Moda, casa de ferreiro espeto de pau

Por Carlos Magno Gibrail

Obama

“O presidente Obama é um homem elegante, se veste de maneira tão adequada que a roupa não se sobressai, apenas ele é evidenciado” Constanza Pascolato.

“A senhora Obama sabe que a Moda é uma forma de comunicação, e a usa permanente e intensamente para dar seus recados” Gloria Kalil.

Se acrescentarmos a essas assertivas a importância social e econômica da indústria da Moda  –  intensiva de mão de obra, potencial disponibilidade ao pequeno empreendedor, alta taxa de retorno sobre a relação capital empregado x geração emprego  –  chegamos a seu real posicionamento tanto na sociedade globalizada quanto no contexto empresarial de hoje. O universo da Moda,

“Império do Efêmero” para Gilles Lipovstky, altamente profissionalizado, fascina e surpreende.
Para completar ainda há o agregado cultural e artístico que a Moda está impregnada. Como refém, sósia ou parceira em seu processo criativo.

E, o sistema da Moda que remete a uma rotina permanente de obsoletismo para gerar a abertura da renovação a cada estação, coloca o criador diante da vida e morte permanente. Talvez esta situação emocional explique a atualização feita quase sempre a partir da volta ao passado.

É no mínimo intrigante que este laboratório de observação, em ebulição criativa permanente, cujas lentes miram modernamente as ruas para apreender mudanças, que lidas e traduzidas vão influenciar todos os produtos de todos os mercados em mercadorias de moda, apresente a nova moda espelhando algo de antigamente.

Manon Salles, do SENAC, acredita que é questão de todo início de século, voltar ao passado.

Segundo Miuccia Prada, “não é momento para inventar coisas as quais os homens não vão entender ou pelas quais não irão se interessar. O novo conservadorismo agora parece realmente novo”. Isso explica o desfile da Prada que trouxe “best-sellers” de outras temporadas e clássicos do guarda-roupa masculino, como blazers com lapela smoking e camisas com punhos altos, casacos com abotoamento duplo.

Em Milão para o outono inverno2009 inspirações e referências em épocas passadas, dos anos 1980 ao século 19, mostraram que a moda busca de fato reviver tempos melhores. A crise, no entanto, não tirou o glamour das coleções, extremamente sofisticadas

Na SPFW 2009 a maioria apostou em inspirações do passado, com algumas exceções. Ronaldo Fraga inovando com “idosos” e crianças, Uma com alguma sinalização ao futuro e Gloria Coelho que foi ao futuro vestindo o passado com o “ET abduziu a Duquesa”.

Com a crise econômica rondando, talvez se esperasse criações que rompessem com o passado, com Moda de escassez ou, ao contrário, com Moda de bonança para confrontar o desconhecido que está por vir.

O Prof. Victor Aquino, ex diretor da ECA USP, aposta mais na insegurança de criador e consumidor para não viajar ao futuro na maioria dos lançamentos de Moda.

Talvez seja um pouco de cada.  Que no futuro o futuro seja mais considerado pelos estilistas, mesmo que não se abandone as reminiscências.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda

15 comentários sobre “Moda, casa de ferreiro espeto de pau

  1. Carlos,

    que bom que a moda também traz o inesperado, não só sustos. Você falava de valorização da experiência, na
    semana passada. A moda ouviu.
    Crise pede mesmo certa cautela.
    Pé no freio do impulso consumista e aproveitar,
    reaproveitar, inventar.
    Gosto disso.
    Boa semana, abraço,
    ml

  2. Maria Lucia, a minha dúvida é em relação ao novo, se os estilistas realmente conseguir am privilegiar os consumidores e os fornecedores, criando uma Moda que fosse economica para ambos.E, que envolvesse os dias diferentes de escassez que podem acontecer.Ou não. O problema é que a Economia vive de expectativas e se todos acreditam que a crise virá, ela virá mesmo.
    O positivo é que surgiram coleções bem estruturadas e belas.

    Aguardemos, mesmo porque os desfiles de lançamento estão para o mercado como a F1 está para os automóveis. Muita coisa vista é para criação e não reprodução ao consumo convencional.

    Grande abraço

    Carlos Magno

  3. Carlos,

    Como criador, embora da área de identidade corporativa, tb entendo que buscar referências no passado sempre acrescenta alguma coisa, desde que essas referências sejam devidamente adaptadas para o período atual.
    No caso de uma identidade visual, esta deve ter uma vida relativamente longa, portanto não muito sujeita a extremismos (claro que existem exceções).

