A produção do novo combustível está em fase de teste, é mais simples que de outros biodiesel e o motor reduz em até 9% a poluição no ar.
Por Adamo Bazani
Quem pensa que cana de açúcar só abastece veículos com etanol está enganado. Da cana também pode ser feito diesel para caminhões e ônibus, mais barato que o derivado de petróleo e com vantagens ecológicas.
Quer outra boa notícia ? O que era apenas estudo, passou para a fase de testes. Em parceria com a Amyris Brasil, a Mercedes Benz já testou o biocombustível da cana de açúcar em motor para ônibus. A Amyris é subsidiária da americana Amyris Biotechnologies, especializada em produtos renováveis, que testa tecnologias próprias para a fabricação de combustíveis com maior benefício ambiental para transportes público. Foram investidos no projeto brasileiro mais de 100 milhões de dólares.
A obtenção do biocombustível para os ônibus a partir da cana de açúcar é mais simples e barata do que em relação a outras matérias primas, está escrito nos estudos apresentados. A produção é semelhante a do etanol. Mas no processo de fermentação da cana, através da introdução de levedura geneticamente alterada, é possível obter óleo do caldo da cana. Este óleo, derivado do processo de fermentação com a levedura, é submetido a tratamento químico, criando estrutura molecular de hidrocarbonetos, que é semelhante a do derivado do petróleo. Assim, é possível aproveitar toda a cana de açúcar, tanto para o álcool (etanol) como para o diesel.
Essa estrutura molecular é a farneceno, que possui 12 átomos de carbono, com as características do diesel, mas sem misturas agressivas à saúde e ao meio ambiente, como com o enxofre. A fumaça emitida é renovável, ou seja, é absorvida pela vegetação no processo de fotossíntese.
É possível produzir o diesel da cana nas mesmas usinas em que há produção de açúcar ou álcool, basta mudar a levedura usada na fermentação.
Os testes até agora, segundo a Mercedes Benz, foram satisfatórios. Num tanque de ônibus foram colocados 90% de diesel comercial comum (S 50) e 10% do diesel da cana de açúcar. A proporção do combustível limpo parece ser pequena, mas a montadora explica que foi o suficiente para reduzir em até 9% das emissões de materiais particulados na atmosfera.
Ainda de acordo com a Mercedes Benz, o desempenho dos motores com o diesel da cana é exatamente o mesmo dos abastecidos somente com o diesel comum. Não foram detectadas quaisquer diferenças de desempenho quando os dois tipos de abastecimento foram comparados.
A vantagem é que qualquer motor a diesel pode receber o combustível novo, sem a alteração das características de fábrica ou mudanças na frota. Além disso, os custos totais de abastecimento da frota são reduzidos com a mistura.
A intenção agora é ampliar os estudos para aumentar a proporção do diesel de cana de açúcar na mistura e reduzir ainda mais os custos com combustível e os índices de poluição.
Adamo Bazani é jornalista da CBN, busólogo e escreve às terças no Blog do Mílton Jung, sempre com a expectativa de andar em ônibus menos poluentes.
