Avalanche Tricolor: o prazer de ver o Grêmio jogar futebol está de volta, na Nossa Arena

Grêmio 2×0 São Paulo
Brasileiro – Nossa Arena, Porto Alegre (RS)

“Vini da Pose” comemora mais um gol em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

A melhor versão do Grêmio se fez presente, hoje, no belo gramado da sua Arena — que eu tomo a liberdade de, a partir de agora, chamar orgulhosamente de Nossa Arena. Há muito tempo não assistia a uma partida gremista em que a bola fosse tão bem tratada como na noite desta quinta-feira. Uma performance premiada com uma vitória, conquistada de maneira perene e tranquila, na qual o torcedor pôde sentir o prazer de torcer por um time, verdadeiramente, de futebol.

O suprassumo desse futebol que se expressou em Porto Alegre foi Arthur — meio-campista excepcional e essencial para a transformação da maneira de o Grêmio jogar. Desde que o filho pródigo voltou para casa, retomamos o domínio da bola e reconquistamos o protagonismo do jogo. Mesmo nas partidas em que sofremos reveses — e não foram poucas —, o bailado de Arthur no meio de campo se impunha e nos oferecia alguma esperança de transformação. Já se ouvem vozes pedindo sua presença na seleção brasileira.

Hoje, fomos além. Depois de alguns momentos de desacerto, a defesa ajustou seu posicionamento, o time diminuiu os espaços e reduziu os riscos — a ponto de terminar o jogo sem tomar gols, o que não acontecia há sete rodadas. Evidentemente, não foi apenas o ajuste defensivo que nos deu vantagem sobre o adversário. O meio de campo — com o já devido destaque a Arthur — se impôs também pela intensidade de Edenílson e pela atuação sempre regular de Dodi.

Lá na frente, aplaudir Carlos Vinícius, autor dos dois gols da partida, é fácil. Primeiro porque, desde que chegou, o atacante tem demonstrado um ímpeto que agrada ao torcedor. Depois, porque começou a ser protagonista com seus gols e a comemoração que lhe rendeu o apelido de Vini da Pose. Hoje, foi o farejador de gols que tanto desejamos. Com um só toque, concluiu para as redes a bola que havia rebatido na defesa, após o chute de Amuzu, abrindo o placar no primeiro tempo. E, no segundo, cobrou com segurança o pênalti sofrido por Edenílson.

Aliás, o ganês também merece destaque pelo que tem proporcionado nos últimos jogos. Atrevido, Amuzu provoca dribles, acelera o ataque e não tem medo de arriscar a gol. Parece cada vez mais à vontade em campo. Às vezes, é capaz de brincar com a bola — e isso torna o futebol muito mais divertido.

Como disse em parágrafos anteriores, aplaudir o goleador é fácil. Difícil é admitir que Pavón foi fundamental para a virada do Grêmio na partida de hoje. A entrada dele, ainda no primeiro tempo, após a lesão precoce de Alysson, mudou o domínio do jogo, que até então era do adversário. O atacante argentino, que por muitas razões causou desconforto no torcedor e foi vaiado com frequência — a meu ver, de forma exagerada —, fez o Grêmio melhor no ataque.

Quando falo das vaias, é porque, mesmo quando não conseguia apresentar um futebol mais qualificado — às vezes autor de jogadas bizarras —, Pavón sempre me mostrou algo que valorizo na vida: um esforço descomunal, uma entrega acima da média, uma dedicação que merecia ser recompensada com algo melhor. Hoje, ele foi premiado. E nós também.

Na noite em que o Grêmio, definitivamente, passou a ser o dono da Nossa Arena, o placar foi 2 a 0, mas o resultado maior foi outro: o reencontro com o prazer de ver o Grêmio jogar futebol.

Avalanche Tricolor: sobreviver ao Gre-Nal não é o bastante

Grêmio 1×1 Inter
Gaúcho – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Há anos longe de Porto Alegre, assistir ao Gre-Nal à distância me poupa da tensão pré-clássico. Mas só até certo ponto.

