Conte Sua História de São Paulo: passeio de aniversário da cidade

Iêda Lima

Ouvinte da CBN

Photo by Guilherme Gonu00e7alves Jaques on Pexels.com

Êh, São Paulo!

Foram doze anos muito intensos. Nos primeiros, muita correria. Já nem seria necessária uma agenda tão apertada; mas, o convite a superar novos desafios era tentador.

A recompensa veio com as amizades que fui conquistando. Umas, mais sólidas, me acompanharam com frequência e intimidade, fazendo-se presentes nos meus passeios de exploração cultural, gastronômica e ambiental dessa quatrocentona, que tem meu ritmo; e nas viagens mais longas, que serviram de teste e cola das nossas relações. 

Levarei saudades dos nossos encontros na casa de um de nós ou em restaurantes honestos em qualidade e preço, onde passávamos horas jogando conversa fora; o respeito mútuo e ao vinho que acompanhava nosso papo estimulava a troca de ideias, sem confundi-las com as pessoas que as defendiam, consolidando nossa amizade. 

Perdi a conta dos sítios onde também deixamos nossas pegadas: Sala São Paulo, Teatro Municipal, Casa das Rosas, Museus de Arte de São Paulo, do Ipiranga, da Imagem e do Som, da Língua Portuguesa e da Casa Brasileira, MASP, Pinacoteca, Japan House. Os parques Ibirapuera (“meu” Ibira), Villa Lobos e Água Branca. 

Ah aqueles cafezinhos no CCBB, na Bolsa de Valores, no Pateo do Colégio e na Casa Mathilde, no centro histórico da cidade; ou na Livraria Cultura da Paulista, Reserva Cultural, Instituto Moreira Sales!

Guardarei para sempre os passeios no dia do aniversário da cidade, 25 de Janeiro. Saía de casa com uma mochila e um bom calçado de caminhada, para explorar o centro histórico com amigos, com olhar fotográfico para cada marca deixada pelos que por lá passaram antes de nós. O ponto de partida era, sempre, o da fundação da cidade: o Pateo do Colégio. 

Nesse dia especial, sob proteção policial reforçada, até os bancos e coretos da Praça da Luz e da República ficavam seguros para uma parada de contemplação e fotos. 

A beleza dos prédios históricos e da cidade limpa para a festa contracenava com a feiura da chocante quantidade de moradores de rua e pedintes. Com a consciência tranquila de que nossa parte estava sendo feita, seguíamos no passeio. 

Descíamos pelo calçadão listrado da Rua General Carneiro, em busca de um pastel de bacalhau com cerveja bem geladinha no Mercadão (Mercado Municipal). Depois, subíamos a escada rolante que só os paulistanos conhecem, evitando a íngreme e lotada Ladeira Porto Geral, para tomar um café com pastel de Belém, na Doceria Mathilde.

Próximo passo era apreciar a cidade de cima do Edifício Martinelle e seguir pela Rua São Bento e Vale do Anhagabaú até oTheatro Municipal; de lá, seguir para tomar mais um café no SESC 24 de Maio, após um click em frente à Galeria do Rock. 

Depois, um passeio na Praça da República e uma chegada no Bar e Lanches Estadão, para repor as energias com um sanduíche de pernil e um chopp, após dar uma passadinha pela Biblioteca Mário de Andrade.  

Refeitos, seguíamos até o Parque Jardim da Luz, pela Av. Ipiranga, algo impensável pra mim, em dias normais. Incrível a beleza daquele parque, visto por dentro! 

Dali, adentrar a Estação da Luz e apreciar, do andar de cima, o sobe e desce de gente e o vai e vem dos trens vermelho e cinza da CPTM; depois tomar mais um cafezinho na Pinacoteca, finalizando o dia pegando a linha azul do Metrô de volta pra casa, com o coração agradecido por aquele dia de sol maravilhoso e o privilégio da liberdade de ir e vir, como pedestre, em boa companhia. 

Êh São Paulo! Você e os amigos que fiz por aí ficaram encrustrados na minha alma como as conchas na rocha! Até breve!

