Dez Por Cento Mais: abandonar o que não tem sentido na vida

Foto de Pixabay

Buscar sentido na vida é um dilema comum a todos nós. Para ajudar nessa reflexão necessária, a psicóloga Vanessa Maichin mergulhou no conceito de intencionalidade da fenomenologia existencial e discutiu como encontramos significado em nossas vidas. Ela foi entrevistada pelo programa Dez Por Cento Mais, apresentado pela jornalista Abigail Costa e a psicóloga Simone Domingues, no YouTube, e que passará a fazer parte do conteúdo deste blog.

Segundo a fenomenologia existencial, toda consciência é direcionada a algo. Vanessa aponta que a chave para descobrir o sentido é estarmos conectados conosco. Isso se contrapõe à ideia popular de “deixar a vida nos levar”, como sugere a canção de Zeca Pagodinho.

A vida no piloto automático e a busca por sentido

O grande perigo que Vanessa destaca é a facilidade com que caímos no modo “piloto automático”. Nesse estado, negligenciamos nossos verdadeiros desejos e sonhos, movendo-nos sem uma direção clara. 

“Muitos de nós vivem sem pausar para entender o que realmente ressoa em nosso íntimo”.

Uma distinção intrigante feita durante a conversa foi entre ‘significado’ e ‘sentido’. O significado é a interpretação que damos às experiências, enquanto o sentido é a direção que tomamos com base nessa interpretação. Vanessa reforça que, para encontrar o sentido, é vital se conectar com sentimentos e intuições.

Ressignificar: a arte de redirecionar nossa vida

Parte essencial da discussão centrou-se na capacidade de ressignificar. Muitas vezes, somos aprisionados por crenças antiquadas, passadas de geração em geração. Contudo, Vanessa afirma que temos o poder de redefinir e encontrar significados autênticos, que ressoam com nossa verdade interior.

Apesar de admitir que abandonar velhas crenças pode gerar desconforto e angústia, Vanessa acredita que o resultado é uma vida mais genuína e recompensadora.

O chamado à autenticidade

O diálogo com Vanessa Maichin nos lembra da necessidade de viver com propósito e autenticidade. Em um mundo onde muitas vezes nos sentimos perdidos, é reconfortante saber que temos a capacidade de encontrar – e talvez até criar – o sentido em nossas vidas. A mensagem final? Todos nós, no fundo, sabemos o que realmente faz sentido. Precisamos apenas ter a coragem de buscar e seguir esse chamado.

Participe da conversa e descubra mais sobre a busca de sentido. E não esqueça de acompanhar as entrevistas no programa “Dez Por Cento Mais” que você assiste, ao vivo, às quartas-feiras, oito da noite, no YouTube:

Hoje o tempo voa, amore!

Por Abigal Costa

@abigailcosta

Foto de Isabella Mendes

Quantos papeis você já interpretou na vida desde o seu nascimento? Quem foi você nesses anos todos? 

Um ou vários personagens?

Se às vezes você pensa “quando eu era criança agia de tal modo”, ou “na adolescência gostava de certas músicas”, ou, ainda, “agora como adulta tenho mais obrigações”, de certa maneira está reproduzindo a ideia de  William Shakespeare que em ‘As you like it’ refere-se as sete idades do homem. Na peça que foi publicada em português com o título “Como gostais”, ele se refere ao mundo como um grande palco e a todos nós como atores que têm hora certa para entrar e sair de cena em sua trajetória de vida, começando pela criança. 

Shakespeare me faz pensar em quantos de nós paramos em um determinado personagem e dele resistimos em sair. Quantos não repetimos a mesma cena, a mesma fala e de forma mecânica? É como se os anos passassem apenas no calendário e não para o sujeito.

Se é certo que nós nos transformamos a cada acontecimento, como caber nas mesmas roupas, nas mesmas ideias, nos mesmos hábitos de criança quando a gente já tem CPF, carteira de habilitação e, muitas vezes, já trocamos a certidão de nascimento pela de casamento. Já funcionamos no modo “Pais” e esquecemos de trocar o figurino.