Deixo de vivenciar a agitação que toma conta da cidade natal. Chego à padaria — aqui isso é uma instituição — e ninguém está falando do que acontecerá no fim de semana em Porto Alegre. No máximo, Françoise, que me traz o pão na chapa com uma xícara de expresso duplo, pergunta: “Como está o gremista?”, mais para demonstrar intimidade do que por real preocupação com o risco iminente.

Nas ruas de São Paulo, o desfile de camisas de futebol não segue a moda gaúcha, em que a tricolor e a encarnada dividem espaço no ponto de ônibus, na porta da escola ou nos centros comerciais. No escritório — no meu caso, a redação — o Gre-Nal é raramente mencionado entre os colegas. Quando muito, surge em um breve comentário do único conterrâneo que, para meu infortúnio, torce para “eles” — por isso, o evito.

O clássico gaúcho costuma se apresentar para mim durante os bate-papos esportivos no programa que apresento, quase como uma galhofa dos amigos comentaristas. Afinal, eles têm de se preocupar mesmo é com o que vai acontecer no Campeonato Paulista ou no Carioca. Sou alcançado pelos sentimentos que nos movem às vésperas do Gre-Nal principalmente pelas mensagens nas redes sociais ou no grupo de WhatsApp que reúne torcedores e ex-jogadores, do qual faço parte. Esse cenário me deixa imune a boa parte das polêmicas e discussões que inflamam a cidade na semana do clássico.

Mas, à medida que o horário da partida se aproxima, a ansiedade toma conta dos meus pensamentos. O torcedor que vibrou no Olímpico Monumental ressurge, esquecendo a racionalidade e se entregando à adrenalina do clássico. Diante da bola que cruza a área do meu time, estico a perna no sofá para fazer o papel que os zagueiros deixaram de cumprir. A tentativa de cabeceio do meu atacante é acompanhada pelo movimento do meu corpo. E os dedos das mãos deslizam pelos cabelos, percorrendo da testa à nuca, em repetidos gestos que revelam a tensão.

No sábado à noite, tudo isso se manifestava diante da televisão, que exibia um time ainda claudicante: abrindo mão da troca de passes no meio de campo, esticando muitas bolas para o ataque e aproveitando pouco as raras chances de gol. Na defesa, cada chegada do adversário parecia um perigo iminente, apesar de algumas boas intervenções de Gabriel Gandro, goleiro que ainda se esforça para ganhar a confiança do torcedor.

A partida ficou menos tensa depois da parada para que a regra fosse cumprida. E aqui um parêntese: apesar de meus colegas jornalistas — e aparentemente Roger, também — terem tratado com surpresa o regulamento que pune o técnico sempre que alguém da sua comissão é expulso, essa regra já está prevista há alguns anos no futebol gaúcho.

No segundo tempo, as chances apareceram com um pouco mais de insistência, a ponto de termos forçado um pênalti bem marcado pelo VAR — o que fez calar alguns amigos que me escrevem com teorias da conspiração de que toda a decisão dos árbitros é contra o nosso time. Isso também faz parte da tensão do Gre-Nal, eu sei.

O pênalti premiou o melhor jogador do Grêmio na atualidade. Martin Braithwaite marcou seu primeiro gol em um Gre-Nal com uma cobrança segura. Nosso atacante passou o clássico em busca de um companheiro que se aproximasse, tabelasse, surgisse para receber a bola e devolvê-la em condições de chute. Encontrou poucos e teve de se virar por conta própria. Talvez o lance mais interessante, além do gol, tenha sido os dribles na lateral do campo, onde deixou três marcadores para trás — a ponto de gesticular para os adversários, como quem pergunta: “Quem é o próximo?”. Sim, Gre-Nal tem dessas coisas, e a gente gosta.

A lamentar que as previsões de que nossa defesa não resistiria à pressão de um adversário um pouco mais calibrado nos chutes (ou cabeceios) tenham se confirmado. Menos de um minuto depois da euforia do gol e da esperança de que, talvez, desta vez, a eficiência superaria a técnica, fomos castigados por mais uma falha de marcação.

