Conte Sua História de São Paulo: quando a chuva era de prata na cidade

Jair Dias

Ouvinte da CBN

Ilustração da São Paulo antiga

Estamos no início dos anos 50, decididamente, 1954, pois, sob o céu da cidade, houve uma chuva de estrelinhas de prata — fazia parte das festas do quarto centenário de São Paulo. E quem não se lembra? Eu recolhia aquelas estrelas pelo chão, o céu estava lindo, a cidade também. Estava acostumado com a São Paulo da garoa, com bondes indo e vindo — não havia lotações.

Lá estava eu, com meus sete aninhos, segurando fortemente as mãos de papai, e achando aquela chuva de papel maravilhosa, pois acostumara-me a ver todos os dias o tempo fechado, cinza e sem sol. Descíamos a rua da Consolação, quando garotos de rua, meninos engraxates e outros, brotavam das praças, corriam como se tivessem pegando dinheiro no chão. O ruído dos motores dos aviões no céu marcava um tom de festa. 

Agacho-me, recolho aquele triângulo de prata nas mãos e saio zanzando rua abaixo. É bom curtir essa onda de festa! Atravesso a rua, peito aberto, rasgando bairros inteiros, numa chispa dou de cara com a Sé. A essa altura, papai já estava cansado, bufando. Senta no banco, grita meu nome, e diz para me aquietar e não ir longe. Ele estava ouvindo uma música no radinho, música esta que falava do aniversário da cidade de São Paulo comemorado ali na frente, na Sé . 

Desci a rua Monteiro, onde atualmente é a Estação do  Metrô da Sé,  topando  com a PM, um batalhão de guardas à frente rufando os tambores. Fiquei em êxtase. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda. Ao som do bumbo, passaram  por mim, e seguiram marchando. Senti um comichão nos pés, e me pus  a segui-los imitando-os. Era a Banda Marcial da Polícia Militar. Tocavam aquela música que papai ouvia no radinho de pilha (São, São Paulo, meu amor………). 

Aquietei-me num banco da praça, lá na pontinha, onde as pessoas pegavam ônibus para ir a Santos e São Vicente —  era o Viação Cometa. Fechei os olhos, fiquei num transe, paralisado, ouvindo as águas da fonte da Sé misturada a voz de papai. 

Havia passado cinquenta e cinco anos. Olhei a minha frente, o Poupa Tempo, à direita, o Metrô, mais adiante, meninos de rua, de becos e muquifos, pareciam zumbis perdidos na praça, sujos, calças rotas, alguns pedindo dinheiro, outros fumando e bebendo. Meu Deus! Que cena horrível. Chamaram na de Cracolândia. Deduzi que seria o fim dos tempos. Olhei o céu carrancudo e triste, já não era o céu da minha infância, nem real nem simbólico, era um céu fatídico , triste, daqueles que não gostamos nunca  de imaginar, mas depois de tanto tempo. 

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Jair Dias é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade: escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outras histórias, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Avalanche Tricolor: de volta!

Grêmio 2×0 Vitória

Brasileiro – Centenário, Caxias do Sul/RS

Matías Arezo está chegando e fez diferença. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Estava de malas prontas e nos preparativos para o retorno ao Brasil quando o Grêmio entrara em campo para uma partida fundamental diante das suas pretensões de deixar aquela zona-que-você-sabe-qual-é, e voltar a disputar de verdade o Campeonato Brasileiro. 

Precisei contar com conexões nem sempre seguras de internet e sinais de vídeo claudicantes no meu caminho até o aeroporto de Curaçao de onde partiria para o Panamá, para acompanhar em “tempo real” o nosso desempenho. A demora na atualização das informações e das imagens colaboraram bastante com a ansiedade de quem estava a espera de um resultado positivo, assim como eu e toda a torcida gremista.

O Centenário lotado sinalizava que os torcedores haviam aceitado o desafio feito pelo time, especialmente após a entrevista coletiva da sexta-feira que colocou os dois maiores ídolos da atualidade, Geromel e Kannemann, ao lado de Renato, que é o maior deles, goste-se ou não de sua forma de falar, treinar e escalar a equipe. A impressão que fiquei, desde que a bola começou a rolar, é que a entrega dos jogadores também estava sintonizada com o apoio das arquibancadas. Digo impressão porque seria injusta uma análise mais aprofundada com base no que lia nos sites que atualizam as informações do jogo e os rompantes de imagens que recebia no meu celular.

