Por que teve essa explosão de violência em Paraisópolis?

Reproduzo texto e título de post escrito por Joildo Santos, morador da Paraisópolis, envolvido na Escola do Povo e outras ações sociais na favela que reúne pouco mais de 80 mil pessoas e foi cenário de confronto com a polícia.

Não me surpreendo mais em ler nas mal traçadas letras de jornalões paulistas, de assistir em canais da TV tradicional e ouvir nas rádios, as mentes iluminadas da imprensa brasileira, que a serviço sabe-se lá de quem preferem esconder a realidade da população, transparecendo que fatos como que os que ocorreram em Paraisópolis são fatos isolados e que para resolvê-los basta a ocupação policial permanente e intensiva.

À exceção do jornalista Mílton Jung que publicou um post sobre o que ocorreu ontem e de mais alguns poucos que conseguem não se contaminar pelo discurso preconceituoso contra nossa comunidade.

A tese de muitos é exemplificada da seguinte maneira: “Ao encontrar sua filha transando no sofá, o sujeito joga fora o sofá”, resolvendo assim um problema eminentemente de educação sexual.

Não adianta virar a cara para o outro lado e achar que bloqueando a comunidade esses problemas vão ser resolvidos, fingir que se preocupa também não adianta, o problema continua lá. O que falta é comprometimento e descer do pedestal de senhores iluminados e buscar arregaçar as mangas em prol da população.

A ameaça do Morumbi é aumentar a pressão sobre Paraisópolis. Costumamos dizer que “Não existe Morumbi bom com Paraisópolis Ruim.”

Movimento espontâneo que se descontrolou ou ação manipulada não importa, porque o que devemos nos atentar agora é a razão que leva a ocorrência de atos deste tipo.

Julguemos que sejam presos os tais responsáveis por orquestrar essa ação, o que fazer daqui para frente? Deixar para lá? Fingir que nada aconteceu? Barril de pólvora é assim quanto mais é pressionado tem cada vez mais chance de explodir. Deve-se lembrar que ali residem mais de 80.000 pessoas, cidadãos que precisam ser assistidos pela sociedade, ser inclusos para exercerem plenamente sua cidadania.

Agora a polícia ocupa Paraisópolis por tempo “indeterminado”, até prender os responsáveis [dizem os comandantes]. Espero que os direitos dos moradores, falo daqueles que saem as 5 da manhã e voltam às 18-19 horas e não estavam naquela baderna não sejam mais uma vez violados à guisa de “encontrar” os responsáveis pela ação.

Tem um detalhe que gostaria que analisassem, o estopim que está sendo relatado na imprensa, o suposto assassinato de um trabalhador [ou de um bandido, como diz a PM] teria ocorrido por volta do meio-dia do domingo, e a manifestação de ontem ocorreu bem próximo dos horários dos programas polícias da TV aberta [Brasil Urgente, SP Record e logo mais o SPTV da Rede Globo], ou seja mais de 24 horas depois do ocorrido.

Acredito que o que realmente ocorreu foi a demonstração de poder de uma facção que o Governo do Estado de São Paulo já disse não existir mais, e que a imprensa prefere encampar o discurso oficial. Ao ver um dos “seus” ser assassinado, precisavam dar uma resposta ao fato e demonstrar que “quem manda” são eles.

Neste fogo cruzado quem é a verdadeira vítima é a população que vive nesta comunidade, com índices baixos de violência, com histórico de atuação dos movimentos sociais em rede entre outras ações.

A violência tem raiz e é ela que deve ser atacada, não os frutos, pois assim as razões dos problemas permanecem intactos.

5 comentários sobre “Por que teve essa explosão de violência em Paraisópolis?

  1. Mais uma vez a desinformação e o preconceito dão o tom da “verdade” quando ocorre algum fato que põe em contato as classes baixa (da Paraisópolis) e alta (do Morumbi). Assim como no lamentável conflito no show dos Racionais, na virada cultural, somos soterrados por versões oficiais de um fato que não foi apurado.
    Hoje, em entrevista à CBN, um líder comunitário falava com muita contenção e medo, como se algo pior pudesse vir de suas palavras. Coagido por quem? Por bandidos do PCC ou por bandidos da polícia?
    Não fosse este blog, onde mais poderíamos ver “o outro lado”?
    Constatação triste é que, ao contrário do que ocorreu no show dos Racionais, desta vez o Jornal da Cultura se limitou a reproduzir a versão oficial dos eventos. Bão, não temos o mesmo âncora, não é mesmo?
    Sorte que ainda temos (por quanto tempo?) Heródotos e Miltons preocupados mais com a verdade do que com o furo. O furo do Datena não me interessa, obrigado.
    Abraços e força SEMPRE,
    Grilo D

  2. Nao tenho uma opiniao formada sobre o fato … nao sou estudioso e acho que nem os estudiosos sabem o que fazer.
    Exemplo a opiniao vaga sobre o assunto que foi realizada na radio CBN , por uma professora especialista em conflito urbano. Dar uma entrevista como expecialista pra falar que na favela existem pessoas trabalhadoras … Sem comentarios.
    Eu acho que deveria haver um estudo ou um debate para relebrar o porque o Rio de Janeiro foi tomado pelo trafico.
    E usar como base e exemplo.

  3. Ótimos policiais colocaram respeito na comunidade, dormíamos tranquilo não havia furtos.

    Após o afastamento destes, o pancadão voltou, o consumo de drogas é muito grande.

    Queria que alguém dormisse em minha casa, nas madrugadas de sexta, sábado e domingo, não há possibilidade de dormir, na segunda feira estamos arrebentado, o final de semana que deveria ser lazer, virou um inferno para nos.

    E mais quantas ONG já entrou nos transportes públicos lotados às 5 horas da manhã para perguntar, quantos moradores estão virados devido a farra dos pancadões??

    Acredito que farra não é falta de lazer, e sim falta de umas boas porradas nestes viciados nóias que deixam as portas repletas de pinos de cocaína, vidros de lança perfume e garrafas de bebidas.

    Será que eu tenho direito de dormir!!!

    Repito, estes policiais são excelentes dentro da comunidade, principalmente após as 22 horas.

    CBN faz uma reportagem dos pancadoes nas ruas Ernest Renan com Rua Herbert Spencer….veja o consumo de droga a céu aberto, desde de então eu respeitaria sua matéria.

    • Dois anos se passaram desde o seu post, e o barulho do pancadão no Paraisópolis continua infernal. Lei do Silêncio não existe agora porque é Paraisópolis? A lei é igual pra todos? Agora são 3h55, e eu estou acordado porque não consigo dormir, tamanho é o barulho. Tinha que chegar polícia lá na rua Herbert Spencer e mandar desligar tudo, isso é uma falta de respeito!

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