Dia desses conversando com uma amiga falei da morte como sequência natural para que o palco da vida seja ocupado por novos talentos. Até agora não sei qual a interpretação dela a respeito. Depois da minha fala  tão eloquente fiquei até sem graça em perguntar: e aí o que você pensa a respeito disso? 

De volta a troca natural de papeis e a relação com Shakespeare. O que fica para gente é a necessidade de viver cada personagem como ele é, único e efêmero, embora alguns pensem ao contrário. É saber saborear as transições como rito de passagem para o novo, não como perdas. 

Em “As you like it”, Shakespeare dá luz a reflexão da passagem do tempo e da urgência em aproveitarmos esse tempo vivendo em seus personagens adequados, justos. 

“Agora são dez horas e você pode ver como o mundo oscila; há uma hora em nove, dentro de uma hora serão onze; a cada hora que passa nós amadurecemos; a cada hora apodrecemos; nisso há toda uma história.”

Vamos lá! Pra que você não saia dessa conversa pensando que “nossa, a Big pegou pesado na relação tempo-vida”, vamos trazer o poeta Lulu Santos pra deixar o final mais leve:

“… Hoje o tempo voa, amor 

Escorre pelas mãos

Mesmo sem se sentir

Não há tempo que volte, amor

Vamos viver tudo que há pra viver

Vamos nos permitir”. 

Em outras palavras, Lulu e Bardo dizem a mesma coisa: tua vida está passando! 

Quantos personagens mesmo você ja interpretou até aqui?

Abigail Costa é jornalista, apresenta o programa Dez Por Cento Mais no YouTube, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein e especialização na Escola Paulista de Psicodrama, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

Existir significa escolher

Por Abigail Costa

@abigailcosta

Estou naquele momento em que começo a pensar no rumo da minha vida. Estou perto de deixar a carreira de estudante para virar “gente grande” — como se grande já não fosse desde muito tempo — e colocar em prática o que aprendi nos últimos anos. 

Há quatro anos, quando entrei para o curso de psicologia foi só uma maneira que encontrei para dar um sentido para a minha vida, de certa forma de voltar a me importar comigo mesmo. Como? Lendo, escrevendo, fazendo novos relacionamentos e ganhando um tiquinho a mais de ansiedade. Hoje, mais amadurecida, percebo como tendo sido um fato normal na minha história.

Nesse tempo todo, ouvi muitas pessoas me perguntando: “e aí vai trabalhar depois?”. Pergunta que não me deixava sem resposta. E nunca escondi minhas intenções atrás de palavras objetivas como: “veja bem, quero atender clientes XYZ sob a abordagem XPTO, num consultório localizado na zona tal”. Nada disso!. 

Não foi preciso pensar muito. Era coisa decidida comigo mesmo. A resposta vinha de bate pronto: me interessa o caminho, a jornada, as pessoas que estou encontrando pela frente e ainda, o que uma graduação está me acrescentando aos 56, 57, 58, 59 anos de idade. 

Assim fui passando pelos semestres e sigo neles aprendendo, me encantando e me desafiando. Até que chega os primeiros dias do último ano e me vem à cabeça uma frase dita por um professor no inocente propósito de agradar: ”olhem para vocês, já perceberam que estão mais perto do fim? “. Professor eu não precisava disso! 

Não é que agora dei pra fazer contas ?!? Último ano, mais dois semestres de quatro meses cada um —  sim, tirando férias e afins dá isso —, mais alguns estágios supervisionados e chegarei ao fim. E lá vem nova pergunta: “está flertando com alguma abordagem psicológica?”. 

Quem pergunta sempre espera algo objetivo —- foi o que aprendi em décadas de jornalismo realizado. Quer algo como “vou seguir a TCC — Terapia Cognitivo Comportamental”, “quero a Humanista numa linha mais Existencialista”,  ou “veja bem, a psicanálise é uma quase dezena de outras tantas vertentes de teorias e técnicas aplicadas nas psicoterapias”. Diante da pergunta, fato é que de repente soltei uma fala qualquer só para me livrar da questão e me enfiar em questionamentos próprios que até então não faziam parte da minha rotina de pensamentos.