O empate final me deu a sensação de que apenas sobrevivemos ao Gre-Nal, e isso não me agrada. Imagino que também não tenha atendido às expectativas de Gustavo Quinteros. O novo técnico ainda tem muito trabalho pela frente e já percebeu que o Grêmio precisa melhorar consideravelmente se pretende conquistar, ao menos, o Octacampeonato nesta temporada.

Avalanche Tricolor: faltam quatro jogos, contando e sofrendo

Grêmio 2×2 Juventude

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Diego Costa prepara assistência para Braithwaite. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

“E esse ano que não acaba…?”, escreveu meu amigo de sofrimento Sílvio no WhatsApp, logo após o apito final da partida em Porto Alegre. A ideia era encerrar hoje, com a conquista dos três pontos que colocariam o Grêmio em uma situação privilegiada diante dos demais candidatos ao rebaixamento do campeonato.

Mobilização não faltou: Braithwaite mandou recado pelo celular, ex-jogadores convocaram o torcedor nas redes sociais e a diretoria enviou e-mails aos sócios pedindo apoio total ao time. Mais de 40 mil pessoas foram à Arena, incentivaram enquanto tiveram paciência, soltaram fumaça e assistiram ao espetáculo de luzes de LED — recurso estreado neste início de noite.

As circunstâncias no início da partida pareciam promissoras. Depois de Rodrigo Ely cortar um cruzamento de cabeça na nossa área, Edenilson fez um lançamento primoroso para Diego Costa, que, com precisão, deixou Braithwaite na cara do gol. Com pouco mais de dois minutos, já vencíamos, e a sensação era de que uma festa de reveillon antecipada nos aguardava. Mas foi pura ilusão.

O Grêmio não soube aproveitar a vantagem no placar, tomou o gol de empate antes do fim do primeiro tempo, sofreu a virada no início do segundo e escapou de uma tragédia em plena Arena graças a uma rara defesa de pênalti do goleiro Marchesín. No fim, já nos acréscimos e no desespero, conseguimos empurrar a bola para dentro do gol adversário e arrancar o empate.

É isso, Sílvio, o ano insiste em não acabar. Temos pela frente mais quatro batalhas que prometem testar os nossos nervos e o nosso amor pelo Grêmio. Haja sofrimento!

Avalanche Tricolor: só faltam sete

Grêmio 3×1 Atlético GO

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Villasanti comemora o gol. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

A temporada 2024 não tem sido fácil para o torcedor do Grêmio. A tragédia provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul nos atingiu de forma contundente. Fomos obrigados a jogar fora do nosso estado e do nosso estádio, muito mais do que qualquer outro time gaúcho. Voltamos a Arena há menos de dois meses e a Arena voltou a ser toda nossa apenas na tarde deste sábado, na trigésima-primeira rodada do Campeonato Brasileiro.

O prejuízo técnico e tático que a equipe sofreu foi enorme, mesmo que não explique a baixa qualidade do futebol apresentado em muitos dos jogos. Boa parte dos melhores reforços chegou apenas no meio da temporada, o que tornou mais complexo o funcionamento daquela engrenagem que os times bem treinados costumam apresentar. Verdade que a essa altura do campeonato já deveríamos estar oferecendo um trabalho coletivo mais competente, mas o time tem enfrentado dificuldades para “pegar no tranco”, como costuma-se dizer no popular.

A sequência de fatos e defeitos reduziu nossas expectativas. A equipe que começou o ano prometendo presença competitiva em todas as disputas, encerrará apenas com a comemoração do Hexacampeonato Gaúcho, nos primeiros meses de 2024. Na Copa do Brasil e na Libertadores fomos despachados nas disputas eliminatórias. No Brasileiro, depois de um esforço para não correr o risco de rebaixamento, nos contentaremos com uma classificação à Copa Sul-Americana, o que me parece garantido após a vitória deste sábado.

A partida que marcou a volta definitiva da Arena, com quase 37 mil torcedores presentes, apresentou muito do que temos assistido neste ano de futebol mediano. Cometemos pênalti com uma facilidade de chamar atenção. E os vemos ser convertidos quase sem reação. Temos uma fragilidade defensiva capaz de transformar o lanterna do campeonato em uma equipe perigosa no ataque.

