Um lugar muito importante, muito especial na cidade, que está ligado à minha história inteira é o Parque do Ibirapuera. Acho esse lugar uma coisa impressionante.
Desde os dois, três anos de idade, eu já vivia no Ibirapuera. Meus pais me levavam para passear; nós morávamos relativamente perto – não tão perto quanto eu moro hoje. Agora, moro a 500 metros ali do portão da Quarto Centenário.
A minha ligação com esse Parque, por uma coincidência, sempre esteve presente, na maior parte da minha vida. Já morei perto do Parque duas vezes – uma agora e outra quando o Pedro, meu filho, nasceu.
Para mim o Ibirapuera é algo vital. Passo quase diariamente em frente; vou correr. Tenho uma ligação afetiva muito grande com o Ibirapuera.
Então, presenciei toda a evolução desse importante símbolo de São Paulo, que foi criado em 1954. Não tinha nascido, mas desde criança venho frequentando. o local. Faz parte da minha vida.
Outro ícone importante é o Aeroporto de Congonhas, que, juntamente com o parque, tenho documentado em várias fotos da infância, nas quais revejo meu pai me levando a esses lugares. O Aeroporto, quando eu era pequeno, era um passeio; todo aberto… Não era como é hoje, envidraçado e formal.
Ir para Congonhas era uma alegria, como ir num parque de diversões, e podíamos ver as decolagens, as chegadas. Você ficava muito próximo dos aviões. Os passageiros desciam na pista; tinha apenas uma gradezinha que separava o público dos passageiros. Era bem diferente do que é hoje.
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Fábio Caramuru é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.
Eram 1970. Tempos tumultuados. A ditadura tinha atingido seu auge. Qualquer manifestação de opinião contrária ao sistema era proibida. Nós éramos jovens estudantes, filhos respeitosos, gostávamos de Rita Lee, Chico Buarque, Beatles e assim seguíamos.
Estudantes mackenzistas com muito orgulho, estávamos entre o ensino médio e a faculdade. Eu cursava o último ano do Técnico de Administração e meu irmão, o Carlos, a faculdade de Engenharia. Todos nós éramos amigos dos amigos e formávamos um grupo muito legal.
Fim de semana com festa era o máximo. Com festa a fantasia, era genial Seria na casa da namorada do Andrade. Muita atrasada fui a loja de fantasia na Bela Vista e quase fiquei na mão. Tinha sim uma roupa que me servia. Mas será? De Freira? E assim foi.
O quanto eu ouvi antes de sair de casa foi para a vida toda. Lá estava eu vestida com um hábito de freira perfeito, preto e branco, como manda o figurino. Mas qual a jovem de 16 anos não faria uma maquiagem a altura de uma festa de arromba. Festa, aliás, que estava fantástica com direito a odaliscas e piratas. Sensacional estava o Castro de zorro com capa e espada. Foi ele que me convidou para acompanhá-lo e levar uma amiga lá pelos lados do Aeroporto de Congonhas.
Nada era comparável ao café no aeroporto nos fins de noites daqueles ditos Anos Dourados. Aquele saguão chiquérrimo com seu piso quadriculado era muito badalado. O Castro tirou os adereços da fantasia e estava de calça e camisa pretas . Eu fiquei apenas com o hábito de freira e a maquiagem. E isso se transformou em um pesadelo.
Quando estávamos curtindo o saboroso cafezinho no balcão do salão fomos abordados por um policial que nos intimou a acompanhá-lo a delegacia do aeroporto. Por quê?
– Vocês estão detidos, disse o policial.
– Documentos na mesa, deu a ordem.
Logo nos apressamos a entregar a carteira de identidade e de estudante. Sim, de estudante porque mostrávamos que éramos pessoas de bem. Mas 1968 ainda estava na cabeça de todos assim como a Batalha da Maria Antonia, que fez com que nosso policial nos condenasse antecipadamente.
– Ah, estudantes do Mackenzie. Isso explica porque estão vestidos assim.