Qual o sentido que vou dar para a minha vida daqui a pouco quando eu não estiver mais no meu papel de estudante? Sei que logo mais entro num capítulo de escolhas, e estas provavelmente me trarão angústia. Para isso já comecei fazendo amizades com aqueles que me darão uma força com suas obras. Caso do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855): ele diz que escolher implica em renunciar, e que ser livre é vivenciar essa tensão.  

Kierkegaard #tamujunto !

Abigail Costa é jornalista, apresenta o programa Dez Por Cento Mais no YouTube, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

Quando a “circunferência abdominal 57” pesa na vida dos outros

Por Abigail Costa

@abigailcosta

A gente não nasce sabendo. Fato! Mas com o passar do tempo tem a obrigação de aprender e tentar colocar em prática. Pois bem, partindo do pensamento lógico, ao longo desse aprendizado tomamos consciência de que nem tudo são flores e cabe a nós dividirmos os espinhos com quem vai nos ajudar a manejá-los para que não nos machuque tanto. 

Outro dia, vi um comentário no Instagram de alguém enfurecida porque uma outra dita cuja — alguém com milhões de seguidores; sim, ninguém chuta cachorro morto — postou algo assim:

Legenda: “Amanheci feliz!”

Texto: “Fazendo o que mais gosto”

Foto: algumas míseras torradas e a moça trabalhando.

A “comentarista” enfurecida gritava em letras garrafais: 

COMO PODE? JÁ ESTOU CANSADA DESSE POVO COM ESSE POSITIVISMO TÓXICO! COM ESSA COISA DE ACORDAR ÀS 5 DA MANHÃ, TREINO PAGO (FEITO), FELICIDADE (CHECK) E BLÁ-BLÁ-BLÁ”

Pensando cá com os meus quilos a mais, o que deve ter incomodado no “reality virtual” da influenciadora foi a circunferência abdominal marcando 57 centímetros que aparecia na imagem.

Coloquei-me a pensar. Primeiro, por que não acreditar que a foto e o texto da influenciadora  podem ser verdadeiros. Segundo, e se não for? Por que esse destempero diante de algo que se imagina falso?

Será que para outras pessoas esse post não pode ser as doses de otimismo  e inspiração que estão faltando, do auto-positivismo? Se ela consegue por que eu não? 

Será que a dona da “circunferência abdominal 57” não é uma colecionadora de momentos? E esses momentos servem para realimentá-la quando lhe faltam sorrisos, desejos, brindes e afins?

Será que ela não está sendo ela mesma ao querer levar o melhor para quem  visita a página de olho na vida dos outros? 

Sempre me questiono: se a vida do outro me incomoda, sendo esta vida falsa ou real, é porque já nasci, cresci, estou envelhecendo e não aprendi nada. Para esses casos, que sirva de consolo: enquanto há vida, há esperança (Eclesiastes 9;04)! 

Abigail Costa é jornalista, apresenta o programa Dez Por Cento Mais no YouTube, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

Se você deixar a tristeza invade até o paraíso

Por Abigail Costa

@abigailcosta

Foto de Masha Raymers

O que é a tristeza a não ser a vontade de não ser e não estar; o desejo de habitar qualquer momento que não seja o presente, de preferência como uma sombra. Num passado nem tão passado assim, vi chegar o que mais desejava na vida: tempo, sem compromisso, sem hora marcada — quase que uma dádiva! 

O tempo veio seguido da aposentadoria, o que não é motivo para reclamação. Só que … (essas duas palavrinhas quase que já anulam o parágrafo). Outras situações apareceram sem serem convocadas. A intenção era a de cuidar mais das crianças, sem considerar que elas já tinham crescido. De viajar no meio da semana, esquecendo-me que todos os demais ainda não estavam desempregados, ops!, aposentados. Filhos, marido, irmãs, amigos, todos gerindo suas vidas e eu sem saber o que fazer da minha com todo o tempo adquirido.

Eu que passei boa parte da vida cuidando das pessoas — e aqui faço a defesa delas, nunca me pediram –; eu que sempre me enfiava de alguma maneira nesse negócio de cuidar da “vida dos outros” para aliviar a carga seja lá de quem fosse (do porteiro, do entrevistado, do amigo), esqueci de colocar no calendário a chegada da menopausa. Justo eu que conversava com médicos diariamente e falava sobre a saúde da mulher, dia sim dia não, começo a me sentir meio “acho que parece que não sei”.

