O tempo e a distância

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

O desrespeito ao minuto de silêncio antes do jogo do São Paulo e Fluminense, domingo no Morumbi, foi até certo ponto surpreendente. Mesmo para uma época em que o surpreendente é o convencional.

 

De Sordi, o homenageado, foi campeão do mundo em 58, colecionou outros títulos, formando o trio Poy, De Sordi e Mauro. Uma das mais eficientes defesas da história do São Paulo. Ainda que estádios cheios sejam protagonistas de vaias e apupos para hinos e demais convenções, por que então os são-paulinos presentes não homenagearam um dos ícones do clube?

 

Talvez o tempo. Vendo a massa apaixonada de 55 mil torcedores ignorar o passado pelo presente, evidencia-se a questão de que o tempo é o caminho para o esquecimento. A não ser que o atalho do conhecimento impeça. E o conhecimento hoje está disponível como nunca esteve. Entretanto, a facilidade e a quantidade não têm servido como deveriam para a sua devida difusão. Provavelmente por exigir concentração e foco, contrapontos da dispersão e da superficialidade dominantes.

 

Nesse contexto veio a lembrança de uma observação de um entrevistado do Mílton Jung no Mundo Corporativo que alertava para a atual incoerência nos relacionamentos. As pessoas municiadas com os atuais gadgets desprezam as pessoas presentes e priorizam as distantes. Nas reuniões, nas palestras, nos restaurantes, nas visitas e até mesmo na direção de veículos, optam pelos celulares e afins. Entre atender quem está na sua frente, preferem se comunicar com quem está distante, criando uma comunicação sem concentração.

 

Base perfeita para a dispersão e o distanciamento. Aliás, a distância, no tempo ou no espaço, é a grande vilã desse cenário que requer mais proximidade no tempo e no espaço.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.

8 comentários sobre “O tempo e a distância

  1. É isso aí. Escuto muito uma frase e lembro dela sempre que vejo as pessoas quase entrando em seus smartphones em uma mesa de almoço:
    “A tecnologia de hoje, afasta os que estão próximos, e aproxima quem está longe”.
    E é perfeita, pois as pessoas não se falam na mesa de almoço, mas postam até o que estão comendo para quem está longe saber…. um tanto quanto patético.
    Abs

  2. André, é uma realidade . A frase é perfeita. Apenas acrescentaria que enquanto este sistema fica entre os aficionados não há problema, entretanto quando se trata de motoristas ou de falas altas, como normalmente são, porque ao telefone se aumenta o volume, terceiros passam a ser incomodados.

    • Carlos,

      Importante sempre não demonizar a tecnologia, mas o uso que fazemos dela. Bem usada, nos aproxima, facilita a relação. Veja que bela surpresa tive há algumas semanas: pelo Facebook, fui procurado por aquele que considero ser a minha mais importante professora, que marcou minha adolescência, graças as aulas de artes e civilidade (esta parte era por conta dela, não estava no currículo escolar). Por outro lado, vemos uma hiper exposição de pessoas que decidiram transformar o Facebook em uma espécie de Revista Caras de si mesmo. Parabéns pela abordagem.

  3. Tenho um amigo que ele sempre fala: Hj eu fiz um amigo nos EUA e um na Espanha. A gente conversou muito. Ai eu perguntei: seu irmão tá gostando do trampo novo? E ele: Sei não, tem uns 3 dias que não troco uma ideia legal com meu brother. É bem por ai. Mas acho que o Milton Jung resumiu bem. Depende de como a gente usa as tecnologias. Eu fiz assim: entro 45 minutos de manhã, 45 minutos a tarde e 45 minutos a noite. Depois leio um livro, faço caminhadas, vou trocar ideia com meus amigos pessoalmente ou por telefone e tento tirar uma música no violão, fico ouvindo rádio coisa que adoro e procuro fazer coisas que não tenham a ver com tecnologias. Tipo: limpar a mente. Rsss. Se a gente não estabelece uma regra, a gente fica escravo dessas tecnologias toda. No começo ficava quase o dia inteiro conectado e deixando as boas coisas de lado.

  4. Milton , é isso mesmo. Em tudo que nos cerca o exagero é ruim. É preciso controle, até mesmo para os bens essenciais, pois se usados demasiadamente podem causar danos.
    Na ciência econômica há o o valor de uso. Se tiver sede 1 copo de água é bom , 2 pode ser ótimo dependendo do tamanho da sede, mas se tomar 10 poderá haver problemas.
    Outro exemplo, 1 par de sapatos é regular, 2 é melhor, 3 é bom, mas se for uma Imelda Marcos, com 300 pares surgirá problema de estocagem e de escolha.
    Não é preciso nem falar das bebidas alcoólicas e cia.
    Controle é essencial.

  5. Para complementar o comentário sobre o exemplo dado da ciência econômica, o nome da lei é : Lei da utilidade marginal decrescente.
    Para se aprofundar na economia é só ir ao Google, e haja tempo, porque a matéria é extensa e interessante.

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