Marcas brasileiras têm ocupado cada vez mais espaço ao adotar referências culturais do próprio país para se comunicar com o público. Uma transformação em relação ao mimetismo que, historicamente, nos fez reproduzir em terras tupuniquins o que se ensinava pelas bandas do Tio Sam. É esse o tema do comentário Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, no Jornal da CBN, apresentado por Jaime Troiano e Cecília Russo.
Jaime observa que esse movimento “não se trata de um verde-amarelismo ingênuo”, nem de alinhamento político. Ele descreve um processo mais amplo, construído ao longo do tempo, em que as marcas passaram a reconhecer que durante décadas houve “uma assimetria cultural que povoou nosso marketing e comunicação”. Segundo ele, a influência de grandes multinacionais moldou estilos que não dialogavam com a realidade brasileira. Agora, sinais concretos mostram uma virada: “Quem entra numa loja da Farm sente que está no Brasil ou no Rio de Janeiro em particular”, afirma. Ele cita também a Hering, que incorporou traços da cultura nacional em suas lojas, como exemplo dessa reaproximação.
Cecília amplia a reflexão e lembra episódios recentes quando o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnic, disse que “é preciso consertar o Brasil”. Ela aponta que esse tipo de visão desconsidera caminhos próprios construídos aqui. Em contraste, lista marcas que transformaram identidade brasileira em valor estratégico. A Dengo, no chocolate, reforça vínculos com produtores de cacau. Melissa leva um estilo “urbano, com toques tropicalistas”. No segmento de bebidas, Guaraná Jesus e Cajuína preservam raízes regionais mesmo sob o guarda-chuva de empresas globais. Há ainda casos como a Ypê, que “dialoga de uma forma muito brasileira com as consumidoras”, em um mercado dominado por gigantes internacionais.
Essa escolha não rejeita influências externas; apenas equilibra paisagens culturais. Como resume Jaime, “estamos vendo uma redução da assimetria cultural”, movimento que valoriza o repertório local e amplia a autenticidade da comunicação.
A marca do Sua Marca
O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso sustenta a ideia de que marcas brasileiras ganham força quando assumem a própria origem. Cultivar comunicação, produtos e experiências inspirados em referências nacionais cria vínculos mais sólidos com consumidores e reduz a dependência de modelos importados.
Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso
O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo.
Entrevista online com Max Xavier Foto: Priscila Gubiotti/CBN
“Aproveitar adequadamente esses atributos que a natureza nos deu é fundamental para nós e pode inclusive projetar o Brasil para ser uma liderança energética mundial. E a gente precisa atuar de forma adequada para que essa potencial vantagem competitiva se materialize.” Max Xavier, Delta Energia
O Brasil pode transformar diversidade de fontes — hídrica, eólica, solar, biomassa e biocombustíveis — em vantagem concreta para consumidores e empresas, desde que avance em regulação, competição e tecnologia. Essa é a visão de Max Xavier, CEO da Delta Energia, que detalha por que ampliar a liberdade de escolha e digitalizar o sistema elétrico tende a alterar do preço à forma de consumir e produzir eletricidade.
Diversificação e visão de longo prazo
Em entrevista ao Mundo Corporativo, da CBN, Max Xavier conta que a trajetória da Delta começou no racionamento de 2001, quando dois jovens fundaram uma comercializadora no ambiente livre recém-criado. Depois, vieram expansão de carteira e diversificação: geração solar distribuída, térmica, serviços, biocombustíveis e estruturação de fundos. A aposta mais recente mira a abertura ampla do mercado — hoje restrita por regras de elegibilidade — com a criação de uma comercializadora digital. A ideia é atender o consumidor que, no futuro, poderá escolher o fornecedor de energia tal como faz com telefonia ou internet.
Xavier defende a analogia com outro setor: “O setor elétrico brasileiro deveria se espelhar muito no setor de telecomunicações, porque foi essa capacidade de escolha que o empoderou, e através da competição trouxe o setor de comunicação para um patamar bem diferenciado, em benefício do consumidor e da sociedade.”
