Avalanche Tricolor: o café da manhã, o sorriso sem-vergonha e o empate na estreia

 

Grêmio 3 x 3 Ponte Preta
Brasileiro – Arena Grêmio

 

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Jogar domingo cedo muda alguns hábitos e ainda provoca estranheza, apesar de ter gostado do horário novo das 11 da manhã. Antecipei a missa matinal para o sábado à noite, quando encontrei, na paróquia da Imaculada Conceição, o padre José Bertolini, que já foi motivo de conversa nesta Avalanche, por ser gaúcho e gremista. Assim que me viu, deu um sorriso sem-vergonha (se é que padres fazem isso). Está rindo de mim, padre? – perguntei. Rindo da nossa situação, respondeu em referência ao Grêmio. Achei um pouco de exagero dele, mas quem sou eu para contestar o padre na porta da Igreja. E pensar que Bertolini estava antevendo o que aconteceria na manhã seguinte.

 

Falava, porém, com você sobre a mudança de hábito. Domingo gosto de ficar um pouco mais de tempo na cama para compensar o fato de madrugar durante toda a semana. Hoje, me organizei para o omelete, o café e as torradas estarem prontos antes da hora. Não queria perder nenhum minuto da nossa estreia no Campeonato Brasileiro 2015. Sem contar que era um dia especial, era Dia das Mães, e fiz questão de servir o café na cama, uma estratégia que sempre dá bons resultados (e não estou me referindo ao futebol).

 

Aliás, por ser Dia das Mães, este domingo provocava ainda outras mudanças, pois o almoço em família seria depois da partida e não antes como estávamos acostumados. Como a festa seria em casa, porque nos negamos a sair para almoçar nestas datas, precisávamos acertar as agendas com os convidados. E antecipo-lhe que deu tudo certo (ou quase). Organizamos almoço: mulher, sogra e cunhada eram as homenageadas em torno de uma mesa onde foi servida galinhada, prato que tem a galinha caipira como vedete e um sabor maravilhoso. O vinho era italiano e parecia ter sido escolhido a dedo, haja vista a boa vontade com que os convivas se fartaram da bebida. Inclusive o autor deste texto. O bate-papo foi divertido, com boas lembranças de um tempo em que a maioria ali em volta da mesa usava calça e saia curtas. A conversa correu tão solta que quase esqueci a frustração que havia sentido minutos antes com o empate aos 49 minutos do segundo tempo.

 

Estava tudo tão intenso – o sabor da comida, o paladar do vinho e a diversão do encontro – que não resisti: fui dormir. Era para ser apenas um cochilo, mas se estendeu por boa parte da tarde deste domingo, quando geralmente dedico ao futebol. Ao acordar para escrever esta Avalanche, parecia que tudo que havia acontecido na Arena já era passado distante. Antes fosse, pois assim não precisaria perder meu tempo tentando explicar como fomos capazes de ceder duas vezes ao empate. O dois a zero que começou a ser construído no primeiro tempo e se confirmou no início do segundo dava a ideia de termos a partida dominada. Precisaríamos apenas administrar o resultado como costumam dizer os comentaristas de futebol. Só faltou combinar com o adversário.

 

Os dois gols de Yuri Mamute ratificaram as qualidades técnica e física do nosso atacante e a ideia de que ele não pode ficar fora do time titular. É mais incisivo do que qualquer outro jogador que temos no elenco. A lamentar que a seleção brasileira o levará embora por sete rodadas. É incrível como a CBF consegue ser tão perniciosa com os clubes brasileiros. Todos na pindaíba e com dificuldade para manter jogadores, e a instituição, durante a mais importante competição que realiza, confisca seus principais craques.

