Participe do debate sobre o futuro da cidadania italiana, em São Paulo 

Protesto contra decreto Tajani, na praça Cidade de Milão, em SP

A cidadania italiana sempre foi mais do que um direito: é um elo que atravessa gerações, une famílias e reafirma nossa identidade. Agora, diante do novo Decreto-Lei 36/2025, que limita severamente o reconhecimento da cidadania por descendência, esse vínculo corre sério risco.

Depois do sucesso do nosso encontro, no sábado, na praça Cidade de Milão, em São Paulo, temos um novo compromisso: 

Amanhã, dia 29 de abril, às 19 horas, no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, você está convidado a participar de um encontro fundamental para quem valoriza suas raízes e acredita na força da comunidade ítalo-brasileira. Um evento que não é apenas uma conversa — é um ato de cidadania.

O encontro contará com a presença de Daniel Taddone, sociólogo, genealogista e Conselheiro no Conselho-Geral dos Italianos no Exterior (CGIE), do jurista Walter Fanganiello Maierovitch, presidente do Insrtituto Giovanni Falcone, referência na defesa de direitos constitucionais, e Giuliana Patriarca Callia, Diretora da AEDA –  Associação dos ex-Alunos Colégio Dante Alighieri.

Será uma oportunidade para entender, em linguagem clara e direta:

  • O que muda com o Decreto-Lei 36/2025;
  • Como essas mudanças afetam descendentes de italianos no Brasil e no mundo;
  • O que está sendo feito para reverter ou minimizar esses impactos;
  • Como podemos agir de maneira coordenada e respeitosa para defender nossa italianidade.

Mais do que nunca, precisamos estar informados, organizados e unidos. A história da emigração italiana é feita de coragem, resiliência e amor pela pátria de origem. Não podemos aceitar que, por decreto, milhões de descendentes sejam relegados à condição de estranhos.

Sua presença é essencial. Porque somos italianos de verdade — siamo italiani davvero — e não vamos nos calar diante da tentativa de nos excluir da história que ajudamos a construir.

Participe. Compartilhe. Faça parte deste movimento.

Faça sua inscrição no Sympla (é de graça)

Data: 29 de abril
Hora: 19h
Local: Colégio Dante Alighieri — São Paulo
Transmissão online: revista @revistainsieme

Conte Sua História de São Paulo: do “ding-dong” à banda de São Miguel Paulista

Atsushi Asano

Ouvinte da CBN

Foto de Hugo Martínez

Estudei no Colégio Estadual D.Pedro I, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Não é saudade, são flashes de memórias acesas pelos estímulos do Conte Sua História. 

Eram os anos de 1967 a 1973. Em pleno Governo Militar. O bairro era distante dos movimentos civis e de estudantes em defesa da Democracia. Estudava conforme as regras da época imposta aos estudantes do ginásio. No colégio, de famoso, havia estudado Antonio Marcos, o da Jovem Guarda.

Naqueles anos, do outro lado da Estrada Velha São Paulo-Rio,  em frente a escola, em um terreno vazio, levantava-se o prédio do mercado municipal e uma alta caixa d’água. Lá em cima da torre instalou-se um grande e único relógio com quatro faces.  Seus ponteiros marcavam a hora certa ao som do “ding-dong” que pautava o dia de moradores e estudantes.

Mais um flash se acende. 

Vejo agora a estrada velha, de pista simples, mão-dupla, calçadas por paralelepípedos. Vejo pela janela, na carreira de carteiras da sala de aula. Pela cortina aberta, observava: hora passavam carros, ônibus e caminhões. Hora passavam charretes e carroças. Muitas vezes presenciava as patas dos cavalos escorregarem com suas ferraduras nas pedras do piso liso e desgastado.

As lembranças seguem por aqui.

