Por Maria Dusolina Rovina Castro Pereira
Ouvinte da CBN

O rádio fez parte da minha vida desde muito cedo. Eu era criança, cursava o (antigo) grupo escolar e todas as noites, após o jantar, meu pai ligava o rádio na Rádio Nacional para ouvir o Repórter Esso.
Meu pai era metalúrgico nas Oficinas Dedini, em Piracicaba; cursou a escola rural só até o terceiro ano, mas gostava de ouvir as notícias e aprender. Ele me colocava sentada ao seu lado, abria um Atlas Geográfico que comprara e ficava a buscar os locais e a me ensinar quem eram as pessoas, onde ficavam os lugares e o que estava acontecendo.
E foi assim que, antes dos 10 anos, pude “conhecer” Patrice Lumumba, o líder anticolonial congolês assassinado em Catanga em 1961; aprendi também sobre Chiang Kai-shek, figura controversa que serviu como Presidente da República Popular da China e depois, de Taiwan.
Foram muitas descobertas sobre personalidades ligadas à política, à Igreja e ao cinema. Mesmo sem entender do assunto, conhecia muitos nomes da política nacional: Carlos Lacerda, Jânio Quadros, João Goulart, Brochado da Rocha e tantos outros.
Claro que eu e meu pai não sabíamos como era conduzida a linha editorial daquele jornal, mas era muito bom ouvir “Alô, alô, Repórter Esso” e “testemunha ocular da História”.
O tempo passou, cresci, vim de Piracicaba para São Paulo para estudar. Aqui conheci um gaúcho “do” Alegrete (RS), apaixonado pela Rádio Guaíba, onde ouvia pelas Ondas Curtas noticiário e futebol e torcia apaixonadamente pelo Grêmio! Imaginem, que ali conheci o “primeiro” Milton Jung!!!
Casamo-nos e ele trouxe consigo seu aparelho de Rádio Philips, com ondas curtas, médias e frequência modulada! Trouxe também um aparelho de rádio amador, sua outra paixão, onde conheceu muita gente e acompanhou jornadas como a de Amyr Klink.
Em razão do trabalho, mudamo-nos para Irecê, na Bahia, onde ficamos por três anos. Ali, o rádio era nosso maior contato com o mundo para saber as notícias; e o aparelho de rádio amador muitas vezes atendeu às necessidades de pessoas para falarem com suas famílias, principalmente os padres do local que, na época, eram italianos. Depois de mais algumas mudanças, retornamos a São Paulo, eu em 1998 e ele em 2000.
Aqui, logo descobri a CBN e passei a ouví-la em casa e depois no carro, até chegar ao trabalho ou durante o dia enquanto rodava pela cidade, também a trabalho, ou retornava à casa. E sozinha, contestava alguns comentários ou esbravejava em voz alta com algumas notícias.
Na época, o Jornal da CBN era ancorado por Heródoto Barbeiro e uma das minhas comentaristas preferidas era Lúcia Hippolito: “porque você sabe, né, Heródoto, que o PMDB não é para amadores”… Saudades dela!!!! E, em 2000, também conheci o Milton Jung Jr., comandando o CBN SP e mais tarde, a partir de 2011, o Jornal da CBN. E continuo a acompanhar as notícias.
E continuo a ouvir, a concordar e a discordar de algumas análises, ainda contestando as falas em voz alta. Sim, me permito às vezes discordar de grandes comentaristas porque disso é feita a Democracia: da possibilidade e liberdade de discordar civilizadamente de conceitos, opiniões e análises.
Ouço Sardemberg, Dan, Teco Medina, José Godoy, Merval, Miriam Leitão e os excelentes comentários sobre Educação de Ricardo Henriques, além do O mundo em meia hora. Não posso esquecer dos muitos outros comentaristas de política, saúde, esportes, tecnologia, agro, cozinha, etc.
E há algum tempo, a possibilidade de ouvir todos esses comentários em podcast, tornou o rádio ainda mais companheiro.
O rádio está completando 100 anos e eu acompanho a evolução no Brasil há aproximadamente 60; creio ter sido uma grande jornada em ótima companhia
Maria Dusolina Rovina Castro Pereira é personagem do Conte Sua História de São Paulo, especial 100 anos do Rádio. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br