Dependemos de jogadas individuais como a que nos levou ao gol de empate, porque falta entrosamento. Nossos destaques são Soteldo e Villasanti, não por acaso dois dos que marcaram nossos gols. Justiça seja feita ao esforço de Braithwaite que luta contra os zagueiros e se entrega de uma maneira cativante. O primeiro e o terceiro gols tiveram a participação importante dele.

Como escrevi, a vitória de hoje foi crucial para eliminar as possibilidades de rebaixamento e nos colocar na Sul-Americana, apesar de matematicamente ainda haver condições para o pior dos cenários.  Mesmo que algumas partidas que nos restem sejam de alta periculosidade, acredito que ocupamos agora o quinhão que nos está reservado para esta temporada. Desejo apenas que saibamos mantê-lo até o fim, que, felizmente, está próximo. Só faltam sete partidas para nos despedirmos de 2024.

Avalanche Tricolor: um sofrimento por vez

Grêmio 1×2 Criciúma

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Cristaldo aparece no ataque em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

O Grêmio reforçou o grupo no meio da temporada. Trouxe jogadores de talento ascendente ao perceber suas carências. Apostou em um centroavante gringo experiente, diante da falta de gols. Encheu seu elenco de estrangeiros, considerando o risco de rebaixamento que se desenhava na primeira parte da competição. Mais recentemente, até para a Arena retornou, o que parece não ter sido suficiente para conquistar o torcedor, incapaz de lotar os poucos lugares disponíveis.

Mesmo que tenha enfrentado todos os elementos para percorrer aquilo que os mais românticos — e confesso que assim fui até há algum tempo — exaltariam como sendo parte da  jornada do herói, em que viajamos do mundo dos comuns, aceitamos o chamado e encaramos a provação suprema, o Grêmio segue sendo um time propenso a oferecer sofrimento ao seu torcedor, uma partida após a outra.  

Às vezes, esboça boas jogadas no ataque, sem, porém, transformá-las em risco de gol. Ao mesmo tempo, não resiste à mínima pressão do adversário na defesa. Nos últimos quatro jogos, levou nove gols. Nas 26 partidas disputadas no campeonato, foram 34 gols sofridos. Essa equação é insustentável. 

Rodada após rodada a batalha que nos aflige é a proximidade com aquela-zona-que-você-sabe-qual-é.  Não há um dia de sossego. Quando pensamos que o olhar se voltará para o alto, que poderemos sonhar com alguma conquista, por mais medíocre que seja, a realidade se impõe. Pode ser com os melhores do elenco em campo, pode ser na sua casa ou pode ser contra adversários de menor expressão. O Grêmio só tem a oferecer sofrimento. E assim será para todo e sempre, nesta temporada.

Avalanche Tricolor: o retorno amargo e o fim de uma ilusão

Grêmio 2×3 Atlético MG

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Braithwaite marca o gol inicial, em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Foram 134 dias distante da Arena, desde as enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul e deixaram marcas no coração dos gaúchos. O Grêmio foi o time de futebol mais prejudicado com a tragédia que abateu o Estado. Peregrinou como um circo mambembe por estádios brasileiros disputando três competições importantes. Embora tenha conquistado resultados significativos, despediu-se de dois torneios, em meio a essa jornada cambaleante, e persiste no Campeonato Brasileiro com a pouco inspiradora luta para ficar longe da zona-que-você-sabe-qual-é. 

O retorno ao estádio foi marcado pela precariedade. A infraestrutura não permitia jogos sem luz natural, por isso a disputa foi às 11 da manhã de domingo. Apenas parte das arquibancadas está liberada e muitos espaços internos seguem interditados. As manchas da lama aparecem em várias paredes e no mobiliário da Arena. O gramado foi instalado de maneira emergencial e trouxe uma cor e aparência estranhas. 

