Por Maria Lucia Solla

Tem-se discutido muito, e acaloradamente, sobre partidos e políticos, e sobre o fato de esses trafegarem por aqueles, ao aceno da mínima vantagem. Ser da direita ou da esquerda não é mais uma questão de sentar-se à esquerda ou à direita do plenário, como em idos tempos. Os partidos por sua vez querem que o mandato e o político lhes pertençam para terem munição. A senhora presidente diz ter ‘bala na agulha’. Estamos em guerra, e eu não tinha percebido. De todo modo, fica claro que se foi o tempo de convicções e de construção da democracia. Romântica e femininamente imagino um tempo em que alguns governavam – trabalhavam, administravam – enquanto outros davam duro fiscalizando. De olho; implacáveis. Ao menor deslize a turma no comando pulava miúdo. Mas se houve esse tempo, durou até que alguém percebesse que, por lá, dava para dar menos duro e ganhar mais mole.
E foi como água mole em pedra dura que a idéia fixa dessa meta se infiltrou e se alastrou feito praga, por todos os lados. A gente então começou a vender os próprios pensamentos, a entregar as paixões, crenças e a própria identidade, em troca de não viver, já que isso dá um trabalho danado. Ficou anestesiada de tanto fingir que estava tudo bem, para não sair do conforto da poltrona. E a coisa foi crescendo tanto e tão velozmente, que se romperam os diques, e a lama transbordou, nos cobrindo e sufocou. E a gente? Acostumou.
Pense comigo, nosso país é de terceiro mundo, somos pobres, não temos água, luz, estradas, transporte, saúde pública, educação, e nem comida para todos. E o que fazemos? Mantemos aparência esfarrapada com uma criadagem política despreparada, sem experiência, sem cultura nem educação, que oferece, em bandejas de plástico, migalhas a nós, seus patrões; e nós os tratamos a pão-de-ló, com água mineral e bebida importada, servidas por copeiros em bandeja de prata, mesa farta, carros de luxo, um batalhão cada vez maior de subalternos, e avião importado.
Minha sogra abomina quem come mortadela e arrota peru. Pois é, dona Ruth, parece que nossa nação não anda bem de digestão.
Enquanto isso, nos países de primeiro mundo, com população mais rica, com pleno acesso a educação e saúde, e onde nem se imagina o que seja a dor da fome, os gestores das nações têm muito menos criadagem e mordomia do que os nossos.
Voltando aos partidos, é triste lembrar que eles também geram aberração e mensalão. É o tal do cada um por si, do salve-se quem puder, coisa de republiqueta de quinta.
No entanto, enquanto nós, viventes do mesmo chão, continuarmos a contratar a corja, ela continuará oferecendo privilégios e benesses aos que estão abaixo, acima, à direita e à esquerda, para eternizarem a farsa e o assalto miúdo às nossas carteiras e à nossa dignidade, que temos entregado de bandeja, como se nada valessem. Não é para isso que supostamente evoluímos como seres humanos, e que somos considerados cidadãos.
Ou é?
Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung
Concordo amiga, totalmente, com tua opinião. É triste a nossa realidade político-administrativa,bjs Maryur
Maryur,
pena, né!?
Obrigada por estar sempre presente.
É cada vez um presente!
Beijo,
ml
mike lima:
cada povo tem o governo que merece.
né?
bjus e um excelente final de domingo!
Profª Maria Lúcia Concordo em tudo que foi dito, penso há bastante tempo em como fazer, se unir p modificar, porém em quem confiar como líder.
Aquele (a) que vai realmente fazer a diferença em prol do Povo para o Povo.
Quando aparece um que poderia nos representar, imediatamente ele se junta a tudo que foi dito p vc. Abçs mas vamos acreditar.
Alpha India,
Penso que não seja assim tão simples, mas que assim como está não pode ficar.
Diz um dos meus Mestres que ainda tem que ficar muito pior, para recomeçar a melhorar.
Quem sabe…
Beijo e ótima semana,
Olá, Nésio,
bem vindo à nossa sala, e sim! vamos acreditar sempre.
enquanto isso, vamos fazendo cada um a sua parte, certo?
Ótima semana e volte sempre,
Cara Malu. Tens toda razão. Muito bom esse texto. Também li um outro hoje que vc escreveu em 2008 (Contribuição e retribuição) e que foi republicado por ser tão atual. Ou seja, em 6 anos, nada mudou, só piorou e muitos continuam cegos. Talvez fosse melhor ser cego para não sofrer tanto com as escolhas dos outros que, inevitavelmente, nos atingem também. Vamos ver até quando. A panela de pressão um dia explode.
Suely,
obrigada pelo teu comentário.
Tua imagem da panela de pressão é perfeita e faz pensar que a panela de pressão assovia antes de explodir.
Precisamos apagar o fogo!
E o fogo se apaga com a água, que é o feminino, emoção, capacidade de se infiltrar, amorosidade, coragem, receptividade, Yin, Lua…
Vamos encarar essa?!
Ótima semana,