Conte Sua História de São Paulo: quando a chuva era de prata na cidade

Jair Dias

Ouvinte da CBN

Ilustração da São Paulo antiga

Estamos no início dos anos 50, decididamente, 1954, pois, sob o céu da cidade, houve uma chuva de estrelinhas de prata — fazia parte das festas do quarto centenário de São Paulo. E quem não se lembra? Eu recolhia aquelas estrelas pelo chão, o céu estava lindo, a cidade também. Estava acostumado com a São Paulo da garoa, com bondes indo e vindo — não havia lotações.

Lá estava eu, com meus sete aninhos, segurando fortemente as mãos de papai, e achando aquela chuva de papel maravilhosa, pois acostumara-me a ver todos os dias o tempo fechado, cinza e sem sol. Descíamos a rua da Consolação, quando garotos de rua, meninos engraxates e outros, brotavam das praças, corriam como se tivessem pegando dinheiro no chão. O ruído dos motores dos aviões no céu marcava um tom de festa. 

Agacho-me, recolho aquele triângulo de prata nas mãos e saio zanzando rua abaixo. É bom curtir essa onda de festa! Atravesso a rua, peito aberto, rasgando bairros inteiros, numa chispa dou de cara com a Sé. A essa altura, papai já estava cansado, bufando. Senta no banco, grita meu nome, e diz para me aquietar e não ir longe. Ele estava ouvindo uma música no radinho, música esta que falava do aniversário da cidade de São Paulo comemorado ali na frente, na Sé . 

Desci a rua Monteiro, onde atualmente é a Estação do  Metrô da Sé,  topando  com a PM, um batalhão de guardas à frente rufando os tambores. Fiquei em êxtase. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda. Ao som do bumbo, passaram  por mim, e seguiram marchando. Senti um comichão nos pés, e me pus  a segui-los imitando-os. Era a Banda Marcial da Polícia Militar. Tocavam aquela música que papai ouvia no radinho de pilha (São, São Paulo, meu amor………). 

Aquietei-me num banco da praça, lá na pontinha, onde as pessoas pegavam ônibus para ir a Santos e São Vicente —  era o Viação Cometa. Fechei os olhos, fiquei num transe, paralisado, ouvindo as águas da fonte da Sé misturada a voz de papai. 

Havia passado cinquenta e cinco anos. Olhei a minha frente, o Poupa Tempo, à direita, o Metrô, mais adiante, meninos de rua, de becos e muquifos, pareciam zumbis perdidos na praça, sujos, calças rotas, alguns pedindo dinheiro, outros fumando e bebendo. Meu Deus! Que cena horrível. Chamaram na de Cracolândia. Deduzi que seria o fim dos tempos. Olhei o céu carrancudo e triste, já não era o céu da minha infância, nem real nem simbólico, era um céu fatídico , triste, daqueles que não gostamos nunca  de imaginar, mas depois de tanto tempo. 

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Jair Dias é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade: escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outras histórias, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Avalanche Tricolor: o zodíaco não explica o Grêmio

Grêmio 0x1 Mirassol
Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Arhur comanda o meio de campo em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Sou do tempo em que Zora Yonara era a autoridade em assuntos astrológicos — hoje seria chamada de influencer zodíaca ou algo do tipo. Suas análises eram motivo de conversa nas rodas de amigos, e o melhor a se fazer era prestar atenção no horóscopo do dia, mesmo que eu fosse um descrente. Cada um adaptava o que ouvia à sua circunstância. Fui tentar esse exercício na Avalanche de hoje para explicar o que vem acontecendo com o Grêmio, que voltou a perder em casa e, nesta segunda-feira, dia 15 de setembro, completará 122 anos.

Descubro que nem a astrologia dá conta de explicar o futebol que deixamos de jogar e a sequência de azares que nos perseguem. Pensei que fosse o tal do inferno astral, mas nem isso explica. Esse período, que antecede o aniversário e costuma ser sinônimo de confusão, não daria conta de justificar 18 meses de futebol capenga e resultados inconsistentes.