No campo tecnológico, o executivo destaca a combinação entre novas fontes e digitalização: medidores inteligentes, mobilidade elétrica e baterias — inclusive o uso da bateria do carro para abastecer a casa em emergências — reconfiguram o papel do consumidor, que deixa de ser apenas usuário passivo para também produzir e gerenciar energia.
Brasil potência limpa: condição e tarefa
Para Xavier, o país reúne fatores naturais e industriais para atrair cargas eletrointensivas e ampliar intercâmbios com vizinhos sul-americanos. O passo seguinte é transformar potencial em prática, com planejamento e execução: “Aproveitar adequadamente esses atributos que a natureza nos deu… é fundamental… para que essa potencial vantagem competitiva se materialize.”
O setor privado, afirma, tem papel central desde os anos 1990, quando a necessidade de investimento levou à abertura ao capital. Eficiência operacional e visão de futuro importam em um setor capital-intensivo, de maturação longa e alta complexidade técnica. “Olhar para o futuro… é fundamental”, diz, ao lembrar que decisões de hoje têm efeitos por décadas.
Gente e formação para um sistema mais complexo
A digitalização amplia a demanda por profissionais capazes de cruzar engenharia, dados e estratégia. Na leitura do CEO, formação sólida é condição para navegar tendências e antecipar riscos: “Costumo sempre dizer para as novas gerações que estão chegando no setor elétrico, talvez o grande diferencial seja a qualificação. E as novas gerações, se tiverem essa formação sólida associada a uma visão sistêmica, estratégica e empreendedora, podem se beneficiar muito disso.”
A própria carreira de Xavier — do setor estatal às posições executivas após a privatização — reforça o argumento sobre base técnica, finanças e gestão. O exemplo dos fundadores da Delta, Rubens Parreira e Ricardo Lisboa, ilustra o encontro entre oportunidade, regulação e empreendedorismo, de uma comercializadora nascente a um grupo de energia com diferentes frentes de atuação.
O consumidor no centro
Com a expansão do mercado livre e a disseminação de tecnologia, a dona de casa poderá escolher o fornecedor, administrar geração solar no telhado, armazenar energia e usar a bateria do carro de forma integrada à residência. A tese de Xavier amarra regulação, competição e inovação: abrir espaço para a escolha melhora preço e serviço; redes digitais e armazenadores ampliam a confiabilidade; novas fontes elevam a segurança energética. O conjunto, diz ele, depende de execução consistente para que se traduza em ganho para a sociedade.
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O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Letícia Valente.
Bastidor da entrevista online de André Clark Foto: Priscila Gubiotti/CBN
“O Brasil é uma potência energética, não só na produção de energia, mas na cadeia de valor da energia.” André Clark, VP Siemens Energy
O Brasil está numa posição rara no mundo: tem energia renovável em larga escala, uma malha de transmissão avançada e agora começa a atrair data centers e novos investimentos porque consegue oferecer eletricidade verde e em quantidade. Mas, segundo André Clark, vice-presidente sênior da Siemens Energy para a América Latina, isso não garante por si só que o país liderará a transição energética, é preciso organizar setor privado, governo e sociedade para implementar o que o mundo já decidiu fazer em clima. Esse foi o tema central da entrevista dele ao programa Mundo Corporativo, na CBN.
Clark lembrou que o país não chegou ao atual patamar por acaso “O Brasil é um país que produz 92% da sua eletricidade de forma renovável. Não chegou aqui à toa e certamente não por acidente. Foi com políticas públicas muito bem feitas que datam da década de 60”, afirmou, citando hidrelétricas, Proálcool, eólica e solar como escolhas feitas ao longo de décadas. Ele também destacou o papel diplomático brasileiro no tema: “O Brasil é um líder geopolítico disso. Na Rio 92 inicia a discussão do conceito de sustentabilidade na sociedade e nos negócios.”
Transição energética não é teoria: é implementação
Ao analisar a preparação do país para a COP30, em Belém (PA), Clark chamou atenção para o fato de que o debate climático está mais difícil no cenário internacional, mas que isso não pode servir de desculpa para a inação. “A humanidade ainda tá lutando para não aquecer mais de 1,5ºC, mas nós estamos perdendo essa corrida e nós vamos ter que correr muito mais, eletrificando os transportes, reduzindo o consumo de hidrocarbonetos e mudando o nosso estilo de vida como pessoa. O planeta não aguenta tudo isso que nós estamos fazendo.”
