A nova oligarquia do futebol brasileiro

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

A partir de 2011 um novo ciclo financeiro foi estabelecido para os times brasileiros em decorrência de mudanças nas cotas de TV, principal receita da maioria dos clubes. Visando a hegemonia existente da TV GLOBO, o CADE determinou, em nome da livre concorrência, uma licitação entre as empresas interessadas no direito de transmissão do campeonato brasileiro. O Clube dos treze, que negociava todos os contratos, lançou então um edital no valor de R$ 516 milhões que sucedia o anterior de R$ 269 milhões.

 

Por influência da CBF e da TV GLOBO, e assediados pelo presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, os clubes aceitaram tratar diretamente com a televisão. Negociados individualmente os contratos chegaram em torno de R$ 1 bilhão. O Clube dos treze que representava os clubes mais influentes e intimidava a CBF e a TV GLOBO foi extinto. E, a partir de 2012, o Brasil passou a ter a quinta maior cota de TV do mundo. Atrás apenas da Inglaterra, Itália, França e Espanha. Tamanho salto deixou a maioria dos times exultantes. Não perceberam que a negociação individual, embora trazendo aumento significativo naquele momento, iria fortalecer os mais fortes e enfraquecer os mais fracos.

 

Até então, Flamengo, Corinthians, São Paulo, Vasco e Palmeiras recebiam R$ 25 milhões. Santos, 16 milhões. Cruzeiro, Atlético MG, Grêmio, Inter, Fluminense e Botafogo, 16 milhões. Sport, Bahia, Vitória BA, Coritiba, Atlético PR, Guarani, Portuguesa e Goiás, 13 milhões. Pela nova negociação Flamengo e Corinthians tiveram aumento de 340%, o São Paulo de 220%, Vasco e Palmeiras 180%, e os times da última faixa apenas 107%.

 

Essa tabela, válida até 2015, deverá alimentar a desigualdade ainda não visível entre as equipes. A competitividade estará seriamente ameaçada se as novas cotas de TV recém-divulgada na mídia se concretizar. Flamengo e Corinthians terão aumento de 50% enquanto as faixas abaixo receberão reajustes menores, tendo a ultima segmentação apenas 10%.

 

Ou seja, o “gap” entre a receita dos clubes será acentuado. Exatamente o oposto daquilo que tornou o torneio da NBA um sucesso, onde os ganhos são equivalentes. E onde habita o campeonato espanhol de dois times, quando a exceção é um terceiro time chegar à final.

 

Vamos gravar os últimos seis anos de campeonato brasileiro com seis campeões diferentes. Pode ser que nunca mais aconteça.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.

4 comentários sobre “A nova oligarquia do futebol brasileiro

  1. Prezado Michel, a questão é que se continuar o aprofundamento do “gap” de ganho, vão ficar sempre para as finais Corinthians e Flamengo.
    Qual a graça se o seu time só tiver um único adversário?
    O campeonato terá apenas dois jogos de interesse?
    Você provavelmente é corintiano ou flamenguista. Que tal não ter mais emoção jogar contra São Paulo, Palmeiras, Santos, Vasco, Grêmio, etc.?
    De qualquer maneira gosto não se discute.
    Eu prefiro antes de tudo ver um bom futebol. Vitória ou derrota é consequencia. Ganhar jogando mal não me atrai. Muito menos como disse o goleiro do Flamengo “roubando”.
    Abraço

    • O retorno de audiência dos clubes pode ser critério para distribuição de renda, assim como o número de sócios, porém o desequilíbrio nos valores não pode gerar desigualdade semelhante a que assistimos na sociedade brasileira. A persistirem os sintomas, de distribuição de renda e de má-gestão, você não precisa se preocupar, Carlos. Continuaremos com competições equilibradas.

      Outro aspecto que deve ser discutido é o da profissionalização no comando dos clubes e controle dos salários de jogadores e técnicos, permitindo também distribuição melhor dessa riqueza entre os profissionais e garantindo o equilíbrio entre os competidores.

  2. Milton, é isso mesmo. A má gestão tem impedido o desequilíbrio, assim como também o numero de sócios mensalistas. Caso do Inter e do Grêmio. O Inter com aproximadamente 110 000 e o Grêmio com mais de 70000 associados mensalistas..

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