Avalanche Tricolor: 120 anos de vida!

Vista aérea da Arena no dia dos 120 anos em foto de Diego Vara/GrêmioFBPA

Saí da Igreja, agora há pouco — vou à missa todos os domingos —, e encontrei o Romano, conterrâneo e gremista desgarrado aqui em São Paulo, assim como eu. Migramos da saudação de paz a comentários sobre nosso time tão rapidamente quanto fazemos o sinal da cruz. Ele disse que não havia lido minha “coluna” mas já imaginava o que eu teria escrito sobre a partida da quinta-feira à noite. Sim, Romano está entre os caros e raros leitores desta Avalanche.

Não leu porque não escrevi. Coisa rara nesses mais de 15 anos desde que criei esse espaço em que usufrui do nome de uma das comemorações mais loucas que a torcida gremista já proporcionou — saudade da geral do Olímpico. E não escrevi porque o futebol jogado no interior paulista, na retomada do Campeonato Brasileiro, após a Data Fifa, além de se encerrar tarde, pouco me inspirou e o conteúdo de minha escrita não seria justo com os 120 anos de fundação que o Grêmio comemoraria no dia seguinte. 

Aniversário do nosso time gostamos de festejar. E consta que a comemoração foi linda lá pelas bandas da Arena com famílias reunidas, torcedores entusiasmados, homenagens merecidas a craques como Tarcisio, o Flecha Negra, música e shows para todos os gostos. Além de boa comida e bebida. Quando a data é redonda, os festejos são ainda mais especiais.

Recentemente completei 60 anos de vida e esse arredondar de datas me permitiu perceber que metade da história gremista acompanhei em vida. Verdade que lá no início dos meus tempos sequer sabia o que era futebol, mas meu pai deve ter comemorado vitórias me abraçando ainda bebê, colocando a bandeira sobre meu berço e compartilhando seu sorriso ao chegar em casa após as partidas disputadas no Olímpico, que, aliás, ficava na vizinhança da casa em que morei criança. Lembre-mos que nasci em meio às conquistas que nos levaram ao Heptacampeonato Gaúcho (1962 – 1968).

A primeira experiência sentida na pele que tive com o futebol foi aos seis anos. Já contei aqui essa história familiar pouco recomendada aos pais modernos.

Um primo de segundo grau usufruiu da minha ingenuidade e me fez vestir uma camisa do adversário e erguer uma bandeirola encarnada, no dia em que desperdiçamos a oportunidade de sermos Octacampeões Gaúchos. Meu pai me bateu com o pau da bandeira para que eu aprendesse definitivamente minha missão em vida: ser gremista eternamente. Muito anos depois, ele próprio disse ter se arrependido da atitude, no que eu fiz questão de agradecer pela boa lição que aprendi.

De lá pra frente, minha relação com o Grêmio se fez mais íntima. Passei a frequentar o Olímpico, joguei na escolinha de futebol, migrei para o basquete, fui mascote desses de entrar de mãos dadas com os jogadores, fui gandula e pombo-correio do Seu Ênio Andrade, a quem assumi como meu padrinho, chorei nas arquibancadas e no vestiário fui consolado por alguns dos nossos ídolos. Entrei em campo para festejar conquistas e tive de sair correndo de dentro dele para não sermos atingidos por foguetes arremessados por torcedores frustrados com a derrota.

O Grêmio faz parte da minha vida e ajudou a construir meu caráter. Devo muito aos aprendizados que tive lá dentro e sou grato pelas alegrias e sofrimentos que me forjaram como pessoa.

Foi importante para tornar mais próxima e verdadeira a relação que tive com meu pai e de tão significativo, mesmo quando a doença já não permitia que ele se expressasse de forma clara, eram os símbolos do Grêmio, sua cor, sua camisa e as imagens na televisão, nossos pontos de conexão. Fiz questão de passar tudo isso aos meus filhos que hoje são gremistas apesar de terem nascido longe de Porto Alegre e nesta terra, São Paulo, de tantos clubes grandes e sedutores. 

O significado deste clube foi gigante e aproveito esses 120 anos de fundação para agradecer por tudo que o Grêmio fez por mim, expressando aqui um sentimento que talvez estivesse enevoado, após o resultado frustrante na véspera de nosso aniversário.  

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