Para ele, a COP30 será uma conferência de execução: “Ela celebra 10 anos do Acordo de Paris e ela é uma COP da implementação.” Por isso, o setor privado brasileiro precisa chegar unido, com propostas concretas. “A primeira lição de casa do setor privado é se unir em uma agenda comum brasileira e construtiva.”
Clark fez um alerta que interessa diretamente ao país: o mundo, hoje, corre atrás primeiro de segurança energética, e só então de transição energética. O Brasil, ao contrário, vive um momento de excesso de energia renovável — e isso também exige gestão. “O mundo não tá preparado para acumular energia em larga escala. A energia produzida tem que encontrar do outro lado um consumo. Se ele não encontra esse consumo, o operador nacional do sistema tem que fechar aquela fonte.”
Na prática, isso significa que o país precisa acelerar soluções como armazenamento, baterias, hidrelétrica reversível e, principalmente, atrair consumidores intensivos de energia — caso dos grandes data centers e, no futuro, da produção de hidrogênio verde. “Nós estamos vivendo excesso de energia. Por isso que hoje o Brasil começa a atrair data centers, grandes devoradores de energia.”
Cadeia de valor, empregos e formação profissional
Ao falar da atuação da Siemens Energy no Brasil, Clark explicou por que produzir equipamentos no país é questão estratégica: “Tudo que a gente produz são equipamentos ultracríticos para o sistema energético de um país. Ter fabricação no país é um ativo estratégico, é quase uma questão de soberania nacional.” Segundo ele, a presença industrial no Brasil permite atender emergências e ainda exportar.
Esse movimento vem acompanhado de outra transformação: a dos empregos. A transição energética, afirmou, já está criando demanda por mão de obra técnica. “A transição energética vem junto com o que a gente chama de green jobs e esse green jobs, apesar de parecer só um mistério, é eletricista, técnicos em eletrônica, programadores, programadores de sistemas energéticos… coisa que existe hoje, só que em um volume muito maior.” Ele citou, inclusive, a decisão de direcionar recursos para formação no Pará, em vez de levar uma grande comitiva à COP.
Diversidade como proteção empresarial
Na parte final da entrevista, Clark ligou transição energética, cultura e gestão de pessoas. Para ele, empresas que se afastam da sociedade correm mais riscos. “Diversidade nos enriquece, reduz os riscos e nos faz enxergar os momentos em que a sociedade muda. Os grandes incidentes empresariais na última década foram quando a empresa perdeu visão da mudança da sociedade. Diversidade conecta a empresa à realidade da sociedade.”
Ele defendeu que organizações mantenham canais abertos para ouvir mulheres, negros e população LGBTQIAP+ sobre obstáculos internos. “Não é sobre como a gente erra, é sobre como a gente corrige os nossos erros.”
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Receber um bilhete com instruções simples ou calcular o troco de uma compra é um desafio para 29% dos brasileiros. Essa parcela da população, mesmo sabendo ler, não compreende frases mais longas, não interpreta textos, nem resolve problemas básicos de matemática. O dado, que informei hoje cedo no Jornal da CBN, a partir de reportagem do UOL Educação, mostra que o analfabetismo funcional permanece estagnado no Brasil desde 2018. Pior: só 1 em cada 4 brasileiros tem habilidades digitais consideradas elevadas.
Essas estatísticas preocupam diante do futuro do mercado de trabalho, que talvez chegue antes de estarmos preparados. E não virá com o aviso de “última chamada” para quem ainda não se alfabetizou digitalmente ou sequer consegue navegar com desenvoltura em um texto.
Tem emprego para robôs
Por uma dessas coincidências propositalmente provocadas pelos editores — jornalista é para essas coisas —, os dados do Indicador de Analfabetismo Funcional antecediam duas outras notícias na newsletter Espresso. Uma delas, originalmente publicada no Axios e com complemento noBusiness Insider, mostrava que o cenário industrial aponta para uma transformação já em curso: robôs humanoides e máquinas inteligentes estão assumindo tarefas antes feitas por pessoas — da montagem de peças à inspeção de qualidade em linhas de produção. Não pedem aumento, não entram em férias, não exigem plano de saúde. A economia para empresas é tão atrativa que, segundo estimativas, só no setor automobilístico a mão de obra automatizada pode gerar uma economia de até US$ 100 por carro.