A coincidência do calendário nos trouxe de volta à Arena em momento de emoções diversas. Não bastasse a retomada nossos estádio, o adversário foi o clube que melhor soube acolher o drama de todos os gaúchos. Merecia nossa reverência. Há uma semana, havíamos perdido o patrono e o “maior de todos os torcedores”, Cacalo. E o futebol amargava o luto provocado pela morte de Juan Izquierdo, do Nacional, esse time uruguaio que nos é próximo do coração.

Com a bola rolando, o sofrimento, a alegria e a frustração voltaram a se expressar. Ter Gustavo Martins expulso com menos de 20 minutos de partida – exagerada ou não a punição ao zagueiros que fez dupla trapalhada  na jogada — nos colocava diante de dois cenários: o da derrocada iminente, que serviria para destruir a ilusão de que o drama que enfrentamos nesta temporada haveria de ser recompensado com uma recuperação heróica; ou o da vitória pela superação, sustentando a escrita da imortalidade e da energia emanada por um lugar sagrado que voltava a nos abrigar.

O primeiro tempo, em especial, e boa parte do segundo rascunhavam uma história incrível, daquelas de contar para os filhos, reunir os amigos e deixar a lágrima correr pelo rosto. Dizer do gigantismo deste time pelo qual escolhemos torcer e agradecer àqueles que nos tornaram gremistas. O primeiro gol veio pelos pés de Braithwaite, o atacante dinamarquês pelo qual já nos apaixonamos, e o segundo, na insistência de Cristaldo, que voltou a marcar.

De tão incrível que era o roteiro, sequer sofremos com o primeiro gol do adversários, aos 26 minutos do segundo tempo, após mais um pênalti cometido pelo nosso time e não defendido por nosso goleiro — que tem a capacidade de errar o lado em que a bola vai em quase que 100% das cobranças as quais é submetido. O revés naquela altura do jogo, estaria ali apenas para corroborar como seria glorioso sofrer pelo Grêmio. Ledo engano!

Nos acréscimos, aquele momento em que nosso técnico insiste em sinalizar a seus jogadores que “acabou, acabou”, levamos dois gols e a virada. O primeiro, de empate, também de pênalti e o segundo na pressão do adversário, quando tínhamos quatro zagueiros dentro da área. A jornada do herói imortal foi desconstruída em poucos minutos. Restaram a tristeza e a frustração, sentimentos dolorosos diante da expectativa que tínhamos no retorno à Arena.

A verdade é que o futebol é jogado dentro de campo, minuto a minuto.  A história que nos trouxe até aqui pode não servir para nada na partida seguinte.  O jogo depende muito mais das escolhas feitas pelo técnico e os jogadores, no instante em que a bola está rolando, do que qualquer fenômeno sobrenatural que costumamos evocar. A partida desta manhã de domingo chutou para longe toda e qualquer ilusão de que os deuses do futebol estariam dispostos a interferir a nosso favor. Eles não estão nem aí para nós. É no que acredito, ao menos até a próxima partida.

Avalanche Tricolor: eu vim ver o Grêmio e venci!

Grêmio 1×0 Atlético MG

Brasileiro – Arena Grêmio

Ronald comemora o gol da vitória em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Estar em Porto Alegre é estar em família. É reviver o passado. É relembrar a vida que se foi e me trouxe até aqui. É homenagear os que me legaram a carreira que percorri e reencontrar o principal protagonista da minha história nas casas que frequentei quando criança, nas ruas pelas quais passei na adolescência e nas esquinas que me provocavam a escolher um caminho em busca do amadurecimento — eu mesmo.

Todas essas sensações percorrem as veias e mexem com as emoções quando chego à cidade. Estando aqui não há como esquecer o quanto minha história com o Grêmio foi importante — mais do que o time de futebol, aquele espaço que hoje é ruínas, muito próximo da casa em que vivi e me abriga sempre que visito a capital gaúcha foi meu palco de vida, onde forjei parte da personalidade que me representa, construí relações familiares e fraternais e aprendi a valorizar tanto vitórias quanto derrotas.

