Potência verde e a decisão de Marina

 

Por Carlos Magno Gibrail

“Os brasileiros estão mandando um recado para o mundo”, comemorou o comandante da Conservation International, Russel Mittermeier, expressiva organização ambiental, quando gravava para a BBC, ao saber dos 20% de votos dados à Marina Silva.

Russel, poliglota incluindo o português, primatólogo que conta com a identificação de seis macacos amazônicos, apaixonado pela biodiversidade brasileira, não titubeia ao declarar, como fez à revista Veja do dia 13, que potência econômica que é o Brasil tendo conservacionistas de qualidade e uma parte significativa da população que apóia o meio ambiente, certamente está no “Rumo à potência verde”.

Se Gore quando vice presidente de Clinton calou-se como ambientalista, Marina como ministra demitiu-se, esta pioneira situação de hoje em que a candidata ao mais alto cargo nacional é contemplada com mais de 19 milhões de votos deve preparar um salto para o futuro. É a chance de aliar o desenvolvimento à preservação, como enfatiza Russel ao identificar tais condições neste momento brasileiro.

Marina cresceu ao desconsiderar suas posições principistas contra os alimentos transgênicos ou as células-tronco e admitir plebiscito para questões controversas.

A decisão de neutralidade apresentada ao segundo turno das eleições presidenciais pode ser contestada, mas a inovação de liberdade aos partidários e o refreamento à busca fácil da negociação de cargos futuros, indubitavelmente é uma lição a ser apreendida e aplaudida.

Nem Dilma nem Serra, mesmo com todo oportunismo de caçadores de votos que têm demonstrado, conseguiram sensibilizar ao responder aos 42 pontos condicionantes para que a turma de Marina viesse apoiá-los.

Se Dilma e Serra, vencedores do primeiro turno, não ganharam o apoio da perdedora Marina, o país ganhou uma nova via de pensamento, que pode não ser a melhor, mas certamente beneficiará o processo político nacional.

E isto pode ser comprovado destacando-se algumas das 42 condições para apoio no segundo turno:

– elevação do investimento em educação de 5% para 7% do PIB
– comprometimento de 10% do orçamento federal para a saúde
– aumento para 75% dos domicílios com acesso à rede de esgotos
– desmatamento zero de vegetação nativa e secundária em todos os biomas
– veto a propostas de alteração do Código Florestal que reduzam áreas de preservação obrigatória ou promovam anistia a desmatadores
– não instituição de qualquer mecanismo de tutela ou controle sobre a liberdade de imprensa

Nesta lista não se inclui aumento de salário mínimo nem reajuste para aposentados. Como bem retratou o editorial da Folha de ontem: “Nem a petista nem o tucano acataram a agenda verde com mais convicção do que se entregaram a postiças exibições de religiosidade”.

Curiosa esta situação em que regredimos a um fundamentalismo e obscurantismo do século passado, por candidatos da esquerda dos anos do “Ame-o ou deixe-o”.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas-feiras no Blog do Mílton Jung

10 comentários sobre “Potência verde e a decisão de Marina

  1. Achei uma visão simplista e superficial.
    Marina tentou a manobra da vanguarda de reboque, querendo esperar para decidir quem — caso fosse de fato — apoiar, quando claramente queria aguardar as pesquisas para possivelmente tender ao lado majoritário, como faz a bananeira em dia de temporal.
    É, com certeza, um fato político e social excepcional que uma candidata verde alcance a 3a colocação na eleição presidencial, angariando mais de 18 mil votos, pela primeira vez na história de nossa recente democracia.
    Entretanto, o eleitorado de Marina provavelmente é formado por pessoas que votavam no PSDB ou no PT, mas que, cansados dessa polarização, buscavam uma renovação via terceira via da terceira via. O fato é que Marina não teria força política na câmara e no senado e teria de gastar boa parte de seu mandato negociando alianças, e agora que estamos no 2o turno, seu eleitorado vai acabar regressando aos partidos provenientes, deixando uns poucos nulos e brancos órfãos no pleito.

  2. Richard, de qualquer maneira os holofotes acesos em Marina fizeram com que uma posição ambientalista conseguisse uma divulgação inédita.
    Como colocou o primatólogo Russel, esta junção de potência econômica que o Brasil já é, com a biodiversidade que ainda temos poderá gerar um fantástico binômio .Crescimento com sustentabilidade.

  3. A bananeira é usada no tratamento natural de esgoto -CANTEIRO BIO-SEPTICO-. Portanto, os milhões de votos na bananeira, foi um grande avanço e um sinal de que, o saneamento político pode se tornar algo inevitável. Nas próximas eleições, o cultivo da mesma pode se tornar fator definitivo.

  4. Tenho minhas reservas em crer que mesmo Marina pudesse cumprir com todos estes pontos Carlos, por que ela ou qualquer dos dois candidatos que levarem a eleição terão contas haver com a dívida interna que, minha opinião, é a maior responsável por uma carga de impostos tão elevada. A importância de quem recebe estes valores, o maior gasto da União, deve ser muito grande visto que foi criado um índice especialmente para que semelhante soma ficasse de fora de debate ou escrutínio. À Marina e Plínio, eu reservo o mérito de tocarem nesta questão bastante relevante e que pra mim, compromete qualquer outro investimento de longo prazo de qualquer governo. Um calote? Eu não seria tão irresponsável. Mas umas dez ou doze auditorias nela, fariam um bem enorme para nossa democracia.
    De qualquer maneira, viva a bananeira na nossa política. Generosas são as arvores, não?!
    Abs.

  5. Sergio Mendes, também não creio que todos os pontos seriam factíveis. Entretanto sabemos que o planejamento é necessário e, chamou bastante a atenção do público mais informado o fato de Dilma ter retirado o plano de governo e não ter encaminhado um substituto. Serra enviou um discurso. O que é estranho para um economista, afinal é uma profissão de planejamento. Ou não?

  6. Bom Carlos,

    Como simples eleitor, acredito que a disputa pelos votos dos “ignorantes” e “preconceituosos“, deu o tom desta eleição. A grande votação no Tirica foi troco do eleitor que sistematicamente é tratado como idiota. A prova disso, é que outros cacarecos que davam como certas suas eleições, se deram mal.

    Falando em cacareco, existe os cacarecos de luxo que ninguém fala: Aqueles que recebem grande votação, por ter uma postura de suposto bom representante. O José Aníbal, quando eleito vereador da capital/SP., em entrevista, disse que não sabia porque tinha tido tantos votos. Muitas pessoas que votaram no candidato a Senador Aloísio Nunes em SP, só o conheceram depois do Programa Eleitoral Gratuito, que cá pra nós, só mostra e fala o que supostamente o eleitor quer ver e ouvir.

  7. Beto,comentário 7
    O voto no Tiririca do meu ponto de vista é de uma irresponsabilidade infinita.
    Esta situação reflete o momento retrógrado em que vivenciamos nesta eleição.
    Candidatos e imprensa tem culpa nisto.
    A imprensa não poderia aceitar debates sem a intervenção de perguntas de jornalistas.
    Embora no ulitmo debate , quando finalmente deram espaço para perguntas de jornalistas, houve também quem não soube aproveitar a oportunidade para fugir dos temas fundamentalistas.

  8. Carlos,

    Concordo plenamente com vc que foi um ato irresponsavel.

    Também concordo que, a participação de jornalistas -especialistas no assunto da pergunta- é um quesito indispensavel. Porém em um dos debates não deixei de reparar o despreparo para o evento, da Jornalista Fabiana Scaranzi.

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