Todos os anos, lembro-me que eu desfilava pela escola, uniformizado, em marcha, seguindo a banda do colégio, com um sentimento que me faz viajar nas memórias de São Miguel Paulista.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Atsushi Asano é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Envie seu texto agora para contesuahistoria@cbn.com.br Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: traquinagem no colégio Clodian

 

Nascido em Santos em 1967, Celso Ferrari Masson, ainda criança, veio com a família para São Paulo. Ele lembra do tempo em que estudou no colégio Clodian no Bairro do Planalto Paulista e das traquinagens que aprontava por lá:
 

 

Ouça o depoimento de Celso Masson, sonorizado pelo Cláudio Antonio

 

Celso Ferrari Masson é o personagem do Conte Sua História de São Paulo. O depoimento foi gravado pelo Museu da Pessoa. Conte você, também, mais um capítulo da nossa cidade. Envie um texto para milton@cbn.com.br

Conte Sua História de SP: o primeiro dia de aula, no Rio Pequeno

 

Por Samuel de Leonardo

 

 

“II Grupo Escolar do Bairro do Rio Pequeno”

 

“São Paulo, 11 de fevereiro de 1963”

 

Após nos posicionarmos em fila e ter entoado o Hino Nacional defronte ao prédio localizado na antiga Estrada Quatro ainda sem asfalto, atual Avenida José Joaquim Seabra, no Bairro do Rio Pequeno – Butantã, adentramos a sala de aula. Com o giz branco Dona Lurdinha (Maria de Lurdes Reis da Costa – nunca esqueci o seu nome) desenhara essas letras no quadro negro. Assim, numa tarde de verão, teve início o meu primeiro dia de aula naquela escola. Na verdade até então não sabia ler, mas a dedicada mestra explicou em detalhes às crianças o que traçara no quadro negro.

 

Ainda assustado com a novidade, trajando camisa branca, calça curta azul-marinho e calçando o novo Conga azul chegara a minha vez e, todo nervoso e sem jeito, apresentei-me balbuciando meu nome, confundindo-me com o Tute, apelido dado pelos meus avós paternos e o meu legitimo nome, Samuel.

 

A estrutura do prédio era todo de madeira. Dois galpões em tom azul desbotado pelo tempo, sobrepostos em pequenas colunas de tijolos à vista que comportavam duas salas de aula. O teto não tinha forro e podiam-se notar as robustas vigas cruzadas sustentando o telhado de amianto e as janelas enormes apresentavam algumas vidraças quebradas, talvez por pedradas.

 

Dispostas em fileiras carteiras duplas de madeira já desgastadas pelo tempo acomodavam a todos. À frente uma pequena mesa e uma cadeira destinada à professora, ao fundo dois armários que um dia foram envernizados completavam o mobiliário. Nota-se que o desmazelo das autoridades com a educação já se fazia presente.

 

Naquele dia nossa primeira atividade foi desenhar pequenos círculos até completar a folha. Caderno aberto sobre a carteira, lápis na mão e as “bolinhas” irregulares iam se distribuindo sobre as linhas. Então com toda a paciência do mundo nossa professorinha passou pelas carteiras elogiando a arte de cada um.

 

De repente ouve-se o tilintar da sineta tocada pelas mãos da servente, assim era denominada aquela que ainda não chegara a bedel. Hora do recreio, algazarra em profusão no enorme terreiro empoeirado a céu aberto que circundava o imóvel. Não havia muros para delimitar onde terminava a escola e começava o imenso matagal morro acima. Uns corriam para os banheiros situados nos fundos da escola, outros devoravam a lancheira. Para os que não trouxeram merenda era só descer até a pequena cozinha, única edificação de alvenaria posicionada à entrada daquela construção rústica, e apanhar um kit.

 

Enquanto os meninos corriam de um lado a outro no pega-pega, as meninas brincavam de roda ou pulavam amarelinha.

 

Novamente o tilintar da sineta, hora da segunda parte.As crianças voltaram ofegantes, suados e descabelados, alguns com os uniformes manchados por algum alimento. Eu não poderia ficar para trás, sujara a camisa branca de terra e com certeza seria repreendido pela minha mãe.

 

Agora na outra folha do caderno Dona Lurdinha pedira que desenhássemos um sol, depois uma árvore e uma casinha. Barbada, desenhar era comigo mesmo.

 

Antes que tocasse pela última vez a sineta daquele dia, ela escreveu na lousa “lição de casa”. Os meninos deveriam trazer uma folha de alguma planta qualquer, enquanto que as meninas uma flor de acordo com a preferência de cada uma.

 

Anos mais tarde após os dois galpões serem criminosamente incendiados, naquele lugar o governo construiu um belo complexo educacional com classes modernas, uma quadra e um ginásio poliesportivo coberto. Durante o dia fora batizado de Escola Estadual Daniel Paulo Verano Pontes.À noite funcionava o Ginásio Estadual Ministro Américo Marco Antônio, onde conclui o antigo ginasial.

