Conte Sua História de São Paulo: a aroeira que nos abraçou na cidade

Alejandra Silva Arenas

Ouvinte da CBN

Foto: Giselda Person/ TG

Nos anos oitenta, recém-chegados ao Brasil, tomamos a decisão de comprar nossa casa própria. Esse momento mágico marcou nosso estabelecimento neste país que nos acolheu com a generosidade típica dos brasileiros. Nosso filho de oito anos acompanhava atentamente o processo, enquanto nosso bebê brasileiro ainda não compreendia a importância desse passo.

Quando chegamos ao que hoje é nosso lar, nosso filho correu até o fundo do quintal. Fomos recebidos com braços abertos e um ar majestoso por uma aroeira plantada no centro de um terreno virgem, pronto para ser cultivado. Desde aquele dia, seja a aroeira que escolheu nosso filho ou vice-versa, ele se tornou o mais dedicado guardião da árvore.

Adaptamo-nos rapidamente ao bairro Assunção, em São Bernardo do Campo, vibrante com as atividades das indústrias automobilísticas. A casa já era encantadora por si só, então focamos nossos esforços no quintal. Optamos por cobrir o solo com cerâmicas, deixando espaços nas laterais para um futuro jardim e uma generosa área ao redor da aroeira, conferindo-lhe uma elegância destacada.

Uma vizinha trouxe-nos mudas de plantas similares aos arbustos da pracinha próxima. Encantada tanto pelas mudas quanto pelo gesto, dividi-as e plantei-as em ambos os lados do quintal ainda cobertos de terra. O jardim, assim como nossos filhos e os meninos da vizinhança que vinham brincar, florescia. Para entreter a criançada, estabelecemos um ateliê de pintura, transformando nosso pequeno espaço em um lugar vibrante que crescia tão rapidamente quanto as crianças. 

Numa sexta-feira, o “japonês das flores” visitou nossa casa, trazendo consigo mudas de café. Intrigada por essa novidade, decidi experimentar o cultivo, apesar de não saber muito sobre o assunto. Após comprar as mudas, pedi conselhos ao japonês, que enfatizou a importância de plantá-las com dois metros de distância entre si. Observando as pequenas mudas, que mal alcançavam dez centímetros e possuíam apenas duas folhas, duvidei da necessidade de tanto espaço e optei por ignorar sua recomendação, plantando-as mais próximas uma das outras.

A aroeira cresceu tanto que suas raízes começaram a levantar as cerâmicas do chão, e seus robustos galhos, um dia, danificaram a parede do fundo do quintal, causando problemas com a propriedade vizinha. Chamamos os bombeiros, que, após removerem um de seus grandes galhos, advertiram sobre a possível necessidade de removê-la completamente devido ao risco futuro. Meu filho, profundamente ligado à árvore, passou horas ao lado do galho cortado, pensativo. Durante aquela semana, ele trouxe especialistas em botânica que nos informaram sobre a centenária idade da aroeira e recomendaram podas regulares a cada dois anos para preservar sua saúde.

Os anos seguiram, os filhos e as árvores amadureceram. As mudas, que eram pequenas quando plantadas, transformaram-se em altas palmeiras. Os pés de café, plantados muito próximos uns dos outros por minha inicial desobediência aos conselhos do “japonês das flores”, cresceram mais para cima do que para os lados, complicando a colheita que, com o tempo, dominei, aprendendo a arte de torrar, moer e preparar um café delicioso diretamente de nosso quintal.

Hoje, os meninos que brincavam aqui são adultos casados. De vez em quando, tocam a campainha para apresentar seus próprios bebês. Durante a pandemia, nossa aroeira assumiu uma nova função: foi sob seus galhos que celebramos o casamento do meu filho mais novo. À sua sombra, colocamos a mesa do bolo dos noivos e dos docinhos “bem-casado”. Frases românticas foram penduradas em seus galhos, e ela, junto com as palmeiras e os pés de café, adornou as mesas cobertas por toalhas brancas, mostrando que, de fato, todos somos uma única grande família.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Alejandra Silva Arenas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade visite meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.