Mundo Corporativo: Cris Kerr, da CKZ, diz que líderes que ignoram abusos promovem assédio

Reprodução da gravação do Mundo Corporativo com Cris Kerr



“O silêncio não é neutro.”

Cris Kerr

A omissão diante de um comportamento tóxico dentro das empresas é mais do que um erro: é um sinal de cumplicidade. Quando líderes ignoram atitudes abusivas, reforçam a percepção de que certas pessoas estão acima das regras – e alimentam um ambiente que afasta talentos e adoece profissionais. Essa foi a mensagem central da entrevista com Cris Kerr, CEO da consultoria CKZ Diversidade, ao Mundo Corporativo.

Para Cris, é preciso agir de forma rápida e justa diante de qualquer conduta inadequada. “Se a gente está vendo e não faz nada, estamos dizendo: pode continuar fazendo, porque você é gerente, diretor, e nada vai acontecer com você”, afirmou. A especialista alertou que a responsabilidade recai especialmente sobre a liderança: “O comportamento da liderança dita a cultura da organização.”

Transformação cultural: urgência e ação

O caminho para ambientes corporativos saudáveis exige mudança de cultura e não apenas manuais com boas intenções. “Cultura não é o que está escrito na parede. É o que se vê nas atitudes”, disse Cris. E essas atitudes, segundo ela, começam no topo: “Muitos ainda confundem piada com agressão. E é comum ouvirmos de quem está no comando que ‘é só o jeito dele ou dela’. Não é aceitável.”

A transformação requer treinamento, canais externos de denúncia e ações concretas que demonstrem coerência entre discurso e prática. “Não adianta falar em ética se, na prática, os comportamentos são ignorados. É preciso que a liderança pare de brincar com o que não é brincadeira”, reforçou.

Cris citou o caso de um executivo que fazia comentários inadequados em reuniões, achando que criava um ambiente mais descontraído. “Ele já tinha sido citado duas vezes em canais de denúncia. Quando percebeu que sua imagem e carreira estavam em risco, entendeu a gravidade. Mas muitas vezes é tarde demais.”

Outro alerta importante foi sobre a saúde emocional das equipes. Um ambiente de assédio constante leva à exaustão física e mental. “Frequência de adrenalina e cortisol afeta o organismo. Estamos falando de burnout, depressão e até câncer. É um tema de saúde pública dentro das empresas.”

A pressão da nova geração

Segundo Cris, as empresas que não se transformarem correm o risco de se tornarem inviáveis para as novas gerações. “A geração Z, que em breve representará 30% da força de trabalho, não aceita ambientes tóxicos. Eles pesquisam a cultura da empresa antes de entrar. E se não encontram coerência, vão embora.”

Políticas de diversidade, por si só, não são suficientes. “Assinar um código de conduta no primeiro dia não muda nada. É preciso falar sobre o tema, preparar lideranças e treinar pessoas para serem agentes de transformação.”

Ao ser questionada sobre o futuro, Cris foi direta: “O dia mais feliz da minha vida será aquele em que eu não precise mais ter uma consultoria para falar sobre assédio e discriminação. Quando o respeito for, de fato, um valor vivido e não apenas declarado.”

Assista ao Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Letícia Valente.

2 comentários sobre “Mundo Corporativo: Cris Kerr, da CKZ, diz que líderes que ignoram abusos promovem assédio

  1. Teria sido interessante comentar a situação e a possibilidade de q a acusação de assédio não seja verdadeira, seja estratégia (tb tóxica) para prejudicar colega ou superior. Causa danos irreversíveis ao acusado. Não há como reverter o dano causado à reputação e à carreira. Gostaria de poder ouvir a opinião da entrevistada.

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