Dia do Solteiro: um casado se metendo onde não é chamado

Foto: Pexels

Neste 15 de agosto em que se comemora o Dia do Solteiro, aqui no Brasil, me pego refletindo sobre um marco pessoal: com 61 anos completados recentemente, já vivi mais tempo casado do que solteiro. E isso me faz pensar: será que ainda tenho a habilidade de falar sobre a vida dos solteiros, ou perdi essa “licença poética” ao adotar de vez a camiseta dos comprometidos?

Lembro-me em parte de quando era solteiro, tempos em que a vida parecia uma mistura de liberdade e busca constante. Liberdade para sair a hora que quisesse, viajar sem planejar muito, tomar decisões sem precisar consultar ninguém. Mas a busca – e como ela podia ser exaustiva! Nos bares, nas festas, nos eventos sociais. Sempre à procura daquela conexão que fosse além da superficialidade.

Hoje, a tecnologia tornou tudo isso diferente. O que antes demandava esforço e presença física, agora cabe na palma da mão. Aplicativos, redes sociais, um mundo de possibilidades ao alcance de um deslize do dedo. Será que essa facilidade compensa? Fico me perguntando se, ao reduzir as interações a cliques e likes, não estamos perdendo algo essencial. A conversa que flui, o olhar que diz mais do que palavras, o toque que reforça a conexão – será que isso tudo se preserva no mundo digital?

Os números me surpreendem. O Brasil, com seus 81 milhões de solteiros, superando os 63 milhões de casados. Um fenômeno global, dizem. E nas redes sociais, o que já foi um assunto pessoal, quase íntimo, virou tema de conversa aberta. Leio na newsletter Cartograma que a Statista detectou um aumento de 4.000% nas discussões sobre relacionamentos entre 2022 e 2023. Parece que todo mundo tem algo a dizer sobre estar ou não estar em um relacionamento. Aliás, cá estou eu a dar palpite neste assunto.

Apesar de aparentemente não ter lugar de fala no tema em questão, vamos aos fatos. E fatos científicos. Estudos mostram que o estado civil impacta diretamente na saúde física e mental. Pessoas casadas tendem a apresentar melhores indicadores de saúde física e mental comparadas aos solteiros, mas isso depende muito da qualidade do casamento. Um estudo publicado no *Journal of Marriage and Family* revelou que pessoas em casamentos saudáveis relatam menos depressão e maior satisfação com a vida. Contudo, em casamentos disfuncionais, esses benefícios desaparecem, tornando os efeitos tão negativos quanto estar solteiro.

Por outro lado, solteiros frequentemente possuem uma rede social mais ativa, o que contribui para uma maior sensação de liberdade e autonomia. Eles também tendem a buscar novas experiências e a investir mais em suas habilidades pessoais. A tecnologia, ao facilitar as conexões iniciais, pode não substituir a profundidade de um relacionamento, mas certamente redefine as regras do jogo.

Uma vantagem inegável de estar casado é não ser alvo de certos preconceitos que os solteiros enfrentam. Frases como “Você é tão bonito, por que ainda está solteiro?” ou “Não vai arrumar ninguém?” continuam a incomodar e reforçar estigmas. Essas perguntas podem gerar desconforto e sugerir que estar solteiro é uma condição transitória ou indesejável, o que nem sempre é o caso.

Sem sequer ser capaz de descobrir por que no Brasil se comemora o Dia do Solteiro em 15 de agosto — na China é 11 de novembro e já se transformou em um sucesso comercial, enquanto nos Estados Unidos é em 15 de fevereiro —, sigo minha jornada, refletindo que, no fim das contas, seja casado ou solteiro, o que realmente importa é estar em paz consigo mesmo. A verdadeira realização vem de uma conexão genuína com quem somos, sem importar o estado civil que nos define no papel. Afinal, a vida é feita de escolhas, e a mais importante delas é ser feliz do jeito que for melhor para você.

Conte Sua História de São Paulo 470: o Ipiranga que nos uniu

Alex Albergaria 

Ouvinte da CBN

Foto de Manoel Junior

Essa história começou em São Paulo e muitos anos depois atravessou o mundo e promoveu um encontro improvável. Nasci numa maternidade no Ipiranga e desde criança morei na região. O recém reformado Museu do Ipiranga foi parte da minha infância. Aos fins de semana, eu e meus amigos fazíamos corrida de carrinho de rolimã na descida que liga os dois extremos do parque, brincávamos de pega-pega por entre as árvores que cercam a Casa do Grito e pelos jardins de estilo francês, que sempre atraíram turistas. 

Aos 18 anos, me mudei a trabalho para o Japão. Foi onde passei a praticar snowboard. Um dia, convidado por um amigo, me juntei a um grupo para visitar a uma pista de esqui famosa a umas quatro horas de carro de onde morávamos. No grupo uma garota chamou minha atenção. Apesar de ser a primeira vez que eu a via, tive a sensação de que a conhecia. Nas conversas descobri que ela também era brasileira. Descobri que éramos de São Paulo. Havíamos morado no Ipiranga e nascidos na mesma maternidade.

O destino nos uniu no Japão. Nos casamos. E voltamos para o Brasil. Perdi a conta de quantas vezes estive com nossos três filhos no Parque da Independência: andamos de skate, jogamos bola, escorregamos nos corrimãos gigantescos de mármore, observamos os macacos e pássaros que moram na mata, ao fundo do Museu. 

Hoje, estamos novamente no Japão. As crianças já não são tão crianças. Têm uma vida bem diferente aqui em Yokohama. Mas cresceram com as memórias do parque e do museu do Ipiranga que seguem  vivas em suas mentes.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Alex Albergaria é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Venha participar das comemorações dos 470 anos da nossa cidade. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos, visite o meu blog miltonjung.com.br , acesse o novo site da cbn CBN.com.br, e ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.