Da festa de Ali Baba nos tornamos estudantes subversivos. Ficamos aterrorizados com a repressão do policial. Mesmo sem sofrer nenhuma agressão física, foi um pesadelo que só terminou quando o delegado de plantão chegou. Fez algumas perguntas: onde morávamos, oi que estávamos fazendo com as roupas estranhas. Todas devidamente respondidas.
Assim que fomos liberados pelo delegado, voamos para o carro que estava no estacionamento e de lá direto para casa. Além de um susto enorme, isso rendeu muita conversa pelos corredores do Mackenzie.
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Celia Corbett é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.
São Paulo é conhecida como capital da moda e da diversidade, prova do quanto esta cidade é acolhedora e favorável a todo tipo de liberdade com responsabilidade, respeito e criatividade, a começar pela indumentária que tanto mudou ao longo dos tempos.
Meu primeiro beijo aconteceu no Aeroporto de Congonhas. Sou mineira e apaixonada pela capital paulista e, à época conhecendo o que esta megametrópole já oferecia, meu primeiro namorado me levou ao Aeroporto de Congonhas e, acreditem, as pessoas frequentadoras daquele ambiente se vestiam como se estivessem indo para uma festa.
Outro lugar que também chamou minha atenção à época foi o Jockey Club pela elegância com o que os frequentadores se vestiam.
E, na sequência visitei o Museu do Ipiranga, que agora preciso revisitar para certificar se está tão magnífico quanto era antes da reforma.
Parabéns Senhora São Paulo npor acumular tanta ousadia e riquezas culturais, imagino que inspiradas à partir da Semana de Arte Moderna de 1922.
Elizabeth Figueiredo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Daniel Mesquita. Seja você também personagem da nossa cidade. Envie seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outros capítulos da nossa cidade visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo
Com quatro anos, ele é meu companheiro de quarentena, pois as circunstâncias assim determinaram. Desde o dia em que o mundo parou, nossa diversão tem sido embarcar no tapete voador, inventado às pressas, para alcançarmos lugares e pessoas queridas. Visitamos castelos encantados, príncipes, princesas, praias, fazendas, a outra casa da família no interior de São Paulo, sobrevoamos a casa dos primos e até visitamos a terra dos antepassados, na distante Grécia.
Quanta alegria e diversão para proteger o pequeno neto, Nikolas, do pesadelo que a humanidade vive! Protegendo-o, esqueço por horas seguidas o fantasma que assusta a todos. Resgato o universo da imaginação, da fantasia e das deliciosas brincadeiras.
A quarentena atravessou o ano de 2020, já adentra 2021… e nosso tapete decola diariamente, pousando bem ao lado do Aeroporto de Congonhas, em Moema. A mesma Moema que, há alguns meses, quase não nos permitia ouvir os sons dos pássaros ou do silêncio. Ganhamos um pouco de quietude nestes tempos sombrios, o que me fez relembrar quando aqui cheguei, no início da década de 60.
Apenas um ou outro pássaro, de aço, pousava em sua enorme pista. A avenida Moreira Guimarães permitia que a atravessássemos sem medo, quase de olhos fechados, até que um dia, num piscar de olhos, as máquinas a invadiram e abriram o grande corredor da tão conhecida Avenida 23 de Maio. Acompanhei a transformação do bairro, da cidade. E hoje, na calma triste da pandemia, revisito a transformação de mim mesma. A menina cresceu, casou-se, teve filhos e hoje, netos.
Sim, os netos são nossa oportunidade de visitar a criança que fomos. E assim sobrevoando São Paulo e o mundo, a bordo do tapete voador, posso dimensionar melhor o tamanho da mudança.
Lá, nas alturas encontramos nuvens e somos por elas engolidos. Lá nos diz o comandante:
“Informo aos senhores passageiros que estamos atravessando uma área de instabilidade, favor observarem os sinais luminosos de atar os cintos e seguir a orientação dos comissários”.
Aqui, no meu espaço de proteção, respiro fundo e confio que passará logo. Tudo passa. Tudo evolui e, na “nuvem” – aquela que a tecnologia me apresentou – vislumbro meu outro neto, Joaquim, um pouco mais longe, nessa ausência imposta.