(em tempo: avise às marcas que patrocinam as transmissões que é irritante ter de esperá-las se apresentar até podermos pular o anúncio toda vez que precisamos reconectar)

Dava para perceber o esforço em fazer a bola chegar ao ataque e de reduzir ao máximo os riscos impostos pelo adversário com uma marcação forte. A falta de precisão nos chutes, porém, impedia que o domínio em campo se traduzisse em gols – este maldito gol que teima em não sair na quantidade necessária para nos dar um respiro no campeonato.

As estatísticas eram gritantes: dez chutes a gol contra apenas dois do adversário, muito mais escanteios, passes trocados e posse de bola a nosso favor. Mesmo assim terminamos o primeiro tempo no zero a zero e levamos para o vestiário o temor de que o roteiro das últimas partidas se repetiria.

Eu já despachara as malas, quando o segundo tempo havia se iniciado e o que mais buscávamos nessa partida começava a se construir. A visão de jogo de Edenílson deu início a jogada que terminaria nos pés de Soteldo, que driblou duas vezes seus marcadores para chutar de dentro da área. Pouco me importou o sinal da internet deixar a imagem travada ainda antes do chute do venezuelano. Ver o 1 a 0 no placar do APP de esportes era o suficiente aquela altura.

Enquanto apresentava o passaporte no setor de  imigração e submetia as malas ao escaner da fiscalização, minha única preocupação era que o Grêmio, lá em Caxias, não deixasse nenhuma bola passar pela nossa defesa. Pelo que ouvi dos críticos, Rodrigo Ely e Geromel — que entrou ainda no início da partida devido a lesão de Kannemann — deram conta do recado.

A caminho do embarque, minha torcida era só pelo apito final. O um a zero seria o suficiente nesta altura da viagem. Fosse meio a zero, comemoraria igual os necessários três pontos ganhos. Tudo que queria era a vitória de volta. O árbitro, então, resolveu esticar a partida por mais cinco minutos. E o sofrimento pelo tempo estendido foi compensado: o sinal de WI-FI de uma sala VIP me permitiu assistir à jogada que culminaria no pênalti.

Claro que a cobrança de Reinaldo, de pé esquerdo, forte e no alto, me fez vibrar. Mas o que mais me fez feliz no lance, foi ver a presença de Matías Arezo dentro da área. O jovem atacante, que chegou nestes dias e mal desfez as suas malas, recebeu a bola e girou com velocidade em direção ao gol, levando o zagueiro a derrubá-lo. 

Sem ilusões, quero crer que tenhamos encontrado um jogador que sabe o que significa ser um número 9. E o lance tenha sido a primeira escala de uma longa e ótima viagem do uruguaio com a camisa do Grêmio. 

Dito isso, deseje-me boa viagem, também, porque assim como a vitória, eu estou voltando!

Avalanche Tricolor: que baita saudade de ti!

Caxias 2×1 Grêmio

Gaúcho – Centenário, Caxias do Sul/RS

A bela foto de Lucas Uebel/GremioFBPA registra o gol de Gustavo Martins

Foram 44 dias desde a última vez que vi o Grêmio jogar. Que jogo! Lembra? Impossível esquecer: foi a despedida de Suárez, que marcou dois gols no Maracanã, na vitória sobre o campeão da Libertadores. 

Desde lá, a  bola só rolou em campos alheios e por aqui deu espaço para o irritante jogo das especulações. Vende um, contrata outro e negocia com um terceiro. O torcedor se ilude com a promessa do craque, se decepciona com a transferência do ídolo e tem pouco a comemorar com renovações de contrato nem sempre inspiradoras.

Ao mesmo tempo, o coração, acostumado ao sofrimento do jogo jogado, dói pela ausência do futebol de verdade. Como se sofresse com a abstinência da adrenalina que somente nosso time é capaz de nos fornecer. A ansiedade faz tabelinha com a saudade. E as duas dominam o peito e a mente do apaixonado que somos.