 

Curiosamente, outro jogador que se destacou de forma positiva hoje, Marcelo Grohe, passará pela mesma situação. Pior ainda, pois ficará à disposição da CBF, na reserva da seleção, com chances mínimas de jogar na Copa América. Fará pouco por lá e nada por aqui. Os gols que levou, neste domingo, não foram responsabilidade dele. Antes do empate se concretizar, Marcelo já havia nos salvado algumas vezes, o que também mostrou nossa dificuldade em segurar o assédio do adversário. Quando o goleiro é obrigado a aparecer de mais, alguma coisa está errada na frente dele.

 

Mesmo após levar dois gols rapidamente, conseguimos pressionar e retomar a vantagem no placar com uma bola empurrada para dentro da goleira em jogada que teve a participação de Douglas e Matias Rodriguez, dois jogadores que passaram pela mesma situação: haviam perdido o lugar no time titular, mas acabaram sendo chamados para mudar a partida quando já demonstrávamos preocupante fragilidade.

 

Foi um empate amargo, na estreia, em casa, contra adversário que não é cotado para disputar o título e depois de termos a vitória duas vezes nas mãos. Resultado que não tem nada a ver com o fato de a partida ter sido disputada às 11 da manhã de domingo e no Dia das Mães. Tem muito mais a ver com o sorriso do padre Bertolini.

O mocotó do Tito Tajes

 

Por Milton Ferretti Jung

 

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Tornou-se um hábito para mim ler o caderno Donna,que vem encartado aos domingos na Zero Hora,jornal gaúcho que assinamos aqui em casa. Ocorre que,como já revelei em textos anteriores deste blog,minha sobrinha Claudia Tajes,escritora de vários livros e,mais recentemente,roteirista da Globo,em sua coluna no Donna (ou seria na Donna?),volta e meia conta histórias sobre as famílias Tajes e Jung,mas separadamente. Desta vez,juntou a dela e a minha. Nesse domingo,o assunto foi “Almoço em família”. Lembrou,com riqueza de detalhes,os ágapes que o Tito,o seu pai,promovia em uma casa de veraneio e também de invernos gelados,que pertencera ao chefe do clã dos Jung – o seu Aldo,meu pai – localizada nas proximidades do Guaíba. A propósito,continuo defendendo a sua condição de rio e não,como querem teimosos e quejandos,lago.

 

A casinha de madeira foi a parte herança do meu pai que coube ao Tito e à Mirian,minha irmã e que se transformou em uma casa de alvenaria. Hoje,tenho saudade da casa antiga e dos nossos banhos diários nas águas do Guaíba,durante o verão,um rio com águas límpidas,no qual a gente entrava sem medo de se afogar,temor que me impede de enfrentar o mar. Foi essa casa que,reformada,transformou-se mais tarde no local das nossas comilanças dominicais,nas quais o Tito deixava por um dia de ser jornalista para se transformar em exímio cozinheiro. Tios e primos se reuniam,satisfeitos da vida,para saborear o variado cardápio,composto em um domingo por churrasco,no próximo por massa,feijoada ou comida árabe,como lembra a Claudia na seu texto.

 

Ah,havia o domingo do mocotó que,conforme a Claudinha,acontecia uma vez a cada inverno. Pelo jeito,nem todos apreciavam mocotó. A culpa era do odor que danado,enquanto ficava em ebulição,horss e horas,no fogão à lenha. Não recordo,mas a Claudia garante que o cheiro saía da panela e grudava (será que cheiro gruda?)nos cabelos e nas roupas dos convivas. Não sei se o Mílton,que é o âncora deste blog,tem em sua coleção de fotos a dos Jung e Tajes em um dos almoços dominicais que eu,particularmente,jamais vou esquecer. A Claudia bem que poderia parafrasear o seu texto desse domingo chamando-o de “Conte a sua historia de Porto Alegre”. Tenho certeza de que o Mílton o leria com grande prazer.

 

Nota do Blogueiro: fotos dos almoços de domingo não temos, mas apresentamos na ilustração deste post as imagens do cozinheiro, jornalista e meu tio Tito Tajes

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)