Nasci e fui criado no bairro da Penha, na zona leste da capital. Minhas primeiras impressões foram diante da riqueza do comércio local, do Mercadão da Penha e das construções que encontrava em um dos bairros mais antigos da cidade., que teria sido criado em 1660.
Morei na Avenida Penha de França e estudei nos colégios Santos Dumont e Padre Antão. Meu caminho diário atravessava o Largo do Rosário onde fica a Igreja de Nossa Senhora da Penha dos Homens Pretos. Seguia adiante até encontrar a Basílica de Nossa Senhora da Penha.
Nesse passeio, encantava-me com prédios como o da mansão do Comendador Cantinho, que virou o Colégio Ateneu Rui Barbosa, hoje demolido. Da primeira padaria do bairro, na Avenida Gabriel Mistral, que também não existe mais. Gostava dos cinemas e fliperamas antigos; das lojas Garbo, Mappin e Jumbo Eletro. Meu capital intelectual acumulei na Biblioteca da Penha, hoje Centro Cultural, ao lado do Largo do Rosário.
Vivenciei belos momentos deste bairro tão querido e sinto muita saudade de como era! Como dizem por aqui: venha que sou da Penha!
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Samir Rodrigues de Faria é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, viste o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.
Belenzinho ou Belém? Onde começa um e termina o outro? Faço a confusão geográfica desses bairros tal como ainda fico confuso com a localização do Bixiga e da Bela Vista.
Embora ainda persista em mim a dúvida geográfica, pesquisei a origem do bairro e encontrei a definição curiosa no livro Bairros Paulistanos de A a Z de Levino Ponciano:
“1899 – Belenzinho-Belém: O bonde 24 que servia a toda a região trazia estampado somente Belém e não Belenzinho. Esse uso caiu no agrado do povo: virou mais um distrito da capital e o Belenzinho ficou sendo um pequeno bairro” (Livro Bairros Paulistanos de A a Z – Levino Ponciano – Editora Senac – São Paulo)
Com efeito, Belém era Belenzinho que detinha a condição de titularidade distrital. Hoje, Belenzinho pertence ao distrito do Belém, assim como a Vila Maria Zélia, o Catumbi e a Quarta Parada.
Um local do bairro que sempre temi quando moleque, e toda a molecada do meu tempo também temia, era o Juizado de Menores, na Celso Garcia. Os adultos quando nos repreendiam diziam que nos mandariam para lá. O prédio abrigou também a Febem e, posteriormente, deu lugar à Fábrica de Cultura Parque Belém.
Do bairro trago recordações de quem passeava e trabalhou nele.
Minha primeira lembrança de estar em solo belenense, ainda criança, foi quando visitávamos a casa de avós paternos, em Sapopemba. A impressão foi que o Belenzinho era chique para quem estava num bairro distante do centro. Lembro do meu avô com sua malinha na mão, onde guardava a marmita, esperando a sua condução.
Mais tarde, já adolescente, fui trabalhar no bairro no escritório de uma empresa de ferro e aço na Rua Júlio de Castilhos. Foi no ano de 1966. Meu trabalho seria no escritório mas na prática eu embalava rolos de fios de cobre o dia inteiro e fazia o controle do estoque. Era divertido.
Não muito longe da firma, no Largo do Belém, no horário de almoço, eu gostava de estar por lá e me juntava aos engraxates buscando me enturmar. Muitos jovens, na maioria de famílias abastadas, que só estudavam, se reuniam para tocar e cantar músicas daquele tempo. Eu adorava. OI patrão não gostava muito dos atrasos constantes e tive de sair da empresa, fui convidado a sair.
Continuei frequentando o bairro. No carnaval era montado um enorme tablado no Largo com apresentações de cordões e escolas de samba. O patrocinador era uma loja de departamentos de nome Sangia, famosa por promover shows artísticos. Roberto Carlos esteve muitas vezes presente nesses shows.
Lembrança também tenho do Salão de Forró do Pedro Sertanejo, compositor, cantor, e dono de gravadora, a Cantagalo. Ele também foi o descobridor do famoso sanfoneiro Dominguinhos. O salão ficava na Catumbí, e foi, por sinal, o pioneiro do forró, em São Paulo. Eu com amigos íamos mais para tirar uma onda e como paulistanos achávamos graça do ritmo e da dança, desconhecidos até então. Mal sabíamos que seriam eternizados e amados pelos paulistas e em todo o Brasil a ponto de receber uma variação paulistana sob o nome de Forro Universitário.
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Júlio Araújo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Esse texto do Julio foi adaptado para você ouvir aqui no rádio. Escreva o seu e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.
Tarde de domingo. Caminho sozinho. Faz muito frio.
Vou até um evento do ‘Poèmes en Machine’ no Trianon. As conversas dos passantes com os artistas geram poemas datilografados na hora. “Não somos capitalistas. Escrevemos e não cobramos!”, falam com orgulho os poetas.
Ouço a senhora nordestina: “Nossa, nunca ninguém fez uma poesia para mim. O que eu fazia antes de me aposentar? Era costureira em uma fábrica de guarda-chuvas, lá na Penha, onde moro.”