A última verdadeira alegria que os gremistas tiveram foi o título do Campeonato Gaúcho, em março de 2024. Alguém lembrará da felicidade recente de assumirmos a gestão da Arena, o que já nos garantiu um gramado de qualidade. Vamos convir, caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche, que por melhor que isso seja — e acredito que seja —, não influenciou em nada na qualidade do futebol apresentado.

O inferno futebolístico do Grêmio atravessa um tempo que nenhuma sabedoria extraterrena poderia prever. Nesse um ano e meio, uma penca de jogadores foi contratada e já estamos no terceiro técnico. Quando nos iludimos com uma contratação, uma lesão frustra as expectativas — caso mais recente do zagueiro Balbuena. Até mesmo jogadores contestados, mas necessários, como Braithwaite, caem vítimas dessa sina de contusões.

Se conseguimos um resultado mais animador, como na rodada anterior contra o Flamengo, logo a realidade nos joga ao chão com uma derrota caseira. Hoje, tivemos de suportar até jogador sendo substituído por engano.

Adoraria estar aqui comemorando a estreia de Arthur que, claramente, tem qualidade para mudar qualquer meio de campo. Mesmo sem entrosamento, mostrou como conduzir a bola com categoria e fazer o passe com precisão. Seria capaz de contagiar seus colegas de trabalho? Já não sei mais. E chega a me dar arrepio sobrenatural imaginar que ele também possa ser abatido por algum problema físico.

Apesar de tudo, insisto em negar a falência da esperança. Tento crer que, ao comemorarmos mais um aniversário nesta segunda-feira e diante de um clássico Gre-Nal — aquele jogo que dizem poder mudar o destino de qualquer clube —, no próximo domingo, sejamos capazes de iniciar um novo e vitorioso ciclo.

No fim, esperar é o que nos resta — e esperar, para o gremista, nunca foi pouco.

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: São Paulo, uma marca de contrastes e pluralidade

São Paulo não é apenas uma cidade; é uma marca que representa diversidade, cultura e resiliência. Essa foi a reflexão central do comentário de Jaime Troiano e Cecília Russo no quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, que foi ao ar no Jornal da CBN. Aproveitando os 471 anos da capital paulista, os comentaristas analisaram como cidades podem ser percebidas como marcas, destacando a singularidade de São Paulo.

Cecília Russo lembrou que a construção de uma marca vai além de cores e símbolos. “São Paulo tem uma identidade que comunica coisas para as pessoas”, afirmou, destacando a pluralidade como uma das principais características da cidade. Para ela, São Paulo é um mosaico de contrastes: “Casas baixas e prédios altos, riqueza e pobreza, avenidas largas e vielas que nos levam de volta no tempo.”

Jaime Troiano ressaltou o papel da cultura como um traço marcante da identidade paulistana. “Quem nunca se encantou com a Virada Cultural ou se surpreendeu com a variedade de eventos, shows e exposições que acontecem aqui?”, questionou. Ele também destacou o lema presente no brasão da cidade, Non ducor, duco (não sou conduzido, conduzo), como símbolo da liderança e iniciativa características de São Paulo. “Aqui, as coisas fervilham, acontecem.”

A marca do Sua Marca

O comentário destacou que uma cidade, assim como uma marca, é construída coletivamente. “A gestão dessa identidade cabe à prefeitura, mas também a todos nós, cidadãos e cidadãs de São Paulo”, concluiu Cecília. O legado cultural, a diversidade e a capacidade de acolher pessoas de diferentes origens são as marcas que fazem São Paulo ser o que é: um lugar único que pulsa com vida e significado.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O quadro vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo. A sonorização é do Paschoal Júnior.

Conte Sua História de São Paulo: do futebol de rua às telas do Cine Astral

Por Marcos Antônio Vasquez

Ouvinte da CBN

Photo by Dmitry Demidov on Pexels.com

No Conte Sua História de São Paulo, o ouvinte da CBN Marco Antônio Vasquez destaca a cidade da cultura, do esporte e das transformações:

Minha história começa em março de 1948, quando nasci. Meus pais haviam se mudado para uma casa na Rua Tobias Barreto, que reformada, ainda está lá. Após um ano na República da Mooca, vivi nos Campos Elíseos, em frente ao Liceu Coração de Jesus, onde cursei o Ginásio e o Científico.