Devo ter desacelerado muito rapidamente do trabalho, pensei, procurando uma justificativa para a tristeza que dava um jeitinho de entrelaçar os dedos com os meus. Os meninos já estão grandes e saindo de casa, é a síndrome do ninho vazio (tenho horror a esse termo, Freud explica!) me disse um profissional da área da saúde. O marido está trabalhando demais, será que isso não te incomoda, sugeriu uma conhecida.

O curioso, avaliando depois de algum tempo, é que todas as possibilidades para detectar de onde vinha e por que vinha essa tristeza faziam sentido. Eu entendia os fatos racionalmente, só não compreendia a dor da tristeza, o que estava para além da minha inteligência.


Por um longo período, tratei a tristeza com remédios para depressão e fui tocando a vida com todo o tempo para fazer a “colher de pau e bordar o cabo”, ou seja, fazer tudo que eu desejava fazer com o tempo. Pulei do “nossa já é essa hora?” para o “ainda é essa hora?”.


Conversando com uma amiga médica, ela pediu para olhar os meus exames de contagem hormonal (hoje pra mim parece tão óbvio). Meus hormônios tinham me abandonado. Sério!  O estrogênio, a progesterona e a testosterona  não apareciam na quantidade mínima no meu organismo. Foi quandome dei conta que, além da ausência dos filhos, da chegada da aposentadoria, e de todas as razões possíveis para estar “mal” e não saber a causa, deveria ter colocado no topo da pirâmide, a menopausa e todos os seus sintomas.

Hoje, quando ouço uma mulher falando que está se sentindo triste, eu pergunto: quantos anos você tem? Esses sintomas tem relação com os seus hormônios? Seu médico conversou isso com você?


Tanto quanto procurar um profissional de saúde, é importante o autoconhecimento e entender as nossas fases e o que elas nos trazem. Faz-se necessário a gente cuidar da gente e isso não implica  ter todo o tempo do mundo. Só precisamos de  um pouco desse tempo para prestar atenção no que está e no que vai nos acontecer.


Durante algum tempo a tristeza invadiu até o meu paraíso; hoje tenho noção que foi quando me faltaram hormônios e me sobraram demônios!

Abigail Costa é jornalista, apresenta o programa “Dez Por Cento Mais”, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

Pensamento à toa

Abigail Costa

@abigailcosta

“O pensamento parece uma coisa à toa

 mas como é que a gente voa

 quando começa a pensar?”

Lupicínio Rodrigues

Quando a música de Lupicinio, cantada por Caetano, começou a tocar na Rádio Nacional, no começo dos anos de 1970, eu era uma menina que acreditava no que diziam as canções e fascinada pelas palavras de felicidade. Viajei nos pensamentos! Lembro-me de ter ido parar numa loja de brinquedos enorme na região da Teodoro Sampaio, no bairro de Pinheiro, em São Paulo. Nunca havia conhecido a loja pessoalmente mas de tanto ouvir histórias das meninas do meu bairro, construí uma imagem e passeei pelos corredores até chegar a seção de bonecas. Lá peguei uma “Dorminhoca”, aquela boneca molenga de cor lilás. Linda de viver!

Também incentivada pela letra da música, comprei um saco bem grande, recheado de coisas quase proibitivas em casa, doces antes das refeições — tinha maria-mole, uma variedade de chocolates e um monte de balas Juquinha, sabor frutas de mentirinha. Ao contrário do que minha mãe jurava que aconteceria, nem uma coisa nem outra foi verdade nos meus pensamentos: não perdia o apetite do sagrado arroz e feijão mais bife, muito menos que sentia dor de barriga.

Junto com o meu crescimento, os pensamentos também perderam a inocência, ganharam maioridade, maturidade, ficaram mais chatos,  desconfortáveis e passaram a voar mais perigosamente.

Num determinado momento, tive que confrontar as palavras da música quando fiquei sabendo que certos pensamentos são bem-vindos enquanto outros, Ave Maria!