 

Da “lição de casa” e daquela primeira vez eu nunca me esqueci, pena que aquele dia passou como um bólido, assim como rápidos foram as semanas, os meses, os anos.

Formandos do EJA do Colégio Santa Maria dão aula de cidadania

 

EJA1

 

Inspirar a cidadania é uma pretensão do Adote um Vereador, criado em 2008, com o objetivo de aproximar as pessoas da política da sua cidade. Pretensiosos que somos conseguimos avanços importantes, especialmente nos primeiros anos, com a criação de um grupo ativo, que agitou a Câmara Municipal de São Paulo, conseguiu provocar mudanças de procedimento e foi capaz, inclusive, de aprovar projetos de lei. O Adote contaminou cidadãos de outras partes que passaram a desenvolver ações em suas cidades, por sua conta e risco.

 

Neste mês de dezembro, às vésperas do início de um ano em que teremos eleições municipais, os pretensioso do Adote um Vereador têm o que comemorar. No Colégio Santa Maria, tradicional na zona sul de São Paulo e cenário de lutas políticas no passado, 97 alunos da Educação de Jovens e Adultos estarão se formando no ensino médio. Não é apenas mais uma turma que alcançou sua meta e tenta mudar sua própria vida. É uma turma que não satisfeita com seu ambiente urbano buscou mudar a vida de todos os demais que estão à sua volta e, há três anos, se engajou no Adote um Vereador.

 

Incentivados pela professora Maria Cecilia Ferraiol, foram conhecer o que se fazia na Câmara Municipal de São Paulo e, dada a primeira impressão, resolveram olhar mais de perto o trabalho dos vereadores. Mapearam oito parlamentares que se elegeram pela zona sul da capital paulista e mantém escritórios políticos próximos a escola e os acompanharam durante um ano. Promoveram debates com esses vereadores, colocando em pauta as observações que fizeram das atuações de cada um deles.

 

A mobilização dos estudantes os levou a participar das audiências públicas do Plano Diretor, os motivou a atuar na escolha de candidatos para os conselhos de representantes das subprefeituras e trouxe para a escola o programa “Câmara no seu bairro”, que contou com a presença de 32 vereadores. Foram ativos na campanha popular que permitiu a incorporação pela prefeitura do prédio do Hospital Santa Marina, que havia falido, e se transformou em um centro de atendimento de emergência, pediátrico e geriátrico.

 

Em outro projeto ligado ao tema “política e cidadania’”, a turma do EJA do Colégio Santa Maria participou do projeto “Cada gota conta” no qual criaram alternativas para enfrentar a crise hídrica e compartilharam suas experiências, a medida que a maioria já havia sofrido com a seca no Nordeste, com os alunos do ensino regular que nunca tinham passado por tal situação. Das discussões surgiram cisternas e aquecedores solares de baixo custo e campanhas de conscientização sobre a necessidade de racionalizar o consumo de água.

 

No dia 18 de dezembro, este pessoal todo estará comemorando mais uma etapa vencida com a formatura no ensino médio. Para nós, eles merecem mesmo é o diploma do Ensino Superior da Cidadania.

 

O Adote um Vereador se orgulha dessa gente!

Avalanche Tricolor: porque eu sou gremista

 

Bahia 1 x 0 Grêmio

Campeonato Brasileiro – Fonte Nova (BA)

 

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Estive em Porto Alegre neste fim de semana. Oportunidade para conviver e relembrar, pois mesmo com poucos dias de estada visitei lugares marcantes para minha vida, a começar pelo fato de que sempre reencontro-me com a casa na qual cresci e amadureci (ou nem tanto), na Saldanha Marinho, no bairro Menino Deus, onde moram meu irmão, Christian, e minha cunhada, Lucia, bem próximo do saudoso estádio Olímpico, que, aliás, permanece lá, sem o anel superior e com estrutura cicatrizada pelo tempo, sofrimentos e conquistas. Convidado por meu sobrinho mais novo, o Fernando, irmão da Vitória (de belo e significativo nome, não?), fui assistir a atividade de encerramento de ano escolar no Colégio Marista Rosário, o mesmo onde estudei quando ainda levava o nome de Nossa Senhora do Rosário. Por lá joguei bola, fui campeão de basquete, namorei muito, me esborrachei no chão, presidi o grêmio estudantil e participei de intensos debates clubísticos com os colegas que teimavam em torcer para times adversários – lembro que alguns eram SER Caxias, outros São José, Cruzeiro ou times de menor expressão. Apesar de não ter citado na frase anterior, também estudei, mas não era muito fanático por esta prática.