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Iêda Lima é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: brincadeiras nos paralelepípedos da minha cidade

Gláucia Rosa

Ouvinte da CBN

Imagem criada no Dall-E

Nasci no Hospital Nove de Julho, na época em que meus pais moravam na Vila Mariana. Vivemos na rua Dona Avelina até os meus 5 anos de idade.

Os muros das casas eram baixos, bem como seus portões. Acreditávamos que o “velho do saco” levava, em seus enormes sacos apoiados em suas costas, crianças desobedientes. Sim, éramos constantemente ameaçados de sermos carregados pelo “velho do saco”. Mas, imagine você, aos quatro anos de vida, a menina travessa, com muita energia, corria e brincava na rua.  Rua de paralelepípedo. 

Será que os nascidos no século XXI sabem ou já pisaram numa rua assim?  Eu não só pisei como me ralei algumas vezes.

Digo sempre que estreei meus joelhos nos paralelepípedos da Vila Mariana. O primeiro tombo, inesquecível! Mesmo porque foi curado com mertiolate — o que arde, cura!. 

O progresso e as melhorias da pavimentação chegaram e, nos meus cinco anos de idade, mudamos da Vila Mariana para o Planalto Paulista. Sensacional! Ladeiras lisas. As ruas já com asfalto pareciam um escorregador. Brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, queimada, pula-corda e os meninos mais velhos e descolados ousavam se arriscar, ladeira a baixo na “pilotagem” de um carrinho de rolimã “made in home”.

Que época interessante. Nós, crianças até a década de 1970, amávamos quando, à noite, a luz do interior de nossas casas e das ruas era, repentinamente, cortada, e não chovia. Claro, era a combinação perfeita para deixarmos de fazer nossas tarefas escolares, buscar as lanternas e correr para a rua, onde encontraríamos com nossos amigos e amigas e as brincadeiras começavam.

Nossos pais, com olhos a postos, nos vigiavam atentamente sobre os baixos muros, pois, a escuridão era algo assustador… Era mesmo?

Assim que a luz voltava, se antes das dez da noite, ok, poderíamos seguir mas, se já passasse meia hora que fosse, “stop”, parem tudo, vamos entrar e dormir. Amanhã é dia de aula e vocês têm que acordar cedo!

Esta história é uma pequena recordação de uma infância paulistana, vivenciada nas décadas de 60 e 70, que se passava, literalmente, na rua que tinha casas com portas abertas ou destrancadas. Época em que se podia encontrar cadeiras nas calçadas, sobretudo, no verão, ocupadas pelas moradoras das vizinhança, para aquele bate-papo.

Pensar que Sampa um dia já foi vivida com pouco ou quase nenhum medo nas suas ruas que, majoritariamente, eram palcos de brincadeiras e felicidade.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Glaucia Rosa é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também uma personagem da nossa cidade. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: no centro que era referência dos paulistanos

Alvaro Gullo

Ouvinte da CBN

Do alto da Catedral da Sé Foto: Mílton Jung

Se minha memória não estiver falhando, aos 85 anos, era um prazer muito agradável andar pelo centro de São Paulo. 

O passeio começava na catedral da Praça da Sé com uma caminhada em direção a rua Direita. Passava na confeitaria Vienense e chegava a Praça do Patriarca onde está a igreja de Santo Antonio.

A caminhada seguia pelo Viaduto do Chá para encontrar a loja Mappin, com seu famoso chá da tarde, no topo do prédio, bem em frente ao Teatro Municipal, onde assistíamos o que havia de melhor em espetáculos teatrais.

O percurso costumava seguir pela Barão de Itapetininga tendo como destino a Praça da República com seus lagos e chafarizes. Ficava ali o Instituto de Educação Caetano de Campos, onde estudei desde o jardim da infância, passando pelo primário e o  ginásio.

Do outro lado começavam os inúmeros cinemas. Era a Cinelândia que se estendia pela São João e arredores: Cine República, Marabá, Ipiranga, Ritz, Ópera, Marrocos, Windsor, Metrópole … por eles passamos nossa juventude no cotidiano de um centro da cidade que era referência para todos os paulistanos.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Álvaro Gullo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: diálogos que nascem no Trianon e passeiam pela Paulista

Wagner Nobrega Gimenez

Ouvinte da CBN

Foto do perfil no Instagram de @poemesenmachine

Tarde de domingo. Caminho sozinho. Faz muito frio. 

Vou até um evento do ‘Poèmes en Machine’ no Trianon. As conversas dos passantes com os artistas geram poemas datilografados na hora. “Não somos capitalistas. Escrevemos e não cobramos!”, falam com orgulho os poetas. 

Ouço a senhora nordestina: “Nossa, nunca ninguém fez uma poesia para mim. O que eu fazia antes de me aposentar? Era costureira em uma fábrica de guarda-chuvas, lá na Penha, onde moro.” 

Saio do parque. Na Paulista, por acaso cruzo com um gaúcho conhecido. Muito alto, com cara de alemão. Está com uma garota. Baixa. Ele fala, gesticula, enquanto anda. Não consigo ouvir o que  diz. 

Na banquinha, peço bolo de bacalhau e um suco. O recolhedor de latas reclama com o outro, seu concorrente: “Vamos combinar: eu não atrapalho a sua vida e você não se mete comigo, tá bom?” 

Um rapaz, nervoso, para o outro: “agora acabou tudo, ela está grávida.” 

Sigo. As garotas lésbicas em grupo alertam: “atenção, gente, vamos tirar uma self nossa!” 

O rapaz moreno, alto, no megafone sobre o palanque de sindicato: ”… então, a solução agora é a convocação de novas eleições para Presidente. Temos aqui um abaixo-assinado…”.

Pessoas estão paradas ouvindo uma banda tocar “Light My Fire”. É da década de 1960. Recordo meus 13 anos quando namorava com a Veridiana. Uma vez, no cine Universo nos beijamos. Qual era mesmo o filme? Não lembro mais. 

O som agora é outro:  “Camon baby light my fire…”.

Cruzo a avenida. Ouço ciclistas, skatistas, caminhantes, passantes, casais hetero e homo, crianças encapotadas, passeadores com cachorros, pessoas das mais variadas. A Paulista é uma festa urbana! Mas está na hora voltar. E é o som do metrô que me acompanha até em casa, no Belenzinho.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Wagner Nobrega Gimenez é personagem do Conte Sua História de São Paulo. Esta história é inspirada no texto que ele enviou para contesuahistoria@cbn.com.br . A sonorização é do Daniel Mesquita. Venha participar você também e ouça outros capítulos da nossa cidade no meu blog miltonjung.com.br ou no podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: o reencontro com Ramos de Azevedo

Percival Tirapeli

Ouvinte da CBN

Inauguração do Monumento a Ramos de Azevedo, em 1934. Foto: Wikipedia

Os monumentos de São Paulo sempre me fascinaram. Em especial aqueles do Vale do Anhangabau. A primeira vez que passei por baixo do Viaduto do Chá foi ainda em 1958. Tinha apenas seis anos de idade. Seguia em romaria para Aparecida em um pau de arara. Da rodovia Anhanguera para a Dutra, os carros passavam pelo Vale, não havia as marginais. De um lado o Edifício Matarazzo e do outro as imensas palmeiras imperiais emoldurando o grandioso Theatro Municipal. Pouco adiante, o edifício altíssimo, o prédio Martinelli. Tudo era novidade para um menino do interior. Era a Pauliceia Desvairada de Mário de Andrade.

Seguimos para os lados da Estação da Luz, na avenida Tiradentes. Uma garoa tornava aquele edifício uma paisagem inglesa. Em frente à Pinacoteca estava o monumento em homenagem a Ramos de Azevedo. A movimentação de trens e carros era uma surpresa para mim. Um casal, muito bem-vestido, a dama com luvas, chapéu, sequer olhou para nós. Da avenida Tiradentes, recordo as grandiosas tamareiras.

Mudei para a São Paulo em janeiro de 1970. Na então Praça Roosevelt, que seria inaugurada no aniversário da capital, meus irmãos e eu fizemos nossa primeira refeição: compramos um bolo Pullman, aquele que tinha faquinha de plástico. Era o que nosso dinheiro dava para comprar.

Logo fui trabalhar como desenhista em um escritório na esquina da São João com Ipiranga. Da janela podia observar as manifestações contra a ditadura militar. Eu, para colaborar, jogava rolhas no asfalto só para ver os cavalos e militares caírem.