Estar na Arena, na noite desse sábado, ao lado do Christian, meu irmão, e da Jacque, minha irmã, é evocar aos céus a presença daquele que me fez gente e gremista — meu pai, que nos deixou há quatro anos em um 28 de julho. Por isso, mais do que o resultado, o que me importava era a solenidade do ato: vestir a camisa do Grêmio, sair de casa em direção ao estádio com meus irmãos, sentar-me em uma cadeira e ao lado deles torcer pelo que desse e viesse.

Veio uma vitória que nos projetou à vice-liderança do Campeonato Brasileiro. Vitória sofrida! Nem tanto pela forma como se construiu. O gol chegou cedo em uma cobrança de escanteio que foi concluída nas redes por Ronald, de apenas 20 anos, que está no clube desde pequeno e estreou hoje realizando o sonho de todos nós que já fomos um guri gremista.

O sofrimento deu-se na sequência quando o adversário se adonou da bola. Mesmo que não tenha sido capaz de transformar esse ato em superioridade técnica, exigiu uma atenção redobrada dos nossos marcadores. Nesse quesito, Walter Kannemann foi a referência do torcedor, foi gigante ao anular toda e qualquer tentativa de ataque. Nas vezes em que as ações passavam distante da intervenção de nosso zagueiro, Grando voltou a ser grande. Defendeu as bolas que por ventura não eram interceptadas por nossos defensores. E o fez mesmo naquelas em que o nível de dificuldade exigia rapidez e habilidade.

Saber sofrer é preciso. E o gremista ontem aprendeu mais um pouco. Entendeu o momento da equipe, apoiou do início ao fim, e comemorou de gol marcado a bola despachada pela lateral; de gol anulado a cartão amarelo para o adversário —- foi a primeira vez que assisti à revisão do VAR no estádio, e gostei, especialmente porque foi providencial. Sabia que os três pontos se faziam necessários e a torcida esteve ao lado do time — uma prévia do que acontecerá na quarta-feira, na Copa do Brasil. 

Nenhuma ausência no gramado me fez frustrar a expectativa de estar na Arena, porque vim a Porto Alegre, vi o Grêmio e venci (dentro e fora do campo)!

Avalanche Tricolor: o Campeonato Gaúcho não me faltará!

Grêmio 1×0 Caxias

Gaúcho – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Nos últimos dois anos, só o torcedor gremista é capaz de descrever como foi difícil acompanhar o futebol. A cada partida um sofrimento em particular. Mesmo quando o resultado chegava, o futebol não agradava. Pior ainda quando nem a bola entrava. Não bastava ser maltratada, conspirava contra nós. 

O curioso é que a despeito de tudo que pudesse ter dado errado, nas temporadas de 2021 e 2022, o Campeonato Gaúcho nunca nos decepcionou. Sempre esteve ali a nossa espera, de braços abertos para nos permitir um sorriso em meio a tantos sofrimentos.  Aliás, desde 2018, faça sol ou faça chuva, tenha grama ou buraco no meio do campo, nos capacitamos a disputar as finais estaduais e fizemos prevalecer o peso de nossa camisa. 

Neste 2023 que ainda se inicia para o futebol, lá estava o Grêmio mais uma vez na final, depois de fazer a melhor campanha entre todos os adversários. Diante de nós, um time bem treinado e organizado, tanto quanto aguerrido e tradicional, que se capacitou a decidir o título após derrubar quase todos que encontrou pela frente. Digo quase todos porque nem na primeira nem na última rodada do campeonato nos venceu — foram as únicas duas derrotas que sofreu na competição, demonstrando porque é, atualmente, a segunda melhor equipe  do  Rio Grande do Sul. A terceira, se não me engano, é o Ypiranga de Erechim (por favor, se eu estiver errado me corrija).

O hexacampeonato comemorado, neste início de noite de sábado, sem não antes algumas doses de sofrimento, foi ainda mais especial do que todos os títulos desta sequência. Nossa vitória agora chegou sob o signo da reconstrução e abençoada pelo grito de torcedores que resgataram o prazer de vibrar por um time que preza pela qualidade no futebol. — hoje havia ao menos 51 mil deles na Arena. Não que tenhamos tido uma apresentação de excelência. Houve alguns erros, passes precipitados e desejo de decidir antes da hora — justificável diante da vontade que esses jogadores estavam de atender a paixão do seu torcedor.