Comecei a ouvir que pensamentos não são ações. Como assim? E as minhas histórias? A visita a loja, a boneca Dorminhoca, o saco de guloseimas?

Foi estudando que aprendi que certos pensamentos deixam a gente doente, que podem ser negativos, acelerados; e pra voar nos bons pensamentos é preciso me certificar que estou com os dois pés fincados nos chão. 

A simplicidade de só pensar é objeto de estudo.

Fico eu aqui pensando no Lupicínio, no Caetano…

“felicidade foi-se embora

 e a saudade no meu peito inda mora, 

porque eu sei que a falsidade não demora.”

Abigail Costa é jornalista, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

A difícil arte de não ser perfeita

Abigail Costa

@abigailcosta

Foto de Ramakant Sharda

Esse assunto vira e mexe está nos meus pensamentos, nas sessões de terapia, nas conversas com os amigos mais pacientes. Ninguém nunca de disse de forma direta: “você tem que ser ótima para ser aceita!”. Mas eu, sim, já disse para mim mesma várias vezes. Não com todas essas palavras “VOCÊ TEM QUE SER ÓTIMA” — talvez com quase todas.

Percebi  essa autopressão quando resolvi voltar à faculdade para um MBA,  anos atrás. Era pra ser um curso leve, gostoso, diferente: Gestão do Luxo, com duração de dois anos. Em três meses, os primeiros sintomas apareceram de forma tão dura e doída que fui parar no pronto-socorro. As dores no estômago eram persistentes tanto quanto a vontade em ser a melhor aluna do curso. 

Depois de muitas conversas com o Gastro e alguns dias de internação no hospital, me lembro do Dr Arthur Ricca ter sentado ao meu lado na cama e dito” “você não tem nada além de uma gastrite xexelenta; para de querer ser perfeita e vai cuidar da sua cabeça!”. 1×0 para o médico. Não entendi nada, mas fiquei feliz em não ter algo grave. Terminei o MBA com nota máxima e muitas cartelas de ansiolíticos.

Passados anos desse episódio, volto outra vez às cadeiras da faculdade para uma segunda graduação. Mal sabia que retornaria ao inferno já no primeiro mês de estudo.

São cinco anos para o curso de Psicologia, e logo percebi que novos sintomas estavam se instalando — insônia, aperto no peito e um medo terrível de ser desmascarada. Do quê? De não ser boa o suficiente!

Por causa dos meus cabelos grisalhos, já no primeiro dia de aula, de passagem no corredor, alguém me perguntou, você é professora? Bastou para ascender todas as luzes do “preciso ser perfeita”. Todas as disciplinas eram minuciosamente transcritas para o caderno (sim, eu gravava as aulas), além das anotações em sala de aula — inclusive, os suspiros dos professores… vai que eles sinalizavam alguma palavra não dita.

Me recordo de ter terminado um dia com as costas travadas. Fui parar na maca de uma massagista brilhante que não precisou de muita conversa para que ela me perguntasse: “por que você quer competir com você mesma? Qual a necessidade disso?”.

De novo tinha consciência do abismo em que eu despencava em queda livre mas não tinha a mínima ideia de como acessar o manual do paraquedas e voltar ao curso normal do voo.

Veio o isolamento social e o que estava ruim, degringolou. Pensava e dizia: “Não preciso provar nada pra ninguém!”. Ok! Mas ninguém me cobrava nada. O problema é que não conseguia ser eu mesma, tinha que ser a melhor, tinha de usar um personagem e personagem representa, é cansativo. Nesse meio tempo, conversava com amigos mais próximos ou não, com irmãs e terapeutas e descobri que essa necessidade de perfeição não vinha só com os  estudos, era no trabalho, em casa, na vida!

Pra começar, precisei de ajuda para reconhecer essa tarefa impossível de querer estar sempre em primeiro, da necessidade em sempre ser a primeira. Verdade que a parte mais fácil é reconhecer, aceitar — na prática tem sido um dia de cada vez. E confesso que embora seja difícil chega a ser engraçado. 

