
“Sem o envolvimento de todos nós não vamos chegar nos objetivos finais; e não podemos jogar toda a responsabilidade no governo”
Luiz Maia, Fecomercio
O trabalho que você realiza, o serviço que você presta, o armarinho do seu bairro ou o mercado ‘tem-tudo’ que abastece sua região têm impacto no meio ambiente? A maioria dos pequenos e médios comerciantes de São Paulo (97%) responderam com um sonoro não a essa pergunta, em uma demonstração de desconhecimento da pegada ecológica que todos deixamos no planeta, independentemente do nosso papel na sociedade. Verdade que de acordo com a nossa consciência e a função que exercemos as marcas que deixamos no meio ambiente são maiores ou menores, mas é inevitável que sejamos consumidores de recursos naturais, como relata Luiz Maia, coordenador do comitê ESG, da Fecomércio SP, em entrevista ao programa Mundo Corporativo:
“Mesmo uma pequena empresa tem de uma certa forma impactos climáticos. Isso pode ser através do descarte dos seus insumos, que não é feito de uma forma adequada, pode ser através de sua cadeia de valores, onde existem emissões de gases, pode ser através de consumo de água, que não tá sendo controlado, não tá sendo monitorado, e pode ser pelo consumo. também, de energia elétrica”.
A Fecomércio — Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo — ouviu 100 empresas do setor na capital paulista, das quais 90 têm menos de dez empregados e as restantes têm mais de 50. Na pesquisa identificou-se que quase um quarto dos entrevistados alegam falta de conhecimento para adotar os critérios ESG. Se não conhecem os impactos ambientais que geram, se não conhecem as práticas de sustentabilidade que estão ao alcance, temos um problema pela frente — cenário que Luiz Maia prefere enxergar como uma oportunidade.
“Essa discussão tem que envolver as grandes empresas, ajudando as pequenas empresas a descobrir como elas podem cooperar e de uma certa forma participarem também desse processo de descarbonização, dos processos de despoluição que nós temos hoje no meio ambiente, na sociedade”
O aspecto social é considerado o mais relevante no tripé ESG por 46% dos comerciantes ouvidos pela Fecomércio. A porcentagem das empresas que deram prioridade a este tema superou as perspectivas ambiental e de governança — ambas com 27%. Para Luiz Maia essa percepção reflete tamvém os efeitos da pandemia, durante a qual muitos negócios se esforçaram para não demitir funcionários e adotaram medidas para controlar a disseminação do coronavírus —- em ações que alcançaram colaboradores, clientes e a vizinhança.
Por falar em oportunidade. Luiz Maia lembra que a maior parte desses comerciantes está na “última milha” do relacionamento com determinadas comunidades, o que pode torná-los em difusores do conhecimento das práticas ESG, alcançando a casa das pessoas nas regiões em que estão inseridos. Por isso, a Fecomercio quer usar os dados da pesquisa para criar estratégias para orientar os pequenos e médios negócios.
Na conversa que tivemos no Mundo Corporativo, provoquei Luiz Maia a antecipar medidas que poderiam ser implantadas de imediato pelos comerciantes atendendo as demandas ESG. Vamos a esse roteiro que vou chamar de Manual Prático de Sustentabilidade:
- Reduzir custo de energia elétrica com troca de lâmpadas e equipamentos de maior eficiência energética; e investir em geração fotovoltaica;
- Na área da governança, regularizar pagamento de tributos e a contratação de mão de obra;
- Fazer um planejamento financeiro que capacita o negócio a ser economicamente sustentável;
- Na questão social, pensar como se engajar na comunidade e aproveitar o espírito de voluntarismo do brasileiro para atuar em programas de saúde, educação e segurança pública.
- Dar preferência a contratação de pessoal ligado à comunidade em que atua.
“Com essas ações, o pequeno empresário tem o poder de começar a mudar um pouquinho para onde a direção da agulha está indo; o caminho certo! Eu vejo essa iniciativas totalmente plausíveis de acontecer e se elas estiverem dentro de um contexto de um ecossistema de um grande grupo podem se beneficiar de várias outras formas, também”.
Assista à entrevista completa com Luiz Maia, coordenador de ESG da Fecomercio SP, ao Mundo Corporativo, da CBN:
Colaboraram com o Mundo Corporativo: Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Rafael Furugen e Débora Gonçalves.