Até 2030, cerca de 20 milhões de empregos industriais devem ser substituídos por robôs. E até 2050, o mundo poderá conviver com 1 bilhão de robôs em operação — a maioria dentro de fábricas. Essa mudança é inevitável. Mas não necessariamente é ruim para quem estiver pronto para comandar as máquinas, em vez de ser por elas substituído. Se você tem medo de ser trocado por um robô, talvez devesse começar a pensar em como se tornar o chefe dele. Tem vaga!
Os motivos vão além da remuneração. Mesmo com salários médios de US$ 16 milhões ao ano, muitos líderes decidiram trocar a sala de reuniões pelo tempo com a família, descanso ou, simplesmente, saúde mental. A pressão das mudanças pós-pandemia, o avanço da inteligência artificial, novas demandas por diversidade e o risco constante de exposição pública fizeram do cargo dos sonhos um lugar evitado até por quem chegou lá.
O curioso é que essa debandada não tem sido acompanhada por uma fila de sucessores prontos. Profissionais mais jovens, especialmente da Geração Z, não compartilham a ambição de escalar a pirâmide corporativa. Arrisco pensar que os velhos executivos e os novos profissionais fogem daquele que é o maior desafio dos líderes modernos: gerenciar seres humanos e suas idiossincrasias. Isso abre uma lacuna real e simbólica: os robôs sobem nas engrenagens da produção; os humanos descem — ou saem da fila antes de chegar.
O Brasil tropeça no alfabeto
É nesse ponto que voltamos ao Brasil, onde quase três em cada dez adultos não têm domínio suficiente de leitura e matemática para lidar com exigências básicas da vida cotidiana; onde apenas 6 em cada 10 universitários conseguem compreender textos complexos; onde a pandemia agravou ainda mais o distanciamento entre o discurso de inovação e a realidade da educação básica; e onde apenas um quarto da população é capaz de usar com desenvoltura ferramentas digitais — um pré-requisito elementar para ocupar os cargos que restarão ou que surgirão.
Enquanto, nos Estados Unidos, empresas tentam encontrar alguém disposto a liderar times humanos e tecnológicos, por aqui, boa parte da população ainda precisa ser equipada com o básico para se manter no jogo.
Antes de sonhar com o comando, leia o manual
O futuro do trabalho não é um conceito abstrato. Ele está nos robôs invisíveis das fábricas, nas renúncias silenciosas dos líderes, nos formulários que muitos brasileiros não conseguem preencher. Preparar-se para ele exige mais do que cursos de liderança ou promessas de inovação. Exige, antes, enfrentar o analfabetismo funcional — e dar às pessoas as ferramentas básicas para escrever seu próprio destino no mercado.
Porque, se o mundo caminha para ser liderado por quem entende de gente e saiba administrar algoritmos e máquinas, é melhor estar entre aqueles que mandam — e não entre os que apenas assistem, sem conseguir entender a legenda.
Durante décadas, marcas brasileiras se moldaram pela lógica da cópia — de filmes publicitários a estratégias de posicionamento — numa tentativa de reproduzir modelos estrangeiros como se a receita funcionasse universalmente. Mas esse cenário começa a mudar. A apropriação legítima da cultura nacional tem ganhado espaço no universo do branding. É o que apontam Jaime Troiano e Cecília Russo no comentário desta semana do quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, no Jornal da CBN.
Jaime Troiano relembra um tempo em que era comum replicar campanhas internacionais, sob a falsa premissa de que o sucesso em um lugar lá fora garantiria o mesmo resultado no Brasil. “A sensação era de que tudo serve para tudo, e não é verdade”, afirma. Ele cita o economista Eduardo Giannetti para explicar a tensão entre o comportamento mimético — o que copia — e o profético — o que nasce das raízes culturais. E vê sinais de reequilíbrio: “Quando eu entro numa loja da Farm ou penso na Embraer, no Itaú, no Boticário, sinto um forte sopro de brasilidade”.