Percebo, então, que tenho de inventar em mim outra criança. Não a que fui, mas a que ele é. Vejo e revejo suas fotos, vídeos e alegres encontros virtuais de 2020, que parecem ter acontecido em outro século. Tempos se confundem, espaços se estreitam… dias, semanas, meses ganham uma outra percepção da passagem do tempo.
Os espaços? Ficaram vazios, atônitos. Porém, eu os vejo paradoxalmente encurtados, agora, pelo tapete voador do Nikolas, 4 anos, e pelo tapete virtual do Joaquim, 9 anos, que, com rapidez impressionante, decola, percorre avenidas virtuais, conecta-se com seus pares, brinca, joga, explora países, continentes, descobre fórmulas, faz suas aulas on-line, oferece algumas aulas à sua avó – vovó-criança, desdobrada entre o tapete voador e a quase impossibilidade do tapete virtual.
Nessa nuvem em que tudo cabe, receio entrar. No entanto, é nela que o mundo do meu neto primogênito está. Mundo digital que vai se descortinando, dia após dia, na viagem que parece não ter fim. Sigo como uma navegante perdida em mares turbulentos. Sem bússola, navegar não é preciso, não é certo, não é seguro. Mas sigo vivendo na imprecisão e mistério infinitos da vida, só agora entendendo a filosofia de Petrarca nos versos de Fernando Pessoa. Sim, viver é navegar de olhos cegos e sem rumo.
Mas há instrumentos, sim, meu pequeno grande comandante informa: “Coloca o “Easy”, vovó! Você vai ver, é bem mais fácil saber o caminho”. Não digo nada, só me perco no encantamento, As crianças, em sua inocência de anjos, nos fazem sempre encontrar um porto seguro, Há muitas perguntas a serem respondidas, muitas descobertas. Dizem os entendidos que “não há pergunta sem resposta no mundo da internet”. Será mesmo? Então… quando passará essa pandemia, respondam-me, por favor!!?
Volto o olhar para o Nikolas que, parecendo ouvir meu grito mudo, afirma certeiro: “Quando a gripe passar, vamos brincar lá fora, por enquanto vamos “se divertir” aqui mesmo”. E dá de ombros, num trejeito só seu.
Nikolas e Joaquim, com suas observações e dicas, conduzem-me ao melhor porto: minha família, amigos, trabalho on-line, nossos alegres encontros virtuais. Vida. Vivendo e aprendendo, com os pequenos mestres, que as nuvens se dissiparão, o sol voltará a aquecer nossos corações e a iluminar os novos caminhos da humanidade.
Naveguemos na esperança ou na certeza de que, sob as nuvens do céu de São Paulo, há muitos tapetes voadores, driblando lindamente a tempestade. E de que há, na nuvem da internet do mundo todo, tapetes virtuais generosos, com que enganamos a saudade.
E seguimos repetindo, como num mantra, que vai passar.
Era cedo — mais uma vez. Tudo parece acontecer logo cedo comigo. Não só parece. Acontece mesmo, porque cedo é que o meu dia começa. Começou, nesta quarta-feira, em 15 de julho de 2020 com as principais notícias do dia. Para logo em seguida uma estranha reversão do tempo atingir minha mente.
Às 6h45 da manhã, voltei dois ou três anos ao informar que no centro da cidade a temperatura era de 14°C. Nem a sede da rádio, em São Paulo, está por lá — é na zona Sul — nem meu estúdio avançado da quarentena fica na região — é na Oeste. Costumava usar a expressão quando trabalhava no tradicional endereço da rua das Palmeiras, no bairro de Santa Cecília — este sim no Centro —, onde ficavam os estúdios da CBN e da rádio Globo. Foi lá que comecei a trabalhar. Onde cometi meus erros e enganos. Onde também tive experiências profissionais memoráveis. Onde pratiquei jornalismo por 20 anos.
Imagino que tenha sido reflexo de outro recuo que minha memória me proporcionou um pouco mais cedo — não disse que tudo acontece muito cedo comigo?
