Avalanche Tricolor: entre livros e maldições

Grêmio 1×2 Athletico Paranaense

Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Iturbe comemora seu gol em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Na fila do livro “Amazônia na encruzilhada”, de Miriam Leitão, a conversa era sobre jornalismo, rádio, literatura e meio ambiente. Ninguém se aproximou para puxar assuntos do futebol. Ainda bem! Cheguei cedo na Livraria da Travessa, no Shopping Iguatemi, neste início de noite, em São Paulo. Quando se trata de livros de autores renomados e queridos, a concorrência por lugares na fila costuma ser intensa. Chegar atrasado significa esperar por horas para ter a oportunidade de cumprimentar a autora e receber um autógrafo.

Quando cheguei, Miriam já estava por lá e recebendo o carinho de amigos e a atenção de jornalistas que foram cobrir o lançamento. Logo a encontrei, agradeci pela bela obra que valoriza a maior riqueza que o Brasil tem e vive sob ameaça: a Amazônia. Em troca, além da gentileza de sempre, fui presenteado com palavras da autora e um autógrafo que ficará guardado entre meus livros queridos na biblioteca que mantenho em casa. Na biblioteca e no coração.

Na livraria, além de olhar os demais livros expostos, um prazer que mantenho no meu cotidiano, conversei com mais alguns colegas de profissão e tomei o caminho de volta para casa. O trânsito era intenso. A cara de São Paulo. O que me impediu de assistir na televisão ao primeiro tempo da partida do Grêmio. O recurso foi o rádio. E no rádio, além do gol de Iturbe, bem no começo do jogo, só ouvi sofrimento, reclamações e previsões catastróficas. Todas se realizaram.

Cheguei em casa no intervalo quando as equipes estavam em campo para iniciar o segundo tempo e o Grêmio já estava com nova formação. Assim que a bola começou a rolar, a impressão é que tanto os comentaristas quanto os torcedores ouvidos na rádio tinham assistido à outra partida. Passamos a pressionar, a impedir o avanço do adversário, a incomodar no ataque e dar sinais de que a vitória era iminente. Bastava um pouco mais de ajuste no chute final. Cheguei a me entusiasmar. Mas o que era entusiasmo virou ilusão. E da ilusão à frustração.

Nos minutos finais, quando estávamos nos acréscimos, o pior dos mundos se desenhou. Tanto insistimos em tomar um gol que o gol se realizou. Daqueles que costumávamos fazer e que, nestes últimos tempos, sei lá por qual motivo, se transformaram na nossa maldição. É quase como se os deuses do futebol, aqueles mesmos que nos deram o dom da Imortalidade, tivessem se reunido e decretado: vocês não fazem por merecer! Será?

Avalanche Tricolor: a maior vitória deste ano

 

Athletico PR 1×2 Grêmio

Brasileiro – Arena da Baixada, Curitiba/PR

Bruno Uvini comemora o gol da vitória em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O Grêmio obteve sua maior vitória nesta temporada. Sei que pode soar exagerada essa afirmação. Afinal, viemos de uma conquista importantíssima e simbólica no Gre-nal. Sem desdenhar o resultado no clássico e consciente do significado que teve para retomarmos a caminhada após reveses e jogos mal jogados, temos de convir que não chegou a ser uma novidade e estávamos atuando em casa. 

Hoje, não! Era contra tudo e contra todos — ops, aqui sim soou exagerado. Desculpa, aí! É que estou mesmo entusiasmado com o que assisti ao Grêmio apresentar no gramado sintético de altíssima velocidade da Arena da Baixada e diante de quase 26 mil torcedores acostumados a empurrar o time para cima do adversário. A força é tal que nos últimos cinco anos havíamos vencido apenas uma vez. E os paranaenses não tinham perdido um só jogo nesta temporada.

Além do mais, havia desafios a serem superados do nosso lado. Luis Suárez foi poupado e sua ausência dispensa comentários. Nosso segundo mais importante jogador, Bitello, também ficou em repouso. Jogamos com três zagueiros, quatro novatos e nenhum centroavante. No ataque improvisamos Galdino de um lado e Cuiabano do outro — o que esse jovem talento que se prepara para ser titular da lateral esquerda jogou foi demais, não bastasse o gol que abriu o placar a nossa favor. 

Vina ficou mais ao centro, atuando como pivô e sem muita necessidade de marcar, o que deu liberdade para criar e ser o maestro do time. Villasanti e Mila foram enormes à frente da área e empurraram nossa marcação para dentro do campo deles. Os zagueiros, após os dois sustos que tomaram com a bola nas costas — um deles acabou no gol de empate no primeiro tempo —, retomaram a confiança e despacharam de toda forma o perigo que nos cercava devido a pressão desesperada do adversário. Não bastasse cumprirem suas tarefas lá atrás, Bruno Uvini representou muito bem o setor com o gol da vitória, de cabeça, resultado da boa cobrança de escanteio de Reinaldo.

Nem só de gols e boa marcação vivemos nesta tarde em Curitiba. Com a bola no pé ensaiamos boa transição para o ataque e uma movimentação mais coordenada, considerando o time improvisado e poupado. Chegamos ao gol adversário com algum perigo e quase sempre por mando de Vina e talento de Cuiabano. Fomos resilientes com jogadores se desdobrando para recuperar a falha de algum companheiro. E até quando perdemos qualidade com as substituições, o esforço foi impressionante.

O Grêmio recuperou parte dos pontos perdidos em casa e deu um salto na tabela de classificação, independentemente da posição que encerrará ao fim dessa rodada; se qualifica para a decisão do meio da semana pela Copa do Brasil, quando teremos nossos melhores em campo; e dá esperança ao torcedor de que o grupo voltou a se reencontrar. 

Frente a tudo isso, você ainda acha que fui exagerado em dizer que o Grêmio conquistou sua maior vitória na temporada?