Júlio Araújo
Ouvinte da CBN

Nos meus tempos de criança, ouvia muito os meios de comunicação dizerem: “São Paulo, a cidade que mais cresce no mundo”. O presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, quando veio em visita ao Brasil, estava ansioso para conhecer a cidade, principalmente para conferir esse slogan. Foi em fevereiro de 1960, eu tinha nove anos mas não atinava esse progresso, já que eu morava num bairro pacato da zona leste que nem ruas asfaltadas tinha.
De fato, muitas empresas internacionais, atraídas pelo mercado que a cidade e o país propiciaria, vieram para São Paulo, principalmente a indústria automobilística, notadamente a Ford, que se instalou no bairro do Ipiranga. Os laboratórios farmacêuticos também seriam outra atividade de muita importância na cidade com várias industrias que se instalaram na zona sul. Incluía, talvez, o efeito da frase de Juscelino Kubitschek que em campanha à presidência da República, em 1955, prometeu “Crescer 50 anos em 5 anos”
O centro da cidade erguia edifícios que futuramente seriam sedes de bancos, nacionais e internacionais, cartórios, estabelecimentos comerciais…. Com isso, outro setor que crescia bastante era o da construção civil, atraindo a migração, principalmente de nordestinos para a cidade. Na maioria, os migrantes vinham do interior da Bahia, e logo os baianos foram conquistando a cidade, de tal forma que qualquer outro migrante do nordeste que chegava seria logo chamado de baiano. Até migrante de outros estados do nordeste, ou mesmo de outra região, para os paulistanos era baiano.
Sem dúvida, o progresso desta cidade se deve muito aos migrantes que, em busca de oportunidades de trabalho para melhoria de vida, a tornaram essa potência. Outra região da cidade, a Avenida Paulista começava a se modernizar, encerrando o ciclo dos casarões, hoje com vários edifícios .
Nos anos 50, a cidade teve a sua população aumentada de 2 milhões para 3 milhões e meio de habitantes, matematicamente um aumento de 75%. E, nos anos 60, já contava com quase 4 milhões de habitantes.
Tudo isso estou dizendo para tentar explicar como a cidade de concreto, infelizmente, deixou muito pouco para a preservação da natureza. Muitos lugares da cidade, onde hoje estão situados muitos edifícios, museus e outros ícones, como se diz popularmente: “era tudo mato”
Eu vivi em meio ao crescimento da cidade. Tudo acontecia e não cheguei a conhecer locais cuja preservação da natureza estava estabelecida. Já havia o Parque Ibirapuera mas, pelo que sei foi uma obra planejada para os festejos do Quarto Centenário de são Paulo.
Embora eu já tenha ouvido reivindicações de estudo do parque atribuído a outros paisagistas, oficialmente o projeto e concepção das áreas verdes é de Roberto Burle Marx, que teve também participação de Otávio Augusto Teixeira Mendes.
Temos o Parque da Aclimação , com suas garças maravilhosas, Parque do Carmo, Parque Buenos Aires, Praça da República (que já foi até local de touradas), mais recentemente Parque Augusta e outros, que são excelentes mas não me trazem a sensação de estar em contato com a natureza em seu estado mais puro. A revitalização do Rio Pinheiros, bem recente, está trazendo algo positivo em termos de local que se pode usufruir da natureza em São Paulo.
Porém, e sempre existe um porém, como dizia o dramaturgo Plinio Marcos, na verdade, um local que tem algum tempo que descobri e que frequento com certa assiduidade, acredito que trás o objetivo da narrativa ao encontro do tema proposto. Está localizado no bairro do Ipiranga, mais precisamente nos fundos do prédio do Museu, o Bosque, ou Bosque do Museu do Ipiranga, reconhecido pela importância enciclopédica da Wikipédia .
É fantástico apreciar a quantidade de vegetação do bosque formada por araucárias, pau-ferro (que os índios na língua tupi chamavam de Ubiratã) paineiras, árvore de borracha, amendoim acácia (essas que pesquisei) e árvores de frutos comestíveis, e muitas outras que me rendo pela minha total falta de conhecimento de botânica
Em pesquisa que realizei na internet, para se ter uma ideia, das 160 espécies localizadas no museu, 91 aparecem no Bosque. Algumas, mais precisamente 18, estão registradas em lista da União Internacional para a Conservação da Natureza na categoria de espécies ameaçadas de extinção (triste). Parece pouco, como o texto descreve, mas indica a falta de comprometimento do homem em preservar a natureza. Além desse aspecto, o texto denuncia que o bosque vem sofrendo com a perda de sua vegetação original muitas vezes pela interferência depredatória do homem, que não observa os limites de descarte de plásticos e embalagens que agridem a natureza. Os fatores climáticos também influenciam nessas perdas
Outra impressão que tenho do bosque é a de que, na sua essência, nunca foi modificado em seu acervo natural. Não houve modificação no seu fulcro apenas adaptações com determinação de trilha para os frequentadores correrem ou caminharem, bem como colocação de bancos e aparelhos de ginástica na beira da trilha.
Logo na entrada principal, antes de adentrar o núcleo do bosque, bem pertinho do prédio do museu, há espaço para crianças, com playground, e algumas mesas para convescote. Os sanitários para o público também ficam nessa área.
Há outra entrada próxima do Museu de Zoologia da USP, que, aliás, por muito tempo foi dirigido pelo professor, zoólogo e compositor musical de muito sucesso , Paulo Vanzolini.
O Museu de Zoologia está localizado numa área oposta que, de imediato , apresenta ao visitante sua exuberante vegetação. Nos dias mais quentes, as árvores frondosas propiciam aquelas sombras refrescantes tornando o Bosque um lugar ainda mais aconchegante.
Sou suspeito, pois sempre que vou pra caminhada no museu, não deixo de fazer o circuito do bosque que, como eu disse, frequento há muitos anos desde quando morava no bairro de Vila Prudente (não tão distante, uns 3 a 4 km, mas eu vinha de carro)
Quando me mudei de Vila Prudente, um dos fatores decisivos na escolha de novo imóvel seria encontrar um local que eu pudesse praticar atividades físicas ao ar livre. Há 18 ano,s me mudei para o bairro do Ipiranga e distante apenas 400 metros do Bosque, que ,praticamente, é o quintal do edifício onde moro… agora, venho a pé!
Era sonho meu estar tão perto do bosque?
-“Sim , e …. foi realizado.
Julio Araujo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também um personagem de São Paulo. Escreva seu texto e envie para o email contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo