Por Janessa de Fátima Morgado de Oliveira
Ouvinte da CBN

Quando era criança, pensava que tinha sorte por ter nascido em São Paulo. Não me lembro o que me levou a pensar assim. Acho que foi quando comecei a ter aulas de Geografia, quando aprendi sobre as migrações e o que motivava tanta gente de outras regiões do país a migrarem para lá, onde eu morava.
Já na adolescência, comecei a ter mais motivos para reforçar esse pensamento.
Nunca fui de sair muito. Minha diversão era estudar e aprender. Comecei nessa fase da vida a perceber o quanto a cidade tinha para me oferecer. Tinha como ter um ensino de qualidade, porque dispunha de ótimas escolas, públicas e particulares. Tinha acesso a uma biblioteca, que ficava perto de minha casa, além de ter o Museu do Ipiranga como um quintal.
Cresci e a cidade cresceu para mim. Quando saí do ginásio e fui para o colegial, mudei de escola e diariamente embarcava no ônibus Pinheiros para o Paraíso. Levava de 20 minutos a meia hora para chegar à escola.
Conheci o Centro Cultural São Paulo! As rampas de acesso que se cruzavam em planos diferentes me mostravam outras pessoas como eu, com interesses semelhantes. Foi nesta época que também conheci a Liberdade e a feirinha montada aos fins de semana. Até novos sabores me foram apresentados! Foi quando tomei, pela primeira vez, um Mumy de maçã, que hoje é o Mupy.
O fluxo de crescimento me levou a sonhar com a USP. Queria fazer uma boa faculdade, mesmo sem saber, ainda, qual seria a profissão que abraçaria. Todo meu foco estava em estudar para alcançar meu objetivo. Foi assim que meu mundo cresceu mais um pouco, me levando a conhecer o Campus da Cidade Universitária, no Butantã. Entrei pela primeira vez lá no dia em que fui me matricular no curso de Farmácia-Bioquímica. Precisei de uma “guia” para chegar até a faculdade.
Trabalhei na Freguesia do Ó. Passava pela Av. Rio Branco, Av. Rudge, pelo Largo do Arouche ou pelo alto de Pinheiros.
Meu filho nasceu também paulistano. A cidade dele foi diferente, andando de metrô lotado desde cedo, na linha verde, para ir à creche da Faculdade de Saúde Pública — foi onde fiz meu mestrado e doutorado. Tentei oferecer a ele a melhor versão de São Paulo.
Essa a cidade em que vivi por 44 anos e que fez de mim muito do que sou. Que me emociona por ser tão generosa.
Cidade que continua a receber gente. Os refugiados da Síria, o povo vindo da Bolívia para trabalhar no Bom Retiro. São Paulo também exporta gente. É o meu caso. Nos últimos anos que vivi na capital, a vida foi difícil. Desemprego! Nunca tinha pensado que sairia da cidade onde tive a sorte de nascer. As circunstâncias me fizeram olhar para fora e consegui uma oportunidade de trabalho em Portugal.
Porque ela me deu tanto, a cidade, faço o mesmo por ela. Sou, aqui, uma paulistana. Generosa, como São Paulo, ensino e provo ao mundo que ela tem muito mais do que quantidade. Ela tem qualidade!
Janessa de Fátima Morgado de Oliveira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Conte você também mais um capitulo da nossa cidade. Escreva seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. Quer ouvir outras histórias, viste o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.