Saio do parque. Na Paulista, por acaso cruzo com um gaúcho conhecido. Muito alto, com cara de alemão. Está com uma garota. Baixa. Ele fala, gesticula, enquanto anda. Não consigo ouvir o que diz.
Na banquinha, peço bolo de bacalhau e um suco. O recolhedor de latas reclama com o outro, seu concorrente: “Vamos combinar: eu não atrapalho a sua vida e você não se mete comigo, tá bom?”
Um rapaz, nervoso, para o outro: “agora acabou tudo, ela está grávida.”
Sigo. As garotas lésbicas em grupo alertam: “atenção, gente, vamos tirar uma self nossa!”
O rapaz moreno, alto, no megafone sobre o palanque de sindicato: ”… então, a solução agora é a convocação de novas eleições para Presidente. Temos aqui um abaixo-assinado…”.
Pessoas estão paradas ouvindo uma banda tocar “Light My Fire”. É da década de 1960. Recordo meus 13 anos quando namorava com a Veridiana. Uma vez, no cine Universo nos beijamos. Qual era mesmo o filme? Não lembro mais.
O som agora é outro: “Camon baby light my fire…”.
Cruzo a avenida. Ouço ciclistas, skatistas, caminhantes, passantes, casais hetero e homo, crianças encapotadas, passeadores com cachorros, pessoas das mais variadas. A Paulista é uma festa urbana! Mas está na hora voltar. E é o som do metrô que me acompanha até em casa, no Belenzinho.
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Wagner Nobrega Gimenez é personagem do Conte Sua História de São Paulo. Esta história é inspirada no texto que ele enviou para contesuahistoria@cbn.com.br . A sonorização é do Daniel Mesquita. Venha participar você também e ouça outros capítulos da nossa cidade no meu blog miltonjung.com.br ou no podcast do Conte Sua História de São Paulo.
Os bondes que usávamos estavam sempre cheios de pessoas andando em pé nos estribos. Quando a gente não tinha dinheiro, era preciso fugir dos cobradores, que andavam em volta do bondes mesmo quando em movimeto. A maioria dos cobradores de bondes era de portugueses .
Nasci em São Paulo, no bairro do Cambuci na Rua José Bento, lá pelos anos de 1930. A ruas do bairro eram de terra, onde se faziam fogueiras na época de São João. A festa durava a noite inteira e o melhor momento era o de pescar com uma varetinha as batatas doces no meio da fogueira.
Tinham também pinhões assados e pipocas, além do gostoso quentão, só para maiores Os balões coloridos passeavam à vontade lá entre as estrelas, e, às vezes, caiam, por sorte, perto da gente.
De vez em quando ouvia-se um tilintar de sinos e lá vinha uma porção de cabras, lideradas por um bode. Eram os vendedores de leite de cabra, que por uns trocados nos forneciam um copo de leite ainda quente, pura delícia!
Nos fundos da vila de casa onde morávamos, passava uma valeta, onde, nos campos em redor, meu pai catava cogumelos, que minha mãe fritava.
Todos os dias, no cair da tarde, enxames de pernilongos vinham atacar, e minha mãe costumava, acender jornais dentro de uma bacia, a luz atraía os insetos que morriam no calor. Ainda não havia inseticida.
Fomos morar depois na rua do Paraíso, onde meu tio tinha uma loja de armarinhos, em que se vendia fazendas em peças, roupas, linhas e agulhas. Comecei a trabalhar nessa loja enquanto frequentava o curso primário no Grupo Escolar Rodrigues Alves, que ainda existe lá na avenida Paulista. Eu fazia entregas da loja, alem de varrer, arrumar as mercadorias. As entregas me levavam longe, lá para o bairro da Aclimação. Para chegar até lá tinha de atravessar a mata que hoje é a avenida 23 de Maio. Pura aventura! No meio tinham bicas d’água sempre geladinha, frutinhas silvestres, moranguinhos e amoras, coquinhos e pitangas.
Naquele tempo, o Carnaval era festejado na Paulista, e os carros enfeitados com os foliões vinham da Consolação e faziam a volta na Praça Osvaldo Cruz, que só tinha uma única via, e alguns casarões no entorno.
Durante a Segunda Guerra, as padarias não tinham trigo para fazer o pão e de vez em quando produziam um pão preto e intragável. Gasolina também não tinha, e inventaram o carro a gasogênio, que funcionava a carvão e soltava uma fumaça preta e mal cheirosa.
Chegando nos anos 1950, na Praça da Bandeira, onde é hoje o terminal de ônibus, havia o Circo de Alumínio, que era também um parque de diversões. Naquele tempo, o Palhaço Piolin e sua turma faziam as brincadeiras no seu próprio circo, na praça Marechal Deodoro.
Já na esquina da São João com a Ipiranga, grande filas se faziam para entrar nos belos cinemas: o cine Art-Palácio, o Paisandu, o Ipiranga e o belo Cine Metro, onde os homens só entravam de gravata ao lado de mulheres bem chiques.
Todas essas coisas e lembranças boas que o tempo deixou para trás.
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Joao Coppa é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Daniel Mesquita. Seja você também uma personagem da nossa cidade. Venha participar da edição especial do Conte Sua História de São Paulo, em homenagem ao aniversário da cidade. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos visite o meu blog miltonjung.com.br ou ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.