Cecília Russo acrescenta exemplos da valorização da identidade nacional no varejo, na gastronomia e nas expressões culturais. Menciona a marca Misci, que traduz no vestuário o ‘suco do Brasil’, e o caso do chocolate Dengo, que transforma o cacau brasileiro em símbolo de identidade e sofisticação. “A nossa cultura está invadindo o espaço do branding”, diz ela, reforçando que “as marcas se alimentam dessa mesma raiz e do sentido de orgulho que elas inspiram”.
A força dessa mudança está também nas figuras públicas que atuam como marcas vivas da cultura nacional — como Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Raíssa Leal, Rebeca Andrade, Isaquias Queiroz e Bia Haddad. “Essas pessoas são hoje expressões do Brasil que impactam o mundo e inspiram o fortalecimento de marcas com alma brasileira”, afirma Cecília.
A marca do Sua Marca
Marcas que mergulham na cultura brasileira e a celebram genuinamente constroem identidade sólida e alimentam o orgulho coletivo de ser brasileiro.
Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso
O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo.
São Raimundo 1 (1) x (4) 1 Grêmio Copa do Brasil – Canarinho, Boa Vista, RR
Volpi, o protagonista. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA
A partida era contra o vice-campeão estadual de Roraima. O estádio acanhado, de gramado irregular, tinha espaço para cerca de 5 mil torcedores — lembrava mais um campo de várzea do que um palco para um gigante do futebol brasileiro. Em campo, o desequilíbrio era evidente no papel: qualquer jogador gremista que pisou no gramado ganha, ao fim de um ano, mais do que toda a folha salarial do adversário. Mas isso não bastou para dar ao Grêmio superioridade enquanto a bola rolava.
O time produziu pouco no ataque, sofreu com a falta de entrosamento e saiu atrás no placar, castigado por um contra-ataque no segundo tempo. Por muito pouco, não voltou para Porto Alegre com um vexame na bagagem, após cruzar quase 10 mil quilômetros de distância. Uma eliminação precoce na primeira rodada da Copa do Brasil seria um golpe duro para a autoestima do torcedor e para as expectativas na temporada de 2025.
Foi só nos acréscimos, aos 47 do segundo tempo, já com um jogador a menos depois da expulsão de Edmilson, que o Grêmio conseguiu acertar o gol. E a bola entrou. Cristian Oliveira, o uruguaio recém-chegado, matou no peito após a sobra de um escanteio, bateu firme e colocou no ângulo, sem chances para o goleiro. Mesmo considerando as diferenças técnicas, financeiras e estruturais entre os dois times, arrisco dizer que a mística da imortalidade se insinuava ali.
Mas a classificação ainda exigiria mais um teste para os nervos. O novo regulamento da Copa do Brasil determina que, nas fases iniciais, um empate leva a decisão para os pênaltis. Foi quando, enfim, a superioridade gremista apareceu.
Braithwaite, Jemerson e Arezo converteram com segurança. O São Raimundo desperdiçou a primeira cobrança chutando para fora. Depois, Thiago Volpi brilhou: defendeu a terceira batida e assumiu a responsabilidade na última cobrança. Bateu com categoria, definiu a classificação e evitou um fiasco.
Diante do que se desenhava ao longo da partida, a se comemorar o fato de o Grêmio não ter desistido em nenhum momento. Teve jogadores com frieza para converter os pênaltis e um goleiro que não apenas defendeu, mas decidiu. Foi mais sofrido do que deveria, mas o alívio final lembrou que, no futebol, por vezes, a glória nasce no limite do desespero. “É a Copa do Brasil”, disse Volpi com um sorriso no rosto.
A recente revogação, pelo governo norte-americano, de um decreto do ex-presidente Joe Biden, que visava garantir o uso seguro, protegido e confiável da IA nos EUA, representa uma mudança substancial na política norte-americana, ao extinguir, em nível federal, o arcabouço regulatório que Biden havia implementado para coordenar o setor de IA. Na prática, as empresas que atuam com IA podem enfrentar, agora, um cenário de incerteza regulatória, tendo em vista a possibilidade de surgirem padrões díspares tanto em âmbito estadual quanto internacional.
