Conte Sua História de SP: De pai para filho

 

Por João Rodrigues Neto
Ouvinte-internauta

 

Ouça este texto que foi ao ar no Conte Sua História de São Paulo, sonorizado pelo Cláudio Antônio

 

Durante 25 anos meu pai foi motorista de ônibus urbano, depois de aposentado dirigiu táxi por mais cinco anos. Dizia-se dono da cidade:

 

– Quem mais pode ser dono dessa cidade além de mim, e outros companheiros que fazem da peregrinação pelas ruas, oficio para ganhar o pão?

 

-Não somos andarilhos, somos artesãos, praticamos a arte de descobrir cada pedacinho desse imenso país ou mundo chamado São Paulo.

 

-Conhecendo a região central e a periferia, cada bairro, cada vila, descobrindo ruas, vielas, praças, prédios e monumentos.

 

-Em cada viagem uma novidade, a cada instante uma surpresa, vendo coisas, conhecendo gente, respirando progresso, o coração pulsando no mesmo ritmo.

 

É! Pode parecer exagero, mas meu pai tinha um grande amor por São Paulo, e transmitia isto constantemente para familiares e amigos. Sempre que viajávamos lá ia ele falando: preste atenção ali é a praça da Sé, com sua majestosa catedral, mais adiante o Largo São Francisco, com a maior faculdade de direito do Brasil.
Pátio do Colégio o berço da cidade, Rua Direita, Largo São Bento, Praça da República, Praça Ramos de Azevedo, Avenidas São João e Ipiranga que depois foram cantadas por Caetano e tantos outros. Insistia para que guardássemos o nome de cada rua.

 

Palcos de alegrias como o desfile de escolas de samba no carnaval que era feito na São João. Chuva de papéis picados em momentos de festa, ruas iluminadas com pisca-pisca todo fim de ano. Alegrias do povo nativo, ou imigrantes, que nesta cidade são bem recebidos, que vivem, se divertem, trabalham e se realizam.

 

Povo forte, povo feliz, povo corajoso e solidário, dispostos a enfrentar quaisquer situações, como escassez de transporte, trânsito caótico, tempestades e enchentes. Os incêndios do Andraws e do Joelma consternaram toda uma população. Há crianças de pés no chão, moradores de rua abrigando-se debaixo de viadutos, GENTE sem teto, sem dinheiro e sem esperança.

 

Cidade dos contrastes misturando o feio e o belo, onde luxo e pobreza caminham lado a lado. Se Ouro Preto é considerado patrimônio da humanidade, São Paulo deveria ser considerado patrimônio da divindade, foi aqui que DEUS juntou tudo que é povo. E como homem do povo quero viver esta cidade em todos os momentos e circunstâncias.

 

Cantar suas belezas, rir com suas alegrias, chorar com suas tristezas.
Acima de tudo quero fazer minha parte para um São Paulo melhor, exercer plenamente minha cidadania, ser fraterno e solidário para com esse povo que é o maior patrimônio deste torrão.

 

E continuar passando aos meus filhos os valores que recebi do meu pai, ao caminhar por nossas ruas irei cantando seus nomes e descrevendo suas belezas.

 

Parabéns São Paulo pelos 458 anos.

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar, aos sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no CBN São Paulo. Você pode participar enviando texto para milton@cbn.com.br ou agendando uma entrevista no site do Museu da Pessoa

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