Até que o árbitro trila o apito e a bola começa a rolar novamente. O Campeonato Gaúcho começa. E começa em um dos estádios mais tradicionais do interior. O Centenário, palco de pelejas das mais duras e emocionantes já disputadas no Sul do País, oferece à vizinhança vista privilegiada, em camarotes improvisados nos telhados das casas, e aos torcedores, arquibancada de cimento, contrastando com as arenas do Campeonato Brasileiro.

Fiz alguns jogos na Serra Gaúcha, em um tempo no qual os repórteres de rádio tinham acesso ao gramado e correr atrás do craque do jogo era obrigação ao fim da partida — não existia essa coisa de assessor de imprensa escolher quem vai falar e entrevista com palco cheio de patrocinadores. Sinto saudade daqueles momentos, o que não significa que queira voltar.

Foi com saudade e sem pretensão que me sentei à frente da TV para assistir à transmissão do jogo desta tarde de sábado. Sei que o Grêmio está apenas iniciando a temporada. A reapresentação foi há 12 dias e tem jogador com a perna dura para correr — tem também os pernas de pau que nunca vão aprender. A vontade é muito maior do que o fôlego e o que a cabeça pensa nem sempre o corpo é capaz de executar. 

Para minha surpresa foram necessários apenas seis minutos para matar a saudade do grito de gol, que surgiu em um cruzamento após cobrança de escanteio e no cabeceio de Gustavo Martins, zagueiro jovem e uma das boas promessas para a temporada. A lastimar que foi aquele o único gol que marcamos, insuficiente para impedir uma derrota logo na abertura da competição.

Para os saudosos, como eu, de um ponteiro esquerdo driblador e atrevido, o recém-chegado Soteldo deu sinais de que poderá ser um dos pontos fortes do time na temporada. O venezuelano de pernas pequenas e ágeis passou com facilidade por seus marcadores – perdão, pelo tanto que apanhou não foi tão fácil assim. Fiquei com a impressão de que não nos fará sentir saudades dos ponteiros que se foram. Mas é melhor não se precipitar.

Contemporizando as ausências no time e as lacunas no elenco; o pouco tempo de treino e a preparação física precária; a falta de entrosamento e a carência tática de início de temporada; ao fim dos 90 e tantos minutos, uma última saudade ainda permanecia em mim. Uma saudade que jamais serei capaz de deixar para trás: a de Luis Suárez. Que baita saudade de ti!

Avalanche Tricolor: a qualidade de Suárez!

Caxias 1×2 Grêmio

Gaúcho – Centenário, Caxias do Sul/RS

Suárez comemora o fol da virada em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O Centenário estava lotado. Ao menos a parte reservada aos torcedores do Grêmio. Havia gremistas de Caxias, de Farroupilha, de Bento Gonçalves e de Gramado. Claro tinha a turma de Porto Alegre e, também, muitos de outras cidades pelo interior. A contratação de Luis Suárez pelo Grêmio promete se transformar em uma fenômeno no Rio Grande do Sul. Não é fenômeno pronto e acabado, ainda. Mas, será. E a medida que o atacante uruguaio entregue tudo o que se espera dele a cada partida, esta obra fenomenal se realizará mais cedo do que se imagina.

As camisas celestes vendidas até sumirem das lojas e o público no aeroporto, na apresentação e na partida de estreia sinalizavam a representatividade de Suárez para o nosso torcedor. A necessidade de a diretoria do Caxias ampliar o espaço destinado aos gremistas no Centenário, em pleno sábado à tarde de verão —- quando os gaúchos preferem os prazeres de Capão, Torres, Tramandaí e Rainha do Mar —, reforçou essa ideia. E estamos apenas no início do campeonato. 

Ontem, a desorganização do sistema defensivo do Grêmio bem que ensaiou uma frustração nos animados torcedores que pulavam na arquibancada e cantavam músicas em homenagem a Luisito. Nos fez sofrer revés logo no início da partida, e colocar à prova a capacidade de  recuperação do time que ainda está em formação, especialmente com seus novos laterais e meio campistas. 

Ao contrário de um previsível desacerto, o gol do adversário parece ter servido de choque de realidade aos jogadores gremistas. A facilidade da Recopa era passado. Agora é Copa do Mundo! Ops, Campeonato Gaúcho! E camisa apenas não é suficiente para vencer e chegar à final.