Ainda eram 6h15 da manhã quando voltei mais de 30 anos no tempo. Já no bom dia da Aline Tochio, que atualiza a previsão do tempo no Jornal da CBN, e sempre recebe os ouvintes com muita simpatia e precisão, em vez de falar de São Paulo — como fazemos todos os dias —, resolvi perguntar sobre a temperatura em Porto Alegre, onde havia visto, minutos antes, que fazia um frio de renguear cusco — perdão pelo gauchismo.
Nossa meteorologista, sempre atenta aos monitores e radares, além de bem informada, confirmou que o frio era intenso: “neste momento, temos 5°C no Aeroporto Salgado Filho”. Foi a senha para a fita rebobinar uns 30 e pouco anos. E eu me enxergar com 23 ou 24 anos de idade, época em que trabalhava na rádio Guaíba, e era o primeiro repórter a entrar no ar no programa matinal — sim, lá também as coisas aconteciam muito cedo para mim. Os termômetros do aeroporto de Porto Alegre faziam parte da minha fala na rádio, assim como as condições dos voos e uma ou outra notícia que surgisse no saguão do Salgado Filho.
A Cássia Godoy logo me cobrou que contasse essa história no ar. Não tive tempo. Preferimos tratar de coisas mais relevantes para os ouvintes. Aqui no blog o espaço é livre e pode ser ocupado com reminiscência, por isso, reproduzo trecho de texto que publiquei no início desta pandemia, quando fui levado à reclusão. No qual comparava o momento que estou vivenciando com a apresentação do Jornal da CBN de casa e aquele tempo em que, de casa, entrava ao vivo na Guaíba:
“É estranho mas não inusitado. Em meus primeiros anos de rádio, nos anos de 1980, tive uma experiência curiosa. Na época, trabalhava na rádio Guaíba de Porto Alegre e fazia minha primeira participação, logo depois das seis da manhã, com informações do aeroporto Salgado Filho. Diante da necessidade de reduzir custos, a rádio combinou que eu continuaria atualizando as notícias do aeroporto — condições para voar, voos atrasados, lotação dos aviões entre outros assuntos —, mas diretamente de casa.
Era fim de madrugada quando acordava e ligava para os balcões das companhias aéreas — Varig, Vasp e Transbrasil —, para a torre de controle e para o telefone do ponto de táxi que ficava em frente ao aeroporto. Os motoristas descreviam o movimento de passageiros e informavam a temperatura registrada pelo termômetro de rua. Com esse arsenal de informações, me preparava para entrar no ar na Guaíba.
Encerrava meus boletins informando a temperatura na cabeceira da pista, uma forma que encontrei para dar um pouco mais de realidade aos fatos, quando de verdade eu estava falando, ao vivo, da cabeceira da minha cama. Registre-se que
em nenhum momento, no bate-papo com o âncora do Jornal, dizia que estava no aeroporto para não perder a confiança do ouvinte assim como não comentava que estava em casa — algumas vezes fui traído pelo nosso cachorro de estimação, que latia “diretamente do pátio”.
Se no ar tudo transcorria normalmente e a prestação de serviço atendia a expectativa do público, lá na minha casa, em Porto Alegre, eu me tornei um estorvo para meu irmão. Imagine que nós dividíamos um quarto e, portanto, todos os dias, às seis da manhã, ele era acordado aos berros por minhas notícias sobre saídas e chegadas de aviões e, claro, a temperatura na cabeceira da pista. Foi difícil para ele e constrangedor para mim, mas nada que estragasse nosso companheirismo, mantido até os dias de hoje”
Tantas lembranças, tão cedo e em tão pouco tempo talvez se justifiquem pelo que a psicóloga Simone Domingues nos ensinou recentemente em outro texto publicado neste blog. Escreveu que diante das restrições que vivemos, com o mundo praticamente parado, incapazes que estamos de projetar o futuro, tendemos a resgatar o passado. Um cenário de saudades que põe nossa memória em ação.
Ao menos desta vez, a memória levou-me a momentos felizes que vivenciei. Nem sempre tem sido assim.
