Mundo Corporativo: Marcella Ungaretti, da XP, diz que a agenda ESG reflete no valor da empresa

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“…talvez a primeira coisa que nos vêm em mente seja um pouco dos desafios que as companhias eventualmente possam ter nessa agenda, mas a grande verdade é que também tem muita oportunidade a ser capturada por essas companhias que estão bem posicionadas”. 

Marcella Ungaretti, XP Investimento

Impactada com a tragédia causada pelo rompimento de uma barragem da empresa Samarco, em Mariana MG, em 2015, a então estudante Marcella Ungaretti foi a campo para entender o preço que empresas envolvidas em crises ambientais pagam —- especialmente, ter resposta para a pergunta que veio à sua mente: quanto tempo essas empresas levam para se recuperar? 

“Noventa dias para mais”, foi o que descobriu ao pesquisar uma série de casos ocorridos nas mais diversas partes do mundo. Há situações ainda mais drásticas em que essa recuperação tende a não acontecer, como nos contou no Mundo Corporativo ESG. Formada em Administração de Empresas pela FEA-USP e vencedora do prêmio Ruy Leme de Excelência Acadêmica da USP, Marcella atualmente é sócia da XP Investimentos e ocupa o cargo de ‘head de research ESG” — ou seja, é responsável por analisar o compromisso das empresas com a pauta da sustentabilidade:

“Esse estudo conclui que a agenda ambiental, social e de governança não anda em separado da agenda financeira da companhia. Muitas pessoas tendem a ver a temática ESG como uma coisa, a temática de investimento como outra. Não! Na nossa percepção, aqui, na XP é que a companhia é uma só e, consequentemente, as ações que tiver no que tange o meio ambiente, a sociedade e a governança vão refletir diretamente nos resultados e no valor de mercado dela, no quanto que ela vale”.

Em entrevista à CBN, Marcella destacou que as empresas estão conscientes da relevância do tema ESG, mesmo que muitas ainda não tenham encontrado o melhor caminho da sustentabilidade. Para ela, essa é uma agenda que já passou do ponto de “não retorno”. As empresas que não olharem para essa questão provavelmente ficarão para trás, perderão mercado e serão desvalorizadas. 

“O mercado de capitais no Brasil tem evoluído de forma significativa, de forma que a gente tem mais players atuando no mesmo mercado, e isso significa para o consumidor uma opção de escolha, e nessa nessa decisão de escolha, a geração mais recente traz cada vez mais os critérios socioambientais como parte desse processo”

Marcella identificou três razões que tornam a agenda ESG fundamental para as empresas: há um interesse maior de investidores e de cidadãos de uma maneira geral; há uma regulação que vai exigir cada vez mais que essas regras sejam cumpridas; e, finalmente, o retorno que se tem no mercado tem sido alto. A partir disso, se impõe um desafio às empresas:

“Parece simples pelo fato de serem três letras, mas a grande verdade é que é tanto no E, na questão ambiental, isso se desdobra em uma série de fatores; no S a gente sempre diz que tem uma agenda interna, mas também uma agenda externa; e há a  frente de governança que é de extrema importância … A abrangência dessa temática se coloca como um desafio”.

Um segundo desafio às empresas, identificado pela executiva da XP Investimento, é a divulgação das companhias das ações adotadas e resultados obtidos nos relatórios enviados aos investidores. Apenas 24% das bolas de valores no mundo impõem a divulgação de relatórios de sustentabilidade — na B3, em São Paulo, por exemplo, a publicação desses dados não é obrigatória.

“… consequentemente parte das empresas brasileiras ainda não tem esse documento público; ao mesmo tempo que, por parte do investidor, a demanda por esse documento é bastante clara. A gente fica menos tangível para o investidor poder ter qualquer compreensão de como essa companhia está evoluindo nessa agenda”. 

Assista ao vídeo completo da entrevista do Mundo Corporativo ESG com Marcella Ungaretti, da XP Investimentos:

O Mundo Corporativo tem a colaboração do Renato Barcellos, do Bruno Teixeira, da Débora Gonçalves e do Rafael Furugen. O programa é gravado às quartas-feiras, às 11 horas, e pode ser assistido pelo canal da CBN no Youtube.

Reginaldo e Mônica, na alegria e na falência

 

Por Frederico Mesnik

Mônica estava desolada. Com o casamento marcado para o fim do ano, sua festa, que há pouco saciava todas as suas fantasias de princesa, estava agora,reduzida ao quintal de casa. Nada de cornetas reais para sua entrada suntuosa, garçons com bebidas exóticas, ou o amigo DJ para agitar a pista até o amanhecer. A nova realidade comportava somente poucos convidados para uma recepção modesta, sem muita pompa, somente o necessário. A lua-de-mel, antes um cruzeiro pelo Caribe, estava agora transferida para a casa de Peruíbe – e com os sogros, para cortar custos.

Da euforia vieram os planos e da fragilidade das decisões veio à decepção. Com pouco mais de R$ 50.000 resgatados do seu FGTS meses antes, Reginaldo foi seduzido pelo glamour da bolsa de valores. O caminho era fácil. Abre-se uma conta em uma corretora, faz-se a transferência do dinheiro e, em pouco tempo, vem a possibilidade de comprar e vender ações. Como toda corretora moderna, sua plataforma eletrônica dava acesso a um mundo de informações, de dados macroeconômicos a opiniões e recomendações de analistas, grafistas e palpiteiros em geral, via fórum de discussão. Balela para um engenheiro hábil em matemática, capaz de digerir e dominar o mercado financeiro em pouco tempo.

