Quanto choro, ai, quanta agonia

 

Por Airton Gontow

(Nesta marchinha verdadeira,  quem marcha durante o ano inteiro somos nós, o Bloco dos Otários, dos motoristas de São Paulo que passam horas e horas diárias no trânsito. Neste desfile de descaso, nossas autoridades atravessam no Samba e em Sampa, em um verdadeiro Carnaval de incompetência. Sorte que temos humor e, claro, a mídia para comandar nosso grito, não apenas da Avenida, mas também nas ruas e ruelas de São Paulo…)

Quanto choro, ai, quanta agonia.
Mais de 100 mil palhaços no piscinão;
Motorista está chorando pelo descaso das autoridades.
No meio da Marginal.

Foi ruim sofrer outra vez
Tá terminando o dia
E o trânsito ainda não melhorou.
E sou aquele cidadão
que paga impostos
como o IPVA, meu senhor!

Os mesmos caras de pau
Que escondem a verdade
Eu quero acabar com a impunidade!
Vou protestar agora, não me leve a mal, não é Carnaval…
Vou protestar agora, não me leve a mal, não é Carnaval…

Conte Sua História: Carnaval da Vila Esperança

 

CBN SPNos próximos dias, estarei pagando uma dívida com o Conte Sua História de São Paulo e seus protagonistas. Com as férias, deixei de publicar no blog vários dos capítulos que foram ao ar nas edições de sábado, do CBN SP. Por isso, caro e raro leitor deste espaço, você terá a oportunidade de acompanhar, a partir de hoje, textos de ouvintes-internautas, lidos por mim e sonorizados pelo Cláudio Antônio.

Estas histórias foram enviadas por escrito para o site do Museu da Pessoa, nosso parceiro desde o início do ano. Você também pode participar deste projeto gravando o seu depoimento em áudio e vídeo na sede do Museu. Para isso, agende uma entrevista pelo telefone 2144-7150 e conte sua história de São Paulo.

O Carnaval da Vila Esperança

Ana Maria dos Santos nasceu em 1956 em São Paulo. Quando criança, não conheceu seu pais. E uma série de coincidências curiosas a levaram a acreditar que finalmente havia revelado esse segredo. Ela contou sua históira ao Museu da Pessoa em janeiro de 2010:



Ouça a história de Ana Maria dos Santos sonorizada por Cláudio Antônio

Quando nasci, isso a mais de 50 anos, minha mãe estava sem condições e encontrou uma mulher muito bondosa para me criar. Essa senhora morava, então, na Rua Maria Carlota, na Vila Esperança. Essa rua ainda não havia sido asfaltada e, na época que asfaltaram, virou a alegria da molecada e a tristeza das mães, com surras e tudo, pois o danado do piche grudava em nós e em nossas roupas, dava o maior trabalho para tirar. Isso quando saía.



A filha da minha mãe de criação me batizou, era a minha madrinha muito querida, e de vez em quando eu falava que queria ter um pai. Às vezes, elas me arrumavam um (acho que era um parente distante do interior) e lembro que recebemos a visita da comadre que elas tanto falavam. Foi quando ela me contou que era a minha mãe verdadeira e que eu tinha de recebê-la (pensava que o nome dela era Rosa Maria?!).



A partir daí comecei a me esconder quando ela vinha me visitar. Eu simplesmente sumia. Até dentro de um cesto de vime enorme eu me escondia, tanto era o pavor que ela me levasse embora. Porém, aos meus sete anos ela teve que me levar para estudar num internato em Pinheiros. Aos onze anos, fugi com mais duas meninas, por causa dos maus tratos desse colégio de freiras, correndo a pé pela rua Cardeal Arcoverde, de Pinheiros até o Pacaembu. Foi tragicômico, pois a família que deu garantias que nos abrigaria, e era também o único lugar mais perto que eu sabia como ir, era do diretor da instituição.



Tudo isso para tentar voltar para minha Vila Esperança. Era fevereiro e eu queria também matar a saudade do meu querido e velho carnaval da infância, que subia pela Rua Evans e descia pela Rua Maria Carlota: as matinês, a batalha de confetes, eu tinha de ir.