Por Lilian Contreira
Ouvinte-internauta da rádio CBN
Morava no bairro do Aeroporto, em Congonhas. Meu avô me levava, aos domingos, para ver os aviões decolarem. Era incrível! O saguão de Congonhas era inesquecível. Bons tempos em que uma criança ficava maravilhada apenas com o levantar e o pousar de um avião – nem percebíamos que naquela época o Brasil vivia sob uma ditadura. O que só fui entender tempos mais tarde quando trabalhei com o professor Paulo Freire já aos 20 e poucos anos.
Nós brincávamos na rua, sem violência, sem medo. As casas não tinham muros nem portões. Os vizinhos eram amigos. Faziam bolo e traziam um pedaço para nós. Minha avó fazia pão e levava um pedaço para eles. A minha rua não tinha saída, terminava em uma descida, na Avenida dos Bandeirantes. Os meninos faziam carrinhos de rolimã e, às vezes, um trenzinho de rolimã, era o auge da alegria…
Meu avô era barbeiro, de Sevilha. José Maria, de quem herdei o nome Contreira, era imigrante espanhol e chegou com o único bem que possuía: as próprias botas. Tinha uma barbearia no Largo São Bento. Minha avó, de Granada, pessoa mais doce não havia nesse mundo. Tiveram seis filhos, doze netos, muitos bisnetos… da minha avó herdei o gosto pela Espanha: a cultura, a língua – hoje sou professora de espanhol – e pela cozinha.
Lembro-me que o cúmulo da felicidade para mim era quando a escola pedia um livro e o meu avó – cresci com meus avós paternos – me levava para comprá-lo na Saraiva do Largo São Bento. Era para mim – que sempre gostei de ler – o máximo de alegria que alguém poderia ter. Além de comprar os livros pedidos pela escola, ele me permitia escolher um outro por puro gosto. Eu ficava exultante, como em Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector, andava aos saltos pelas ruas do Centro. E antes de voltar para casa, ainda saboreava um café com pastel no Café Girondino na companhia do meu avô.
Lilian Contreira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte mais um capítulo da nossa cidade. Escreva para milton@cbn.com.br.
Por Elizabeth Montero
Ouvinte-internauta da rádio CBN
Eu era muito pequena e esta história que vou contar hoje faz parte de um passado distante. Saí da Aclimação para morar perto do Aeroporto de Congonhas.
Tinha muito medo do novo, mas não sabia que descobriria um outro mundo. Acordava no meio da madrugada com um barulho de um super trovão: o avião aterrissando! Era uma novidade para mim.
Ali onde morava, ao voltar da escola, encontrava pelo caminho artistas e pedia autógrafos em um caderninho que desapareceu, assim como o estúdio da Record.
Mas o melhor presente foi viver, em 1968, e saber que eu tinha o nome da Rainha da Inglaterra. Sim, lá estava eu pequenina na avenida Rubem Berta balançando as bandeirinhas para a Rainha desfilar. Naquele dia eu me senti feliz de morar ali.
Hoje tenho 58 anos, mas esta memória ainda é bem vívida.
Elizabeth Montero é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade. Escreva para milton@cbn.com.br.
Em boa hora o juiz José Henrique Prescendo, a pedido do Ministério Público Federal, suspendeu a resolução da ANAC sobre a cobrança de bagagens despachadas, possibilitando o debate vigoroso que temos assistido entre as partes envolvidas.
O princípio em decompor os preços dos serviços é salutar e imprime clareza ao sistema. Entretanto, se ontem valesse a nova regulamentação certamente teríamos prejuízos operacionais e financeiros à parte mais importante desta relação: o consumidor.
O passageiro que tivesse optado pela bagagem de mão teria pagado o valor cheio do tíquete, sem o desconto pela não utilização do serviço de despacho.
O passageiro que tivesse despachado a bagagem teria pagado o valor do despacho dobrado, pois o tíquete já incluía o serviço.
Estas são apenas algumas das consequências das novas normas, baseadas em pressupostos da ANAC.
Argumentar que a maiorias dos países adotam a cobrança é inaceitável, pois temos oferta em regime oligopolizado e até para algumas rotas, monopolizado.
Sabe-se que empresas estrangeiras de baixo preço vão além, cobrando pela marcação de assentos, embarque prioritário, check-in no aeroporto, correção de nome, fura fila no raios-X, e até mesmo pelo peso da pessoa. Trata-se, porém de mercados mais competitivos e de culturas diferentes.