Em 1950, nos mudamos para a Casa Verde, numa vilinha na Rua Zanzibar, que depois virou garagem de ônibus. Na época, minha mãe era atendida pelo Dr. César Castiglioni Júnior, figura proeminente no bairro. Foi fundador da sociedade de moradores e hoje dá nome a uma das ruas da região. 

Em 1952, fomos para a Caiubi, nas Perdizes. As ruas de terra e terrenos baldios eram cenários de jogos épicos, como Campevas “de cima” contra Campevas “de baixo”. Teve um 6 a 5 para a turma de cima com gol da vitória marcado por Camilo, carregado em triunfo pelos colegas, que ainda me emociona.

Nas Perdizes, conheci meu grande amigo Vicente no campo de várzea do Monteiro, onde hoje passa a Avenida Sumaré. Lembro também das tardes no Pacaembu e Morumbi, incluindo a inauguração do estádio ao lado de meu pai e avô.

Fã de cinema, assisti a sessões no Cine Astral, interrompidas pelas algazarras da turma da Padaria Paramount. Também recordo as idas à loja Sears, na Água Branca, com sua lanchonete única. Assim como do aroma inesquecível dos biscoitos da Petybon na Vila Romana, onde vivo desde 2001.

Parafraseando Arnaldo Jabor, que disse que o Brasil nunca mais seria campeão da Copa de 1950, esses momentos não voltarão, mas permanecem vivos em minha memória.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Marco Antonio Vasquez é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

((os textos originais, enviados pelos ouvintes, são adaptados para leitura no rádio sem que se perca a essência da história))

Conte Sua História de São Paulo: em memória de Gabi, ajudamos crianças e jovens

Por Iracema Barreto Sogari

Ouvinte da CBN

No Conte Sua História de São Paulo, a ouvinte da CBN Iracema Barreto Sogari destaca a cidade que se transforma a partir da coragem de sua gente:

Meus pais vieram da Bahia, em busca de trabalho e sobrevivência. Nasci em São Miguel Paulista, no extremo leste. Frequentei escola pública, ajudei minha mãe nas tarefas de casa e trabalhei enquanto cursava pedagogia à noite. Fiz especialização em educação especial e, nos fins de semana, participava das comunidades eclesiais de base.

Na década de 1990, criamos o Centro de Comunicação Popular do Itaim Paulista, que incluía uma rádio popular, essencial para os bairros periféricos. Foi lá que conheci Francisco Sogari, pesquisador e jornalista, com quem me casei e tive dois filhos, Gabriele e João Filipe. Trabalhei como professora, em três turnos, e o salário ajudava minha mãe. Nossa família se divertia no Parque Ibirapuera, na Avenida Paulista e até em estádios, torcendo pelo Inter, time do meu marido gaúcho.

Aos seis anos, Gabriele foi arrancada do nosso convívio, vítima de um motorista irresponsável. Ainda hoje, 24 anos depois, vivo a maior violência que uma mãe e um pai podem passar, dor que vai contra a natureza humana: enterrar os filhos.

Mas a vida tinha que continuar.  Encontramos forças em João Filipe e no amor ao próximo. Em memória de Gabi, criamos o Instituto Gabi, atendendo crianças e jovens com deficiência e autismo. Hoje, o Gabi é referência em inclusão, oferece acolhimento e assistência a 50 pessoas diariamente. Em breve, o projeto completa 25 anos, transformando vidas e construindo políticas públicas para famílias que vivem duplamente excluídas.

“Quem ajuda as pessoas é feliz.” Gabi dizia esta frase toda vez em que eu e o Francisco participávamos das atividades nas comunidades.

