Joelma Melo
Ouvinte da CBN

Era dezembro de 2013 e eu estava vivendo um sonho: havia passado no mestrado da Faculdade de Saúde Pública e iria pesquisar a minha paixão: a cidade de São Paulo. Já estava tudo certo. O projeto de pesquisa foi aprovado, logo começariam as aulas. Porém, uma reportagem da CBN aguçou minha curiosidade e me levou ao encontro de uma São Paulo verde, meio rural, a qual sequer imaginava que existiria.
Se não me engano a reportagem foi de um quadro chamado Seu Bairro, Nossa Cidade. E ele contava sobre um bairro no extremo sul onde as crianças ainda brincavam nas ruas, as pessoas se conheciam, não havia sinal de internet e, especialmente, estava dentro de uma área de proteção ambiental.
Oi? Dei um Google e apareceu uma imagem de uma moça de vestido vermelho, cabelos longos e loiros, no meio de uma mata. Parecia uma visão. Que lugar é esse?!
A imagem era parte de um blog de um fotógrafo chamado Gabo Morales, e bastaram algumas fotos para eu enlouquecer:
Tenho que ir! Preciso conhecer este lugar. Não pensei duas vezes e entrei em contato com o fotógrafo, convencendo-o a me levar até lá. Fato que aconteceu em janeiro.
Moradora da zona norte, atravessei a cidade. Foi ônibus, metrô, trem, ônibus, e mais um ônibus. E quanto mais avançava rumo a Marsilac, mais verde a cidade se tornava. Até que cheguei ao bairro.
A rua principal que se chama estrada — Estrada de Marsilac — com uma pequena praça, algumas vendinhas, crianças brincando, mulheres na janela e um horizonte verde, independentemente do lugar que eu olhasse.
Outros cheiros, outros sons, outro tempo se fundindo em uma cidade conhecida pelo concreto, pela rapidez, pelas alturas dos prédios, por gente apressada e muito barulho.
Pronto, não tinha mais volta. Ao retornar para casa, escrevi um novo projeto e enviei para minha futura orientadora. Eu estudaria uma outra São Paulo.
Uma São Paulo que tem cachoeira, que tem onça… Arah! Mas a onça é parda e não pintada. E graças à Deus, nunca cruzei com uma.
Vi Bromélias, manacás de encher os olhos, plantação de tuia-holandesa. Tinha também macacos, ovelha, além das temidas aranhas. Cobra só vi a pele, e fugi. Também tive que correr de umas vacas brabas, porque lá também tem um lado meio rural.
Voltei para casa muitas vezes com as botas cheias de barro. Mas tudo bem. Como eu estava feliz.
E tinha as pessoas. Ah, que delícia! Quantas conversas tive em quintais verdes, enquanto tomava um cafezinho. Sou eternamente grata pelos cuidados, pelo carinho e, acima de tudo, pela confiança em contarem tanta coisa sem nada em troca.
Foram dois anos gastando quase 3 horas para ir e mais 3 para voltar. Mas valeu a pena. Até hoje lembro de muitas falas, dessas pessoas as quais mesmo com todas as dificuldades não abrem mão de viver tão perto de uma natureza mais bruta, porém não menos bela.
Sinto falta do cheiro, daquela sensação de liberdade, de calma, de ter sido transportada para uma São Paulo que se converte em mata, que agrega o bicho-homem com o bicho-bicho que ainda tem água limpa.
Culpa da CBN, a qual sempre serei grata!
Joelma Melo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é de Daniel Mesquita. Escreva o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite agora o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo