Por Adamo Bazani
Do transporte de cargas ao transporte de passageiros, muitos motoristas sentem na pele a diferença. Por causa das instabilidades da estrada, por falta de segurança, de horários e ganhos definidos, muitos motoristas de caminhão e, até mesmo, de carretas que transportam cargas perigosas optam por mandarem currículo, pedirem a indicação de amigos com a intenção de arrumar emprego em uma empresa de ônibus.
Pensam que a situação vai ser melhor. Quando a linha é urbana, o trabalho é perto de casa, há horários previstos, e uma série de outras facilidades. Mas quando pegam um ônibus pela primeira vez veem que o transporte de passageiros nas cidades não é para qualquer um, é difícil e exigem qualificação específica.
Foi esse o impacto que sentiu o motorista da Viação Januária, hoje inspetor de tráfego, Natanael Lopes da Silva, de 66 anos. Estava acostumado com as longas viagens, boa parte das vezes entre o interior paulista e o Porto de Santos.
“Tem de trabalhar muito pra ter um lucro. Então, em 1972, consegui uma vaga na empresa Barão de Mauá. Meu primeiro dia de trabalho me surpreendeu. A carga a gente põe no caminhão e vai embora, é claro, tem de ter alguns cuidados, mas no ônibus urbano, a gente tem de estar ligadão a toda hora. Isso nos anos 70, que o trânsito era bem melhor, imagine hoje”.
Natanael começou dirigindo um ônibus Scania, carroceria Carbrasa, que hoje não existe mais. O veículo era duro e pesado, mas não muito diferente dos caminhões. A diferença estava na indispensável atenção ao passageiro.
“É gente pedindo informação, é parando toda a hora, é cuidado para não engatar a marcha enquanto tem passageiro desembarcando…Meus primeiros meses dentro de um urbano foram um batismo, um vestibular mesmo”
Outra diferença, segundo ele, é acompanhar de perto a rotina das pessoas, sendo possível fazer muitos amigos, e também o crescimento das cidades. Bairros praticamente desabitados em Mauá, como Itapeva, Nova Mauá, Itapark, que tinham estreitas ruas de paralelepípedos ou eram estradinhas de barro e muito atoleiro, se tornaram regiões fortemente adensadas.