((os textos originais, enviados pelos ouvintes, são adaptados para leitura no rádio sem que se perca a essência da história))

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Iracema Barreto Sogari é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Envie seu texto agora para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

((os textos originais, enviados pelos ouvintes, são adaptados para leitura no rádio sem que se perca a essência da história))

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: o valor de comemorar aniversários de marcas

Photo by Andrea Piacquadio on Pexels.com

“O aniversário não é apenas uma sinalização do tempo já transcorrido. Mas é o momento em que a marca pode renovar seus compromissos”

Cecília Russo

Comemorar o aniversário de uma marca vai além de celebrar o tempo de existência. É uma oportunidade estratégica de renovação de compromissos e de reafirmar a conexão com clientes, colaboradores e parceiros. Jaime Troiano e Cecília Russo destacaram a importância de as empresas saberem aproveitar esses momentos, no “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso”, que vai ao ar no Jornal da CBN.

Jaime Troiano destacou a pertinência dessas celebrações, afirmando que “vale a pena porque nós todos respeitamos essas datas em nossas próprias vidas. E marca, muitas vezes, é quase uma pessoa com quem convivemos em nossas vidas”. Além disso, ele apontou que aniversários são momentos ideais para reafirmar o compromisso com clientes e colaboradores, renovando a confiança de que a marca seguirá firme no futuro.

Cecília Russo complementou, dizendo que os aniversários também são uma boa oportunidade para anunciar mudanças importantes na empresa: “Tanto mudanças internas que os colaboradores precisam conhecer, quanto mudanças para o mercado, como uma nova linha de produtos ou presença em outras regiões”. Segundo ela, esse é um momento em que as marcas têm a chance de mostrar que, mesmo com o passar do tempo, estão se renovando e recomeçando.

A marca do Sua Marca

A principal marca do comentário desta semana é o reforço da ideia de que comemorar aniversários é uma maneira de renovar, comunicar mudanças e reafirmar compromissos com o mercado e os colaboradores. Ignorar essa data pode gerar dúvidas sobre o futuro da empresa, enquanto celebrá-la fortalece laços e projeta confiança.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso” vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo. E a sonorização é do Cláudio Antonio.

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: 10 frases para comemorar 10 anos de programa

Bastidor do “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso” em foto de Priscila Gubiotti

“Praticar branding é trabalhar um plano de ações contínuas. Sem isso a gente não tem marca forte” 

Cecília Russo

No mundo do branding, a constante evolução e a capacidade de refletir a verdadeira essência de uma empresa são elementos-chave para o sucesso. Diante da transformação digital e da mudança nos padrões de consumo, compreender o verdadeiro significado e o impacto da gestão de marcas nunca foi tão crucial. Este é o tema central do comentário no quadro “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso”, do Jornal da CBN, que celebra seus 10 anos de contribuição ao mundo do marketing e do branding. Jaime Troiano e Cecília Russo aproveitaram a data para lembrar dez frases que foram apresentadas ao longo dessa década de programa e têm muito ensinamento a oferecer. 

Cecília começou a lista com “branding é verbo” para lembrar a natureza dinâmica da gestão de marcas.  Jaime resgatou uma frase que podemos considerar um clássico nas nossas conversar: “marca não é um tapume”, enfatizando a transparência e a verdade como pilares fundamentais.

A interação com o consumidor também foi tema de discussão, com o destaque para uma das muitas lições que aprendemos ao longo deste tempo: “o consumidor não faz o que pensa, mas faz o que sente”. Esta percepção aprofunda a compreensão das motivações reais por trás das escolhas dos consumidores, indo além das justificativas superficiais.

Entre as dez frases emblemáticas destacadas, algumas refletem diretamente os desafios e as oportunidades no campo do branding. Por exemplo, a analogia “noiva não se escolhe no altar” ilustra a importância de construir relacionamentos duradouros e significativos com os consumidores muito antes do ponto de venda.

As 10 frases do branding

  1. Branding é verbo
  2. Marca não é tapume
  3. O consumidor diz o que pensa mas faz o que sente
  4. Marca é aquilo que falamos de você quando você sai da sala
  5. Não jogue fora o bebê junto com a água do banho
  6. Noiva não se escolhe no altar
  7. The fruits are in the roots
  8. Pedra que rola não cria limo
  9. Não há uma segunda chance de se causar uma boa impressão
  10. Marca sem propósito é marca sem alma

Para entender o significado de cada uma dessas frases, ouça o áudio disponível logo abaixo

A marca do Sua Marca

Ao celebrar 10 anos de existência, o “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso” se consolida como um farol de inovação, estratégia e originalidade no mundo do branding. Este marco não apenas comemora uma trajetória de sucessos e aprendizados mas também reafirma o compromisso do programa em iluminar o caminho para marcas que buscam fazer a diferença no mercado. 

