Eu já sabia


Um estudo encomendado pelo governador Franco Montoro, de São Paulo, em 1983, apontou verdades sobre o sistema de ensino que podem ser lidas ainda hoje nas escolas da rede pública. O trabalho foi citado pelo colunista Carlos Magno Gibrail no artigo “Aos mestres, sem carinho”, publicado nesta terça-feira aqui no blog.

O consultor Julio Tannus, que atua no setor de pesquisas há mais de 30 anos, foi o responsável pelo levantamento pedido pelo governador Montoro e encaminhou para nós, através do Carlos Magno, um resumo dos resultados obtidos naquela época.

Acompanhe o texto:

As Depredações Escolares
Ou
Lugar Público, Terra de Ninguém

As depredações nas escolas públicas em nossa cidade não são de hoje, e também não é nosso privilégio. No início da década de 80, no Governo Franco Montoro, e a pedido do então Governador de São Paulo, através de sua Secretaria de Educação, foi-se a campo para levantar o máximo de informações sobre essa questão. Falou-se com diretores de escola, educadores, alunos e todo o elenco participante desse espaço vital para a sociedade como um todo.

Desde então, vários problemas vem sendo levantados, e entre outros, relacionados à:

Vagas

A instabilidade e a incerteza quanto às vagas geram mal-estar no seio da população, que termina por imprimir sua revolta contra o prédio escolar. Qualquer tentativa de negociação para resolver a questão passa, necessariamente, pela ampliação do número de vagas oferecidas.

Local

As favelas e os bairros desfavorecidos fazem com que a escola seja um lugar privilegiado, pelo seu tamanho em relação aos barracos, pelo seu prédio mais bem equipado que as moradias populares e, principalmente, por representar o Estado e ser patrimônio público.
Por precárias que sejam as instalações escolares contam com salas de aula e cadeiras para acolher um número importante de pessoas.
Apesar da precariedade das instalações elétricas, elas existem e, mesmo não sendo um modelo apropriado, podem ser utilizadas. Enfim, a escola tem sanitários, água encanada e outros pequenos benefícios que os barracos dos moradores nem sempre possuem.

Diferenças Sociais

Escolas localizadas em áreas onde subsistem sociedades diferentes, umas mais pobres que outras, um mais desfavorecido que o outro – miseráveis e pobres. E aí se formam grupos ou “panelas”, gerando-se conflitos permanentes. E os conflitos entre grupos são fatores que contribuem para o surgimento da depredação escolar.

Manutenção

Qualquer dano no prédio escolar é estímulo para a promoção reprodutiva de depredações. Desta forma, os banheiros, as descargas, os azulejos, as torneiras, os vidros, e outros objetos danificados devem ser reparados o mais breve possível.

É dessa época a idéia de ocupar os prédios escolares nos fins de semana com várias atividades – esportes, cultura, lazer – a fim de se coibir tais depredações, que nesse período são mais agudas.

Várias outras iniciativas têm sido tomadas, entretanto, todas elas incapazes de solucionar o problema.

Dois textos cobrem de forma ampla o assunto:
Formas contemporâneas de negociação com a depredação
Hélio Iveson Passos Medrado

Iniciativas públicas de redução da violência escolar no Brasil
Luiz Alberto Oliveira Gonçalves
Marilia Pontes Sposito

4 comentários sobre “Eu já sabia

  1. Lendo o texto de Julio Tannus a respeito de uma pesquisa encomendada pelo Governador Franco Montoro, na década de 80, encontrei ali alguns pontos que me remeteram a própria formação do aparelho mental, ao qual nos debruçamos na nossa clínica psicanalítica. Mas tomarei como foco um só ponto que é o do continente que pode acolher o conteúdo das emoções, curiosidade, inteligênciA, vida pulsional, e nesse sentido, transformar num amálgama o que vem desordenado e caótico num sentido civilizatório de criatividade e expansão.

  2. Prezados assessores do Prefeito de SP, Prefeito de SP , assessores do Governador de SP, Governador de SP, este texto lido e memorizado é o mínimo que precisamos para começar a resolver esta questão da EDUCAÇÃO em nossa cidade e em nosso ESTADO.
    Sugiro que o autor o encaminhe.
    Para os assessores é inclusive imprescindível que leiam os dois textos indicados.
    Nas próximas eleições vamos começar a cobrar da imprensa maior preparo nos debates pela TV e esperamos a Internet atuando plenamente.
    Estes debates tem sido ridículos, diante de informações como estas sendo ignoradas , enquanto precioso tempo é mal usado pelos candidatos e pela midia despreparada.
    Que tal irmos mais às Universidades para buscar trabalhos como os citados?
    O Estado de SP tem uma das melhores universidades do país e os nossos candidatos e jornalistas não a estão utilizando.
    É hora da EDUCAÇÃO começar a agir pela EDUCAÇÃO.

  3. Parece claro que apesar de se tratar de uma pesquisa dos anos 80 a pesquisa é bastante atual, pois os fatos impulsionadores dessas depredações continuam os mesmos. Quantidade de vagas, localização, diferenças sociais, manutenção. Aumentar as vagas, melhorar a manutenção, usar o espaço nos fins de semana integrando as comunidades são ações curativas importantes, mas na origem do problema caímos nas diferenças sociais, nível de pobreza e ai o problema é estrutural e requer mudanças muito mais amplas.

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