 

Curiosamente, a atividade desse sábado pela manhã era no teatro da escola, onde frustrei minha carreira de cantor, depois de ser afastado do coral pelo irmão Alduino. Registre-se, ele tinha toda razão. No palco do teatro, porém, tive algumas passagens artísticas nas encenações de fim de ano organizadas pela professora Tânia. Assim com o teatro mantém muitas das lembranças daquela época, apesar de renovado, encontrei-as também passeando nos corredores do prédio original da escola, com os azulejos verdes na parede e o piso quadriculado em preto e branco. A cantina ocupa o mesmo espaço, assim como a sala do professores e a do GER – Grêmio Estudantil Rosariense. Lembrei de algumas salas de aula, provavelmente devo ter confundido outras, e as achei muito parecidas, exceção à lousa que não é mais de giz. O pátio tem mobiliário novo mas sofreu poucas mudanças. Caminhar dentro do Rosário, ver a sala de troféus e algumas fotos do passado me emocionaram.

 

Fiz questão de visitar a Arena Grêmio, no bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre. Por incrível que seja, até hoje não assisti a partidas de futebol na nova casa gremista e apenas havia apreciado a bela arquitetura nas vezes que aterrisei no aeroporto Salgado Filho. Se do alto, a Arena chama atenção, é de perto que se tem noção clara das suas dimensões e do que pode representar quando tomada de torcedores. Havia alguns visitantes como eu percorrendo o entorno e parte de suas dependências, tirando fotografia, guardando recordações e sonhando com os títulos que virão. Havia os que se preparavam para a competição esportiva mais importante no fim de semana, em Porto Alegre: a Corrida do Grêmio que, soube há pouco, reuniu 5 mil pessoas, no domingo pela manhã. Consta que outra atividade estaria marcada para sábado à noite, na avenida Padre Cacique, mas de menor relevância; não sei bem o que se sucedeu por lá.

 

Prestei muita atenção no movimento daqueles gremistas que encararam o forte calor deste fim de semana porto-alegrense, na forma carinhosa com que apreciavam os paineis com ilustrações do tricolor, no interesse pelos souveniers oferecidos na loja GremioMania e nas conversas paralelas entre amigos, casais e famílias. Havia orgulho e alegria entre os muitos que vestiam nossa camisa. Nenhum parecia se importar com as dificuldades e falta de resultado que se avizinharam. Afinal, não somos gremistas porque ganhamos a vaga sejá lá pra qual for a competição, ou porque vencemos mais um título; nem deixaremos de sê-lo apenas por uma ou outra temporada sem conquistas, ou por um elenco que não nos agrade por completo. Somos gremistas porque o destino nos colocou neste caminho; alguém muito especial, uma luz qualquer ou um momento incrível – de dor ou de alegria – fez explodir esta paixão.

 

Diante de tudo isso, a partida desta noite em Salvador e a possibilidade de ainda termos um lugar na Libertadores do ano que vem ficaram menores, quase irrelevantes. Mas que eu queria ter visto nosso time brigando e acreditando até o fim, não tenha dúvida, eu queria. Porque eu sou gremista!

Descubra SP: me sinto em casa, no Pateo do Colegio

 

 

Fui entrevistado pela Fabiana Novello para a série Descubra SP, um dos programas da CBN em homenagem aos 460 anos de São Paulo. A ideia era indicar um dos lugares que mais gostamos da Capital e não tive dúvida em escolher o Pateo do Colegio, local de fundação da cidade, onde todo segundo sábado do mês nos encontramos no Adote um Vereador. A história bem contada pela Fabiana tanto quanto bem sonorizada pelo Claudio Antonio você ouve aqui:

 

As aulas de direção do guri friorento

Por Milton Ferretti Jung

 

