afinal, os processos técnicos e características físicas de produtos e serviços se democratizaram. E eles tendem a ser muito parecidos objetivamente”. 

Cecília Russo

Diante dessa relevância, não fazia mais sentido o assunto ter um só dono ou ficar a cargo de apenas algumas cabeças. Com isso vieram as consultorias especializadas em serviços de branding — caso daquela fundada pelos nossos dois jogadores de bolita, Jaime e Cecília, a TroiannoBranding — que interagem com uma série de outras interfaces: a empresa detentora da marca, seus profissionais de marketing, a turma da comunicação, as agências de propaganda, o setor jurídico, os designers, as empresas de pesquisas e, evidentemente, com os responsáveis pela gestão de pessoas: 

“Um outro grupo de profissionais que a gente vê hoje muito envolvido com marca é o setor de Recursos Humanos ou de Talentos Humanos — os nomes são os mais variados  —, e a razão para isso, a gente até já trabalhou em alguns programas, é que a marca tem que começar de dentro para fora, como identidade dos colaboradores, que gera engajamento, que retém talentos”

Cecília Russo

Assim como o branding não é coisa para uma só cabeça, rádio também, não. Nem bem terminamos nosso bate-papo sobre gestão de marcas e vários ouvintes já colaboravam com a nossa conversa … sobre bolinha de gude, é claro! Cada um lembrando de seus momentos diante dessa brincadeira e de como as bolinhas tinham “marcas” diferentes conforme o local em que o jogo se fazia: lá no meu Rio Grande do Sul, era bolita; em Minas, bulinha; no Pará, biroca; no Paraná, burica, e por aí vai!

Ouça o comentário completo do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, com Jaime Troiano e Cecília Russo. A sonorização é do Cláudio Antonio:

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, às 7h55, no Jornal da CBN.

Mundo Corporativo: “Posicionem-se”, é o que Renata Spallicci, da Apsen, pede às mulheres

Foto: divulgação

“A gente passou a viver o que eu gosto de chamar de flow corporativo, que é quando a coisa de fato entra nas veias dos colaboradores, quando realmente as pessoas passam a acreditar  no planejamento, a visão de futuro”

Renata Spallicci, Apsen

De estagiária a vice-presidente. A frase que acompanha parte do material de divulgação do livro mais recente de Renata Spallicci, mesmo que precisa, diz pouco sobre a história desta executiva. Esconde que a trajetória dela foi na empresa da família — o que poderia diminuir os méritos de sua carreira profissional — tão pouco deixa explícito que o estágio final dessa jornada, até aqui, somente se deu porque ela liderou o “sonho grande” de, em cinco anos, dobrar de tamanho a Apsen Farmacêutica. Sonho sonhado e alcançado, em 2020, quando o laboratório passou a faturar R$ 1 bilhão.

A Apsen foi criada pelos avós, Mario e Irene Spallicci, em um laboratório no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, em 1969. Atualmente está sob o comando do pai, Renato, que foi quem a convidou para ser estagiária na empresa. Na entrevista ao Mundo Corporativo, Renata conta que ao se apresentar para o trabalho — “fui ali toda bem vestida” – em lugar da sonhada mesa de escritório com seu nome em um placa, recebeu crachá de funcionária do almoxarifado, onde começou carregando caixas, recebendo e distribuindo produtos. 

Levantar peso não chegava a ser um desafio impossível para a moça que tem no fisiculturismo uma de suas paixões. Ela, porém tinha clareza de que seu desenvolvimento profissional dependeria muito mais dos estudos e da busca do conhecimento do que propriamente dos laços de família. Passou por processos de coaching, mentoria e mastermind; e é formada em engenharia química, pós-graduada em administração e com MBA para CEOs pela FGV.  Hoje, Renata Spallici é vice-presidente executiva da Apsen.