De Adriel, jovem goleiro com potencial de oferecer tudo aquilo que o futebol moderno espera de alguém que veste a camisa número 1, a Luiz Suárez, quinto maior goleador do futebol mundial em atividade, admirado em todos os continentes pelos quais passou e motivo de orgulho dos torcedores gremistas, o Grêmio montou uma equipe que tem condições de nos levar muito além das fronteiras gaúchas. 

Temos zagueiros que jogam com personalidade e segurança, um meio de campo bem qualificado, que tem esboçado um toque de bola que tende a melhorar a medida que a temporada avance e um ataque que se ajusta a qualificação de nosso goleador. Talvez sintamos falta de um ou outro jogador para compor o elenco, a medida que as fases decisivas se aproximem. Independentemente do que tenhamos de agregar ao grupo, temos consciência dos nossos predicados.

O que vai acontecer com ao Grêmio neste ano e o quanto a equipe atenderá as expectativas que não são apenas dos torcedores —- muitos dos analistas aqui no centro do país, de onde escrevo, têm se entusiasmado com as nossas possibilidades — somente saberemos mais à frente. De verdade, de verdade, o que posso garantir é que, como nos últimos cinco anos, o Campeonato Gaúcho não nos faltará! E isso me faz muito feliz e desejoso de sair por aí a cantarolar:

Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe Tricolor!

Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe Tricolor!

E Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe,

Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe Êôô!

Da-lhe, Da-lhe, Da-lhe, 

Avalanche Tricolor: Adriel “Lara” é Gigante!

Grêmio 2 (5)x(4) 1 Ypiranga

Gaúcho – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Adriel defendeu dois pênaltis. Foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Há exatos cinco anos, assistimos a uma das mais incríveis e decisivas defesas protagonizadas por um goleiro. Foi em Guayaquil, contra o Barcelona equatoriano, em uma semifinal de Libertadores da América. Não fosse a intervenção antológica de Marcelo Grohe teríamos colocado em risco a classificação. Estava dois a zero para nós quando o goleiro — que se sagraria campeão da Libertadores naquele 2017 — impediu, aos três minutos do segundo tempo, o gol de Ariel que traria o adversário para o jogo novamente.

Por coincidências do calendário, neste 25 de março, coube a um outro goleiro gremista ser protagonista da partida que nos manteve na disputa do hexacampeonato gaúcho. Adriel, com apenas 22 anos e do alto de seu 1,95 metro, fez um jogo seguro, a despeito do adversário ter exigido pouco dele. Sempre que precisou, porém, estava na posição correta e ainda ajudou o time a chegar mais rapidamente ao ataque com reposições preciosas. No gol que sofreu no início do segundo tempo, Adriel foi vítima de uma bola que maliciosamente desviou na coxa de um dos zagueiros gremistas. Tinha pouco a fazer naquela circunstância, além de lamentar a falta de sorte. 

O Grêmio encontrou forças para virar a partida impondo-se com qualidade e força frente a um adversário que já demonstrava desgaste na marcação e dificuldade para manter a bola em seu domínio. O gol de empate veio dos pés de Bitello que lançou a bola para dentro da área e encontrou Thaciano. Nosso polivalente jogador já atuo na lateral direita e na ponta direita. Saiu como titular na tarde deste sábado ocupando a posição de volante. E no segundo tempo foi colocado a jogar mais à frente. E foi lá na frente que de cabeça recebeu o lançamento e concluiu de cabeça, devolvendo ao torcedor a esperança da classificação à final (por favor, não deixem Thaciano ir embora).

O gol da virada veio depois de uma série de tentativas frustradas. E ninguém mais frustrado do que Luís Suárez que na partida anterior desperdiçou um pênalti e não conseguiu concluir a gol as várias oportunidades criadas nesse sábado. Coube a Bruno Alves, que havia falhado no gol adversário, completar de cabeça às redes e levar a decisão para os pênaltis.