Como naquela época eu não tinha muita aproximidade física, afetiva, com minha mãe verdadeira e estava muita revoltada por causa da ida pro colégio interno, apesar dos esforços dela para fazer algo por mim, quase não conversavámos. Sabia muito pouco sobre ela, somente que trabalhava demais como empregada doméstica. Um dia, mexendo em seus documentos, li que seu nome era Maria Rosa!? Aí eu, muito infantil, quando escutei a música, marchinha de carnaval do Adoniran Barbosa, “Vila Esperança” – “Foi lá que conheci Maria Rosa, meu primeiro amor/Primeira Rosa, primeira esperança, primeiro carnaval, primeiro amor, criança”.



Criança!? Pensei: sou eu!! Pensei comigo: “Desvendei a segredo da minha mãe!” Que ilusão de mente fértil! Só dando risada mesmo. Mas a Esperança, o carnaval, ainda moram bem profundamente nesta velha criança. Por outro lado, até hoje não consigo cantar essa música inteira até o fim sem conter o choro. Nos últimos anos de vida da minha mãe, conseguimos restaurar muita coisa, principalmente a compreensão.

Conte Sua História de São Paulo: Café no centro

 

Veronice Ribeiro (à direita) fala a CBNMuseu da Pessoa

O sanduíche com guaraná, aos 7 anos de idade, apreciados em um café no centro de São Paulo, ainda estão na lembranca da ouvinte-internauta Veronice Ribeiro que gravou seu depoimento para o Conte Sua História de São Paulo. Ela nasceu no Ipiranga, ainda na década de 40, e relembra parte da festa do quatro centenário da capital, além das marchinhas de Carnaval que embalavam os foliões nas ruas da cidade

Ouça a história de Veronice Ribeiro sonorizada por Cláudio Antonio

Você também pode participar deste quadro que vai ao ar aos sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no CBN SP. Agende um entrevista pelo telefone 011 2144-7150 ou no site do Museu da Pessoa e Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de SP: Carnaval, não; dança de salão

 

Entrevista_05

Foi no salão de festas da Igreja Nossa Senhora da Lapa, na zona oeste de São Paulo, que a paulistana Elisa Vicenza Imperatrice descobriu o quanto a música e a dança podem ser determinantes na nossa vida – “revigorante”, como ela própria descreve no depoimento gravado pelo Museu da Pessoa para o Conte Sua História de São Paulo. Antes de se apaixonar pelas valsas vienenses, Elisa também se divertia nos bailes de Carnaval, mas não passava de uma brincadeira de menina:

Ouça o depoimento de Elisa Vincenza Imperatrice com sonorização do Cláudio Antonio

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no CBN SP. Você também pode contar mais um capítulo da nossa cidade. Agende um depoimento na sede do Museu da Pessoa pelo telefone 011 2144-7150 ou pelo site www.museudapessoa.net.

Foto-ouvinte: O Menino e o Carnaval

Imagem de O Menino e o Catavento, centro de São Paulo (Devanir Amâncio) 

O menino e seu olhar ingênuo para o catavento não resistiram ao entuasiasmo do Carnaval. Vestido com um camisa rosa desbotada, quase branca de tão lavada,  e uma cueca esfarrapada, fez graça a todos que passeavam no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. A travessura só era completa aos curiosos que teimavam em dar a volta na obra de O.M. di Palma e avistavam os fundilhos pretos ressaltados pelo vermelho do pano da cueca.

A cena foi registrada por Devanir Amâncio, da ONG Educa São paulo, na segunda de Carnaval. Tendo passado as festas de Momo, bem provável o menino já se despiu da fantasia.

UCI atravessa o filme no domingo de Carnaval

São Paulo em domingo de Carnaval pouco se parece com a agitada capital paulista conhecida mundialmente. Há dois dias era destaque no noticiário da noite devido aos cento e tantos quilômetros de congestionamento. Hoje, pouco trânsito, menos gente ainda andando nas ruas do bairro. Restaurantes praticamente vazios. Uma cidade fora do ritmo. Descompassada. Do jeito que gosto.