A meta  de elevar o faturamento da empresa passou pela construção de um planejamento que, segundo Renata, tem como etapas iniciais “a visão clara de futuro” e a necessidade de se levar essa visão de forma organizada e com objetivos estratégicos para cada uma das áreas envolvidas, até alcançar os objetivos individuais. A autora do livro “Sucesso é o resultado de times apaixonados” ressalta a importância de contar com o engajamento dos colaboradores nesse processo de desenvolvimento. 

“O primeiro passo foi conquistar as pessoas e plugar o sonho individual do colaborador no sonho corporativo … Falando assim parece simples, mas é um trabalho árduo, é um trabalho de muita consistência, porque você tem que conversar e repactuar as conversas ao longo de muito tempo, exige  uma mudança de cultura”.

Em um dos vários trabalhos que realiza fora da empresa, Renata se dedica a mentoria de mulheres, no programa Winning Woman EY, no qual prepara lideranças femininas, muitas das quais atuando em empresas familiares como ela. Chama atenção para a importância dessas mulheres se fortalecerem tendo voz ativa e perdendo o medo de errar:

“Muitas delas são fundadoras, têm um talento específico, desenvolveram algum produto incrível .. mas eu percebo que têm dificuldade de sentar na cadeira delas e assumir o papel e as responsabilidades. Então, uma das coisas que eu trabalho muito com a com as minhas mentorandas é justamente isso: posicionem-se!”.

Para que o crescimento profissional se realize, Renata recomenda que sejamos capazes de atuar dentro da empresa com o “senso de dono”,  o que pode ser lido como mais um jargão corporativo, desses que repetimos sem entender seu sentido. Não para esta executiva, escritora, fisiculturista e rainha de bateria —- sim, Renata também desfila no carnaval paulistano.  Para ela, é fundamental que se entenda que “se a gente quer crescer, tem que ser empreendedor dentro do negócio do qual a gente participa”.

Assista agora à entrevista completa com Renata Spallicci, vice-presidente executiva da Apsen, ao Mundo Corporativo:

O Mundo Corporativo tem a colaboração de Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Débora Gonçalves e Rafael Furugen. 

Mundo Corporativo: Luciano Santos, do Facebook, sugere que você seja egoísta em sua carreira (antes de criticar, leia o texto)

Photo by MART PRODUCTION on Pexels.com

“Tanta gente veio antes, aprendeu tanta coisa, então, tente achar aí a sua maneira e a sua estratégia, mas tenha mentores na sua carreira”

Luciano Santos, Facebook

Seja colaborativo. Compartilhe o seu conhecimento. Escute as pessoas. Entenda a necessidade do seu colaborador. Todas essas frases, não por acaso com o verbo no imperativo, devem ser exercitadas no ambiente de trabalho e nas relações profissionais; e nos remetem a olhar para o outro. Luciano Santos, executivo de vendas do Facebook, concorda com isso, mas, diante do que encontra nas corporações e com as pessoas com quem interage, decidiu-se por fazer um convite diferente: olhe para você mesmo! Parece uma ideia egoísta. De certa parte é mesmo. Mas, se é possível assim dizer, é um “egoísmo saudável”.

Luciano é autor do livro “Seja Egoísta Com a Sua Carreira – descubra como colocar você em primeiro lugar em sua jornada profissional e alcance seus objetivos pessoais” (Editora Gente) e explicou seu objetivo em entrevista ao Mundo Corporativo:

“As pessoas consideram o que os familiares falam, o que o chefe fala, e sempre se colocam em último lugar. Então, eu falo que o título (do livro) é um pouco de exagero; é uma provocação, para a gente ter consciência que, se eu não me colocar como protagonista da minha própria carreira, ninguém vai”.