Agora, por exemplo, faço uma pós-graduação em Gerontologia (a ciência que estuda o envelhecimento). Não vou esconder que ainda transcrevo minhas aulas para o caderno. Estou melhorando, já não gravo mais! Pois bem, em um daqueles testes odiosos de “assinale a opção incorreta”, não prestei atenção e errei uma questão.  Fiquei sem a nota 10. Quando percebi ali o gatilho para desencadear um sofrimento e acabar com a minha tarde de férias, falei em voz alta (eu tenho essa mania): “Big, por favor, deixa disso, é só uma avaliação! Isso é perfeccionismo!”. 

Ao falar comigo mesmo, voltei para o meu “só por hoje”.  Sou boa! Só por hoje, eu não preciso ser perfeita!

E você? É perfeita? 

Abigail Costa é jornalista, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

Os números e as oportunidades, faça bom proveito

 

Por Abigail Costa

 

Nos últimos dias, por conta de alguns estudos, tenho me debruçado sobre números. O objetivo a ser atingido? Traçar expectativas para os próximos  anos no cenário econômico mundial. Pelo que diz meu professor e doutor no assunto Tharcisio  Bierrenbach nosso Brasil terá céu de brigadeiro … tudo azul … visão panorâmica de 180 graus. Sem falar nos outros com o vento soprando a favor como Rússia, China e Índia. Mas, aqui, não vou cruzar o oceano.  Vou ficar no nosso “mundinho”. Só ele dá pano pra manga! São números expressivos, que, sério, se dissessem isto lá atrás eu duvidaria. Agora, não tem como não acreditar. Estamos vivendo este momento.

 

Pesquisa de consultorias nacionais e internacionais apontam que até 2020 os brasileiros vão gastar R$ 1,3 trilhão  (sempre que escrevo um número assim fico imaginando a quantidade de zeros ou qualquer coisa que me desse a dimensão exata,  assim de forma enfileirada). Este cenário vai elevar o país para a condição de quinto maior do mundo. Imagine nós consumindo mais macarrão do que os italianos? Deixaremos os alemães de copos vazios, pois o consumo de cerveja por aqui será três vezes maior do que lá. Vamos comer, beber mais e melhor. E, também, vamos nos irritar muito mais no trânsito. Seremos o terceiro maior mercado de carros do mundo (quantos deles estarão assim de forma enfileirada, como os zeros do trilhão, no meu caminho, é melhor nem pensar). Outro setor que tem motivos para escancarar um sorriso é o mercado de cosméticos. O valor das vendas dos produtos para os cabelos só na cidade de São Paulo vai crescer o dobro do que na França. E os números seguem soprando a nosso favor de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Principalmente no Nordeste.

 

Então, é sentar e esperar pelo próximos anos? Não, não é bem assim. Quem quiser fazer parte dessa turma, vai precisar arregaçar as mangas, ter criatividade e ser diferente para se destacar no mercado. Ouvi semana passada frase da diretora de Recursos Humanos de multinacional do setor químico que me chamou a atenção: “a empresa não escolhe mais seus funcionários, hoje eles escolhem a empresa”. Mesmo assim, me contou ela, na companhia em que trabalha, há meses, 350 vagas estão a espera de candidatos. Falta é mão de obra especializada.

 

Como os números acima falam de previsão para daqui cinco, oito, dez anos, sinal de que ainda dá tempo de fazer parte desse time.

 

Aproveite a oportunidade!

 

Abigail Costa é jornalista e escreve no Blog do Mílton Jung aos domingos.

Organizada e sem pijama

 

Por Abigail Costa

 

Quando não tem ninguém para mandar em você, dizer “faça isso”, “seu prazo de entrega é até às quatro da tarde”… Se por perto não tem um chato desses (às vezes necessário) é bom começar a se movimentar e organizar seu tempo.

 

A questão aqui não é deixar as gavetas arrumadas, cada peça no seu lugar, cabides alinhados seguindo das cores fortes para as neutras. O começo da organização é pelo tempo, principalmente se para chegar no seu local de trabalho  você não precisa mais de carro, se livrou do trânsito e do chefe! Alguns podem dizer:

 

– Maravilha!
– Agora sou dono do próprio nariz!
– Faço as minhas tarefas a hora que quiser…

 

Esse “a hora que quiser” tanto pode ser um luxo quanto um perigo!!!