Aí onde você mora não deve ser diferente daqui. Tem-se a impressão de que todos estão de ressaca do baile da noite anterior, mesmo que se saiba que o número de pessoas que vai para a avenida ou para a balada carnavalesca seja pequeno diante da quantidade de moradores.

Com a noite do Oscar a espera, cinema à tarde é programa bem-vindo. Família reunida, ar-condicionado, pipoca, refrigerante, água e um filme que satisfaça o gosto de todos. No nosso caso, “Sim, Senhor” com o careteiro Jim Carrey, uma comédia. Boa comédia, se levarmos em conta que estávamos em um domingo de Carnaval.

É preciso um bom cinema, também. E fomos as salas da UCI no Shopping Jardim Sul. Muito mais pela distância do que pela preferência. No balcão do bar, tem água, mas só com gás. Tem guaraná, mas só diet. Aceita cartão, mas espera, espera, espera e, por favor, espera mais um pouco porque o “sistema está fora do ar”. Será que o filme me espera ?

Esperou. Cheguei na sala ainda com as luzes acesas. Lugar marcado, e isso é uma vantagem no cinema moderno, foi sentar e aguardar para nos divertimos com a história do homem que insistia em dizer não até que ao participar de um encontro de auto-ajuda se transformou no “Yes-Man”.

Muitos trailers depois, um susto. A tela escurece. Foram alguns segundos até que surgisse à frente de todos o oscarizado “Quem Quer Ser Milionário ?” que se inicia com a cena de tortura de Jamal Malik, o rapaz indiano de 18 anos que disputa o prêmio  do programa de TV.  Crianças gemem, mães se assustam e pais correm a pegar os tíquetes para saber se entraram em sala errada.

Errado estava a UCI que antecipou em sete horas a projeção do filme programado para o pré-lançamento às dez e 20 da noite. Eram ainda três e meia da tarde e o público no local queria apenas se divertir e não sofrer ao lado do garoto. A funcionária que apareceu, adepta de São Tomé, não acreditou na palavra do batalhão de pessoas que a procurou para informar do engano e precisou ir até a sala para ter certeza.

O filme foi retirado da tela pouco antes dos policiais que o torturam ligar a máquina de choque elétrico. Alguns minutos a mais de luz-apaga, luz-acende, som-vai e som-vem até que, mal humorado, aparece na tela Jim Carey no papel de Carl.

Salva-se a família brasileira. E o nosso domingo de Carnaval.

De Pecado

Por Maria Lucia Solla

Severino para, curioso e tímido, à porta do Gabinete Divino

– Entra, filho, entra! Sua nacionalidade, por favor?

– U…Ué, Senhor, desculpe perguntar, mas o senhor não é onisciente?

– Costumava ser, filho. Costumava saber tudo…

– Não me diga que também está esquecido! Se bem que na sua idade…

– Filho, não é por acaso que objetiv-idade tem cinco letras a mais do que idade.

– Senhor, desculpe corrigir. Seis letras a mais.

– Que assim seja, filho. Vamos ao que interessa.

Severino toma tino e diz que é ’’b’’rasileiro. O Grande Senhor, idealizador e criador de todos os infinitos universos, gira Sua Santa Estrutura, no Sagrado Trono, e alcança um dossiê de capa verde-amarela.

– O senhor me desculpe a cara dura de fazer tanta pergunta. Minha mãe dizia que a curiosidade ainda ia me meter em confusão, e nem aqui eu tomo jeito. É.. crônica, sabe? Curiosidade é pecado?

