Joao Coppa
Ouvinte da CBN

Os bondes que usávamos estavam sempre cheios de pessoas andando em pé nos estribos. Quando a gente não tinha dinheiro, era preciso fugir dos cobradores, que andavam em volta do bondes mesmo quando em movimeto. A maioria dos cobradores de bondes era de portugueses .
Nasci em São Paulo, no bairro do Cambuci na Rua José Bento, lá pelos anos de 1930. A ruas do bairro eram de terra, onde se faziam fogueiras na época de São João. A festa durava a noite inteira e o melhor momento era o de pescar com uma varetinha as batatas doces no meio da fogueira.
Tinham também pinhões assados e pipocas, além do gostoso quentão, só para maiores Os balões coloridos passeavam à vontade lá entre as estrelas, e, às vezes, caiam, por sorte, perto da gente.
De vez em quando ouvia-se um tilintar de sinos e lá vinha uma porção de cabras, lideradas por um bode. Eram os vendedores de leite de cabra, que por uns trocados nos forneciam um copo de leite ainda quente, pura delícia!
Nos fundos da vila de casa onde morávamos, passava uma valeta, onde, nos campos em redor, meu pai catava cogumelos, que minha mãe fritava.
Todos os dias, no cair da tarde, enxames de pernilongos vinham atacar, e minha mãe costumava, acender jornais dentro de uma bacia, a luz atraía os insetos que morriam no calor. Ainda não havia inseticida.
Fomos morar depois na rua do Paraíso, onde meu tio tinha uma loja de armarinhos, em que se vendia fazendas em peças, roupas, linhas e agulhas. Comecei a trabalhar nessa loja enquanto frequentava o curso primário no Grupo Escolar Rodrigues Alves, que ainda existe lá na avenida Paulista. Eu fazia entregas da loja, alem de varrer, arrumar as mercadorias. As entregas me levavam longe, lá para o bairro da Aclimação. Para chegar até lá tinha de atravessar a mata que hoje é a avenida 23 de Maio. Pura aventura! No meio tinham bicas d’água sempre geladinha, frutinhas silvestres, moranguinhos e amoras, coquinhos e pitangas.
Naquele tempo, o Carnaval era festejado na Paulista, e os carros enfeitados com os foliões vinham da Consolação e faziam a volta na Praça Osvaldo Cruz, que só tinha uma única via, e alguns casarões no entorno.
Durante a Segunda Guerra, as padarias não tinham trigo para fazer o pão e de vez em quando produziam um pão preto e intragável. Gasolina também não tinha, e inventaram o carro a gasogênio, que funcionava a carvão e soltava uma fumaça preta e mal cheirosa.
Chegando nos anos 1950, na Praça da Bandeira, onde é hoje o terminal de ônibus, havia o Circo de Alumínio, que era também um parque de diversões. Naquele tempo, o Palhaço Piolin e sua turma faziam as brincadeiras no seu próprio circo, na praça Marechal Deodoro.
Já na esquina da São João com a Ipiranga, grande filas se faziam para entrar nos belos cinemas: o cine Art-Palácio, o Paisandu, o Ipiranga e o belo Cine Metro, onde os homens só entravam de gravata ao lado de mulheres bem chiques.
Todas essas coisas e lembranças boas que o tempo deixou para trás.
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Joao Coppa é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Daniel Mesquita. Seja você também uma personagem da nossa cidade. Venha participar da edição especial do Conte Sua História de São Paulo, em homenagem ao aniversário da cidade. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos visite o meu blog miltonjung.com.br ou ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.