Conte Sua História de São Paulo: o rádio e a rádio que me fizeram escritora

Marina Zarvos

Ouvinte da CBN

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A caixa. Imponente.

Toda feita de madeira nobre e trabalhada, enfeitava a sala.. 

A Menininha. Curiosa.

Na pontinha  dos pés, como bailarina, ensaiava os primeiros passos e tentava desvendar o mistério da caixa que falava.

Foi assim anos a fio e todas as noites. A caixa falava (com chiado, é verdade!) e a menininha adormecia, embalada pelas ondas do rádio. Transcorria a década de 50.

A família reunia-se em torno dela (a caixa) para ouvir os intermináveis discursos do  pai dela(da menininha), então presidente da Câmara Municipal de Lins. 

E, ao som das ”ondas” do rádio  que proseava sem parar, a menina adormecia.

O tempo voou e a caixinha mágica ficou menor, libertou-se dos fios e acompanhou  a adolescente que ouvia os Beatles e os Rolling Stones, sem imaginar  fazer parte de uma geração icônica.

Geração que libertava  a jovem mulher de amarras seculares. Década de 60.

No embalo da Jovem Guarda, ouvia atentamente programas que ofereciam música aos apaixonados. Suspiros, fantasias e muitos sonhos surfavam nas ondas do rádio.            

Ah! A lua da jovem apaixonada ficava mais perto. Sempre ele, o rádio, a nos informar.

“Um pequeno passo para um

homem, um grande salto para a Humanidade.”

A jovem dá um grande  passo na década seguinte: universidade, casamento, filhos… anos 70, 80, 90…

Ganhos, perdas e algumas conquistas.

Avizinhava-se o novo século, novas tecnologias, infinitas possibilidades se descortinavam. A fiel caixinha mágica, de onde as palavras saltavam e bailavam, acompanhava a jovem mãe  nas noites intermináveis, em claro, ninando as crianças com músicas para relaxar.

Virada do século, o velho amigo, agora  guardado como recordação, fora substituído  por outro que cabia na palma da mão. A mãe torna-se “mãe  de sua mãe” já muito idosa e frágil. 

Noites e dias em que os sonhos misturavam-se aos pesadelos da dura realidade. Novamente o rádio, companheiro inseparável, aplacava a angústia e informava. Era a rádio que tocava a notícia, no sem-tempo para leituras.

E foi num desses dias, na segunda década do novo século, que a menina-jovem-mulher-e já avó ouve  o chamado para enviar um texto para o programa “Conte sua história de São Paulo”. Já corria a década de 2010.

A emoção de ouvir um texto, sonorizado com esmero, lido  com a voz inconfundível do âncora, Milton Jung, foi mágica! Acontecia o inusitado encontro da caixinha proseadora  com a  prosa literária daquela que  ama conversar com o leitor e ouvinte.

Nascia a escritora que havia engavetado suas escritas ao longo de muitas décadas.

As ondas do rádio, agora saídas também da palma da mão que carrega o celular, inundaram e fertilizaram a criatividade da vovó. 2022.

Incentivada pelos textos  acolhidos e divulgados, a avó ainda surfa nas ondas do rádio. Ondas que a levaram além mar… Escreve nas nuvens, literalmente, a  caminho de Lisboa. Vai lançar seu livro na maior feira lusófona do mundo: a 92a Feira do Livro de Lisboa. Ensaia os primeiros passos no mundo literário… mas precisa escrever sua história com o rádio! 

Gratidão ao rádio e a Rádio CBN, que toca notícias, corações, e proporcionou à menininha do passado navegar por ondas e “mares  nunca dantes  navegados”.

Marina Zarvos é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também mais um personagem dessa cidade. Escreva seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

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