O fato de nenhuma das companhias nacionais ter baixado o preço da passagem é significativo, pois contraria a lógica da formação de preço e comprova que a esperada competição considerada pela ANAC não virá naturalmente.
Hoje, a capacidade de armazenamento das malas de mão nos bagageiros acima dos passageiros, e a demora em ordená-las nos voos lotados, são problemas não solucionados.
Se considerarmos um voo lotado dentro da proposta da ANAC, certamente não haverá espaço suficiente para a bagagem de mão, o que exigirá transferir a excedente ao compartimento de carga. Os passageiros que se submeteram a espera maior para acomodação terão que arcar com mais este acréscimo.
As viagens aéreas, antes um luxo, mas pouco acessíveis, se tornaram mais populares, mas sem luxo.
Até agora um avanço.
Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.
A pouco de completar um ano do nosso alerta sobre ações e omissões do poder público em relação ao Morumbi, observamos que por terra há indícios de solução. Mas, por ar, os ventos não são favoráveis.
As faixas exclusivas de ônibus de Haddad devem dar lugar também a automóveis pela administração Doria. Com isso melhoras no trânsito e diminuições de assaltos podem ser previstos.
Ainda não há solução para as rotas de aviões modificadas “provisoriamente” há dois anos pela ANAC e DECEA. Da decolagem em direção a Interlagos passaram às residências do Morumbi, Real Parque, Panamby, Portal do Morumbi, Vila Sonia, Caxingui, Rio Pequeno, Butantã, Osasco, etc.
A justificativa da manutenção da nova rota pelas controladoras de voo é que há economia de combustível e tempo, dentre outras rarefeitas hipóteses.
São, porém, contestadas por um dos líderes da mobilização contrária a esta rota do barulho. O jornalista Wilson Donnini (Grupo 1 de jornais) e empresário ambientalista (Cidade das Abelhas), além de desconsiderar a defesa da nova rota, esclarece:
“A REALIDADE, segundo estudos e informações, é que os órgãos ANAC e DECEA são de incumbência do Governo Federal, que tinha o apoio da administração municipal anterior que “eliminou” todas as multas mensais do Aeroporto, pois Congonhas NÃO TEM ALVARÁ DE FUNCIONAMENTO e ainda está tentando novamente trazer os voos internacionais de volta”.
Donnini faz questão de ressaltar que não há por parte das entidades dos moradores a intenção de embargar Congonhas. Apenas querem a volta da antiga decolagem.
Resta um lembrete a ANAC, DECEA e demais autoridades: a população está consciente da comodidade de Congonhas, mas muito atenta a alongamento de horários e aumento de voos, mormente os internacionais.
Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.
Na minha juventude, morava no bairro de Campo Belo, e as ruas eram de terra batida e não havia calçadas.
As ruas principais do bairro (Rua Prudente de Moraes, hoje Rua Antonio de Macedo Soares, e a Rua Vieira de Morais) que cruzavam com as outras, eram as únicas cobertas com paralelepípedos, alguns quarteirões com calçadas, outros não.
O movimento de automóveis era pequeno, com trânsito maior de caminhões e ônibus. Dependíamos destes ônibus e dos bondes para ir e vir do centro.
Andar de bonde, então, era uma aventura. No trajeto que ia da Praça João Mendes até Socorro, o bonde levava quase duas horas. Depois de descer a Rua Conselheiro Rodrigues Alves e passar pelo Instituto Biológico, entrava numa longa reta, com trilhos à semelhança de uma estrada de ferro.
Da mesma forma que uma ferrovia, as paradas tinham os nomes em placas presas entre dois postes com a identificação pintada em letras pretas sob fundo branco, cuja sequência até chegar em Santo Amaro eram: Ipê, Monte Líbano, Moema, Indianópolis, Vila Helena, Rodrigues Alves, Campo Belo, Piraquara, Frei Gaspar, Volta Redonda, Brooklin Paulista, Petrópolis, Floriano, Alto da Boa Vista e Deodoro.
