Participação comunitária ou a necessidade de estarmos juntos

 

Por Julio Tannus

 

Se todos os habitantes da Terra caminhassem para um mesmo ponto de nosso planeta, o que aconteceria?

 

Esta questão nos foi proposta há alguns anos, na cadeira de Física do curso de segundo grau. Por mais impossível que possa parecer, contém em suas conseqüências algo factível do ponto de vista da Física.

 

De um ponto de vista sociológico, essa impossibilidade vem diminuindo, a nosso ver, com o passar dos anos. Se não, vejamos:

 

-A intensidade e extensão com que nos comunicamos hoje em dia é um fator incontestável.

 

-O intercâmbio entre diferentes culturas, grupos sociais, países, economias e empresas assume formas absolutamente globalizadas.

 

-Os recursos tecnológicos disponíveis para uma comunicação globalizada crescem vertiginosamente.

 

Lembramos também de um tema de redação proposto por um professor de Português da época: “Por que os furacões que assolam o Caribe têm nomes femininos?” Todas as redações apresentadas abordavam o tema referindo-se à intempestividade e a certa irracionalidade do comportamento feminino. Nenhum deles referia-se à revolução que estava por vir, com a mulher assumindo um papel social absolutamente revolucionário para os padrões da época.

 

Essas situações nos sugerem o quanto a vontade e consciência coletivas podem transformar algo tido como aparentemente imutável ou impossível de ser realizado. E aqui levantamos a seguinte questão:

 

-Por que nós, brasileiros e brasileiras, não reivindicamos de forma ativa e coletiva os nossos direitos e interesses? Ou mesmo;

 

-Será que vamos continuar indefinidamente a assistir passivamente ao não cumprimento de promessas de campanhas políticas não cumpridas? E até;

 

-Por que a participação de condôminos em assembleias é baixíssima?

 

Pensamos que onde houver um agrupamento humano sempre haverá a necessidade de participação de seu coletivo na defesa dos interesses comuns.

 

Na realidade, pensamos que deveria ocorrer exatamente o oposto do que podemos observar hoje. Na medida em que as sociedades se tornam cada vez mais globalizadas, com problemas e necessidades mais assemelhados, cresce a demanda por informações que de alguma forma ajudam a identificar suas peculiaridades, e por extensão, cresce também a necessidade de participação de seu coletivo em defesa dessas peculiaridades.

 

O sociólogo italiano Domenico De Masi nos lembra que a sociedade rural levou sete mil anos para produzir a sociedade industrial, e que a sociedade industrial precisou de somente duzentos anos para produzir a sociedade pós-industrial. Chamada por alguns de pós-modernidade, a sociedade pós-industrial aqui é entendida como uma sociedade em cujo epicentro não existe mais a produção de bens materiais em grande escala, mas sim a produção em grande escala de serviços, de informação, de estética, de símbolos e valores.

 

Por outro lado, um executivo de uma empresa de consultoria norte-americana, falando sobre as mudanças ocorridas no mundo dos negócios nos últimos anos, enfatiza algumas delas:

 

-Os mercados, que durante muito tempo foram determinados pelos produtores/ fabricantes, hoje são definidos pelos seus consumidores;

 

-Os capitais para investimento, que antes eram dominados pelos fabricantes, hoje o são pela tecnologia;

 

-Os negócios, que antes eram geridos de forma independente, hoje são geridos a partir de alianças e parcerias.

 

Esses dados servem bem para dar uma ideia do que nos é reservado hoje e no futuro próximo. Além de grandes e rápidas mudanças, tanto qualitativamente como quantitativamente, novos conceitos e demandas exigem um processo constante de adaptação e resposta, tanto por parte das empresas como das instituições em geral, reforçando cada vez mais a necessidade de estarmos juntos. E para isso, cada vez mais necessitamos estar presentes coletivamente para fazer frente a essas mudanças.

 

Julio Tannus é consultor em estudos e pesquisa aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier), membro do Conselho de Síndicos do SECOVI e escreve no Blog do Mílton Jung