Quinta-feira da semana passada escrevi, neste blog, que a saudade é um sentimento permanente na cabeça das pessoas idosas. Referia-me, especialmente, àquela que sinto das Kombis da Companhia Jornalística Caldas Júnior. Se é que alguém leu o meu texto, ficou sabendo que viajei por várias cidades brasileiras, revezando-me com alguns companheiros da Rádio Guaíba (os possuidores de carteira de motorista) na pilotagem de um desses veículos. Se, antes de escrever sobre Kombi, eu tivesse consultado a Wikipédia, tomaria conhecimento do seu nome completo, no idioma alemão. Sugiro respirar fundo antes de tentar pronunciá-lo: Kombinationsfahrzeug.

 

Volto a tratar, nesta quinta-feira, se me permitem, do tema saudade. Ocorre que o inverno gaúcho tem sido duro de suportar. As pessoas fazem de tudo para enfrentá-lo ou, em certos casos, para sobreviver a ele. Anda-se quase de maneira permanente com os pés e as mãos gelados. Houvessem meus pais me mantido em Caxias do Sul durante a minha infância, talvez tivesse me acostumado ao frio intenso. Como me trouxeram para Porto Alegre com uma semana de vida, sou, como a maioria dos nascidos na capital gaúcha, um baita friorento.

 

Fiquei pouco mais de um ano internado em um colégio da cidade serrana de Farroupilha. Resolvi ir ao encontro do desejo de meus pais ao concordar com eles na troca do Colégio Roque Gonzales, em Porto Alegre, pelo Ginásio São Tiago. Sabem por quê? Porque, nesse, as férias de julho duravam trinta dias e não quinze, como no internato. Se eu disser que sinto saudade do tempo em que passei internado e em que era liberado apenas para visitar a casa paterna no feriado prolongado da Páscoa, os supostos leitores têm todo o direito de duvidar. Justifico, porém: minha saudade refere-se somente ao curto período no qual me permitiam permanecer em casa. Então, me reencontrava com os amigos, jogávamos futebol nos terrenos baldios da Rua 16 de Julho, que eram muitos na época, ou futebol-de-mesa no quintal da minha casa.

 

Para falar a verdade, tenho saudade até mesmo das minhas dramáticas voltas ao internato depois das feriazinhas de Páscoa. É que o meu pai me deixava dirigir o Citroën dele. Não se espantem. Eu tinha direito de pegar somente o guidão do carro. Pena, entretanto, que lá em Farroupilha, o inverno, meu tema desta quinta-feira, era bem mais duro do que o de Porto Alegre. Acordávamos cedinho, descíamos o declive existente entre o São Tiago e a Igreja Matriz, em geral escorregando na geada, e assistíamos à missa rezada pelo Monsenhor Brambilla.

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

As Depredações Escolares: lugar público, terra de ninguém

 


Por Julio Tannus

 

As depredações nas escolas públicas em nossa cidade não são de hoje, e também não é nosso privilégio.

 

Escola abandonada

 

No início da década de 80, no Governo Franco Montoro, e a pedido do então Governador de São Paulo, através de sua Secretaria de Educação, foi-se a campo para levantar o máximo de informações sobre essa questão. Falou-se com diretores de escola, educadores, alunos e todo o elenco participante desse espaço vital para a sociedade como um todo.

 

Desde então, vários problemas vem sendo levantados, e entre outros, relacionados à:

 

Vagas

 

A instabilidade e a incerteza quanto às vagas geram mal-estar no seio da população, que termina por imprimir sua revolta contra o prédio escolar. Qualquer tentativa de negociação para resolver a questão passa, necessariamente, pela ampliação do número de vagas oferecidas.

 

Local

 

As favelas e os bairros desfavorecidos fazem com que a escola seja um lugar privilegiado, pelo seu tamanho em relação aos barracos, pelo seu prédio mais bem equipado que as moradias populares e, principalmente, por representar o Estado e ser patrimônio público. Por precárias que sejam as instalações escolares contam com salas de aula e cadeiras para acolher um número importante de pessoas. Apesar da precariedade das instalações elétricas, elas existem e, mesmo não sendo um modelo apropriado, podem ser utilizadas. Enfim, a escola tem sanitários, água encanada e outros pequenos benefícios que os barracos dos moradores nem sempre possuem.