Cabeça no lugar, marcação mais dura — com Kannemann em destaque —, bola no chão e tentativas de passes mais rápidos, o time começou a se aproximar do gol adversário.  Todos jogavam visando Suárez, na esperança de que se conseguisse entregar a bola no pé dele, o resto ele resolve. Claro que as coisas não são bem assim, a tal ponto que o atacante percebeu que não adiantava esperar lá dentro da área, precisava sair e tabelar com os companheiros. A falta de entrosamento impedia a sequência das jogadas. Em um surpreendente lance de humildade, após o jogo, Suárez disse aos jornalistas que “às vezes, são erros meus, que me apresso a jogar rápido, acho que passando os jogos, vamos nos entender melhor. A qualidade eu tenho, tenho que acertar os movimentos com meus companheiros”.

Alguém duvida da qualidade dele? Eu, jamais! 

Foi em um desses lances em que o talento de Suárez se expressa que a bola chegou até ele pelo lado esquerdo, dentro da área. Sem esconder a fome por gols, mesmo sem estar com o corpo enquadrado para matar, chutou forte, provocando o rebote do goleiro, muito bem aproveitado por Bitello. Em tempo: que prazer ver esse guri jogando! E não é de hoje!.

Aquele lance que culminou com o gol de empate foi um dos poucos em que o Grêmio e Suárez se entenderam plenamente. No segundo tempo, houve uma série de tentativas sem muito sucesso. O passe nunca chegava em condições do arremate, sempre exigia uma tabela ou o deixava refém da marcação dos zagueiros. 

Foi quando muitos já lamentavam a necessidade dele deixar o gramado — afinal, precisa ter seu físico preservado — que Luis Suárez demonstrou todo seu talento. Em uma rara bola que chegou com ele de frente para o gol, o atacante matou com o pé direito, ajeitou com o esquerdo, deu mais um toque  com o direito, o suficiente para tirar o zagueiro da frente, e bateu forte. Nem alto nem baixo; nem muito a direita nem muito a esquerda. No ponto certo. Ali, onde o goleiro não alcança e a rede estufa.

Suárez fez o gol da virada, o gol da vitória e em um dos raros momentos em que lhe deram a chance de chutar.  Entregou o pacote completo aos torcedores do Centenário e aos gremistas espalhados pelo mundo que assistiam ao seu segundo jogo com a camisa tricolor. Com sua voracidade, mostrou que não veio encerrar carreira, quer seguir sendo o gigante respeitado em todos os clubes pelos quais passou, independentemente do tamanho do jogo ou da importância da competição.

A persistirem os sintomas, Suárez será um fenômeno de renda e público e, em breve, faltarão arquibancadas para o público disposto a se deslocar pelo Brasil afim de acompanhar esse craque mundial.

Avalanche Tricolor: Jean Pyerre tem futebol e sobrenome de craque

 

Grêmio 1×0 Fortaleza
Brasileiro — Centenário, Caxias do Sul/RS

 

Gremio x Fortaleza

O talento de Jean Pyerre em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Recorri ao VAR aqui de casa para entender a dimensão da jogada de Jean Pyerre que nos levou a marcar o único e decisivo gol da partida desse sábado à noite. Como já tínhamos 44 do segundo tempo e apenas mais alguns minutos de acréscimo, no momento em que Pepê desviava a bola para rede eu já não conseguia prestar atenção em mais nada do que acontecia no gramado do Centenário —- sim, tivemos de jogar lá em Caxias do Sul, onde o frio é mais frio e a chuva, mais gelada, porque a Arena está reservada à Copa América.

 

Naquele momento, só me passava pela cabeça o risco de ficarmos mais um jogo sem vitória, mesmo tento atacado muito e mantido a bola sob nosso domínio por muito mais tempo do que o adversário; imaginava o constrangimento de mais uma segunda-feira de trabalho dando explicações dos motivos que nos faziam ocupar o Z4; e, pior ainda, saber que estaríamos alimentando por mais tempo os teóricos da conspiração durante toda a parada para a Copa América.

 

Foi, então, que de repetente vi Jean Pyerre metendo a bola pelo meio da área para encontrar lá do outro lado Pepê, que com um chute cruzado fez o gol da vitória. Demorei para comemorar. Queria ter certeza de que a bola seguiria o seu destino. E a impressão que tive é que ela demorou para se decidir, também: entro ou não entro? Entrou.

