De incerteza

 

Por Maria Lucia Solla

 

 

Nós, filhos dos homens, nascemos e renascemos infinitas vezes numa vida só. Sempre sós. Todos nós. Ressuscitamos como nos fez ver o filho Dele, e a cada ressuscitar temos oportunidade de ver o novo a piscar. Tudo sempre novo. É paralisar, ou experimentar e enfrentar. Nos esforçamos no entanto para acreditar que tudo continua como era, pelo medo de soltar o velho, de deixar ir a dor e o prazer conhecidos, mas nada continua. Nada permanece. Vida é pura e simplesmente impermanência. Repetimos o que ouvimos, dizendo que vida é movimento, do mesmo modo que rezamos o Pai Nosso e a Ave Maria, como dizemos eu amo você, como dizemos quase tudo o que dizemos. Sem sentir. Sem verdade. O som corneteia pela boca, acostumado e apressado que é, e amordaça a alma. Usamos frases já feitas para não correr o risco de aceitar que nada é como antes, não é, Mílton Nascimento?

 

Rugas redesenham nossos corpos, a pele cansada de se agarrar em nós se afasta e a gente renasce. Sempre. Tem quem coleciona dores, tem os que preferem amores. Tem os que miam e tem os que criam, os que param enquanto outros se preparam e os que se queixam, com medo de continuar, com medo de se olhar de perto. Param no ponto. Passa uma, passa outra oportunidade, e nos esquivamos delas com medo de embarcar em mais uma viagem divina, aqui na Terra. Mas está ali, ao alcance da mão, sempre. Se a gente consegue se distanciar um pouquinho que seja do próprio ego, percebe que a certeza é só fumaça aprisionada por ele, fumaça que asfixia a incerteza, parteira do renascer.

 

E é por isso que eu me despeço de você, meu caro e raro leitor – plagiando o nosso hospedeiro, Mílton Jung – a quem não canso de agradecer por fazer parte deste plantel. Preciso parar para rever as minhas certezas e descartar uma a uma até chegar na incerteza que vai, espero, descortinar na minha vida a beleza que vislumbro de bem perto, sem conseguir realmente alcançá-la. Preciso parar para aprender, para sentir na pele o viver, para poder de novo querer e ter o que dizer.

 

Não sei dizer de quanto tempo preciso, mas conto com você para não me esquecer. Agradeço pela companhia e espero que possamos nos encontrar assim como quem não quer nada, numa próxima parada do trem do viver.

 

Agradeço por estes quase sete anos de encontros semanais, e espero voltar logo.

 


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14 comentários sobre “De incerteza

  1. Amiga, é preciso que, embora sentindo, saibamos entender quando um de nós precisa parar, fazer sua pausa da águia. Mas esteremos aqui na espera do teu ressurgir. Bjs, Maryur

  2. Mama,

    É nessa impermanência que nos descobrimos eternos. Parece contradição, não? Mas não é… é eterna a impermanência, já que Ele, Pai do Filho e de todos os filhos… permanece Uno, Estável, Perene, Amoroso, Justo, Perfeito… para que possamos “impermanecer” o quanto nos for possível e necessário. É este nosso livre arbítrio.

    E o curioso de tudo isso é que o usamos para “permanecer” e corremos o risco de perder essa Oportunidade Divina que habita em nós, e de nos deixarmos viver a impermanência, seguros que o Eterno nos sustenta.

    Ah… lembre de comentar um coisa mais… Um amigo que já sabe de umas tantas coisas uma vez ensinou…

    “A gente senta e reza, ajoelha e reza, deita e reza… reza como mais se sente à vontade… rezando aquela reza que o Filho d’Ele ensinou. Aí, lá no comecinho da reza diz…”O pão nosso de cada dia nos dai hoje Senhor”… não é assim?

    Pois é… e aí o Pai manda o pão, às vezes manda dois três ou quatro. Tem gente que recebe d’Ele um montão de pão. Tem gente que recebe d’Ele um monte de coisa no lugar do pão e nem percebe que é pão também… só porque é carro, é boniteza, que é alegria e riqueza, que é festa e realeza, não vê que esse também é um jeito d’Ele dar o pão…

    Aí, sem se dar essa conta… deixa esse pão todo mofar na gaveta. Espera ele ficar velho e aparecer na porta aquele fulano que pergunta…’Tem pão velho dona??’

    Ou nem espera e joga ele todo fora, porque já tá velho.

    Cada filho é um irmão, e irmão dá a mão, distribui o pão… a boniteza a realeza e a e a riqueza. Assim, Ele e o Filho dele, que é cada um de nós, em cada um de nós, por cada um de nós, aparece para todos nós!”

    Muito amor e paz, paz, paz!
    Muita paz em todos nós e entre cada um de nós.

    Te amo mamãe!

    Pi

  3. Mike Lima

    Sempre brinco com vc incluindo a aviação nas nossas conversas

    “CB no ar, piloto no bar, avião no hangar”

    Te cuida ai no chec “D” da sua aeronave da vida ok
    Lembra-se do artigo que escrevi aqui no blog?

    Bjus e tamoaqui mana!

  4. Já estou com saudades. Viciada que sou em seus textos, só me resta reler e curtir também nas outras mídias. Sou imensamente grata a você, pela doação e entrega, traduzidas em belas palavras aqui arquitetadas. Na certeza de sua volta, muitos beijos e ensejos.

  5. Você vai fazer falta com seus toques sutis e certeiros.
    Estou te aguardando e torcendo para que seus caminhos sejam floridos sempre.
    Abraços gratos.

  6. Malu,
    Ti capisco, ma mi dispiace lo stesso di perder questo appuntamento settimanale con la tua sensibilita che sendo cosi vicina. Ok. Ok. Hai bisogno di fermarti. Mi mancherai e mancherai anche a mia sorella marzia a cui leggo spesso i tuoi scritti. A presto cara amica.

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