Desculpe-me se abuso de falar em trânsito

 

Por Mílton Ferretti Jung

 

Havia me programado para, tão cedo, não voltar a escrever sobre trânsito. Este propósito, porém, durou pouquíssimo. Bastou que eu abrisse os jornais do dia 22 de maio para mudar de ideia. Não digo que outros assuntos de terça-feira, data em que costumo digitar e enviar os meus textos para o blog do Mílton, não existissem notícias merecedoras de minha atenção. Por exemplo: o silêncio, aconselhado por seus advogados, do bicheiro Carlinhos Cachoeira diante dos parlamentares que pretendiam o ouvir na CPMI do Congresso Nacional; as repercussões, na mídia, das revelações de Xuxa, na edição do Fantástico do último domingo, dando conta dos abusos sexuais que sofreu na infância; o fato de, em Porto Alegre, um empregado de limpeza, terceirizado, ter atacado duas meninas, num quarto do Hospital Conceição; ou ainda, dentro do mesmo tema, no Rio Grande do Sul, estatística da polícia registrar que, do início do ano até o dia 8 deste mês, houve, 1.127 casos de abusos sexuais praticados por adultos.

 

Levam-me, porém, a sofrer uma espécie de recidiva, dois fatos que dizem respeito a trânsito. Abordo-os a seguir. Já era de impressionar o número de carros que entopem vias urbanas e, como não, as nossas rodovias, graças (ou desgraçadamente) aos juros baixos e prazos longos, oferecidos, tanto pelas concessionárias quanto pelos chamados picaretas. Agora, o Governo reduz impostos sobre carros (IPI) e crediários. Pretende com isso melhorar o desempenho da economia brasileira, que sofre o impacto da crise externa. Li num jornal que a pretensão governamental é “estimular a fraca economia do país”, mas essa frase me soa tão errada quanto à adorada pelos narradores de futebol, ao dizer que determinado time “corre atrás do prejuízo”. Que eu saiba, se corre apenas atrás de lucro. A Presidente,se ouvi bem notícia do Jornal da CBN, disse que a crise externa não nos afeta. Seja lá, só para exemplificar como for, veículos 1.0,que antes pagavam 7% de IPI, passam a ter custo zero. São esses os mais procurados pelas classes com menor poder aquisitivo e/ou que estejam comprando o seu primeiro carro e que veem na redução do imposto e dos juros a chance de realizar um sonho. Não vai demorar,o nosso trânsito ficará mais complicado.

 

Lembrei há pouco a frase “correr atrás do prejuízo”, eis que outra coisa não fez, nessa segunda-feira, um dos batedores da Polícia do Exército que integravam a escolta de motociclistas da Presidente Dilma Rousseff. Ele foi vítima de um acidente raro. Chocou seu potente veículo, na Avenida Castelo Branco, contra as traseira de um Meriva e foi hospitalizado com ferimentos graves. A assessoria de imprensa do Hospital Mãe de Deus informou que o piloto da moto estava em coma e era submetido a exames. A Rádio Guaíba apresenta alguns de seus programas do Estúdio Cristal, situado no térreo do edifício do Correio do Povo, vitrinas, geralmente ocupada por populares (o estúdio fica na esquina da Rua da Praia com a Caldas Jr.). Nele participo de um debate esportivo e, volta e meia, quando alguma autoridade – cônsules, por exemplo – é conduzida em automóvel, precedido por batedores, pilotando motos que descem a Caldas Jr. em alta velocidade, que eu considero abusiva, porque coloca em risco, pedestres, em especial, surpreendidos com o estardalhaço feito pelos motociclistas. Tenho ou não razão para trazer a este blog,com insistência, assuntos relativos ao trânsito? Espero não estar cometendo também um tipo de abuso. Pelo menos, se os pratico, não faço mal a ninguém.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Um comentário sobre “Desculpe-me se abuso de falar em trânsito

  1. Concordo e apoio! Cada dia que passa tenho mais desgosto em utilizar meu carro. Meu sonho é vendê-lo e poder utilizar o transporte coletivo de maneira eficiente para me locomover. Moro em Belo Horizonte. Aqui não existe metrô decente, estão construindo o chamado BRT, solução criada em Curitiba nos anos 1970, mas adotada de forma não produtiva por aqui. Não há nenhuma interligação entre os transportes coletivos. O aeroporto de confins dista 45km do centro. Se quiser utilizar um transporte coletivo (monopólio da empresa Unir), desembolsará no mínimo R$7,05 para viajar por mais de uma hora e R$19,25 se quiser chegar em 50 minutos, na madrugada de preferência. Locomover de bicicleta, só para os atletas ou para quem não se importar de chegar todo suado no destino, pois BH é conhecida por seu terreno extremamente acidentado, com aclives e declives acentuados. Nem a faxineira não quer trabalhar mais aqui em casa, pois está gastando quase seis horas por dia no trajeto casa-trabalho-casa. Caos total!

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