Considerando o melhor dos sentidos para esse egoísmo defendido por Luciano, ele assume que o foi durante a carreira, por instinto, muito mais do que por ensinamento. Nessa linha, sempre que possível privilegiou o aprendizado ao salário. Por duas vezes, deixou empregos que remuneravam mais por empregos que o ensinariam mais. A despeito da formação em letras, migrou para o ramo da tecnologia, tendo passado pelo UOL, Google e, agora, Facebook. Diz ter sido um acidente o fato de o profissional de letras com pós-graduação em comunicação jornalística se transformar em profissional de tecnologia. Um acidente provocado por intervenção do irmão que havia estudado processamento de dados e o ensinou a acessar e-mails e navegar na internet — duas habilidades que eram diferenciais competitivos na época em que se iniciou na carreira.

“Eu estava procurando uma vaga de redator júnior, algo ligado à minha formação. Meu irmão insistiu para colocar no meu currículo. Não tinha colocado esse dado tão importante. Eu coloquei, mandei para Folha de São Paulo, que na época tinha aquele projeto junto com a Abril, chamado Universo Online, o UOL, e só porque meu irmão me deu aquela mentoria de currículo e eu coloquei aquelas duas pequenas informações acabei parando no UOL e Isso mudou completamente a minha carreira”.

Cuidar bem do seu currículo é um dos passos para “ser egoísta” na carreira. É o primeiro elemento do que Luciano chama de tripé da empregabilidade: currículo, narrativa e networking: 

  • Currículo — um erro muito comum é não colocar algumas experiências  que são absolutamente relevantes.
  • Narrativa — uma entrevista bem sucedida nada mais é do que uma história bem contada; esteja preparado para contar a sua história.
  • Networking —  é o irmão direto da indicação, a melhor forma de ingressar no mercado de trabalho. Networking é estratégia de longo prazo que deve ser alimentada em toda carreira e não apenas quando o profissional perde o emprego.

Ao consultar 1.500 profissionais, Luciano Santos encontrou 60% deles infelizes em suas carreiras, e muitos extremamente infelizes, o que leva a uma série de problemas de saúde e comportamento: burnout, ansiedade, e dificuldade em tomar decisões. Ele entende que são múltiplos  os motivos que levam a esse cenário e destaca dois: o primeiro é a falta de treinamento de lideranças; e o segundo, a falta de consciência sobre como gerencias a própria carreira”

“… como eu tomo uma decisão? Eu devo planejar minha carreira? De que maneira eu comunico com o meu líder? Tem muitas coisas que a gente pode aprender e não só pode como deve aprender a fazer”

Assista ao vídeo  completo da entrevista com Luciano Santos ou ouça o podcast do Mundo Corporativo.

O Mundo Corporativo tem a colaboração de Bruno Teixeira, Débora Gonçalves, Renato Barcellos e Rafael Furugen.

Mundo Corporativo: Carlos Busch convida você a entender o protagonismo do consumidor para ir além das expectativas

“… a gente precisa ser cada dia melhor que a gente mesmo e não melhor que um terceiro”

Carlos Busch

Vivemos épocas em que a única forma de interagir com uma marca era pela caixa postal; a inovação tecnológica deu liberdade às pessoas se comunicarem pelos canais que considerarem mais apropriados. Essas transformações também deram aos indivíduos o poder de escolha e a capacidade de comandar a evolução dos negócios, exigindo respostas do mercado. Uma pressão a mais sobre gestores e executivos que se veem ameaçados neste cenário e precisam reagir sendo protagonistas de suas carreiras e buscando ir além das expectativas.

A ideia que abre este texto é defendida por Carlos Busch, executivo, referência em evolução mercadológica, que atua há mais de vinte anos em multinacionais e ocupa, atualmente, vice-presidente na Sales Force Latin America. No programa Mundo Corporativo, o autor do livro “Muito além das expectativas” (editora Gente) chamou atenção para a necessidade de as empresas entenderem que o consumidor hoje tem muito mais informação e isso lhe confere poder:

“As empresas que entenderem que gerar informação gera relevância, gera empatia junto ao consumidor, são as empresas que vão estar mais próximas a criar um engajamento e, obviamente conseguir, ter as melhores transações comerciais com ele”.

