
Para a produção de sua monografia, a estudante de comunicação Carmen Barreto, da ECA/USP, está coletando opiniões sobre novas tecnologias e o uso do livro digital. Tem consultado profissionais ligados as áreas de cultura, educação e comunicação (na qual me encontro). Por e-mail, enviou-me algumas perguntas que respondi na medida do possível e do meu conhecimento. Pedi licença a ela para reproduzir a entrevista aqui no Blog, antes da conclusão do trabalho, mesmo porque este será muito mais profundo e rico. Portanto, a seguir, publico um pouco do que penso sobre o assunto com a esperança de que você, caro e raro leitor deste Blog, compartilhe sua opinião, também:
1-Qual é a sua opinião sobre a chegada das novas tecnologias? Como você se sente em relação a isso?
No caso específico do rádio, meio para o qual tenho me dedicado nos últimos anos, a internet e todas as possibilidades que surgiram a partir dela serviram como oxigênio, renovando o veículo, oferecendo novas dimensões para o trabalho desenvolvido. Para o jornalismo de uma forma geral, um horizonte incrível surge, pois todas as inovações digitais dependem de conteúdo, produto no qual os profissionais da nossa área são especialistas.
2-Como você se adaptou à transição das tecnologias e como essas transformações impactaram sua vida e sua forma de pensar? [como, por exemplo, sistema analógico/digital, carta impressa/mensagem eletrônica, máquina de escrever/computador, telefone fixo/celular, celular/smartphones (com internet e novos recursos), livro impresso/e-book, antigos sistemas e as revolucionárias plataformas, readers, tablets, Ipad,Ipod] ?
Nasci no jornalismo analógico, cresci nas redações sem computador e com mesas tomadas por máquinas de datilografia, conversas por telefone fixo e de pouco alcance, contato com o público por carta e notícias chegando na sala de teletipo. A chegada das novas tecnologias não me intimidou, ao contrário, me motivou. Abriram-se novas possibilidades e o acesso às fontes foi facilitado, assim como estas se diversificaram. Hoje, qualquer cidadão, com um gadget em mãos, pode emitir informação importante e ser alcançado pelo jornalista.
3-Hoje, o que o livro ou a leitura representam para você?
O mesmo de sempre: fonte inesgotável de inspiração e informação.
4-Você já leu algum livro digital (e-book)? Qual? Quando foi? Você gostou?
O primeiro livro digital que li foi a biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson. Comprei a versão original em inglês e aproveitei todos seus recursos, provocado pela minha professora de língua estrangeira, Maria Lucia Solla (nossa colega de todos os domingos). Não abri mão, porém, de adquirir o livro impresso (já em português) para guardar na minha biblioteca – talvez resultado desta mania de colecionador que ainda mantenho. Lembro que apesar de ter assistido à toda série House na televisão e baixado vídeos no computador, assim que a coleção chegou às lojas, comprei todos os DVDs e, creio, que sequer os abri. De volta à leitura, apesar das facilidades que o livro digital me oferece no acesso e na navegação, principalmente para pesquisa de temas relacionados, ainda tenho preferido os livros impressos. Força do hábito. Mas não tenho nada contra a digitalização (desde que meu leitor eletrônico esteja com bateria).
5-Como você compara a leitura de um livro impresso e um livro digital (e-book)? Considere os itens que parecerem relevantes para você, como, por exemplo, preço, tempo de leitura, praticidade, recursos de formatação de letras e luminosidade.
Parece-me que a diferença de preço é mínima, salvo engano. O digital é mais prático de comprar e o impresso, de ler. Digo isso, muito mais pelo hábito de folhear e rabiscar frases e trechos relevantes. Costumo cansar mais rapidamente ao fazer a leitura no tablet. É incomparável a facilidade que o digital nos oferece em termos de pesquisa.
Curiosamente, trocaria qualquer jornal impresso pela edição digital. Hoje, logo que acordo baixo a versão de O Globo em meu tablet e sequer dou tempo para a entrega do Estadão pelo jornaleiro. Prefiro o digital. Uma das facilidades é o compartilhamento de informações nas redes sociais ou com os amigos e colegas. Algo inimaginável na versão impressa.
6-Você acredita que o livro impresso irá desaparecer? O que você pensa a respeito disso?
É uma tendência, a medida que as gerações que viveram a era do livro impresso forem desaparecendo. Uma questão de tempo, mas de muito tempo, pois por anos a fio ainda iremos conviver com os dois formatos. O importante é termos consciência de que o livro e a leitura serão essenciais para o nosso desenvolvimento como sempre foram, apenas estarão em um outro ambiente, o digital.
A facilitação que os novos produtos e serviços trouxeram é inegável. Velocidade, qualidade, conforto, atualidade, acessibilidade, etc.
Quanto aos produtos antigos, acredito que alguns como os jornais irão desaparecer. Os livros deverão ficar, assim como os relógios clássicos. E, no caso dos livros ainda levam vantagem porque é mais fácil de ler, embora sem os recursos da busca e da customização.
Previsões são imprecisas, e sempre lembro que se questionava os produtos convergentes. E são o sucesso de hoje. Celular, maquina fotográfica, filmadora, gravadora, etc. Tudo junto e de qualidade.
Milton,permita-me dar um pitaco sobre livro impresso e livro digital. Confesso que jamais li o digital. Talvez por conviver desde a infância com os impressos que o meu pai e teu avô guardava carinhosamente na prateleira do quarto que,na época, eu dividia com a minha avó. Claro,lá não encontrava o gibi,esses e outros do tipo apropriados para a minha idade,mas que,por incrível que pareça,estava proibido de ler,razão pela qual precisava me esconder no telhado da garagem do Citroën do seu Romualdo,meu querido velho. Cheguei a ler,porém,Zadik,livro escrito por Voltaire. Não sei se entendi. Não lembro. O Crime de Padre Amaro também foi engolido fora das vistas paternas. Já,hoje em dia,prefiro ler livros protagonizados por diferentes espécilistas,a começar com os da lavra dos criados por Sir Conan Doyle,criador do eterno Sherlock Holmes. Atualmente,devoro uma trilogia de Steven James,o que me possibilitou "conhecer" o detetive Patryck Bowers,do FBI. Livros desta espécie são ótimos para quem não está,por qualquer razão,obrigado a ler biografias e que tais. Não creio que pudesse ler os meus preferidos me utilizando de computadores etc.