“Nosso propósito, nossa razão de ser que é poder disseminar essa cultura de branding como uma ferramenta fundamental para desenvolver negócios gerar emprego nas empresas deixar as pessoas mais felizes” 

Jaime Troiano

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso” vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo, duas vozes que têm orientado, com maestria, a jornada de inúmeras marcas rumo ao sucesso. Através de suas análises profundas e abordagens inovadoras, eles continuam a inspirar gestores e empreendedores a explorar o verdadeiro potencial de suas marcas. A sonorização é do Paschoal Júnior:

Conte Sua História de São Paulo 470: os sons da cidade

Fernando Dezena

Ouvinte da CBN

Foto de DANIEL QUEIROZ

queria ouvir os sons da cidade
mas a cidade não fala
a cidade não grita
a cidade fica silenciosa
pelo meu caminho

deito à noite – quarto de hotel
e não ouço a cidade
o que me vem é lembrança
de um som que se apagou
mas não era o som da cidade

na rua andando
ouço ônibus em disparada
ouço buzina atormentada
ouço gritos do louco perdido pela rua

                                                                      (eu?)


mas é o som do ônibus
o som do carro
o som do louco agora na calçada
não ouço a rua

e esse desejo de ouvir tijolos sobrepostos me consome
e esse desejo de ouvir os paralelepípedos enterrados me alucina
piso sobre eles como querendo ouvi-los gritar
eles não gritam
eles se calam
e transformam em angústia as respostas que não tive

mesmo no cemitério da cidade

(introspecto – quarta parada – última na brincadeira do taxista)

ouço vozes
uma sorrindo, outra cantando, outras pedindo clemência a Deus
mas dos muros do cemitério nada se ouve

as lápides, as esculturas

pedra, bronze, marfim
nada dizem
quietas observam a eternidade

talvez nas construções restauradas
na demão de tinta
no parque preservado
ouça algum barulho que não da vida
(de agora)
mas da vida silenciosa que construiu a metrópole
talvez
auscultando
as paredes
com outro timbre
possa ouvir ruídos de histórias
talvez
talvez um menino que correu pela praça
talvez a prostituta em gozo pela noite
talvez o professor
talvez o poeta que nada quis além do menino da mulher e do aluno
talvez um poeta possa ouvir
mas não o que canta a cidade
aquele que tente ouvi-la

surdamente questiona

ouvi-la para quê?

qual o sentido de ouvir a cidade
qual o sentido de petrificado ante ao Theatro municipal gritar
– o que me tens a dizer!

não te procurei
não te procurei
não te procurei
três vezes te nego
e sei que jamais serei absolvido em teu silêncio

o meu pai aqui pisou
minha mãe andou por tuas ruas
andou em teus bondes
ouviu as pessoas
contou tantas histórias
sei de coisas que podem me levar ao engano
de dizer
– ouvi a cidade

mas meu pai morreu com o pulmão cheio de nicotina

não das fumaças de tuas ruas

minha mãe morreu de tanto amor que tinha

traiçoeiramente

não em tua traição

meu irmão Toninho morreu no alto da Paulista

meu irmão Tarcísio viveu no alto da Paulista

meu sobrinho canta pelos teus bares

meus sobrinhos andam por tuas ruas

meu irmão tem casa nesta cidade

pensei que poderia ouvir-te dizer

ao menos

bom dia.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Fernando Dezena é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Esse texto foi adaptado para você ouvir aqui no rádio. A poesia completa você lê no meu blog miltonjung.com.br. Seja você também um personagem dos 470 anos da nossa cidade: escreva agora para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos acompanhe o podcast do Conte Sua História de São Paulo

Conte Sua História de São Paulo: o verde e a lagoa do campo de golfe dos Matarazzo

Por João Nunes

Ouvinte da CBN

Photo by Thomas Ward on Pexels.com

“Daqui a pouco são cinco horas, hora do guardinha ir embora….”