 

Na comemoração já tinha ideia da beleza do lance, mas, como disse, a visão estava embasada pela tensão do empate que se realizava em mais uma partida em casa, ou melhor, em que tínhamos o mando de campo. Por isso, antes de começar a escrever esta Avalanche fiz questão de ver e rever o lance na tela do computador. Vi em velocidade normal, revi em câmera lenta, congelei a cena e repeti tudo de novo por mais algumas vezes.

 

Meu VAR ajudou-me a entender como tudo se iniciou e como o futebol nos reserva surpresas. Sabe-se que Jean Pyerre tem talento superior a média, mas muitos o consideram lento de mais nas jogadas. Há os que reclamam da dificuldade dele em desarmar o adversário. E os que entendem que lhe falta fôlego para aguentar o tranco dos jogos mais duros, por isso acaba sendo substituído ao longo do segundo tempo.

 

Eis que já tínhamos um jogo inteiro em disputa, com desgaste de lado a lado, e foi exatamente Jean Pyerre quem apareceu para desarmar a tentativa de ataque do adversário. Interceptou a jogada no meio de campo e olhou para frente em busca de um companheiro. Percebendo o espaço que a marcação lhe oferecia, deu velocidade ao ataque com quatro passadas longas e domínio preciso da bola. Qualquer jogador comum não teria encontrado outra solução senão arriscar o chute.

 

Jean Pyerre está distante de ser um jogador comum. Tem talento, tem elegância e não tem medo de criar. Não bastasse ter sobrenome de craque: é Casagrande. 

 

Com a confiança que lhe é peculiar, o nosso meio-campista enfiou a bola rasteira entre quatro jogadores adversários. Fez a bola cruzar em diagonal e fora do alcance deles. Colocou-a no que no passado chamávamos de “ponto futuro”, onde haveria de aparecer Pepê, que fez a leitura certa da jogada de seu companheiro, correu por trás dos zagueiros, se antecipou a marcação e encontrou força suficiente para marcar o gol.

 

Um golaço que revela quantos talentos — como Jean Pyerre e Pepê — ainda temos sendo forjados para as novas conquistas e para substituir aqueles que por obra do destino se vão embora. E que nos garantiu três pontos importantes para nos dar ânimo para o período de preparação que teremos pela frente, assim que cumprirmos o compromisso desse meio de semana pelo Brasileiro.

Sua Marca: a fórmula do sucesso de marcas centenária

 

 

Têm marcas que passaram de pai para filho com a mesma competência com que se mantiveram no cenário de uma geração para outra de consumidores. No Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, Jaime Troiano e Cecília Russo conversaram com Mílton Jung sobre as marcas centenárias e a fórmula do sucesso:

 

“Relevância é fruto da consistência combinada com a renovação” — Cecília Russo

 

Mate Leão, Coca Cola, Salton e Droga Raia são algumas das marcas lembradas no programa que conseguiram se manter presentes no mercado mesmo diante da sua longevidade —- ou graças a sua longevidade.

 

“São um sucesso, primeiro porque fazem um trabalho consistente; e segundo porque o mundo precisa desses pilares de permanência, dessas referencias históricas” — Jaime Troiano.

 

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, às 7h55, no Jornal da CBN.

Quem não ouviu Lupicínio, perdeu a mágica

 

Por Milton Ferretti Jung

Esses moços,pobres moços,
Ah,se soubessem o que eu sei,
Não amavam,
Não passavam aquilo que
Eu já passei…

 

Como de hábito,acordei cedo nesta terça-feira,dia em que já levanto pensando no que escreverei para o blog capitaneado pelo Mílton. Já na primeira edição do Jornal da CBN,fui alertado para um fato que começou a ser comentado desde muito cedo e que de maneira alguma eu não abordaria no texto que o meu filho posta na quinta-feira:neste 16 de setembro,um dos maiores sambistas deste país,o meu patrício Lupicínio Rodrigues estaria fazendo 100 anos. Fiquei muito satisfeito ao ouvir,durante o Jornal,elogiosas referências ao compositor,autor de inúmeras músicas que fizeram grande sucesso em uma época na qual o Lupi teve de concorrer com inúmeros sambistas altamente criativos. Afora o seu vasto repertório de músicas populares,Lupicínio Rodrigues só deixou de lado o samba para assinar o Hino do Grêmio. Reza a sua biografia que Lupe,como era chamado desde pequeno,cultivava três grande paixões:a música,o bar e as mulheres. Será que exagero se acrescentar uma quarta paixão às outras três? Lupicínio não comporia o Hino do Grêmio se não fosse torcedor do Imortal Tricolor. Se ele tivesse criado apenas esta música, eu seria seu fã.

