Ônibus a bordo dos 60 anos da TV brasileira

 

Nas seis décadas em que está no ar, a televisão brasileira sempre teve a companhia dos ônibus. Os dois, juntos ou separados, deixaram sua marca no cotidiano do cidadão

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Por Adamo Bazani

Os dois são considerados veículos. E veículos de massa. Estão aí para atender a população independentemente de classe social e região. Os donos de ambos os negócios conseguiram poder econômico e social tão grande que, se não podem mudar, poder influenciar e muito nos rumos seguidos pela sociedade. Por que não dizer que podem colaborar para a queda e crescimento de governos, também. Quer mais uma coincidência? Ambos passaram a ser tipicamente brasileiros a partir dos anos de 1950.

Apesar de os dois fazerem parte do cotidiano do brasileiro, um é veículo de comunicação, e o outro, de transporte. São eles, a televisão e o ônibus. Este, aliás, tem aparecido com frequencia naquela. Atualmente, há até é um reality show a bordo de um ônibus. Na maioria das vezes, porém, o que aparece na tela do brasileiro é o ônibus sendo vítima e vitimando. Passageiros inconformados com as situações precárias dos transportes, acidentes por imprudência de motoristas, descuido de algumas empresas em relação a manutenção e também as péssimas condições de conservação das estradas.

Mas por que ligar a história do ônibus com a da TV ?

As duastêm pontos em comum, como a influência em relação a vida da população e até os poderes constituídos. E as lembranças dos ônibus que estrelaram na TV vêm bem a calhar, já que neste sábado, 18.09, a TV no Brasil completou 60 anos de transmissões. Cheios de altos e baixos, orgulhos e vergonhas, mas considerada uma das de maior destaque do mundo.

No 18 de setembro de 1950, uma menina com trajes de índio dizia: “Boa noite, está no ar a TV do Brasil”. A TV Tupi iniciava as transmissões. O primeiro programa foi o Show do Taba, que teve a participação de Lolita Rodrigues. A Dama da TV brasileira, Hebe Camargo, também estava por lá.

Assis Chateaubriand, fundador da TV Tupi não imaginaria, provavelmente, que a TV no Brasil ganhasse tamanha influência e tivesse as atuais proporções. Assim como vários donos de empresas de ônibus, que dirigindo suas jardineiras, enfrentando as dificuldades de comunicação entre um bairro e outro, uma cidade e outra, talvez não imaginassem que algumas viações hoje se tornariam impérios.

E assim como as empresas de ônibus iam crescendo com o desenvolvimento econômico e urbano, a partir dos anos de 1950 – década inclusive que a Mercedes Benz fez o que é considerado o produto que marcou a escala de produção do genuíno ônibus no Brasil (os monoblocos) – as TVs também foram surgindo.

Em 1950, foi a TV Tupi; em 1954, a TV Record (a mais antiga em funcionamento); em 1960, a TV Excelsior; em 1965, a TV Globo, com o surgimento de outras redes locais e nacionais, até 1981 com a criação da TVS, hoje SBT, de Silvio Santos.

Nem só de acidentes e protestos vive o ônibus na televisão.

Houve aparições tímidas e triunfais. Exemplo, era a simpática Marinete, uma jardineira transformada em personagem da novela Tieta, da Rede Globo. Os mais antigos, apaixonados por ônibus, aguardavam numa propaganda da Shell, um ônibus da Itapemirim rasgar um enorme painel branco e aparecer triunfante. A Itapemirim se destacou com a propaganda na qual havia um menino sentado do lado do ônibus grande com uma miniatura nas mãos, réplica perfeita. Qual busólogo nunca invejou este menino? A Cometa, também tinha seus comerciais de destaque.

Das telonas para as telinhas, marcaram muito a Sessão da Tarde, filmes com ônibus como estrelas: Velocidade Máxima, As Peripécias do Ônibus Atômico e Priscila, a Rainha do Deserto.

Ao lembrar estes momentos faço aqui nossa homenagem a estes dois veículos fundamentais para a sociedade brasileira.

Adamo Bazani é busólogo, jornalista da CBN, e escreve no Blog do Míton Jung

N.B: A Imagem que ilustra este post é uma raridade cedida pelo historiador Marco Antônio da Silva: um monobloco Mercedes Benz O 321, usado em gravações pela TV Record, nos anos de 1970. Duas coicidências, a Mercedes, fabricante de ônibus mais antiga em operação no Brasil, e a TV Record, a emissora mais antiga em funcionamento.

3 comentários sobre “Ônibus a bordo dos 60 anos da TV brasileira

  1. Adamo fico imaginando como após a decada de 50 a televisão brasileira cresceria sem ajuda dos onibus…como seriam as externas, o transporte de pessoal, etc.
    Paralelamente o setor de onibus cresceu tambem pois com o nascimento ou crescimento de empresas a necessidade de mão de obra era imensa, gerando um grande fluxo migratório.
    Esta nova massa trabalhadora foi habitando bairros cada vez mais distantes, fazendo empresarios criarem novas linhas e aquecendo o setor de produção de onibus.
    Abraços Adamo e Milton

  2. É realmente muito pertinente esta comparação entre estes dois veículos feita pelo amigo Ádamo; É importante ressaltar que durante décadas o ônibus foi também o principal meio de anúncio de produtos,bem antes do advento da TV,ou outdoor.Inclusive em empresas públicas como a CMTC.

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