    Abraço,

    Walter
    http://www.brandcompany.com.br

  4. Walter, no caso da logomarca ou logotipo, linkar o trabalho atual com o passado é explicável, para não perder a identidade.
    Na questão do estilo da Moda, ater-se continuadamente ao passado talvez seja exagero, pois as rupturas ou foco exclusivamente no futuro possa trazer novidades interessantes.
    Foi assim que Chanel tirou os espartilhos e inventou a moda usável para o trabalho das mulheres, Courreges apresentou a estrutura e o desenho geométrico espacial,etc

    Abraço

    Carlos Magno

  5. Bom dia, Carlos!
    A moda é mesmo uma caixinha de surpresas, pois há sempre uma grande expectativa em torno do que a estação vai propor. Mais do que criar, na minha modesta opinião, estamos vivendo um momento tão delicado globalmente falando, que não sei se os próprios criadores não estão com o pe´no freio. Criar implica em vender diretamente. O que respeito mesmo são as coleções que se preocupam em reciclar estilos e usar materiais ecologicamente corretos. A Osklen me parece ser um forte exemplo disto. Não vi o desfile, mas soube que boa parte da coleção está usando couro vegetal. Atualmente olho mais para este lado do que o da criação propriamente dita. As ideias surgem e a falta delas faz com que copiem de forma elegante e bem elaborada, temas e estilos passados. Creio que se abrirmos nosso guarda-roupas provavelmente vamos nos surpreender com peças que ainda estão atuais. Em tempos de crise, viva a reciclagem da Moda. Usemos, abusemos, reciclemos nossas roupas e sejamos eternamente “fashion”, no nosso melhor estilo, obviamente.
    Grande abraço
    Sandra Tenório

  6. Sandra,

    A questão dos materiais ecológicos é uma realidade, além da OSKLEN há outras marcas não só preocupadas com a ecologia, como também com o aspecto social.
    Sabemos que a confecção caseira é um dos papéis mais importantes da industria da moda. Possibilitando a costureiras sustentarem familias trabalhando sem sair de casa, o que permite cuidar de doentes,idosos, carentes , etc.
    Temos ainda grupos regionais revitalizados, explorando recursos naturais sustentáveis.
    Entretanto, gostaria de chamar atenção para a oportunidade dos estilistas desenvolverem moda economica pioneira para uma possivel situação de recursos muito escassos.

    Muito boa a sua participação, sempre lembrando a todos que a sua opinião é de protagonista, manequim e modelo internacional de sucesso. E agora pelo que vemos ,ativista da sustentabilidade .

    Grande abraço

    Carlos Magno

  7. Excelente texto, Carlos. Alias, que bom que em tempos dificeis temos, entre outras coisas, a moda, a arte, a musica, enfim, manifestacoes de beleza para aplacar tanta duvida e incertezas…

  8. Cristiane Tamer,
    Fico feliz pela sua participação.
    Quanto ao tema, é bom verificar que hoje a Moda é muito mais valorizada que antigamente, pois não se considera supérfluo ou luxo desnecessário.
    Os aspectos sociais, econômicos, comportamentais já são identificados por boa parte do mercado.
    É altamente confortante para nós que vivenciamos este ramo de Moda, tão apaixonante.

    Grande abraço

    Carlos Magno

  9. carlos, muito bom este conteudo. realmente, nada se cria, tudo se copia, recria, recicla, refaz, reinventa, enfim…
    pude acompanhar isso no desfile do desfile do Samuel Cirnansk, no fashion week, e em outros pela TV tb.
    abs,

  10. Livia,em parte Lavoisier tem razão, entretanto a sua empresa por exemplo, que é um organização de prestação de serviços está num ramo que foi criado no século passado. Portanto, não foi copiado, nasceu da oportunidade de um mercado em que “players” fortes e interessantes estavam surgindo : jornais, revistas, radio, tv .

    No estilo de MODA haverá sempre algo para criar, rompendo usos e costumes.

    A sua LIVIA CLOZEL ASSESSORIA DE IMPRENSA com certeza estará inovando, ou não?

    Abraço e obrigado pela participação

    Carlos Magno

  11. Livia, complementando, a primeira ASSESSORIA DE IMPRENSA DE MODA, surgiu na década de 60, através da CORI e da PETISTIL, empresas fundadas em 1957 e 1958. Sonia Gonçalves foi quem exerceu esta função em ambas as empresas, tendo ficado na CORI durante mais de duas décadas. Hoje, Sonia Gonçalves usufrui de seu empenho desbravador, pois esta estabelecida desde 1990 como uma empresa de prestação de serviços – Sonia Gonçalves Relações Publicas – sendo das mais destacadas do ramo de Moda..
    Durante anos teve seu nome atrelado o da Cori, Soninha da Cori, evidenciando o pioneirismo e a importancia da ASSESSORIA DE IMPRENSA na área de Moda.

    Carlos Magno

    Carlos Magno

  12. Carlos,

    Parabéns pelo texto interessantíssimo! A minha trajetória pelo mercado financeiro e, agora, pelo mundo da moda mostra-me que as características de ambos são muito parecidas. E, se agimos com cautela em um o reflexo é imediato no outro.
    Agora, aproveito para expressar que cada vez mais percebo a moda como uma atitude, um comportamento e uma liberdade tendo um pouco de tudo. O desfile do Ronaldo Fraga chamou-me a atenção, principalmente, pela atitude em homenagear e nos relembrar nosso passado e nosso futuro.

  13. Sandra, estes paralelos, mundo financeiro x mundo da moda, são potencialmente ricos em situações , que permitem emulações e estimulaçoes.
    A sua experiência hoje de comércio eletrônico de moda – http://www.coolstyle.com.br – já é uma inovação , pois poucos ainda apostam em venda de moda pela internet.
    O setor financeiro diferentemente, é uma área em que a internet é usada de forma eficiente.

    Abraço e obrigado pela participação

    Carlos Magno

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