 

Li artigo que me chamou atenção e acendeu a luz da consciência!

 

Flexibilidade de horários e liberdade para escolher onde e como trabalhar… Uma pesquisa da American Community Survey apontou que entre os anos de 2005 e 2009, nos Estados Unidos, cresceu 61% o número de pessoas que trabalham fora do escritório – em casa, ou onde quiserem, usando a internet. E mais, em 2016, um em cada cinco americanos estará trabalhando fora de uma empresa.

 

Quando terminei de ler o trabalho da jornalista e estudiosa do comportamento feminino Cynthia de Almeida pensei: será que ela me viu trabalhando em casa? Alguém contou que fico de pijama muito além do que deveria? Que por não receber ordens entrego meus trabalhos quando quero? E que depois vem uma insegurança pelo tempo mal administrado?

 

Pra começar, já escolhi meu canto de trabalho. É preciso dar o primeiro passo. Agora, é perder uma mania deliciosa. O pijama, a camisola, tudo é muito gostoso mas na hora de dormir. Para ficar em casa, eu não preciso de salto alto. Mas de pijama, também não!

 

Comecei hoje.

 

Abigail Costa é jornalista, faz MBA de Gestão de Luxo na FAAP e escreveu para o Blog do Mílton Jung, neste domingo, ainda de pijama

Amizades que valem ouro

 

Por Abigail Costa

 

Começo hoje citando agradecimento dos autores W.Chan Kim e Renée Mauborgne do livro “A estratégia do Oceano Azul”:

 

“À amizade e às nossas famílias que tornam nossos mundos mais significativos”

 

Fui criada num universo totalmente rosa!
Pai… Mãe e três irmãs. Na soma prevaleceu o sexo feminino. Foi assim na infância até metade da adolescência. Assim que fui pra faculdade e comecei no trabalho, encontrei um mundo diferente de amizades, as masculinas. Nele tive o privilegio de conviver por quase 30 anos e ainda continuo com boa parte delas. Nesse tempo foi possível encontrar diferenças que me aproximaram ainda mais do sexo oposto.

 

Em casa convivo com três deles: marido, filhos, cachorros e gato – todos sem alterações hormonais, e confesso: é bem mais fácil lidar com eles sem a bipolaridade daqueles dias enfrentados por nós mulheres todos os meses ( deixo aqui minha constatação: mudanças de “personalidade” nada bem vinda com a chegada da TPM). Mas não é apenas a  troca de um olhar diferente que tornou a minha aproximação com os homens mais agradáveis.

 

No trabalho, era normal ter sempre três deles ao meu lado, diariamente. Não por ser a única mulher do grupo, mas sempre recebi um carinho especial….. Sem maiores interesses a não ser o de tornar a minha vida mais agradável, mais leve, mais luxuosa.

 

Eles tem características especiais (deixo as explicações teóricas aos especialistas), mas o fato é que são mais fáceis na lida do dia a dia. Aquela competição horrorosa, do tipo sou mais… Sou diferente de você… Porque você tem…. Olhares atravessados e comentários que em certos momentos te desmontam entre as mullheres, com eles isso não acontece com frequência, ou pelos menos com os bons e sinceros amigos.

 

Essa facilidade em me identificar com o sexo oposto (e aqui vai uma ressalva…. sem interesses que ultrapassam uma boa conversa e opiniões) me levaram a uma admiração e desejos em mantê-los sempre por perto. Um contato tão profundo que certa vez um amigo me pediu desculpas dizendo: “às vezes esqueço que você é mulher e me pego falando com um homem!”.

 

Minhas pouca e boas amizades femininas entendem que esse meu lado tendencioso em permanecer mais próximo deles não anula meu carinho por elas.

 

Não por que sou paparicada, por ser poupada de assuntos digamos mais pesados. Essas amizades são mais práticas, diretas e sem rodeios, e problemas que não merecem maiores dores de cabeça são tirados do caminho. Com eles tenho a sensação de aprender mais com uma linguagem mais simples.

 

Essas amizades deixam a minha vida mais prática!

 

Abigail Costa é jornalista, faz MBA de Gestão de Luxo e escreve no Blog do Mílton Jung