Conte Sua História de SP/460 anos: meu sapato de camurça

 

Por Sérgio Gigli
Ouvinte-internauta da rádio CBN

 

 

Meu pai, Josias Gigli, era paulistano, mas depois de casar mudou-se para Guararema, no interior. Mesmo assim conhecia muito bem a região Central, onde trabalhou em algumas empresas, e nos arredores. Eu frequento São Paulo desde meu nascimento, 1961. O movimento, o trânsito, o aglomerado de pessoas nunca me assustaram. Religiosamente, todo início de dezembro, com o 13º e abonos recebidos, meu pai levava a família para a Capital. Por volta de 1970, não sei precisar o ano, fomos eu, meus pais e minha irmã para o passeio onde sempre fazíamos compras, almoçávamos em lugares diferentes, víamos gente diferente e no fim do dia uma visita ou outra na casa de parentes. Viajávamos de ônibus entre Guararema e Mogi, pegávamos o trem para São Paulo e rodávamos pela cidade de ônibus, também. Saíamos cedo para antes do almoço já estarmos passeando na Capital.

 

Lembro-me que logo que chegamos, entramos em uma loja de calçados na região da São Bento e vi um sapato de camurça branco e azul. Em poucos minutos, já havia calçado o par de sapatos novos e estava me achando o máximo. Só que não demorou nada e veio a chuva. E nosso passeio acabou cedo. Chuva pesada. Ficamos protegidos em uma loja. Mas a chuva era mais que pesada. A água começou a entrar na loja e logo meu sapato novo estava molhado. Meus pais resolveram então que não deveríamos esperar mais e tomar o rumo de casa.

 

Todos os ônibus lotados, pontos de ônibus idem. Muita chuva. Os bueiros não suportavam mais toda aquela água. E nós continuávamos procurando algum transporte que nos levasse ao Brás onde havia o trem de volta para casa. Não conseguimos nada, nem ônibus nem táxis. Fomos caminhando completamente molhados. A tarde toda. Quando a noite chegou, meus pais perceberam que não chegaríamos em tempo na estação. Decidimos mudar a direção para a zona Norte, Santana, onde ainda vivem parentes de meu pai.

 

Quando o ônibus para o novo destino apareceu, subimos os quatro, e meu pai deu a seguinte instrução: “todos para a frente, vamos descer no ponto final”. Eu mais na frente, minha mãe um pouco atrás, seguida pela minha irmã e meu pai. Algum tempo depois do início da viagem pergunto ao motorista se era o ponto final. Entendi que era … desci. Olho de um lado não vejo ninguém da minha família. Olho do outro, também não. Atrás tampouco. Olhei para o ônibus indo embora com as luzes internas acesas e enxerguei meu pai.

 

Saí correndo seguindo o ônibus de perto, atrapalhado pelo trânsito. Nos primeiros passos ainda cuidei de preservar o sapato novo. Mas logo esqueci os sapatos e me concentrei em não perder o ônibus de vista. Corri até a parada seguinte, quando minha família desceu.

 

– O que você está fazendo aí?, perguntou meu pai.

 

Contei para eles que, a princípio, não acreditaram. Nem eu estava acreditando. Graças a Deus tudo acabou bem. Chegamos na casa da família já perto da meia noite, e retornamos para Guararema no dia seguinte. Quanto ao sapato de camurça colorido, acredite ou não, me acompanhou por um bom tempo. Não se fazem mais sapatos como antigamente.

 

Sérgio Gigli é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte mais um capítulo da nossa cidade. Envie seu texto para milton@cbn.com.br ou agende entrevista no Museu da Pessoa pelo e-mail contesuahistoria@museudapessoa.net. Outras histórias de São Paulo você encontra no meu blog, o Blog do Mílton Jung

Conte Sua História de SP/460 anos: o casarão mal-assombrado

 

Por Clarindo Oliveira
Ouvinte-internauta da rádio CBN

 

 

Cada um ao seu estilo, meus pais eram excelentes contadores de histórias. Meu pai, senhor José Américo de Oliveira, falava da sua infância na roça em Minas Gerais e da batalha diária pela sobrevivência na cidade grande na década de 1950. Ele, inclusive, já teve um episódio imortalizado no “Conte Sua história de São Paulo”, da CBN.

 

Minha mãe tinha nome de cantora: Dalva de Oliveira. E também uma linda voz! Vivia cantando as músicas da xará, da Cláudia Barroso e da Angela Maria. Era fã número 1 do Agnaldo Rayol. Quando acabava a energia em casa, ela acendia o lampião a querosene, reunia os filhos na sala e contava fábulas infantis. Eu adorava aquela da Dona Baratinha que não parava de chorar porque o Dom Ratão caiu na panela de feijão.

 

Eu já não tenho esse dom. Trabalho na área de informática, onde a lógica predomina. Ingressei na área na década de 1980, no CPD de um tradicional banco paulista, o Mercantil de São Paulo, na Freguesia do Ó. Foram tempos corridos para mim. Cruzava a cidade todos os dias. Saía da Vila Joaniza, na zona Sul, para trabalhar na zona Norte e à noite estudava na PUC em Perdizes, na zona Oeste.

 

Foi nessa época que conheci o Vasquinho, um sujeito que tinha dois empregos. À noite ele trabalhava num prédio na avenida Rio Branco. Ficava praticamente sozinho nesse local, operando os computadores. Dizia que atrás do prédio existia um casarão com fama de mal assombrado. As pessoas comentavam que o fantasma de uma freira aparecia de vez em quando e que se ouviam barulhos estranhos por lá. Lembro-me de ter comentado que nunca trabalharia num lugar desses!

 

Alguns anos depois, fui trabalhar na Porto Seguro, nos Campos Elíseos. Era um casarão antigo da rua Guaianases, tombado pelo Condephaat e belissimamente restaurado pela empresa.  Havia um jardim enorme, que hoje deu lugar a um prédio muito moderno. Era o tal casarão da história do meu amigo do banco. Estive lá muitas madrugadas, corrigindo erros dos programas, nunca presenciei o fantasma. Calejado pela exatidão dos bits e bytes, acho que os barulhos estranhos seriam de ratos que viviam em tantas construções antigas da região. Já a visão da freira talvez fosse apenas a estátua de um cisne que havia no jardim, envolto pela névoa que baixava. 

 

Mas vai saber…

 

Clarindo Oliveira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Você também pode contar mais um capítulo da nossa cidade. Mande seu texto para milton@cbn.com.br ou marque entrevista em áudio e vídeo no Museu da Pessoa pelo e-mail contesuahistória@museudapessoa.net. Para ouvir outras histórias de São Paulo, visite o meu blog, o Blog do Mílton Jung

Conte a sua história de São Paulo

 

Livro Conte Sua História de SP

 

Minha história com São Paulo começou em 1991 quando cheguei aqui para trabalhar em televisão. Foi aqui que voltei ao rádio, em 1998, para ser âncora na rádio CBN. Por todo este tempo, seja transmitindo notícias seja relatando casos de moradores, sempre contei histórias de São Paulo, mas foi em 2006 que passei a fazer isto de maneira formal com a criação de um quadro no programa CBN SP em homenagem aos 452 anos da capital paulista. O Conte Sua História de São Paulo transformou-se em livro, ganhou depoimentos gravados e a parceria do Museu da Pessoa, e se reforça a cada novo aniversário.

 

Neste mês de janeiro, convidamos você a escrever mais um capítulo da nossa cidade. Envie um texto contando momentos que marcaram sua vida, lembranças da escola, dos amigos, da rua em que viveu. Relate fatos curiosos, divertidos ou emocionantes que viveu na capital paulista. Estas histórias serão levadas ao ar na CBN, dez delas às vésperas do aniversário de 459 anos de São Paulo, de 14 a 25 de janeiro, dentro do Jornal da CBN. As demais farão parte do Conte Sua História de São Paulo, aos sábados, no CBN SP, no decorrer do ano.

 

Sua história pode ser enviada para o e-mail milton@cbn.com.br ou se você quiser compartilhar desde já com os raros e caros leitores deste blog, não se acanhe, escreva e depois divulgue na área destinadas aos comentários deste post.

 

Vamos escrever juntos mais uma história de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: Reveillon no ônibus

 

Maria das DoresPassar o reveillon dentro do ônibus e passear com as amigas até os cinemas da cidade estão nas lembranças da ouvinte-internauta Maria Francisca das Dores registradas pelo Museu da Pessoa para o Conte Sua História de São Paulo. Natural de Passos, interior de Minas, veio para a capital trabalhar na casa de uma família aos 20 anos. Desde aquela época construiu uma relação de carinho com São Paulo, apesar de considerar a cidade, atualmente, muito insegurança.

Ouça o depoimento de Maria Francisca das Dores, sonorizado por Cláudio Antônio

Você também pode participar deste quadro que vai ao ar aos sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no CBN SP. Agende um entrevista pelo telefone 011 2144-7150 ou no site do Museu da Pessoa e Conte Sua História de São Paulo.