Muitas empresas ainda mantém como parâmetro o mercado que atuam e seus concorrentes —  é o conceito do benchmark que sempre imperou na mente dos executivos. Para Carlos, esse viés do passado que ainda pauta a forma de agir de empresários e executivos, impede que se enxergue o poder do indivíduo:

“Quem conseguir converter a sua visão muito mais para o cliente tem chance de protagonizar muito mais e não vender 1.8 carros para cada dez pessoas que entrarem na loja, mas vender três, quatro, cinco …”

A referência de Carlos é de uma das histórias que conta no livro, na qual o vendedor de carros comemora o fato de alcançar um índice de conversão de vendas maior do que os concorrentes, quando seu objetivo deveria ser ampliar os resultados comparando com o seu próprio desempenho:

“… de nada adianta eu ser o melhor baseado que eu não sou o ótimo Muitos dizem que a minha oportunidade e a tua margem ou a tua margem é minha oportunidade. Nesse mercado de competição quem entender como entregar a melhor experiência para o cliente, dado que ele é o  protagonista , poderá chegar ao cenário de dez pessoas entrarem numa loja e comprarem dez carros. Por que não, né?”

Um dos caminhos para que essa mudança de comportamento ocorra é o método dos 5 Ps, que representam os cinco principais pilares responsáveis pelo protagonismo em sua jornada, segundo Carlos:

  • Propósito – descubra o seu e guie suas ações;
  • Pioneirismo – tenha uma mente inquieta e aja sem se preocupar em alinhar a sua conduta com a da maioria;
  • Pense e faça – tenha a liberdade de buscar algo diferente, ainda que não esteja pronto
  • Performance – desafie-se a todo momento a ser melhor e diferenciado
  • Pessoas – cerque-se de pessoas capazes de enriquecer suas ações e de o ajudar a forjar melhores caminhos.

Assista ao vídeo completo da entrevista de Carlos Buscah, no programa Mundo Corporativo:

Colaboraram com este capítulo do Mundo Corporativo: Priscila Gubiotti, Bruno Teixeira, Renato Barcelos e Rafael Furugen. 

Mundo Corporativo: a diversidade tem de estar no DNA da empresa, diz Manoela Mitchell, da Pipo Saúde

Manoela Mitchell, foto: divulgação

“Não adianta chamar para festa, tem que convidar para dançar. E eu acho que diversidade é muito sobre isso. Chamar para festa é a parte de contratação; convidar para dançar é a parte de manutenção dessas pessoas aqui dentro da empresa”.   

Manoela Mitchell, CEO Pipo Saúde

Única mulher em uma mesa de reuniões do fundo de investimento em que trabalhava, a economista Manoela Mitchell percebeu que mesmo tendo voz não havia ouvidos à sua disposição. No escritório, os colegas não escondiam o preconceito de gênero, e sempre se mostravam mais à vontade em dar atenção a alguém que se parecesse com eles. Apesar de o comportamento fazer parte daquele ambiente desde que chegou por lá, ainda muito jovem, as cenas ficaram mais explícitas a medida que Manoela amadureceu profissionalmente —- “quando fiquei mais velha”,  foi a expressão que usou na entrevista ao Mundo Corporativo; que me soou estranha considerando que ela tem apenas 29 anos.  

Lição aprendida, Manoela abandonou o mercado financeiro, uniu-se a Vinicius Corrêa, também economista, e Thiago Torres, desenvolvedor, e fundou a Pipo Saúde, uma corretora de benefícios que usa tecnologia e se apoia em dados para auxiliar o setor de recursos humanos das empresas na gestão de saúde dos colaboradores — consta que só no ano passado derrubou em 20% os custos de seus clientes com planos de saúde. Na empresa em que atua como CEO, Manoela assumiu a missão de ser uma indutora de ações em favor da diversidade no mercado de trabalho:  

“… mas eu tive um despertar muito mais verdadeiro, também, depois que eu me reconheci como pessoa LGBTQiA+. Então, como uma mulher lésbica, hoje casada com a minha esposa, eu acho que isso também passou a ser uma pauta muito mais importante na minha vida, né? Então, acho que esse levantamento dessa bandeira e a importância disso vieram há seis anos de maneira mais forte”. 