 

Abri o meu texto desta quinta-feira lembrando o início daquele samba que ele chamou de “Esses Moços”,um dos meus preferido dentre o seu vasto repertório. E olhem que é difícil pinçar uma de suas criações no meio de tanta música inspirada. Criei-me em uma época de grandes sambistas e quando virei locutor de rádio,Lupicío Rodrigues,o velho Lupe,já encantava os ouvintes das duas únicas emissoras nas quais trabalhei,fora,é claro,a Voz Alegre das Colina,o serviço de alto-falante que rodava sambas de um compositor que inventou o termo dor-de-cotovelo ou,se fosse sob “a égide” da nova ortografia,sem hífen. Desculpem-me,mas já estou aproveitando ouvir no meu computador, para matar a saudade, os sambas de Lupe. Quem não ouviu Lupicínio,perdeu a mágica.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Apesar de tudo…

 

Por Julio Tannus

 

 

Adoro a cidade de São Paulo. Foi aqui que cresci, me eduquei, me formei, constitui família e hoje desfruto da cidade com todos os seus lugares, praças, shoppings, restaurantes, cinemas, teatros, livrarias, exposições e sua vida incessante. E desfruto também dos amigos, amigas, colegas e vizinhos. Assim que cheguei de Paraty, no fim dos anos 40, fui morar na Rua São Lázaro, travessa da Rua São Caetano, hoje chamada de “Rua das Noivas”, mas até então uma rua movimentadíssima, com todo tipo de comércio, além, é claro, do Cine São Caetano. Minha primeira escola, aos cinco anos de idade, foi o Recanto Infantil Jardim da Luz, do Departamento de Cultura, no Parque da Luz próximo a Estação da Luz.

 

A primeira surpresa: após alguns dias de chegada à cidade, fui com minha mãe e meu irmão caminhando pela Rua São Caetano em direção ao Parque da Luz. Ao chegar na Av.Tiradentes, em frente ao antigo Liceu de Artes e Ofícios, hoje Pinacoteca do Estado, me deparei com o monumento a Ramos de Azevedo (Ramos de Azevedo foi o centro em torno do qual gravitou o renascimento arquitetônico da cidade de São Paulo), hoje transferido para a Cidade Universitária; e exclamei em alto e bom som, nos meus cinco anos de idade: “Olha mamãe, uma mulher de peito de fora!”. Foi uma gargalhada geral. E minha mãe retrucou: “Fica quieto menino!”.

 

 

A primeira raiva: íamos – eu, pai, mãe e irmão – passear no Viaduto do Chá, aos domingos pela manhã. Era o passeio dos paulistanos. Entre os meses de abril e maio, eu e meu irmão temos a mesma idade, pois a diferença entre nós é de apenas 11 meses. E minha mãe nos vestia igualzinho, com o mesmo terno de calça curta e gravata. Então as pessoas passavam por nós e sempre ouvíamos comentários do tipo “que gracinha”, “são lindinhos”. Até que alguém nos perguntava “são gêmeos?”. E respondíamos categoricamente “não somos gêmeos”. E logo vinha outra pergunta “que idade você tem?”, eu respondia “cinco anos”. E você, dirigindo-se ao meu irmão “quantos anos você tem?”. “Cinco anos”. E aí vinha a resposta terrível “Ah! mentirosos hein?” Ficávamos possessos de raiva.

 

 

O primeiro choque: aos domingos íamos ao Cine São Caetano assistir à sessão da tarde. Até que, em um domingo de muita chuva, meu pai decidiu ficar em casa e não nos levar. Ficamos frustrados por pouco tempo, pois nos demos conta que ambos, pai e mãe, estavam compenetrados em suas leituras. Sorrateiramente, descemos as escadas e logo estávamos caminhando apressadamente em direção ao cinema. Ao chegar, o porteiro indagou o que queríamos. Respondemos: “viemos encontrar nossos pais que estão no cinema”. De imediato propiciou nossa entrada. Após algum tempo de fascínio pelo que se passava na tela, fui surpreendido e sobressaltado por uma mão forte que repentinamente me levantou da cadeira. Era meu pai, com uma expressão de angústia e raiva. Fomos levados de imediato para casa, com uma promessa de castigo por causar tanto desespero aos pais.

