De alquimia

 

Por Maria Lucia Solla

 


Olá,

 

a mim faz bem enxergar que sou também o que como. É verdade que não temos
cada um o seu pedaço de terra, e nem tempo para plantar e colher o que comemos. Vivemos num retalho de tempo diferente. Como sempre foi. A sociedade muda e a gente se adapta a ela, ou fica comendo pela beirada. Quem quer o bom leva o pacote, lembrando que não existe perfeição na nossa classe. Uma classe que abriga o adiantado, o interessado, e aquele que não entende patavina, cabula, cola ou dorme atrás do cara da frente. Como em toda classe.

 

Mas eu pensava nas ervas e na volta de cada vez mais gente, ao interesse pelo alimento saudável e pela magia que brota da terra. Pensava na herança dos curandeiros do passado remoto, no cuidado com a saúde e em como faz bem ver quanta gente se oferece o prazer da volta à cozinha, que faz uma falta danada na área social de qualquer casa. Meus amigos sentam na cozinha, e papeamos enquanto preparo o café. Na casa do meu pai, tudo acontecia na cozinha. A sala de jantar era usada para eventos sociais e refeições de domingo. Ele e o seu Carlito, um dos seus melhores amigos, sempre tinham pão, queijo, salame e vinho, na mesa das suas cozinhas. Era chegar, sentar papear e comer. O café chegava em menos de cinco minutos depois que alguém chegava. A qualquer hora, em qualquer dia. Ali era a sala de visita dos de casa.

 

Não sou saudosista. Minha lua é hospede de Aquário. Olho para frente, mas
convenhamos… passamos do colher o que plantávamos – minha bisavó tinha um galinheiro enorme em casa, e eu adorava alimentar as galinhas – para a fast killing food e o refrigerante. Entregamos os nossos corpos a grandes empresas que se vendem, e nos vendem no pacote, para fundos de investimentos que não temos a mínima ideia de quem são. Não vou entrar no mérito da questão, porque é eca demais, assim como é eca o mundo do comércio e da indústria focar na criançada, poque ainda tem muito tempo para continuar a consumir. É um bom alvo, literamente. Planilha do Excel.

 

Fico contente de ver que crece um movimento não-xiíta na direção do bem-estar, do sentir-se bem, do relacionar-se bem, dormir bem, comer bem, falar bem, pensar bem…

 

…você também?

 

Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung