Por Carlos Magno Gibrail

Terreno na Avenida Morumbi próximo a rua Leonor Quadros (foto de CMG)
Em 2016, na reunião a respeito do zoneamento da cidade, atendendo o Plano Diretor, a Prefeitura em cumprimento da lei reuniu os moradores e proprietários de imóveis da região do Morumbi, em São Paulo, para decidir os parâmetros para o zoneamento da área.
Com marcante atuação, especificamente de proprietários de grandes áreas situadas na Avenida Morumbi, e por meio de agressivas sustentações, tiveram satisfeitas suas proposições. O objetivo deles era ter seus interesses comerciais atendidos, bem distantes dos desejos de moradores, cuja meta era a preservação do meio ambiente.
A alegação básica dos proprietários apontava para o fato de que ninguém mais queria morar na Av. Morumbi, e eles não tinham como comercializar os terrenos dos quais eram os donos.
Cabe lembrar que nesta avenida está situada a maior mansão do município. Nela também moram personalidades ilustres da cidade, a começar pelo Governador do Estado, assim como banqueiros e empresários renomados. E não se tem notícia de que eles estejam mudando de endereço.
Historicamente, a Av. Morumbi abriga a Casa da Fazenda, um símbolo da cidade que remete a origem da plantação de chá, no século XIX; a Capela do Morumbi, que fazia parte da fazenda que deu origem ao nome do bairro; a Fundação Oscar Americano com museu e rico acervo de arte, além do local da residência projetada por Oscar Niemayer e Burle Marx para Francisco Matarazzo Pignatari. Baby Pignatari, como ficou conhecido aqui no Brasil, nasceu em Nápoles, na Itália, foi influente industrial de cobre, prata e aviões Paulistinha, que morou com a princesa Ira Von Fürstenberg, após raptá-la, protagonizando um pitoresco caso do jet set internacional.
Os proprietários dos grandes terrenos da Avenida Morumbi também alegaram tráfego intenso de veículos e excesso de linhas de ônibus que deixam a área em comunicação com toda a cidade. Fatores que, somados ao meio ambiente preservado, tornam a avenida uma mina de ouro para os primeiros empreendimentos imobiliários que ali se instalassem.
A sequência do processo que atendeu aos proprietários dos grandes terrenos fez com que a Av. Morumbi passasse a ser categorizada no zoneamento como ZCOR Corredor Comercial — chegando a ZCOR3 em vários trechos. Os moradores que vieram para a Avenida Morumbi em busca das características originais de urbanização passaram a correr o risco da descaracterização ambiental. Avenida degradada e probabilidade de contaminação das áreas próximas.
Foi o que começou a acontecer a partir de 2018. Iniciaram-se as derrubadas da flora — até com aspectos surpreendentes. No dia da posse do Governador João Doria, por exemplo, um terreno, a uma quadra do Palácio dos Bandeirantes, recebeu multa por tráfego de toras de parte das 100 árvores cortadas e depositadas em cima da calçada. Veja bem, multa da CET e não da Secretaria do Meio Ambiente. Atente também que nenhum dos convidados percebeu o desmatamento, apenas o fiscal de trânsito.

Árvores que foram cortadas para “limpar” terreno na avenida (foto de CGM)
A propósito, este terreno devastado completamente pela derrubada de todas as árvores até hoje está absolutamente vazio e sem indício de operação. As placas de “autorização” para o “desmatamento” foram retiradas e o solo, agora sem sustentação, ameaça a casa vizinha.
Hoje, já podemos concretamente, sem trocadilho, vislumbrar na ZC Zona de Centralidade definida pelo novo Zoneamento, situada na esquina da Morumbi com a avenida Comendador Adibo Ares, um robusto canteiro de obras preparando para a elevação de torres de moradias de alto padrão. Em sentido amplo. Preço e altura, o que contradiz e ao mesmo tempo reafirma a alegação de que ninguém quer morar na Av. Morumbi por causa do trânsito.

Obra na Avenida Morumbi com a avenida Adibo Ares (foto de CMG)
Neste momento, ao longo da Av. Morumbi, outros terrenos de porte em trechos absolutamente residenciais, estão também sendo preparados para grandes construções, cuja operação se inicia com o corte de todas as árvores. É uma estranha equação, pois esses empreendimentos irão oferecer as vantagens existentes de infraestrutura e do meio ambiente da Av. Morumbi, mas começam por destruir o meio ambiente.
Até quando vamos atender aos interesses de empresários do mercado imobiliário?
Até as próximas eleições?
Carlos Magno Gibrail é consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.