Como o óleo frito vai parar no tanque do carro

 

Semana passada, no “Ponto de Ônibus”, o Adamo Bazani contou a experiência da cidade paulista de Idaiatuba que abastece a frota do transporte de passageiros com biodiesel gerado do óleo de cozinha. Nesta segunda-feira, o CBN São Paulo conversou com o professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp Antonio José Maciel um dos pesquisadores que tem trabalhado com esta tecnologia que passará a ser usada, também, na cidade de Fernandópolis.

Na entrevista, Antonio José Maciel explica como é feita a transformação e os vários benefícios oferecidos na transformação da gordura animal e do óleo de cozinha em biodiesel:

Ouça a entrevista do professor Antonio Jose Maciel

Ônibus roda com restos do óleo da batata frita

 

Por Adamo Bazani

Experiência em Indaiatuba, motor de ônibus é abastecido com biodiesel desenvolvido a partir do óleo de cozinha. O combustível também é usado em veículos na Europa.

Ônibus movido a óleo de cozinha

O que aquele fast food, nem sempre muito saudável tem a ver com o transporte de passageiros ? Além de o fato de muita gente ter de comer rápido na rua para não perder o ônibus, pouca coisa. Dentre as poucas, porém, uma delas tem objetivo bastante nobre: preservar o meio ambiente.

Depois de três anos de pesquisas, uma parceria entre a Unicamp (Universidade de Campinas) e a prefeitura de Indaiatuba-SP transformou em combustível a sobra do óleo de cozinha. A iniciativa faz com que se tenha uma nova opção para substituir os veículos movidos a diesel como, também, protege o córrego Barnabé. O afluente do Rio Jundiaí recebe boa parte do óleo descartado pelas cozinhas residenciais e industriais.

De acordo com os estudos da Unicamp, um litro de óleo de cozinha lançado no rio pode contaminar cerca de 1 milhão de litros de água.

Todo processo para transformar o óleo da batatinha, do hambúrguer ou do pastel da feira em fonte de energia para os ônibus, começa em postos de coleta, onde os moradores depositam o óleo e em doações de restaurantes de Jundiaí.

O óleo de cozinha recolhido vai para um galpão e passa por um processo chamado de transesterificação, que nada mais é que transformar o óleo em biodiesel. Nesta etapa, o óleo é filtrado, limpo, depois misturado a álcool e solventes, purificado mais uma vez e pronto, já pode mover um ônibus.

Motor brasileiro movio a óleo de cozinhaOs técnicos da Unicamp garantem que o desempenho do ônibus é o mesmo que o alcançado com o diesel comum e não há necessidade de mistura, ou seja, é possível abastecer o ônibus 100 % com o biodiesel feito de óleo de cozinha. Não precisa sequer mudanças drásticas no motor do ônibus. Além do meio ambiente, os cofres públicos agradecem, pois a economia com a redução do uso do diesel cobre os custos para produção de biosiesel, calculam os técnicos.

Indaiatuba é uma das pioneiras no Brasil neste processo, tendo alcançado resultados práticos. E o mundo já volta os olhos para o óleo – sem trocadilho.

Em Bristol, na Inglaterra, o Bus Chipper, prepara serviços de transportes comerciais. O veículo de porte convencional roda as ruas da cidade e os técnicos dizem que o veículo não cheira a fritura, pois o combustível é limpo antes de ser produzido. Eles avaliam o desempenho quanto a velocidade e consumo dos veículos e se for positivo a prefeitura financiará mais unidades.

“Ônibus fast food” devem percorrer o mundo. Ativistas ambientais europeus também desenvolveram um micro-ônibus movido a óleo de cozinha. Mas a ambição deles é maior: percorrer o mundo com o veículo. O micro-ônibus funciona após o óleo passar pelo processo de transesterificação, aos mesmos moldes de Indaiatuba.

A expedição “Biotruck” é liderada pelo ativista Andy Pág e partiu de Londres no dia 19 de setembro, percorrendo vários países europeus. O grupo quer chegar a América após parte do trajeto ser feita num navio. A ideia é provar a resistência de um veículo ecologicamente correto. As adaptações foram realizadas num micro-ônibus Mercedes Benz. Até agora não foram detectados problemas graves de funcionamento no ônibus que é totalmente ecológico, já que até seu sistema elétrico é abastecido por captadores de energia solar.

Para acompanhar a expedição você pode acessar o site oficial da Biotruck.

Adamo Bazani é jornalista da CBN, busólogo e não dispensa uma batata frita, ainda mais agora que o óleo da fritura pode mover ônibus. Ele escreve toda terça no Blog do Milton Jung

Empresa de ônibus abastece 100% da frota com biodiesel

 

Por Adamo Bazani

Viação Vaz, no ABC Paulista, se antecipa a lei e investe em combustível mais limpo para transportar passageiros em Santo André

Ônibus a biodiesel

O uso de diesel mais limpo na frota de ônibus das cidades da Região Metropolitana de São Paulo será obrigatório a partir de janeiro de 2010, mas algumas empresas decidiram se antecipar ao acordo proposto pelo Ministério Público Federal e assinado pelo Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Petrobrás, Anfavea, Governo do Estado de São Paulo e Cetesb, em outubro do ano passado. É o caso da da Viação Vaz que circula em Santo André, no ABC Paulista.

Um novo cronograma foi elaborado depois do descumprimento da resolução 315 do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente – que previa a produção e utilização de diesel com menos partículas de enxofre e maior concentração de combustíveis alternativos. As cidades de São Paulo e Rio passaram a abastecer a frota de ônibus com este combustível em janeiro. Em maio foi a vez das regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza e Recife. Em agosto, Curitiba. E no início do ano que vem, além das cidades do entorno de São Paulo, serão obrigados a usar o diesel S 50 as cidades de Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.

O S50 é um diesel produzido com 50 partes de enxofre por milhão e substitui o combustível ainda produzido e usado em boa parte do país que tem 500 partículas do poluente.

De acordo com o diretor da Viação Vaz, Gustavo Augusto Vaz, toda a frota, inclusive os carros mais antigos já rodam com biodiesel. “Firmamos uma parceria com a BR Distribuidora e a frota 100% operada com biodiesel mostra que hoje parte dos empresários sabe que, para continuar operando, tendo lucro e servindo bem a população, cumprindo seu papel de transportar, ele deve olhar em volta: para o impacto que sua atividade traz ao meio ambiente e colaborar também. Este ano renovamos 25% de nossa frota, pois ônibus novo também é melhor para o meio ambiente”.

A empresa comprou mais cinco ônibus preparados para rodar com o diesel que segue os padrões exigidos na Europa, bem mais rigorosos do que o brasileiro. Além disso, os novos carros seguem os padrões de acessibilidade universal. A Viação vaz foi a primeira de Santo André a ter veículos com acesso para passageiros com deficiência.

Os novos modelos com elevadores para cadeirantes, balaústres com relevo para deficiente visual e bancos especiais para idosos, pessoas com mobilidade reduzida e obesos já estão em operação: são cinco Comil Svelto Midi de nova linha (micrão), com motor Mercedes Benz OF 1418.

“Creio que pensar no meio ambiente, além de obrigatoriedade, será uma tendência do setor”, conclui Gustavo

Adamo Bazani, jornalista da CBN e busólogo. Toda terça-feira escreve no Blog do Mílton Jung.