Atualmente, a Pipo Saúde tem 60% de profissionais mulheres; 40% são negros e pardos; 30% se identificam como LGBTQiA+; e 7% são trans. Não era assim lá no início, quando foi criada. Em 2019 … 

… curioso porque tudo que se ouve da história de Manoela Mitchell é tão recente quanto intenso … 

… eram de 10 a 12 pessoas trabalhando na startup, quase todas brancas, homens e heterossexuais. Assim que identificaram esse padrão, os fundadores assumiram o compromisso com a diversidade, conversaram com organizações que levam para o mercado de trabalho pessoas de grupos minorizados, montaram vagas dedicadas e criaram um modelo de processo seletivo para eliminar a influência do viés inconsciente: 

“No processo seletivo, eles não vão para esse lado da empatia com aquilo que eu sou. Fazemos perguntas mais neutras. Evitamos ver o currículo. Eu foco mais no questionário, nas perguntas e nas respostas. E a gente passou a contratar várias pessoas diversas, principalmente no começo de 2020”

E se é preciso convidar para dançar, como se diz no lema que já virou lugar-comum nas conversas sobre diversidade no Mundo Corporativo, a Pipo Saúde, ao chamar trans, pretos, pardos e outras pessoas com perfis diversos daqueles que costumam estar nas empresas, investiu em ações para que esses profissionais tivessem lugar de fala. Mas não só de fala. Até porque, como já contamos, Manoela Mitchell aprendeu lá no início da sua carreira, que não adianta dar voz, tem de oferecer a escuta, pois somente assim a empresa, seus gestores e colaboradores aprendem a tratar todos da melhor maneira possível. 

“Diversidade não é uma bandeira que se levanta. É uma coisa que passa a fazer parte do DNA da empresa. Só assim, você, de fato, cria uma empresa que vai ser diversa, que vai trabalhar essa pauta ao longo do tempo. Esse para mim é um ponto fundamental. Não dá para pensar: agora eu vou trabalhar para a diversidade; agora eu vou olhar para outra coisa. Eu tenho de olhar de maneira constante; e pensar em diversidade em vários momentos do funcionário dentro da empresa”

Tem muita pesquisa que ilustra com números as vantagens que as empresas têm do ponto de vista produtivo, criativo e financeiro quando criam ambientes inclusivos. Mas vamos ficar apenas com os resultados da Pipo Saúde para entender o quanto a diversidade pode oferecer de ganhos ao negócio. 

Em agosto deste ano, a empresa, que tem mais de 100 clientes empresariais, anunciou o aporte de R$ 100 milhões, liderado pela  Thrive Capital. Dizem os registros oficiais que esse foi o maior investimento em rodada séria A de qualquer healthtech e o maior já levantado por uma mulher no Brasil. Fui, então, saber o que significava isso e descubro que  “série A” é a rodada de investimento que foca startups que têm um modelo de negócios e um mercado de atuação bem definidos. O dinheiro chega para impulsionar a escala de produção, otimizar a distribuição de produtos e serviços e expandir a atuação da empresa no mercado. Um mês depois do depósito feito, a Pipo lançou um seguro de vida empresarial próprio. 

O investimento também servirá para ampliar o número de colaboradores da startup. Então, preparem-se, vem mais diversidade por aí.

Assista à entrevista completa com Manoela Mitchell, CEO da Pipo Saúde em que também falamos sobre tecnologia, inovação e gestão na área de saúde das empresas:

Neste capítulo, o Mundo Corporativo contou com a colaboração de Izabela Ares, Bruno Teixeira, Rafael Furugen e Priscila Gubiotti