Por que não investe em um bom fundo de ações? Cogitou seu irmão mais novo, Márcio. Hoje, a internet disponibiliza um acervo de informações e rankings sobre os melhores gestores com anos de experiência, toda uma formação específica e habilitação pelos orgãos competentes.

Nada disso, replicou Reginaldo! Já estou dominando o processo. Tenho acesso às informações de que preciso tudo on-line e “de graça”. Porque vou pagar 2% ao ano de taxa de administração se eu sei fazer sozinho?

E foi assim, com toda prepotência de uma mente brilhante e inexperiente que Reginaldo debutou pelos meandros fascinantes dos mercados. O mesmo analista que há pouco recomendara a venda de Petrobras agora mandava comprar. Dizia que o aumento dos preços do minério de ferro já estavam precificados e Vale não era uma boa opção. Do vizinho veio a dica de Varig que subia sem parar com rumores de venda. Nos fóruns discutia-se Itaú. Montou sua carteira ao ponderar tantas ideias de tantas fontes diferentes e ganhou dinheiro. Dobrou seu capital em pouco mais de três meses ao mergulhar no boato da empresa e soube conter sua ganância ao realizar o lucro. Marcou o casamento e deu a Mônica um orçamento dos sonhos, que como já sabemos, estava com os dias contados.

Estava confiante, sentindo-se poderoso e apto para arriscar. Do grafista veio o cenário de realização e do analista uma operação de volatilidade, envolvendo o mercado de opções. Abriu seu Excel e “planilhou” tudo. Calculou os retornos, os riscos, o VAR, as gregas e tudo que havia aprendido com todos os canais disponíveis. Montou sua posição, tomou banho e foi para uma entrevista agendada com uma empresa multinacional de bens de consumo. Ganho fácil com operação casada de mercado à vista e derivativos, difícil errar. Márcio, te dou uma comissão de 1% se você ficar aqui monitorando o mercado para mim, disse Reginaldo. Fique de olho na planilha, e se acender alguma luz vermelha você me liga.
Foi para entrevista com um pé em cada canoa. De um lado o mirabolante mundo dos ganhos fáceis; do outro, a árdua tarefa de arrumar um emprego. Afinal, o casamento estava marcado.

Começou a entrevista e Reginaldo percebeu que seu celular estava sem sinal. Suou frio e perdeu a concentração bem como qualquer chance de receber uma proposta de trabalho. Saiu correndo para ligar para casa e gelou ao ouvir as inúmeras mensagens desesperadas do irmão comissionado. O mercado tinha virado com a descoberta do pré-sal, as gregas abriram, houve chamada de margem e Márcio, sem titubear, zerou as posições com 80% de prejuízo! Era tarde demais.

Os sonhos construídos nas últimas semanas ruíram como a fragilidade de um castelo de areia, junto com os sonhos maritais de Reginaldo e Mônica.

Do surgimento da internet veio a facilidade de acesso às mais diversas informações. A Geração Y mergulhou no mundo virtual e o acesso à bolsa via plataforma eletrônica de home broker cresceu vertiginosamente. Estima-se hoje que aproximadamente 200 mil investidores entre 16 e 35 anos trocam suas posições diariamente na Bovespa, algo como 8% do volume mensal de negociação, ou R$ 8 bilhões. A expectativa de ganhos rápidos e fáceis é um atrativo para uma geração afoita que consegue ouvir música, trabalhar, acessar o Facebook ao mesmo tempo em que opera seu capital nos mercados.

Não sou contra o uso do home broker e para cada regra há exceções com a revelação de talentos. Por outro lado, a grande maioria costuma tomar um tombo grande para depois reavaliar. Já ouvi muitas histórias parecidas – óbvio que usei aqui um exemplo caricato – e todas tem um ponto em comum: investidores educados que vão ganhando confiança com o tempo e percebem, de uma maneira bem cara, que o mercado financeiro é ambiente para profissionais. Operar sozinho é como auto-medicação. Começamos com uma simples aspirina e, em pouco tempo, o farmacêutico indica aquele remédio novo para dor nas pernas. Doses erradas, combinação com outros medicamentos e efeitos colaterais são os ingredientes para comprometer a saúde física.

Não vamos também comprometer a saúde financeira e mental. Para operar sozinho, use uma quantia pequena para brincar e se divertir. Deixe a gestão do seu patrimônio para profissionais! Sabemos que o ser humano tem o viés de esquecer as perdas e de dar mais valor aos ganhos, o que dificulta a auto-análise e a visão real de que sozinho é muito difícil ganhar dinheiro na bolsa com consistência e segurança de longo prazo.

Esperamos que Reginaldo tenha aprendido uma lição, pois o primeiro prejuízo costuma ser o menor e, quem sabe, com sorte e um bom gestor ele e Mônica possam comemorar o primeiro ano de casados com muito estilo.

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Frederico Mesnik é gestor de recursos, mestre em Administração de Empresas pela London Business School, especialização em Finanças pela Universidade de Chigago, GSB, e escreve no Blog do Mílton Jung