E lá ía eu e meus amigos em corrida pelo verde do São Francisco Golf Club nadar nas lagoas do clube fundado pelo conde Luiz Eduardo Matarazzo, em 1937. Ficava em Osasco que não época era um bairro de São Paulo — que viria a se emancipar em 1962.

Aquelas tardes de verão eram lindas. O gramado quase que nivelava com as águas que refletiam o brilho do sol que já se punha —  o suficiente para alguns mergulhos e várias travessias.

Às vezes até dava tempo de ir ao “Green 7” onde logo acima havia as amoreiras. Era subir e se encher de amoras; uma delícia.

Até que uma vez, o guardinha que ia embora às cinco não foi embora e nos surpreendeu ameaçando atirar. Ele tinha fama de disparar com espingarda de chumbinho. Eu sempre morri de medo do guardinha. Naquele dia, nunca corri tanto.

Minha surpresa foi, tempos depois, vê-lo passando em frente de casa e cumprimentando o meu pai. Eles eram amigos.

Bons tempos aqueles de infância, começo dos anos 1960, em que aprendi a nadar nas lagoas do São Francisco Golf Club. Tempos  de doces lembranças.

João Nunes é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Venha participar você também desta série especial em homenagem aos 469 anos da nossa cidade com textos sobre locais em que o verde e o meio ambiente foram preservados na capital paulista. Escreva agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. E vamos juntos comemorar mais um aniversário de São Paulo

Conte Sua História de São Paulo: os parques que visitei com meu filho

Por Profª Maria Emília dos S. Gonçalves

Ouvinte CBN

Parque da Juventude Foto Dibulgação Gov. do Estado de São Paulo

Como guarulhense e, agora, vivendo no extremo sul da Bahia, em uma região agraciada pela natureza, não resisti em escrever sobre a minha eterna relação com os parques da cidade São Paulo, nossa querida Sampa. 

Ainda com o meu filho pequeno, o San, iniciei o ritual de amar a cidade que é um organismo vivo e que injustamente ganhou o título de selva de pedra, como foi cantado por Caetano Veloso. Aproveitávamos as férias para desbravar os parques e por instantes nos jogar nos braços da natureza gentil. 

Cada parque com sua característica e com algo a nos ensinar. 

Do parque do Ibirapuera, as árvores centenárias que se tornaram testemunhas e cúmplices de amantes em seus primeiros beijos, de pedidos de noivado, do fim de um namoro.

Árvores caladas e donas de segredos, sombra para um remanso, para  esquecer o mundo lá fora, ouvindo o cantar dos pássaros e suas algazarras e nos lembrando que nunca poderemos ser como eles e, por isso, sinto uma boa inveja.

Do parque do Zoológico, amamos a presença dos animais em um espaço rodeado de matizes de cores das árvores, e de nós seres humanos. A gente se sente parte de um todo e nesse momento não consigo saber onde começo e termino; me afundo e sinto que posso rugir, que posso ser uma árvore bonita que balança e balança nos dando a sua seiva. 

Do Jardim Botânico, descobrimos que tem árvores centenárias com milhares de espécies nativas que contam a nossa história e guardam esperanças e sonhos.

Para cada parque uma história. 

E assim chego ao Parque da Juventude, cujo espaço democrático não discrimina pessoas idosas, etnias e orientação sexual. Sua história precisa ser contada para que as próximas gerações se contraponham ao massacre de pessoas presas. Assim como uma fênix, o espaço ressurgiu. A grande área verde é palco para shows, encontros e despedidas, a contemplação da natureza e a possibilidade de recarregar as baterias e respirar. 

O que seria de São Paulo sem os nossos parques?

Maria Emília dos S. Gonçalves  é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Venha participar você também desta série especial em homenagem aos 469 anos da nossa cidade com textos sobre locais em que o verde e o meio ambiente foram preservados na capital paulista. Escreva agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. E vamos juntos comemorar mais um aniversário de São Paulo