Conte Sua História de São Paulo: o Mineiro que me fez apaixonada por cinema

Débora Ferreira

Ouvinte da CBN

Sou paulistana, nascida na Beneficência Portuguesa, mas quem me apresentou São Paulo foi um mineiro. Mineiro que tinha orgulho de ter saído de Passos para tentar a vida em São Paulo. E deu certo. Era o mineiro mais paulista que conheci.

Início dos anos 1980. Em um domingo de cada mês, pela manhã, ele acordava as três filhas, porque era dia de cinema. Esperávamos por esses domingos. E tínhamos que ir bem arrumadas: era um passeio especial. Saíamos da Pompeia, entrávamos na Belina e íamos para o Cine Comodoro, na Av. São João.

“É o melhor cinema de São Paulo, é Cinerama!”. Não entendia o que queria dizer Cinerama, mas eu me encantava com aquele cinema. Lembro que tinha umas colunas… achava tudo muito grandioso. Comprava pipoca, sentávamos nas cadeiras, apagavam-se as luzes.

Lembro que a tela tinha uma curvatura diferente. Geralmente, passava um documentário antes, e então começava a sessão. Aos domingos de manhã, passavam só desenhos. Víamos Tom & Jerry, Popeye e vários outros desenhos da época.

Aquela atmosfera de cinema — as poltronas, o som estéreo, a pipoca e o orgulho dele de levar as filhas — tornava aquele momento mais que especial. Acabava a sessão e voltávamos pra Pompeia (outro bairro que merece outra história). “Sua mãe já está esperando pro almoço.” Esse era o nosso passeio de domingo.

O mineiro não sabia, mas nosso amor pela sétima arte começou com ele, ali no cinema Comodoro.

Obrigada, pai. Obrigada, São Paulo.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Débora Ferreira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio e a interpretação de Mílton Jung. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Mundo Corporativo.

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: a Belina, o branding, o mocinho e o vilão

 

Anúncio de revista da Belina Ford 1987

“Será que somos nós os culpados de criar desejos antes ainda inexistentes, e contribuir para o consumo pouco consciente?”

Jaime Troiano

Quem já teve carro a álcool  — álcool raiz, não esse etanol moderno que temos hoje — sabe o drama que era ligar o motor nas manhãs de inverno. Precisava injetar gasolina, tentar uma ou duas vezes, torcer para não forçar a bateria e, às vezes, deixar o motor ligado por algum tempo para não sair titubeando pelo caminho. 

O Jaime, nosso colega do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, teve um Passat – Passat raiz, não este alemão e chique que roda hoje em dia. Era a álcool e câmbio mecânico. Dureza! Um dia, um amigo deu-lhe  carona em uma Belina à gasolina e automática. “Ainda vou ter uma dessas”, pensou Jaime, que assim que chegou ao trabalho esqueceu da promessa que fez a si mesmo. Algumas semanas depois, abriu a revista Quatro Rodas e deparou com o anúncio da Belina a espera dele. Mas sabe como é …. projeto pra entregar, família pra cuidar. Deixa o desejo da troca de carro para outro dia. Duas semanas depois, ele passou diante da concessionária Ford e voltou a ver a Belina dos sonhos. Entrou, negociou, barganhou e levou. 

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso e descubra qual foi o destino da Belina do Jaime Troiano

O que o fez comprar: a necessidade de um carro mais moderno, a experiência que teve com o amigo, o anúncio na revista ou a fachada da loja no caminho de casa?  Ele próprio responde: a mistura de desejo e necessidade. É assim que costuma funcionar nossa jornada de compra, do carro (nem álcool nem gasolina, eu sonho com um elétrico) à camisa; do computador ao sapato. Quem faz a gestão de marcas sabe como isso funciona, tem estratégias para conquistar o cliente mas precisa ter consciência de que não pode criar armadilhas. 

A história e a reflexão que se seguiu surgiram no Sua Marca Vai Ser Um Sucesso depois que perguntei ao Jaime Troiano — o dono da Belina — e a Cecília Russo — que não sei se algum dia pegou carona no carrão dele — se o branding é mocinho ou vilão do consumidor. 

“É uma questão que invade o território ético. Será que somos nós os culpados de criar desejos antes ainda inexistentes, e contribuir para o consumo pouco consciente? Já refletimos muito sobre isso, e nossa conclusão é que essa dualidade, mocinho e bandido, não faz muito sentido.”

Cecília Russo

Quando profissionais de branding fazem seu trabalho a partir de marcas sérias e comprometidas com suas entregas, produtos e serviços, estão atuando dentro de limites éticos e atendendo a necessidades das pessoas, explicam Jaime e Cecilia. Um exemplo, para ir além da Belina, é quando sentimos sede. Não é  a marca quem provoca essa sede. A sede nos leva a marca. E aí sim entra o trabalho do branding: direcionar a pessoa que sente sede para um determinado produto. 

“Seres humanos somos uma fábrica de desejos. Eu já os tenho dentro de mim e são esses desejos que me levam ao consumo. As marcas fazem parte daquela equação que já falamos no programa: o que eu sou mais alguma coisa que me falta, é uma soma, digamos assim, que me conduz ao que eu quero ser, ao meu eu ideal”. 

Cecília Russo

Leia aqui mais sobre a equação citada por Cecília Russo

Estar comprometido com a transparência e desenvolver o projeto de branding baseado na verdade da marca e em um profundo conhecimento das pessoas a quem elas se destinam é uma responsabilidade que os profissionais da área têm de assumir.  

“Branding não é uma máquina de vendas. É um caminho para criar significados autênticos para as marcas satisfazerem necessidade e desejos igualmente autênticos nos consumidores”

Jaime Troiano