Sem um direcionamento federal unificado, diferentes estados e órgãos reguladores estrangeiros poderão estabelecer exigências diversas, potencializando a complexidade do compliance para organizações que desenvolvem e aplicam IA. Além disso, a falta de diretrizes uniformes pode acarretar lacunas na governança de dados, aumentando o potencial de vieses, falhas de segurança cibernética e utilização indevida de informações sensíveis.
Não obstante, empresas que adotarem padrões internos mais elevados de ética e segurança de dados, ou aquelas sediadas em países como o Brasil, que já possuem ou estão implementando legislações abrangentes para regulamentar o uso e o desenvolvimento de sistemas de IA, podem enfrentar desvantagens competitivas em relação àquelas que seguirem critérios menos rigorosos.
No âmbito nacional, em 10 de dezembro de 2024, o Congresso Nacional aprovou, no Brasil, o PL 2338/23 (“PL”), que estabelece normas gerais para o desenvolvimento e o uso ético e responsável da IA. Em contraste com a recente revogação da ordem executiva de Joe Biden nos EUA, essa legislação reforça a centralidade da pessoa humana e a proteção de direitos fundamentais como pilares de governança, além de introduzir a figura do Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial (“SIA”).
O PL tem como objetivo estabelecer diretrizes para a implementação de sistemas de IA seguros, confiáveis e alinhados ao respeito à privacidade, à inclusão e à não discriminação, além de prever a classificação de sistemas de alto risco e medidas como avaliações de impacto algorítmico e transparência nos processos decisórios automatizados, especialmente naqueles empregados no funcionamento de infraestruturas críticas, como controle de trânsito e redes de abastecimento de água e eletricidade.
Num cenário de rápidas transformações globais e de inovações disruptiva,s já evidenciadas nos últimos anos com a própria disseminação de ferramentas de IA, a decisão do novo governo dos Estados Unidos e a recente aprovação do PL no Brasil revelam caminhos contrastantes na abordagem regulatória da tecnologia. Enquanto o Brasil busca estabelecer um arcabouço sólido que equilibre inovação tecnológica e proteção de direitos fundamentais, a revogação norte-americana reabre o debate sobre a relação entre liberdade regulatória e os riscos éticos e sociais associados ao desenvolvimento de IA.
Esses movimentos ressaltam a importância de se refletir sobre as prioridades que cada país define em relação à inteligência artificial: como promover avanços tecnológicos sem comprometer valores éticos e democráticos? A resposta a essa pergunta moldará o impacto da IA em nossas sociedades e os desafios que teremos de enfrentar no futuro.
Pedro Capello é advogado no DSA Advogados – Donelli, Nicolai e Zenid Advogados
No Conte Sua História de São Paulo, o ouvinte da CBN Marcos Antonio Afoloti, entre outras lembranças, destaca as lojas inovadoras da cidade:
Nasci em 5 de setembro de 1952, no bairro Vila Munhoz, Vila Maria. Em 1959, comecei o curso primário nas Escolas Agrupadas de Vista Alegre, pertinho de casa. Ia a pé pelas ruas sem asfalto, mas com muito segura. Após quatro anos, para ingressar no ginasial, precisei fazer o exame de admissão, semelhante ao vestibular. Estudei na Escola Estadual José Maria Reys, referência em ensino público.
Em 1963, acompanhava minha mãe para um tratamento no Hospital Padre Bento, em Guarulhos, viajando no trem da Cantareira, que partia da estação Pauliceia, passando por Jaçanã e Vila Galvão. Entre 1964 e 1965, nas férias de julho, íamos a São Carlos no trem da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, saindo da Estação da Luz. As paisagens rurais, com os laranjais de Limeira, são lembranças inesquecíveis.
De 1966 a 1968, nossa diversão era assistir, em casa, com os vizinhos à novela Redenção, da TV Excelsior, em um moderno aparelho Telefunken.
Em 1968, comecei a trabalhar como office boy, com registro em carteira profissional de menor, no edifício Rio Branco, na Barão de Itapetininga. Andava por todos os cantos entregando correspondências. Passava em frente a loja Pitter, a Mesbla e a Clipper, que inventou o Dia dos Namorados.
