Náutico 0x3 Grêmio
Brasileiro B — Estádio dos Aflitos, Recife/PE

Greg,
Você e eu sabemos que o domingo foi estranho. E estamos cientes de que o próximo talvez seja ainda mais. As coisas que vêm acontecendo na política assustam e preocupam. Não estão do jeito que a gente gostaria. Acompanho de perto suas preocupações. Justificáveis, diante do País que você sonha viver: igualitário, justo e generoso — como você.
A despeito dos acontecimentos e dos sentimentos que afloram, hoje também era um dia de remexer na nossa memória afetiva. Retomar as emoções que vivenciamos há 17 anos, quando você e o Lo eram guris de calça curta e cabelo comprido. Mal sabiam ainda o que levava o pai a sofrer desesperadamente diante da televisão que transmitia um jogo de futebol. Entraram no quarto, onde eu assistia ao despedaçar do meu time na Segunda Divisão, para entender meus lamentos. Logo se uniram a mim, me abraçaram e assim ficamos até o instante final quando vencemos o que ficou conhecido por “Batalha dos Aflitos”. O pai chorou e vocês, constrangidos com a cena, foram solidários.
Foi lá que vocês foram forjados gremistas, mesmo que você tenha vestido uma camisa tricolor ainda nos tempos em que dormia em um berço, quando fomos campeões brasileiros, em 1996, o ano que você nasceu. Foi lá que você entendeu que aquele time tinha uma importância para o seu pai que se sobrepunha à razão. E nunca mais me deixou só nesse sofrimento.
Comemoramos títulos, vibramos com os gols, reclamamos dos jogos mal jogados e dos reveses nas nossas jornadas esportivas. Nos divertimos na final do Mundial e curtimos juntos a alegria dos torcedores pelas grandes vias e locais turísticos de Abu Dhabi. Ano passado, foi você quem me confortou na inevitável caminhada à Série B. E me ensinou que, independentemente da competição que estivéssemos disputando, seguiríamos vibrando com gols e lamentando as derrotas. Ou seja, nada nos faria deixar de ser gremista.
Neste ano, foi você quem esteve ao meu lado partida após partida. Ajudou-me a suportar o futebol enfadonho, encontrou consolo nos pontos perdidos fora de casa e na sequência de empates que nos impedia de acelerar a ascensão. Foi você quem me fez mais feliz a cada gol que comemorou comigo.
Neste domingo, não seria diferente. Sem ser indiferente a importância e a gravidade do que acontece no Brasil, lá estava você sentado comigo diante da televisão para assistirmos ao Grêmio contra o mesmo adversário e no mesmo estádio de 2005. As circunstâncias eram outras, é claro. Não era vida ou morte. Não havia arquibancada lotada. Nem o oponente tinha mais qualquer chance de se manter na competição. Mas a memória estava fervilhante e a ansiedade era enorme. Confirmar a passagem à Série A com duas rodadas de antecedência era o mínimo que merecíamos depois desta temporada ingrata de 2022.
A partida se fez fácil mesmo com o futebol difícil que jogamos. Quis o destino que a revelação do ano se sobressaísse aos seus: Bitello fez dois gols e renovou a esperança de que em 2023 vai brilhar no meio de campo gremista. Lucas Leiva, o volante cabeludo da “Batalha dos Aflitos”, que voltou da Europa para fazer parte desta campanha, agora jogando mais à frente, também marcou o seu para tornar ainda mais completa essa sua história com o Grêmio.
Foi o segundo gol, o de Lucas Leiva, que me fez acreditar que nada mais nos impediria de subir. Foi a cena dele abraçado, em comemoração, a Geromel —- ninguém mais merecia esse retorno do que nosso capitão —- e a Diego Souza —- minha reverência a nosso goleador —, três ‘veteranos’, que me fez cair em emoção.
O desejo era de virar criança mais uma vez, correr para abraçar o pai e ser abraçado por ele. O pai não está mais entre nós. Contive-me! Ou quase! Os olhos marejaram, a lágrima escapou e escorregou pelo rosto, sem que eu conseguisse esconder a vergonha daquele sentimento. Você, cúmplice, me poupou. Compartilhou sua alegria. E foi parceiro como sempre!
Ao seu lado, estamos de volta à Série A! E por ter sido ao seu lado, essa caminhada foi bem menos árdua do que poderia ter sido diante da conjuntura que enfrentamos — no futebol e no País.
Obrigado, parceiro!
Amigo querido, quanta emoção cabe em um texto? Pois ela está inteirinha aí! Parabéns!