Daí por diante, os trilhos voltavam a ficar embutidos nos paralelepípedos e viam-se muitas casas e lojas comerciais.
Pois o fato é que durante todo o trajeto desde o Biológico, havia grande número de chácaras e poucas casas, estas últimas se aglomerando junto às paradas dos bondes. Do Largo 13 de Maio, centrão de Santo Amaro, o bonde, que era fechado, descia até a Praça São Benedito. Quem quisesse atravessar a ponte sobre o rio Pinheiros e chegar à Praça de Socorro, fazia a baldeação para um bonde aberto. Pergunto-me até hoje o motivo disso. Será que a ponte não suportava o peso de um bonde maior, ou não havia passageiros suficientes e era vantagem retornar logo para a cidade com o bonde maior?
Íamos de bonde para o Colégio Estadual que ficava em Santo Amaro. Muitas vezes os nossos professores nos faziam companhia, pois poucos tinham seus próprios carros.
Lembro-me bem de uma ocasião em que os bondes pararam no Brooklin, um atrás do outro e tivemos de ir a pé até a escola, uma pernada e tanto. Os meus colegas e eu passamos em frente à fábrica de chocolates Lacta. Logo adiante, vimos o motivo. Na parada Petrópolis, um bonde em alta velocidade havia colhido um caminhão distribuidor de água da Fonte Petrópolis (que existe ainda hoje), arrastando-o por vários metros. Não me lembro se alguém saiu ferido. Havia garrafas de água e cacos de vidro por todo lado. Será que o motorneiro desceu o declive existente em frente à Lacta à toda e não conseguiu parar em tempo e pegou o caminhão que estava atravessando a linha?
A vida, na adolescência, era bastante pacata e singela. As andanças de bicicleta com um grupo de coleguinhas era uma delícia. Dois quarteirões depois de nossa rua, começavam as chácaras onde eram plantadas hortaliças que abasteciam a cidade de São Paulo. Havia estreitas passagens nas chácaras pelas quais íamos com nossas bicicletas até chegarmos ao Aeroporto de Congonhas. Naquele tempo, o aeroporto não era cercado e íamos até a cabeceira da pista e lá ficávamos observando os aviões passar por cima de nossas cabeças para pousar. Nem imaginávamos o perigo pela qual passávamos, porém a gente sabia que estávamos errados pois, vez ou outra, saíamos correndo de lá quando um jipe vinha em nossa direção, piscando os faróis. Era apenas um incentivo para ousarmos voltar. Será que cercaram o aeroporto por nossa causa?
A nossa rua de terra era um convite para se jogar “taco”, uma modalidade brasileira simplificada do “cricket”. A finalidade era derrubar, com uma bola (geralmente de tênis), uma casinha em formato de tripé feita com alguns finos galhos de árvore e que era defendida por quem estivesse com o taco. No jogo inglês, há três pequenos postes, unidos por travessas pequenas no seu topo que precisam ser derrubadas. Meu pai esculpiu um lindo taco para mim, que era invejado por todos os jogadores. Está guardado como lembrança daqueles tempos.
Outro jogo bastante gostoso era com bolinhas de gude. Fazíamos três buracos equidistantes alinhados na terra e um quarto buraco em ângulo reto com o buraco da ponta. Tínhamos de alcançar aquele último, mas também precisávamos afastar os adversários, atingindo suas bolinhas com a nossa.
Depois de fazer nossas lições de casa, ficávamos jogando até o anoitecer, quando nossos pais nos chamavam para jantar e dormir. É desnecessário dizer que voltávamos para casa resmungando e de mau humor.
Os dias passam céleres e eis que estamos retratando fatos de mais de cinquenta anos atrás! Como era bom não ter responsabilidades, não ficar preso dentro de casa em frente a uma televisão, que poucos tinham naquele tempo. Não havia computadores, nem éramos escravos de celulares, tablets etc. Eram outros tempos. Ah, tempos idos, que não voltam nunca mais…
O Conte Sua História de São Paulo tem sonorização do Cláudio Antonio e narração de Mílton Jung. O quadro vai ao ar, aos sábados, no CBN SP, logo após às 10h30 da manhã.