Fui estudar no prédio da Pinacoteca; mal sabia que depois lá atuaria por 10 anos no Educativo. Continuando os estudos, cursei a Universidade de São Paulo.

Para minha surpresa, lá estava o monumento a Ramos de Azevedo, na Cidade Universitária, aquele que eu tanto via 20 anos antes.

Decidi então pesquisar os monumentos de São Paulo e escrevi um livro sobre eles. Vieram à minha mente aqueles do Vale do Anhangabau, iluminados naquela noite das manifestações das Diretas Já, em 1984.

O Anhangabau se transformava. Antes pagava-se pedágio para passar pela propriedade do Barão de Itapetininga para se locomover do centro antigo para o novo, onde estava a Praça dos Touros, atual República. Depois, uma estrutura de ferro que passava sobre as casas das chácaras onde se plantava o chá. Em seguida veio o elegante Viaduto do Chá dando acesso ao Theatro Municipal e à loja Mappin.

O parque do Vale, desenhado pelo famoso urbanista francês Joseh Bouvard, ia desaparecendo. Fizeram o buraco do Adhemar no cruzamento com a Avenida São João. Depois o grande túnel que já desembocava defronte ao edifício dos Correios. O centro velho teve seus momentos de glória, de recuperação.

No século 21 a grande reforma foi paralisada nos tempos sombrios da Covid-19. Acompanhei a obra por meses, pois naquele período expunha minhas pinturas, sobre os monumentos da cidade, no salão de arte do prédio central dos Correios. Via entristecido que as árvores desapareciam e até esculturas eram roubadas.

Em minha memória ficava o Vale como o centro nervoso da cidade, para onde tudo confluía, como imaginara Prestes Maia. O progresso foi afundando cada vez mais o riacho do Anhangabau e os túneis ocultando de nossas vistas a bela paisagem dos edifícios ecléticos e modernos. Quando foi inaugurado o novo visual do Vale, em 2021, nada restara para comemorar. Apenas concreto e um imenso vazio, enterrando um espaço de tantas memórias.

Ouça aqui o Conte Sua História de São Paulo

Percival Tirapeli é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Daniel Mesquita. Seja você também personagem da nossa cidade. Escreva seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capitulos, visite agora o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo. 

Conte Sua História de São Paulo 470: a revolução das estudantes do Maria Imaculada

Maria Elisabete Fonseca Marun

Ouvinte da CBN

Loja Sears em foto publicado no site Os Anos 50

Eu morava na rua Amâncio de Carvalho, perto do ponto final do ônibus 48, linha Paraíso-Anhangabaú. Estudava no Colégio Maria Imaculada bem perto da Praça Osvaldo Cruz.

É na praça que começa a avenida mais famosa de São Paulo: a Paulista. Alguns saudosos podem contestar porque a Avenida São João também é um local muito admirado pelos paulistanos até em música.

A Osvaldo Cruz era uma linda praça onde havia a escultura de um índio com sua lança, pronto para pescar algum peixe do pequeno lago que ali existia. Muitas vezes, após as aulas, eu e minhas colegas chegávamos até perto da água para nos refrescar.

A grande novidade naquela região foi a inauguração da loja Sears Roebuck, onde hoje funciona o Shopping Paulista. Seu slogan era impactante: “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”. Sensacional! Tendo chegado em 1949, a Sears revolucionou o varejo na cidade.

O acontecimento gerou uma revolução na disciplina do Colégio Maria Imaculada. As alunas cabulavam as aulas para visitarem a Sears. No térreo, o cheiro de amendoim torrado e açucarado, rescendia pela loja.  Nenhuma de nós resistia a um pacote.

No andar inferior onde se vendia discos havia uma pequena cabine na qual se ouvia as novidades do Rock and Rool. Logo, as irmãs da escola proibiram que ouvíssemos aquele ritmo. As freiras nos seguiam e éramos obrigadas a ouvir reprimendas em plena loja. Assim que elas apareciam, era um correria só para fugir da punição que seria certa.

