Viver, Ver e Rever a História dos Transportes

 

Por Adamo Bazani

Exposição reunirá “personagens de aço, ferro e lata” que contribuíram para o desenvolvimento dos transportes, cidades e País, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Kaio Castro, do Clube do Ônibus antigo

Máquinas tem alma ? Elas podem contar histórias ? Veículos feitos de ferro, aço lata e até madeira podem emocionar ? O gerente de empresa de ônibus aposentado Antônio C. Kaio Castro, fundador e presidente do Primeiro Clube do Ônibus Antigo no Brasil, garante que sim e muito mais. “Cada um que vê os ônibus antigos, desde as Jardineiras dos anos 20 até carros dos anos 80 e 90 tem uma sensação diferente e é muito gostoso”.

Desde 2004, Antônio Castro organiza a Exposição V.V.R – Viver, Ver e Rever – que reúne diversos modelos de ônibus antigos que não só contam a história dos transportes e exibem suas belezas de linhas antigas, simples e ao mesmo tempo complexas para época, mas que mostram como era o transporte nas cidades. Muitos destes veículos, belos pela sua rusticidade, demonstram a dificuldade nos deslocamentos entre bairros, cidades e até estados, e como não era fácil trabalhar no setor, já que muitos deles, de madeira, não ofereciam o mínimo conforto e segurança.

Mesmo assim, estes ônibus antigos dão um ar de robustez e são provas (para muitos, vivas) de que o desenvolvimento do Brasil se deu através de braços fortes de humildes trabalhadores e empreendedores (muitos considerados loucos sonhadores) que vendo uma oportunidade de negócios, ligavam lugares e tentavam encurtar distâncias.

E neste ano será possível ver tudo isso de perto novamente. A edição da Exposição V.V.R. será realizada nos dias 21 e 22 de novembro na Praça da Sombra (o pátio aberto) do Memorial da América Latina, na Barra Funda, zona Oeste de São Paulo. O evento, com entrada franca, não é só para busólogos (como eu), mas para todo aquele que quer sair da mesmice dos programas de fim de semana e assistir a algo diferente (para os jovens) ou relembrar de uma época na qual as coisas eram mais simples e difíceis.

A história do historiador

No ano passado, o evento reuniu cerca de 5 mil pessoas em dois dias e 46 veículos. Mas todo o sucesso da V.V.R se deve ao amor e coragem do presidente do Primeiro Clube do Ônibus Antigo, Antônio C. Kaio Castro, de 56 anos.

Natural de Taubaté, interior de São Paulo, desde 1975 ele organizava eventos de carros de passeio antigos na cidade. “Veículos antigos são minha paixão. Vim para São Paulo e por 20 anos, de 1989 até sete de setembro deste ano, trabalhei como gerente da empresa de ônibus Expresso Redenção, quando me aposentei. Vi que a toda semana, praticamente, havia uma exposição de carros antigos. Mas e os ônibus? Será que ninguém os conservou?”

Aproveitando o contato que tinha com outros empresários, num trabalho de formiguinha, foi consultando empresa por empresa se havia algum ônibus antigo restaurado. E a surpresa foi boa: muitas viações por paixão dos empresários mantinham um ou outro veículo antigo em seus acervos, mas não tinham como exibi-los.

Em 2004, na própria garagem da Redenção, na Vila Guilherme, zona Norte de São Paulo, após muitos contatos, Kaio conseguiu organizar a primeira edição da Viver, Ver e Rever com 11 veículos. “A maioria dos participantes era de amigos, empresários e apaixonados por ônibus, cerca de 300 pessoas num dia”. Apesar de ainda tímido, o evento teve boa repercussão e numa reunião com o poder público, sobre serviços de transportes, algumas pessoas souberam da ideia de expor ônibus antigos e se interessaram bastante.