– Confesso que preciso consultar sua ficha. Vocês criam e anulam pecados, em meu nome, achando que é moda. Que falha terá havido na comunicação? Enviei os melhores emissários – a nata de comunicadores divinos -, e nem assim… Vocês fragmentaram a Terra inteira. Esculhambaram tudo! Num canto é pecado isto; no outro é pecado aquilo. Nem vocês sabem dizer se um pecado é capital ou gravíssimo, venial, original, ou leve. Não costumo dar palpite, mas aconselho a unificação. Será mais fácil para todos. Que tal pecado, e não-pecado? Essa tonalidade cinzenta entre o branco e o preto é terreno movediço…
E por falar em terreno movediço, sabia que melancolia já foi pecado entre vocês? Se eu levasse em conta…
– E então, Senhor, para onde devo ir?

– Ora, filho, seu querer é soberano: parar, seguir em frente ou voltar. Ser feliz ou sofrer. Amar ou não amar. O que quer fazer?

O brasileiro ajoelhou, chorou e pediu para voltar à Terra por mais uma semana, para pular o Carnaval…

E você, escolhe o quê?

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Ouça aqui “De Pecado” na voz da autora, com participação especial de Marcos Arilhos e música High Hopes, de Pink Floyd.

Maria Lucia Solla é terapeuta e autora do livro “De Bem Com a Vida Mesmo Que Doa”, publicado pela Libratrês. Todo domingo desfila seu talento no blog sem fazer muito Carnaval

Avalanche Tricolor: Carnaval em campo

Grêmio x Juventude

Grêmio 2 x 0 Juventude

Gaúcho – Olímpico

Era de salão, o Carnaval das minhas lembranças de Porto Alegre. Quando menino, minha mãe me levava aos Gondoleiros, clube na zona norte da cidade, ao lado dos irmãos e primos. Fantasia não era nosso forte. Um shorts, uma camiseta e algumas pinturas no rosto, tudo coberto de muito confeti.

Na  juventude, as festas eram por conta própria e na maioria das vezes no litoral porque em Porto Alegre misturavam-se muito calor e pouca animação. Troquei as matinés pelos bailes que varavam a madrugada.

Da avenida, escapei. Nem como folião nem como jornalista fui obrigado a assistir ao desfile das escolas carnavalescas. Um espetáculo – nem sei se cabe a expressão – de pouca graça, que me desculpem os adeptos dos Bambas da Orgia e dos Imperadores do Samba. As duas agremiações são as mais conhecidas da cidade e provocam alguma emoção apenas pela identificação que tem com os dois times de futebol da terra, Grêmio (Bambas) e Inter (Imperadores).

Aliás, as cores das escolas – o azul e o vermelho – eram as únicas referências ao futebol durante o Carnaval, em Porto Alegre. Minto, tinham também as bandinhas que para agradar o salão tocavam o refrão dos hinos dos dois clubes.

Assim, foi uma surpresa saber que,  hoje à tarde, o Grêmio estaria em campo para disputar partida decisiva do Campeonato Gaúcho, em um estádio Olímpico onde só se falava de Libertadores. Na quarta de cinzas, enfrentaremos o Universidad de Chile. O ideal era descansar no sábado de Carnaval em vez de jogar sob um calor insuportável na capital gaúcha. Ainda bem que Ruy e Alex Mineiro, os carecas do Imortal Tricolor, estavam animados em campo.

O futebol gaúcho – o brasileiro, também – me impressiona, pois deixa de valorizar o espetáculo e seus grandes personagens para impor uma maratona de sacrifícios. Além de jogar hoje e estar na Libertadores na quarta, o Grêmio disputará a semifinal do Gaúcho na sexta e, se der o azar de vencer, fará a final do primeiro turno, no domingo, em um provável Gre-Nal.

Por ter sido um dos melhores times do futebol brasileiro em 2008 e obtido classificação para a Libertadores, o Grêmio é punido em lugar de ser venerado pelos dirigentes esportivos.

O risco disto tudo é o futebol um dia acabar como o Carnaval de escola de samba em Porto Alegre: pobre e sem graça.

Extra-campo: à Ouvidoria da NET que dá explicação como se fosse uma secretária eletrônica e portanto não serve para nada, o som da transmissão da partida do Grêmio estava péssimo, inaudível em alguns momentos.