Foi, então, que Adriel se impôs. Imenso embaixo das traves amedrontou o primeiro marcador e o induziu ao erro — a cobrança foi parar no pé do poste esquerdo do nosso goleiro. Tentou desestabilizar os demais batedores, mas teve dificuldade de encontrar o canto certo da cobrança. Nas duas vezes em que acertou o lado em que a bola vinha, não permitiu que ela alcançasse as redes. 

Adriel foi imenso embaixo dos paus e sua habilidade garantiu a presença na sexta final consecutiva do Campeonato Gaúcho. Confesso, estava com saudades de goleiros pegadores de pênaltis — tais como Marcelo Grohe que segue fazendo das suas no futebol saudita. Não que essa seja obrigação deles. Antes das cobranças decisivas é necessário que demonstrem segurança nos 90 minutos de partida. Nosso goleiro que até pouco tempo sequer completava o banco de reservas e, recentemente, assumiu a posição de titular, tem oferecido ao torcedor a devida tranquilidade. Sai bem do gol, está bem posicionado, sabe jogar com os pés e distribui a bola com tranquilidade Porém, a diferença entre os goleiros e os grandes goleiros se expressa nos momentos mais decisivos. Adriel foi apresentado pela primeira vez a um desses momentos desde que assumiu a posição no time principal. E dele saiu como herói da classificação. 

Esse baiano, nascido em Ilhéus, que começou jogando no Sparta do Tocantins — clube que por coincidência tem as cores azul, preto e branco — e surgiu na base gremista deve saber —- como todos nós torcedores sabemos — que somos o único time do mundo que tem o nome de um goleiro no hino: Eurico Lara.

Um time que faz homenagem a um goleiro no seu hino precisa ter um grande goleiro no seu time. Adriel “Lara” é Gigante!

Avalanche Tricolor: Suárez é Imortal!

Grêmio 4×1 São Luís 

Recopa Gaúcha — Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Suárez comemora um dos três gols marcados, em foto de LUCAS UEBEL/GRÊMIOFBPA

Um toque por cobertura, um tapa pelo lado e uma chapada com força para a bola estufar a rede. Em três lances, três gols! Em 37 minutos, Luis Suárez já havia feito sua melhor estreia da longa carreira dedicada ao futebol e havia entregado tudo o que o torcedor gremista poderia esperar para começar esta nova etapa em sua jornada esportiva. 

A ansiedade pela estreia da maior contratação já feita pelo Grêmio em sua história estava por todo o canto, das esquinas de Porto Alegre às entranhas das redes sociais. As arquibancadas pulsavam desde cedo, antes mesmo de os portões da Arena se abrirem. Havia uma inquietude! Um desejo de definitivamente virar a página desconfortável dos dois últimos anos. Não esquecer essa página, porque é preciso lembrar-se da dura lição sofrida para que os erros não se repitam, mas olhar para a frente, se dar o direito à alegria.

Suárez personifica esse novo momento. Por isso, a comoção provocada pelo anúncio das negociações com o craque uruguaio. Por isso aquela multidão no aeroporto a espera do quinto maior goleador do mundo, na apresentação na Arena e nesta noite de estreia, quando mais de 49 mil torcedores foram assistir à final da Recopa Gaúcha. 

A camisa 9 com o nome de Suárez às costas representa muito mais do que se possa imaginar. Sim, o nome do Grêmio ganha destaque no exterior, aumenta o número de sócios e crescem as vendas de material esportivo. Sim, os adversário têm a quem temer sempre que alçarmos a bola em direção ao ataque e nós temos a certeza de que haverá alguém lá na frente com categoria suficiente para concluir às redes.

Suárez no Grêmio é mais do que marketing ou, até mesmo, mais do que futebol. Neste momento, é a retomada do prazer que sentimos diante de uma paixão. É a esperança rediviva. É o renascimento da nossa crença. E, em particular, é a minha oportunidade de recuperar a ilusão e alegria daquele menino que aprendeu a gostar do Grêmio quando sequer nossa imortalidade havia sido testada.

Suárez agora também é Imortal!