No ano seguinte, outra edição da VVR no Pátio do Expresso Redenção: mais veículos, pois empresários contavam para outros empresários que se interessavam em exibir gratuitamente seus acervos, e mais público. Ainda em 2005, vendo o crescente sucesso do evento, e a falta de outras iniciativas para reunir ônibus antigos, Kaio fez uma pesquisa nacional e soube que existia o Clube do Fusca, do Ford, do Mustang, de motos, mas não havia nenhuma associação de resgate à memória dos transportes públicos. Então, decidiu formalizar em cartório, com CNPJ e todos os trâmites burocráticos o Primeiro Clube do Ônibus Antigo, que não é só responsável pela VVR, mas pela coleta, catalogação e preservação de documentos, fotos e histórias (inclusive de nosso blog) sobre os transportes “Não quis criar uma comunidade ou um clube virtual, quis criar uma pessoa jurídica para dar mais credibilidade e legitimidade ao trabalho”.

Em 2006, mais uma vez na garagem do Expresso Redenção, Kaio percebeu que não dava mais para o evento se restringir ao pátio da empresa. O número de veículos e de participantes havia aumentado sensivelmente e não havia espaço e estrutura para os ônibus antigos e o público cada vez maior.

Memorial se transforma em garagem histórica

Exposição de ônibus antigosA VVR é realizada no Memorial da América Latina desde 2007, graças a uma conversa de conterrâneos. O espaço sempre foi um sonho de Kaio. “Coloquei na cabeça que um amigo de Taubaté poderia me ajudar. Não sabia como, mas sabia que ele poderia. Tratava-se do Chiquinho, José Francisco dos Santos, que foi diretor da Casa de Detenção de São Paulo, e que cuida do acervo da instituição.”

Um dia, numa conversa informal, Chiquinho disse que tinha bastante amizade com Maureen Bisilliat, diretora do Pavilhão da Criatividade, a área coberta, do Memorial da América Latina. Com a indicação de Chiquinho, Kaio falou com Maureen que ficou maravilhada com a exposição diferente. “Nem ela imaginava que poderiam existir tantos ônibus antigos restaurados. Mas como ela só cuidava da área coberta, me encaminhou para a direção geral do Memorial da América Latina, que gostou da ideia.” No entanto, o espaço é alugado. A busca agora era para um patrocinador e mais uma vez uma surpresa agradável para Kaio. Depois de entrar em contato com diversas empresas, a Mercedes Benz decidiu bancar a exposição no Memorial.

“Fiquei muito feliz por ser a Mercedes Benz, uma empresa que tem história no setor de fabricação de ônibus no Brasil. Afinal, nosso primeiro modelo 100% nacional foi feito pela Mercedes Benz, o Monobloco O 321, em 1958, na fábrica de São Bernardo do Campo. Isso sem contar o fato de que ela responde ainda, mesmo com a entrada de diversas marcas, por quase 50% do mercado de ônibus brasileiro.”

Em 2007, a VVR no Memorial reuniu 30 ônibus e mais de 3 mil pessoas. Em 2008, 46 ônibus e 5 mil pessoas.

Kaio diz que a ansiedade para a edição deste ano é grande, mas que muitas surpresas estão reservadas para busólogos, para quem gosta de história em geral ou para quem quer um programa diferente. Além dos ônibus, venda de fotos e miniaturas artesanais, espetáculos, histórias e muita música. Vale a pena conferir.

SERVIÇO: Exposição VVR – Viver – Ver e Rever – a Evolução 2009
Memorial da América Latina, ao lado da estação de Metrô Barra Funda.
Dia 21 e 22 de novembro (sábado e domingo) das 9 às 17h

(Na semana que vem, você verá alguns dos destaques da VVR 2009 aqui no Ponto de Ônibus, do Blog do Mílton Jung)

Adamo Bazani, repórter da CBN, busólogo, que participa da VVR desde 2007 e garante que é um ótimo evento.

6 comentários sobre “Viver, Ver e Rever a História dos Transportes

  1. Busólogo amador, não conhecia este espaço do Milton Jung. Mas gostaria de aproveitar para perguntar sobre a antiga garagem Leopoldina da CMTC.
    Próximo a minha casa, é com tristeza que observo lá dezenas de ônibus da antiga empresa em total estado de abandono.
    Seria possível fazer algo a respeito?

  2. O Evento foi muito bom. Havia novidades como o ônibus International , os micros Ford, todos da Caprioli. Conheci miniaturistas (sou colecionador). Bati vários papos.
    Maravilha !

Deixe um comentário