Já adulto, fui convocado a trabalhar como mesário e cheguei a presidente de mesa nas eleições da década de 70, quando os votos ainda eram em cédulas de papel. No fim do pleito, era minha responsabilidade entregar as urnas no Acre Clube, no Tucuruvi, encerrando mais um marco da cidadania paulistana.
Ouça o Conte Sua História de São Paulo
Marcos Antonio Afoloti é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.
(os textos originais, enviados pelos ouvintes, são adaptados para leitura no rádio sem que se perca a essência da história)
Arezo em tentativa de ataque é destaque em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA
Jogar às dez da noite pelo Campeonato Gaúcho é proibitivo. Protesto feito, vamos ao que interessa: a desinteressante performance gremista contra o primeiro time da Série A que enfrentou na temporada.
Chegamos à partida na Serra Gaúcha após uma sequência de vitórias, goleadas e novidades na forma do time se movimentar em campo. Havia entusiasmo nas arquibancadas, especialmente pelas mudanças de comportamento de alguns jogadores sob novo comando.
Na última edição desta Avalanche, alertei o caro e cada vez mais raro leitor, citando minha mãe, Dona Ruth: “Devagar com o andor que o santo é de barro”. A temporada estava apenas no início, e os adversários eram, em sua maioria, de divisões inferiores – constatação feita sem desrespeito, apenas baseada na posição deles no ranking nacional. A superioridade gremista era evidente e justificável.
Diante disso, o confronto desta quarta-feira trouxe um choque de realidade. Mesmo sem o time titular, o Grêmio enfrentou uma equipe mais bem organizada, que marcou a saída de bola, jogou com velocidade e mostrou talento. O resultado? O time tricolor foi inferior e incapaz de resistir à pressão, apesar de ter desperdiçado algumas boas oportunidades no primeiro tempo. Sofreu seus dois primeiros gols na competição, fruto de falhas na marcação que passaram despercebidas nos jogos anteriores muito mais pela fragilidade dos adversários do que por méritos defensivos do Grêmio.
Essa foi uma dura realidade para o Grêmio – e não deve ser ignorada. A boa notícia é que veio na hora certa. Quinteros, diante do que assistiu, poderá ajustar a equipe para o Gre-Nal, que, afinal, é o que realmente importa.
São Paulo não é apenas uma cidade; é uma marca que representa diversidade, cultura e resiliência. Essa foi a reflexão central do comentário de Jaime Troiano e Cecília Russo no quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, que foi ao ar no Jornal da CBN. Aproveitando os 471 anos da capital paulista, os comentaristas analisaram como cidades podem ser percebidas como marcas, destacando a singularidade de São Paulo.
Cecília Russo lembrou que a construção de uma marca vai além de cores e símbolos. “São Paulo tem uma identidade que comunica coisas para as pessoas”, afirmou, destacando a pluralidade como uma das principais características da cidade. Para ela, São Paulo é um mosaico de contrastes: “Casas baixas e prédios altos, riqueza e pobreza, avenidas largas e vielas que nos levam de volta no tempo.”
Jaime Troiano ressaltou o papel da cultura como um traço marcante da identidade paulistana. “Quem nunca se encantou com a Virada Cultural ou se surpreendeu com a variedade de eventos, shows e exposições que acontecem aqui?”, questionou. Ele também destacou o lema presente no brasão da cidade, Non ducor, duco (não sou conduzido, conduzo), como símbolo da liderança e iniciativa características de São Paulo. “Aqui, as coisas fervilham, acontecem.”
A marca do Sua Marca
O comentário destacou que uma cidade, assim como uma marca, é construída coletivamente. “A gestão dessa identidade cabe à prefeitura, mas também a todos nós, cidadãos e cidadãs de São Paulo”, concluiu Cecília. O legado cultural, a diversidade e a capacidade de acolher pessoas de diferentes origens são as marcas que fazem São Paulo ser o que é: um lugar único que pulsa com vida e significado.
Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso
O quadro vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo. A sonorização é do Paschoal Júnior.