O Maria Imaculada ainda está lá. Hoje atende meninas e meninos. A Sears, o cheirinho de amendoim, os produtos que ficavam a mostra e a música dos discos  permanecem na minha memória.

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Bete Marum é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Escreva a sua história de São Paulo e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o novo site da CBN – cbn.com.br —, o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo

Conte Sua História de São Paulo 470: lições de meu pai pelas ruas da cidade

Álvaro Gomes Severino

Ouvinte da CBN

Foto de Kaique Rocha

Em novembro de 1978, nasci em Jacareí, embora meus pais vivessem na capital paulista. Cresci no Ipiranga, ouvindo histórias do meu pai, um “menino de rua, sozinho no mundo”, como ele dizia. Cuja vida por São Paulo inspirou meu amor pela cidade.

Minha infância foi marcada por travessuras a caminho da escola na Praça Pinheiro da Cunha. No trajeto, andava por cima do muro mesmo sob a reprimenda de minha mãe.

Aos sete anos, iniciei a escola Teotônio Alves Pereira, lembrando sempre da tia Helenice, minha primeira professora.

Brincadeiras de rua, carrinho de rolimã e passeios de bicicleta pelo parque da independência faziam parte do meu dia-a-dia.

Na pré-adolescência, trabalhei com meu pai, entregando encomendas pela cidade, o que fortaleceu meu amor por São Paulo. Aprendi a navegar pela metrópole com um guia detalhado, antes da era do GPS. Os fins de semana eram reservados para os bailinhos, onde a moda era calça baggy, blaser com ombreiras e tênis.

Com a mudança dos meus pais para o sul de Minas nos anos 90, fiquei a 190km de São Paulo. Hoje, como marceneiro, visito a cidade frequentemente, relembrando os lugares da minha infância com carinho e nostalgia. Para mim, São Paulo não é apenas uma cidade, é o lugar que definiu minha felicidade e orgulho, a capital do meu coração.

Ouça aqui o Conte Sua História de São Paulo

Álvaro Gomes Severino é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Esse texto foi inspirado na história contada pelo Álvaro. Agora, eu quero ouvir a sua história de São Paulo. Escreva e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o novo site da CBN – cbn.com.br —, o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo

Conte Sua História de São Paulo 470: o Ipiranga que nos uniu

Alex Albergaria 

Ouvinte da CBN

Foto de Manoel Junior

Essa história começou em São Paulo e muitos anos depois atravessou o mundo e promoveu um encontro improvável. Nasci numa maternidade no Ipiranga e desde criança morei na região. O recém reformado Museu do Ipiranga foi parte da minha infância. Aos fins de semana, eu e meus amigos fazíamos corrida de carrinho de rolimã na descida que liga os dois extremos do parque, brincávamos de pega-pega por entre as árvores que cercam a Casa do Grito e pelos jardins de estilo francês, que sempre atraíram turistas. 

Aos 18 anos, me mudei a trabalho para o Japão. Foi onde passei a praticar snowboard. Um dia, convidado por um amigo, me juntei a um grupo para visitar a uma pista de esqui famosa a umas quatro horas de carro de onde morávamos. No grupo uma garota chamou minha atenção. Apesar de ser a primeira vez que eu a via, tive a sensação de que a conhecia. Nas conversas descobri que ela também era brasileira. Descobri que éramos de São Paulo. Havíamos morado no Ipiranga e nascidos na mesma maternidade.

O destino nos uniu no Japão. Nos casamos. E voltamos para o Brasil. Perdi a conta de quantas vezes estive com nossos três filhos no Parque da Independência: andamos de skate, jogamos bola, escorregamos nos corrimãos gigantescos de mármore, observamos os macacos e pássaros que moram na mata, ao fundo do Museu. 

Hoje, estamos novamente no Japão. As crianças já não são tão crianças. Têm uma vida bem diferente aqui em Yokohama. Mas cresceram com as memórias do parque e do museu do Ipiranga que seguem  vivas em suas mentes.

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Alex Albergaria é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Venha participar das comemorações dos 470 anos da nossa cidade. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos, visite o meu blog miltonjung.com.br , acesse o novo site da cbn CBN.com.br, e ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo 470: minha Móoca tem o cheiro do cotonifício e o sabor do cannoli

Italo Cassoli Filho

Ouvinte da CBN

Fachada do Cotonifício Rodolfo Crespi. Foto de Daniellima89 Domínio público

Destacar um ponto especial de São Paulo não é tarefa fácil. Cada lugar, cada cantinho, cada nicho tem seus encantos próprios.