 

O primeiro time: flamenguista por herança de pai e de tanto ouvir “uma vez Flamengo, Flamengo até morrer” me sentia desajustado diante de tantos palmeirenses, são-paulinos, santistas, e assim por diante. Até que na celebração do IV Centenário da cidade, no dia 6 de fevereiro de 1955, o Corinthians se tornou campeão e meu time paulista do coração.

 

 

E, de 9 a 11 de julho de 1954, com a imensa participação de toda a população, que invadiram as ruas de nossa cidade, ocorreram festas maravilhosas. Entre elas me recordo nitidamente da Chuva de Prata, que Randal Juliano, pela Rádio Record, dizia: “O sentimento do paulista faz com que a cidade se locomova até o viaduto do chá. E aqui a multidão ergue os olhos para o céu, de onde caem lâminas metalizadas… Lâminas coloridas metalizadas sobre o viaduto do chá. Iluminadas por holofotes do exército, com o esplendor e luminosidade bonita. Traduzindo a alegria do povo paulista neste nove de julho, que comemorava uma derrota… Talvez tenha sido o único povo a comemorar uma derrota.” E recordo aqui o Hino do IV Centenário:

 

São Paulo, terra amada
Cidade imensa
De grandezas mil!
És tu, terra dourada,
Progresso e glória
Do meu Brasil!
Ó terra bandeirante
De quem se orgulha nossa nação,
Deste Brasil gigante
Tu és a alma e o coração!
Salve o grito do Ipiranga
Que a história consagrou
Foi em ti, ó meu São Paulo,
Que o Brasil se libertou!
O teu quarto centenário
Festejamos com amor!
Teu trabalho fecundo
Mostra ao mundo inteiro
O teu valor!
Ó linda terra de Anchieta,
Do bandeirante destemido.
Um mundo de arte e de grandeza
Em ti tem sido construído!
Tens tu as noites adornadas
Pela garoa em denso véu,
Sobre seus edifícios
Que mais parece chegarem aos céus!

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e Co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

Corinthians: 100 derrotas implacáveis

 

Nesta onda de homenagens ao Corinthians, não poderia faltar uma “flauta centenária”, tarefa que ficou a cargo de Sebastião Corrêa Porto que relacionou em livro as 100 derrotas implacáveis. Ano após ano, listou momentos de extrema alegria da torcida adversária. Goleadas inesquecíveis como o 7 x 3 da Portuguesa em 1951 até jogos vencidos por placares magros, mas não menos importantes, como o 1 x 0 do XV de Jau, em 1978.

Provavelmente faltarão jogos que você gostaria de ver citados em “Prazer, adversário! Corinthians 100 anos: 100 derrotas implacáveis” (Editora Porto de Ideias), mas o livro está aí para provocar estas boas lembranças. Afinal, vencer um time com a importância e dimensão do Corinthians é sempre muito bom, parafraseando locutor de TV famoso.

Ouça a entrevista com Sebastião Correa Porto, ao CBN SP

Do meu glorioso Grêmio, Sebastião registrou a vitória por 3 x 0 em 2003, no estádio Olímpico. Creio que fez de propósito pois matou dois coelhos com uma cajadada só. Falou mal do Corinthians e ainda lembrou ter sido aquele o ano da derrocada do Tricolor, quando despencamos para a segunda divisão.

Como discordo do jogo escolhido, deixo registrado aqui, texto que o autor dedicou aos confrontos entre os dois mosqueteiros, no capítulo de apresentação do livro:

O que dizer do Corinthians contra o Grêmio ? Até mesmo contra este time gaúcho, que se acha e se sente argentino, o Corinthians leva pau – e dos grandes. É impressionante o serviismo do Corinthians às cores e ao sotaque argentinos. Se não bastassem aqueles episódios vergonhosos do “rei Teves”, do contrato do Passarella, ainda existe uma chuva de goleadas sofridas para este time argentino que entre nós se esconde. Se ainda não se convenceram, lembrem-se do jogo que derrubou o time para a segunda divisão