A Copa, quase uma obrigação

 


Por Milton Ferretti Jung

 

Não costumo tratar de futebol nos meus textos de quintas-feiras. Isto,porém,desta vez,com a Copa do Mundo começando hoje e se realizando no Brasil,escrever sobre este evento é quase uma obrigação. Não vou me furtar de fazer do Mundial o meu assunto. Na minha carreira radiofônica,que durou sessenta anos,fiz quase de tudo neste extraordinário veículo de comunicação:fui locutor comercial,apresentador de notícias,narrador de esportes e ator de radioteatro enquanto este item se manteve na programação da Rádio Guaíba. Fiz,inclusive,papéis caricatos. A equipe de atores participava de dois programas infantis – Teatrinho Cacique e Mestre Estrela – além de um dominical – Grande Teatro Orniex – este uma radiofonização de textos sérios para ouvintes adultos. Sinto uma grande saudade dessa época. Mas me propus a falar em Copa do Mundo e não vou fugir do tema.

 

Participei de três Copas como narrador da Guaíba:Alemanha,em 1974;narrei um jogo – Itália e Suécia – na competição sediada pela Argentina,em 78;finalmente,fui o narrador titular no México,em 1986. Fiquei,porém, mais contente quando Armindo Antônio Ranzolin,chefe de esportes da Guaíba,me escalou para trabalhar na Copa da Alemanha. Eu tinha muita vontade de conhecer a terra dos meus antepassados. Ruy Carlos Ostermann e eu viajamos para Frankfurt, onde o Brasil jogou na primeira fase do Mundial. Nessa viagem,fizemos uma escala em Paris. O nosso avião se atrasou e o que nos levaria até Frankfurt já tinha partido quando desembarcamos nessa cidade. Com sorte, conseguimos embarcar para o nosso aeroporto de destino em outro voo. Já com o traseiro doendo depois de mais de dez horas de viagem,descemos do avião e fomos em busca de nossas bagagens num dos terminais do aeroporto.

 

Até hoje,depois de inúmeras viagens aéreas,sempre que espero pelos meus trastes em terminais aeroportuários,não descanso enquanto não ponho a mão no que é meu. Dessa vez,logo na minha primeira viagem para mais longe de casa,eis que as nossas bagagens não nos acompanharam. Para aonde teriam ido? Ou,quem sabe,estariam irremediavelmente perdidas. Fomos ao recinto no qual ficam as bagagens não reclamadas e lá nos disseram que voltássemos no outro dia seguinte porque talvez tivessem vindo em outro voo. À noite,em um palacete,a FIFA receberia jornalistas de vários países com um jantar. Era para já estar quente na Alemanha,mas fazia um friozinho danado e garoava. Eu estava só com a roupa com a qual havia viajado. As demais,até então,em lugar incerto e não sabido.

 

Acordamos cedinho na manhã do nosso segundo dia em Frankfurt. No carro alugado pelos companheiros que nos precederam na Alemanha,voamos baixinho para o aeroporto.Lá chegando,corremos para o local em que ficavam as malas não reclamadas. E,para sorte minha e do Ruy,achamos ali as nossas roupas e tantas outras coisas que se põem em malas. Depois do susto na chegada,tivemos uma ótima passagem pela Alemanha dos meus ancestrais. Passamos a maior parte da nossa permanência no organizado país que nos recebeu sem ter de enfrentar problemas,seja na nossa cobertura jornalística,seja nas horas de folga.

 

Em 1986,a Copa do México,para quem passou a maior parte do tempo em Guadalajara,que foi o meu caso,eis que narrei apenas os jogos disputados nessa bela e agradável cidade, Samuel Souza Santos narrou os realizados na capital mexicana. Nas duas Copas do Mundo a que eu assisti,nem seria necessário dizer,o Brasil se deu mal. Espero que, na segunda competição em nossa terra,a sorte ajude o Felipão, sua Seleção e os brasileiros que torcem por ela e para que consigamos dar ao mundo uma demonstração de civilidade.

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

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