Se você for ao Brás, Liberdade ou Bela Vista terás a oportunidade de vivenciar emoções diferentes ainda hoje.

Mas o meu “cantinho” é a Mooca…ahhh como eu te amo!

E essa paixão vem dos idos de 1960 quando passava as férias na casa do tio Américo e da tia Ida.

O encanto era ainda maior porque eu vinha de Pirassununga, uma realidade totalmente diferente. Desembarcar na estação da Luz e embarcar no bonde rumo a rua Javari passando pela rua dos Trilhos já fazia aquele menino tremer na base. 

Quando o motorneiro parava próximo ao Cotonifício Rodolfo Crespi, uma industria têxtil, fundada em 1897, que ocupava uma enorme área a minha pulsação disparava. Até a fumaça e o odor que ela exalava, me encantavam.

E assistir aos treinos e jogos do Juventus? Que felicidade vibrar com meu Moleque Travesso, aquele cannoli de sabor incomparável. Dá água na boca.

Dez anos depois, eu iniciei minha carreira profissional como professor. 

Onde?  No Colégio MMDC na rua Cuiabá. Claro, na Mooca. Destino? Se foi ou não, eu pouco me importei, a minha felicidade era estar novamente no bairro que aprendi a amar.

O bonde fora substituído pelo ônibus, que partia da Praça Clovis Beviláqua, e ao mesmo tempo que fazia seu trajeto projetava em minha memória um filme que até hoje, quando tenho a oportunidade de lá retornar, ainda vejo: a fumaça, o cheiro do Cotonifício, o sabor do cannoli, as vitórias do Moleque Travesso.

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Conte Sua História de São Paulo 470: futebol no paredão de Pinheiros

Edison N. Fujiki

Ouvinte da CBN

Viajar para São Paulo, era uma aventura. O melhor era ir de trem: Estrada de ferro da Alta Paulista. Parava nas principais cidades: Adamantina, Marilia, Bauru, Limeira, Americana, Campinas e Jundiaí. Tinham outras que hoje já não me lembro mais. A viagem demorava 14 horas. Pela janela, a cada cidade que passava, meus sonhos ficavam para trás. 

Lá em Pacaembu, andávamos, descalço ou quando muito usava alpargatas, pescava e nadava num rio perto de onde morávamos. Levava o estilingue no pescoço, e minha paixão era jogar futebol.

Viemos morar com os irmãos num apartamento, na Cardeal de frente ao mercado de Pinheiros —- esse era um lugar que eu gostava: tinha verduras, uma banca que vendia animais e pássaros e aquilo me fazia lembrar dos meus tempos recém deixados para trás.  

Lá em Pinheiros, tinha a Cooperativa Agrícola de Cotia. Lembro que meus pais falavam deste grande empreendimento da colônia japonesa. E para meu deleite, onde os caminhões estacionavam para carga e descarga ficava vazio nos finais de semana. Eu pegava a minha bola de futebol, corria e chutava contra o paredão. Às vezes, transmitia a partida como um speaker de rádio.

Uma figura da época era o Luizão, que morava na rua. Fazia bico ajudando na descarga dos caminhões.  Quando estava embalado nos seus devaneios, Luizão gritava: “o tempo passa!”,  lembrando Pedro Luis, um dos maiores locutores esportivos de todos os tempos. A voz de Luizão ecoou pelas ruas de Pinheiros onde hoje está o Largo da Batata. O mercado não existe mais. O apartamento da Cardeal foi demolido. A sede da Cooperativa deu lugar a outros prédios. Meu campinho sumiu assim como o do Sete de Setembro, no fim da Rebouças que  agora é o Shopping Eldorado. 

O tempo, sim, o tempo passa!

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Edison Fujiki é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Este texto foi adaptado para você ouvir aqui no rádio. Seja você também personagem dos 470 anos da nossa cidade. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos leia o meu blog miltonjung.com.br e ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.