 

Diferenças Sociais

 

Escolas localizadas em áreas onde subsistem sociedades diferentes, umas mais pobres que outras, um mais desfavorecido que o outro – miseráveis e pobres. E aí se formam grupos ou “panelas”, gerando-se conflitos permanentes. E os conflitos entre grupos são fatores que contribuem para o surgimento da depredação escolar.

 

Manutenção

 

Qualquer dano no prédio escolar é estímulo para a promoção reprodutiva de depredações. Desta forma, os banheiros, as descargas, os azulejos, as torneiras, os vidros, e outros objetos danificados devem ser reparados o mais breve possível.

 

É dessa época a ideia de ocupar os prédios escolares nos fins de semana com várias atividades – esportes, cultura, lazer – a fim de se coibir tais depredações, que nesse período são mais agudas.
Várias outras iniciativas têm sido tomadas, entretanto, todas elas incapazes de solucionar o problema.

 

Dois textos cobrem de forma ampla o assunto:

 

Formas contemporâneas de negociação com a depredação
Hélio Iveson Passos Medrado

 

Iniciativas públicas de redução da violência escolar no brasil
Luiz Alberto Oliveira Gonçalves
Marilia Pontes Sposito

 

Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

Erros de adição

 

Por Milton Ferretti Jung

Arrependo-me até hoje do trabalho que dei ao meu pai no tempo de estudante. Incomodei-o – e à minha mãe, por extensão – desde os primeiros momentos da minha carreira estudantil. Do jardim da infância tenho uma vaga lembrança, mas marcante, pelo jeito. E olhem, leitores, que setenta anos, mais ou menos, me separam dessa etapa.

Derrubei numa das mesinhas da escola o café que levara como merenda. E não quis mais saber de voltar, talvez envergonhado pelo que devo ter imaginado ter sido um grande desastre. Não freqüentei mais jardins da infância. Fiz os meus anos iniciais do primário num colégio dirigido por freiras franciscanas. Tive rápida passagem por um público, mas retornei ao das irmãs porque este me pareceu muito bagunçado. Acho que faltavam professores. Daí para a frente, estive em vários educandários: Roque Gonzales, Anchieta, fui internado no São Tiago,em Farroupílha (do qual fugi mais de uma vez) e, finalmente, no Colégio Nossa Senhora do Rosário, onde meus três filhos também acabaram estudando.

Seja lá como tenha sido, em todos os colégios que cursei minha matéria preferida sempre foi o português. Adorava fazer redações. Tinha prazer em lê-las, depois, diante da turma. Os professores, em geral, modéstia à parte, pareciam gostar das minhas leituras. Creio que já começava a me preparar, sem saber, para a carreira que acabei abraçando – a de locutor. Agradavam-me também tanto as lições quanto as provas de história, que permitiam dissertações orais e escritas. E escrever nunca foi meu problema. Em português, história e línguas – inglês,francês e espanhol (menos latim, que apenas os alunos do curso clássico eram obrigados a estudar), eu me dava bem. Nem sequer conseguia acompanhar com atenção as aulas dadas pelos professores dessas matérias. Quase todos os anos ficava em “segunda época” numa delas, especialmente nas provas de matemática. Acho que hoje já não existem exames orais. Nesses, os alunos, eram chamados ao púlpito e tiravam um papelzinho no qual havia um número, que correspondia ao que teriam de responder. Certa vez, um professor ,ao perceber que eu não sabia a questão que sorteara (?), chegou a me pedir que falasse sobre algo de matemática que eu soubesse. O diabo é que eu, não sabia absolutamente nada de matemática.

Pois não é que descubro agora, com espanto – não muito grande,é verdade – que o Ministério de Educação e Cultura, além de haver quebrado a cara com uma publicação polêmica sobre português, que nem convém lembrar, meteu os pés pelas mãos também na área da matemática. Como esta é uma ciência exata e não permite tergiversações de caráter ideológico, não sei que desculpa será usada para a nova gafe. É impossível explicar somas e subtrações, por exemplo, em que 9 menos 2 é igual a 5 e 8 mais 4 é igual a 11.

O festival de besteiras patrocinado pelo MEC provavelmente não derrubará um ministro, como aconteceu com Antônio Palocci. Para que alguém caia, como o da Casa Civil,é necessário mais do que simples erros de adição.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)